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SESSÃO 1

PSICOLOGIA, MINISTÉRIO PÚBLICO E A PROMOÇÃO DE SAÚDE PARA AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO
Kleber Jean Matos Lopes; Aline Enomoto Velame; Mariana Becalli Klug; Reury Costa Martins; Sátina Priscila Marcondes Pimenta (Centro Universitário Vila Velha)

Em agosto de 2003, o curso de Psicologia do Centro Universitário Vila Velha (UVV) firmou parceria com o Ministério Público do Espírito Santo, objetivando a inserção da prática psicológica nessa instituição, através da presença de estagiários, em busca de uma prática interdisciplinar no atendimento das demandas infanto-juvenis da Grande Vitória. O trabalho teve o objetivo de realizar intervenção, promovendo escuta no espaço público. Os estagiários em 2004 foram lotados nas Promotorias de Justiça da Infância e Juventude dos municípios da Grande Vitória. Participaram do Projeto quatro alunos que atendiam crianças e adolescentes que se encontram em situação de risco. O grupo reunia-se semanalmente com intuito de realizar a supervisão, onde as práticas de cada estagiário eram compartilhadas e relacionadas com o conteúdo teórico da bibliografia que também foi estudada durante as supervisões. A prática psicológica é desenvolvida através da atuação direta ou indireta com o Promotor de Justiça da Infância e Juventude de cada município, através de um trabalho conjunto com as instituições destinadas ao atendimento de crianças e adolescentes dos municípios. A prática em cada Promotoria foi diferenciada devido à demanda de cada município e suas possibilidades estruturais. A atuação dos estagiários foi marcada por encaminhamentos realizados através do intercâmbio com instituições relacionadas ao atendimento das demandas infanto-juvenis, através do Ministério Público, e essa atuação foi possível devido à promoção de escuta viabilizada pelos estagiários. A promoção de saúde e inclusão social das crianças em situação de risco da Grande Vitória constituem-se como eixos estruturantes para o desenvolvimento desse serviço, o que dimensiona
o compromisso e a relevância deste Projeto e sua parceria. A partir de agosto de 2004, esse projeto assumiu o caráter extencionista para o Centro Universitário Vila Velha (UVV), e em 2005 o projeto tem continuidade com outros quatro estagiários.

A CULPA INOCENTE: ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO E REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL
Pedro Machado R. Neto; Maria Inês Badaró Moreira (FAESA)

Trata-se de um trabalho realizado no Hospital Adauto Botelho, com os usuários do setor de curta permanência. Neste setor os usuários devem permanecer por um curto período de tempo, para tratarem ou aliviar os sintomas, em situações de crise ou surto psicótico. Este projeto tem como objetivo verificar questões referentes à alta hospitalar, às internações e às reinternações de alguns usuários do setor de curta permanência; investigar as relações dos mesmos com sua família, com sua rede social, com os outros serviços de saúde, com o próprio hospital, buscando entender também a percepção dos familiares sobre o usuário e sobre a enfermidade e como se desenvolve o tratamento após a alta hospitalar. Procura-se, por meio do acompanhamento terapêutico, estabelecer aproximação com o usuário, criando vínculos e uma relação que promova confiança. Através dessa aproximação busca-se compreender questões inerentes à história de vida dos usuários e à forma com que este vivencia seu cotidiano após sua internação. Percebese que muitos usuários permanecem internados por longos períodos, seja pela ineficácia dos medicamentos ou tratamento, pela ausência de um acolhimento fora do hospital por parte da família ou pela inexistência de uma rede de apoio em saúde mental na comunidade. Situações de miséria, acontecimentos significativos como perdas, abandono, abuso de álcool e substâncias psicoativas, podem contribuir na precipitação de uma crise psicótica. As próprias relações cotidianas, o contexto social, a maneira como o indivíduo percebe e experiência o mundo são fatores relevantes para estudo, visto que podem ser agravantes, principalmente em pessoas predispostas, no surgimento destas crises. Muitos usuários, após receberem alta hospitalar, retornam ao hospital. São situações conhecidas como “porta giratória”, que remete a questionamentos sobre como se desenvolve o tratamento fora do hospital, se existem ações integradas de saúde e como o usuário se relaciona no dia-a-dia com sua família, com a vizinhança, no trato social, ou seja, as pessoas com quem conversa, lugares onde freqüenta, como é seu sustento, etc. Muitas vezes a vida fora do hospital prega peças, faz com que caiam, e sem alguém para levantá-los, tem de fazê-lo sozinhos. Algumas situações ou condições os impedem de reerguerem-se sozinhos. Existe algo que falta e que induz ao infortúnio acaso dos cadeados e canecas de leite, no qual os tombos continuam sendo justificativas para o confinamento e a cronificação.

O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DOS MECANISMOS DE CONTROLE SOCIAL VOLTADO PARA A SAÚDE NO BAIRRO ILHA DAS CAIEIRAS
Carolina França Moreira (FAESA)

Desde o surgimento do SUS, criado na Constituição de 1988, busca-se romper com a base elitista, com práticas clientelistas e paternalistas, vigentes na saúde pública. O objetivo concreto é a representação dos interesses dos setores sociais tradicionalmente alijados no processo político, constituído pelas pessoas que realmente são usuárias desse serviço. O controle social tem papel crucial para a participação efetiva da população, aprimorando os serviços públicos oferecidos. Uma demonstração é a importância da Comissão de Saúde da Ilha das Caieiras, formada por um grupo voluntário, integrado com gestores, ONGs e funcionário da Unidade de Saúde local e com apoio municipal. A comissão consolidou-se como referência para as mobilizações sociais. Esta Comissão, que ainda não foi efetivada como Conselho Local, surgiu em meados da década de 1990 com o objetivo de acabar com o surto de dengue que ocorreu com grande concentração na localidade, através de palestras de orientação e visitas às casas das pessoas, buscando eliminar os focos. Nos dois anos subseqüentes, a taxa de doentes se tornou mínima. Após perceber a abrangência de sua atuação e por possuir grande afinidade com a causa da Saúde Pública, os participantes desta comissão decidiram efetivar a Comissão de Saúde da Ilha das Caieiras em 1999. Este projeto objetiva construir e/ou potencializar estratégias de fortalecimento da mobilização coletiva, ampliando a participação popular nas políticas de saúde nos mecanismos de controle social, integrando ainda mais as redes entre usuários, gestores, funcionários da área da saúde e as ONGs locais.O controle social é expressão de cidadania, de mobilização popular na busca de um bem comum, no caso, saúde pública de qualidade para todos. É a forma mais concreta de efetivar as diretrizes do SUS, buscando concretizar a saúde em sua amplitude, não só como a cura de doenças, mas como qualidade de vida, com equidade, universalidade e humanização do atendimento.
ATENÇÃO E ACOMPANHAMENTO PÓS-ALTA, PARA INTERNAÇÕES PSIQUIÁTRICAS DE CURTA PERMANÊNCIA
Jackeline Vieira Leal; Junia Helene Fagundes; Rondinelle Daros; Thaís Castro Silva (FAESA)

Este trabalho relata ações de atenção e acompanhamento pós-alta para internações psiquiátricas de curta permanência, dando ênfase às mudanças ocasionadas pela reforma psiquiátrica dentro e fora dos hospitais. O Hospital Adauto Botelho (HAB), localizado em Cariacica (ES), apresenta-se atualmente como exemplo prático desta reforma neste estado. Frente a este cenário construímos um plano de ação desenvolvido no setor de curta permanência desta instituição com o objetivo de preparar o paciente e a família para a alta e acompanhamento pós-alta. Com este direcionamento definiram-se metas específicas abrangendo as famílias, redes de apoio e o paciente nas suas relações sociais vistas como um todo. A reflexão sobre estes processos nos coloca de frente com a prática e é neste momento que as dificuldades se iniciam. Além dos desafios institucionais, inerentes à própria Reforma Psiquiátrica, este projeto de intervenção depara-se com a inexpressiva construção da rede assistencial do município. É dentro do HAB que buscamos as expressões técnicas e categóricas para iniciar os passos de uma reforma que se encontra burocratizada, investindo na pessoa como centro de necessidades emergenciais que se definem principalmente com a volta para casa, e um convívio social saudável entre familiares e moradores do bairro em que vivem. A tarefa se torna difícil devido às concepções construídas socialmente em torno da loucura e suas ramificações de forma que refletir sobre estes pensamentos faz parte de nosso projeto. Estas percepções direcionam uma ação repensada em prol dos ganhos e perdas que ocorrem durante um projeto de atuação colocando em prática finalidades menos assistenciais e mais terapêuticas, envolvendo de fato a família no processo, como fonte principal de ajuda às pessoas com transtornos mentais, encaminhando o projeto à desinstitucionalização.

A INTERFACE ENTRE O SUS E A SAÚDE DO TRABALHADOR
Marilene Affonso Romualdo Verthein; Shari Couto da Silva; Marcelle Braga Barbosa; Monique Gonçalves Silva; Regina Helena Silva Neves; Eugênia da Costa Vianna Barbosa (Universidade Federal Fluminense)

Este projeto de pesquisa está sendo realizado no Departamento de Psicologia da UFF junto aos Hospitais da rede Municipal do Rio de Janeiro, objetivando colocar em questão a Saúde do trabalhador e sua relação com o SUS, privilegiando a articulação entre trabalho, saúde e subjetividade. Buscamos conhecer a realidade dos hospitais gerais, no que tange à implementação das políticas em saúde do trabalhador, considerando o modelo de atenção à saúde utilizado no Brasil – hospitalocêntrico e excludente. Com tal propósito, problematizamos a relação paradoxal entre, de um lado, as ações de um sistema de saúde que se propõe único e igual para todos, incluindo a atenção em saúde do trabalhador e, de outro, a proposta de uma política neoliberal de redução dos gastos sociais. Nesta comunicação estaremos privilegiando os encaminhamentos teóricos e metodológicos da pesquisa. O primeiro marca a interface entre a saúde do trabalhador e a subjetividade. Para tal, utilizamos como referência as Políticas de saúde, seguindo dados históricos e sua trajetória mapeada pela situação econômica e social brasileira, neste passo, as leituras de Bauman, Rolnik e Pelbart dão a tônica de uma proposta de articulação entre capital e subjetividade e realça nossa proposta de marcarmos a subjetividade como exterioridade, tal como nos propõe Deleuze e Guattari. Uma análise das propostas do SUS auxilia a construção das tramas e dilemas dos trabalhadores em confronto com os próprias condições de trabalho e dos encaminhamentos em relação à saúde destes que chegam aos hospitais gerais. Para analisar essa forma de atenção à saúde do trabalhador realizamos um estudo de como o modelo hospitalar constituiu-se. A história dos hospitais e o surgimento do modelo hospitalar hegemônico em nossa sociedade se fazem presentes nas análises de base genealógica empreendidas, tomando como tom a pesquisa de Foucault, sobre o tema. Tendo exposto nosso percurso teórico apresentaremos a metodologia, as etapas e os resultados da pesquisa realizada nos hospitais municipais do Rio de Janeiro, enfocando as diferenças nos encaminhamentos dos trabalhadores adoecidos por causa do trabalho. Trataremos, por fim, das Comissões de Saúde do Trabalhador que conseguimos conhecer durante a pesquisa e o compromisso dos profissionais de saúde com os atendimentos na esfera pública.

PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DO ESPÍRITO SANTO SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DO SEU TRABALHO EM EQUIPE E O MÉTODO INTERDISCIPLINAR DE JAPIASSÚ
Cláudia Gomes Rossoni (UFES; Governo do Estado do Espírito Santo; EMESCAM); Elizabeth Santos Madeira (UFES; Governo do Estado do Espírito Santo; FAESA)

Esse trabalho relata a percepção dos profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial do Espírito Santo (CAPS - ES), sobre a característica do seu trabalho em equipe, a partir dos conceitos de multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade e interdisciplinaridade, descritos por Japiassú (1976). O CAPS é um serviço ambulatorial de atenção diária, de base comunitária, que presta cuidado às pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, com equipe técnica multiprofissional. Uma importante questão é saber se esses profissionais estão preparados para oferecer uma abordagem integral, com cuidado e atenção psicossocial, respeitando a diversidade e complexidade das questões de saúde e, em especial de saúde mental, característica do trabalho interdisciplinar. O objetivo foi identificar a percepção dos profissionais dos CAPS - ES sobre as características do seu trabalho, segundo o método interdisciplinar de Japiassú (1976). Utilizouse estudo transversal, com a aplicação de questionário aos 32 profissionais que participaram do 2º Encontro Estadual dos CAPS, realizado em outubro de 2004, Guarapari, ES. Os respondentes foram divididos em dois grupos: aqueles que percebem exercer um trabalho interdisciplinar e os demais. Os resultados foram comparados com as etapas do trabalho interdisciplinar (constituição de equipe, estabelecimento dos conceitos chaves e da problemática, repartição das tarefas, socialização dos resultados). Concluiu-se que esses profissionais possuem percepção adequada sobre o seu processo de trabalho, segundo o marco teórico definido. As autoras acreditam que a percepção dos profissionais envolvidos com a atenção psicossocial amplia o campo de discussão e as possibilidade de mudanças das práticas profissionais, facilitando a implementação de um cuidado ao portador de transtorno mental que o insira na sociedade. O ES tem investido na construção da rede de atenção à saúde As equipes de saúde da família são consideradas o ponto de atenção central dessa rede e a saúde mental é integrante desse processo. Para atingir tal objetivo é necessário articular serviços de saúde mental que possam servir de suporte às equipes de saúde da família. Os CAPS são um dos pontos de atenção que devem estar articulados na rede de saúde, contribuindo para inclusão na sociedade das pessoas com transtornos mentais Os profissionais dos CAPS são atores estratégicos na efetivação da política de saúde mental, não só pelo cuidado que devem dispensar aos usuários desses serviços, como também por sensibilizar, capacitar, supervisionar, regular a porta de entrada da rede de assistência de sua área e coordenar com o gestor local, as atividades de supervisão dos demais serviços de saúde mental que atuem no seu território.
O SENTIDO DO TRABALHO PARA O VIGILANTE: DESEJO OU NECESSIDADE?
Izabela Maria Rezende Taveira (Universidade Federal do Rio de Janeiro); Lucyelle Jane Bigonha Costa (Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora); Patricia Sá de Almeida (Universidade Federal de Juiz de Fora); Raissa de Almeida Brandão Macedo Reis (Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora)

A insegurança urbana tem sido um tema freqüentemente noticiado pelos jornais e revistas brasileiras. Atrelado a isso, tem-se verificado um enfoque muito grande às políticas de segurança pública, que são responsabilizadas pela desordem pública cotidiana. Verifica-se, no entanto, que raríssimas são as pesquisas realizadas de modo a entender o sentido do trabalho para o policial militar. Por um lado, a sociedade conta também com a segurança privada, representada pelo profissional vigilante. Tal categoria profissional tem crescido assustadoramente no mercado de trabalho em função de uma demanda de segurança cada vez maior e do mesmo modo tal categoria profissional não tem recebido a atenção merecida pela comunidade científica. Assim, trabalhando com os exames admissionais e periódicos de algumas empresas de vigilância privada, feitos por meio de avaliações psicológicas / psicotécnicos, percebeu-se a emergência de tal pesquisa, optando-se por analisar as entrevistas clínicas dos exames realizados no último semestre de 2004. Esse estudo tem como objetivo identificar os motivos que levam as pessoas a optarem por tal profissão, como também a permanecer nela. Além disso, procurou-se entender a motivação para esse tipo de trabalho. Neste estudo, utilizou-se a abordagem qualitativa, tendo como principal instrumento a análise documental das entrevistas semi-estruturadas realizadas, cujos dados foram categorizados, estabelecendo como pressuposto metodológico a análise de conteúdo. Após o levantamento dos dados, observou-se que os principais fatores que levam as pessoas a optarem pela profissão de vigilante são em ordem decrescente: a baixa escolaridade exigida pelos cursos de formação (4ª. série primária/ ensino fundamental); bom salário quando comparado com o salário mínimo ou do comércio; cursos de formação com carga horária rápida, de custos acessíveis e com baixíssimo índice de reprovação; similaridade “equivocada” com o serviço militar o que atrai aqueles que estão se desligando do militarismo por acharem mais fácil de serem recolocados em uma área semelhante; sentido de utilidade, importância e responsabilidade social por vidas e patrimônios. Esse resultado mostra como tal categoria profissional merece ser mais bem estudada, na medida em que se tornam necessárias pessoas bem preparadas para a profissão de vigilante. Isso demonstra, também, a necessidade de políticas publicas adequadas à segurança pública e privada, de modo a evitar a prostituição de tal profissão.

O TRABALHO COM ESTÓRIAS NUMA INTERVENÇÃO EM SAÚDE MENTAL
Lila Tatiana Queiroz de Carvalho Souza; Lillian Goslee Mielli Black (Universidade Estácio de Sá – Campus Friburgo)

O desenvolvimento da linguagem é importante na vida social, pois através dela podemos expressar
o que sentimos e pensamos. Psicóticos, autistas e deficientes mentais (PNE) têm sua fala desqualificada, seja pela interferência do delírio, seja pela dificuldade em expressar-se. Estórias podem ajudar a trabalhar conteúdos emocionais e facilitar a expressão. O uso do conto de fadas facilita o discurso, já que fala de um outro não pertencente àquela realidade. Baseando-se nisto, uma intervenção utilizando estórias foi desenvolvida com um grupo de pessoas portadoras de necessidades especiais (PNE). Esta foi realizada por estagiárias de psicologia em uma moradia assistida na cidade de Nova Friburgo. Tal moradia é parte do Projeto Integrando, da Academia Brasileira de Ciências, que trabalha para a inclusão social e cidadania de PNEs através do suporte à moradia assistida e ao trabalho. Objetivou-se incentivar expressão de seus sentimentos e pensamentos ampliando o conhecimento pessoal e facilitando as relações inter-pessoais. O grupo era formado por nove moradores e duas estagiárias. Foram realizados três encontros de duas horas cada. Primeiramente foi proposta uma dramatização. O tema era sugerido pelo morador, que criava as falas durante a apresentação, e poderia convidar outros participantes para a peça. Posteriormente, foi realizada uma dinâmica em que a estagiária iniciava uma história e cada componente do grupo ia completando. No terceiro momento, a estagiária apresentou o conto “Joãozinho-porco-espinho-meu”, que fala de um menino metade homem, metade porcoespinho, que teve de sair de casa por não ser aceito pela família. Depois, cada um deveria relatar o que sentiu ao ouvir esta história. O grupo aderiu às atividades de forma que foi possível o surgimento de diálogos, onde puderam escutar e se fazer escutar. A mediação das estagiárias foi necessária para a manutenção da atenção. Mesmo assim, conseguiram expressar seus sentimentos em relação a si e aos outros. Alguns temas levantados por eles foram: liberdade (“quando eu me senti preso?”) e a aceitação dos pais à sua maneira de ser. Falar sobre questões próprias, reconhecer
o que se passa em suas vidas, são passos importantes para a inclusão social. Aceitar as diferenças e manejá-las pode transformar o simples convívio em relações abrindo portas para que eles se sintam mais seguros no convívio social. O ponto fundamental desta dinâmica é dar voz aos loucos, sem desvalorizar este discurso.

AÇÕES DE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL NO SETOR DE RESSOCIALIZAÇÃO DO HOSPITAL ADAUTO BOTELHO
Fernanda Santos Bragatto; Giuliano Assis Landes; Michele Azeredo Frisso; Nélia M. L. Zandonadi; Viven S. Massing; Maria Inês Badaró Moreira (FAESA)

As mudanças da reforma psiquiátrica no Brasil contribuíram no processo de inclusão social do portador de transtorno mental grave, com a passagem do modelo hospitalocêntrico para o modelo extra-hospitalar, contribuindo no resgate da individualidade, na apropriação de direitos civis e na conquista de autonomia. Contudo, em conseqüência do modelo anterior, muitos cidadãos continuam como moradores em hospitais psiquiátricos. A Portaria 106, de 11 de Fevereiro de 2000, institui os Serviços Residenciais Terapêuticos com o objetivo servir como moradias para aqueles que não possuem suporte social e laços familiares. Este dispositivo é destinado aos portadores de transtornos mentais egressos de internações psiquiátricas de longa permanência, constituem uma modalidade de serviços substitutivos à internação psiquiátrica de longa permanência. O Hospital Adauto Botelho é uma instituição inserida nesse processo, apesar do longo processo de desospitalização, dos 170 leitos atuais, 120 ainda são destinados a uma clientela de moradores seqüelas do modelo de assistência psiquiátrica anterior. Este trabalho no HAB inicia-se no setor denominado Pré-Lar e tem como objetivo final preparar os moradores do hospital para melhor adaptar às residências em que serão inseridos. Este trabalho tem como objetivo promover a reintegração social dos pacientes moradores deste setor. As ações realizadas são de construir o histórico do paciente do setor e sua rede de relacionamentos. Organizar dados dos prontuários, com o relato da historia de vida de cada um dos pacientes envolvidos neste projeto. Como também, pesquisar e compreender as potencialidades deste morador inserindo a possibilidade de ida para as residências terapêuticas. Percebemos que temos contribuído positivamente com nosso trabalho para o processo em andamento nesta instituição. Os vínculos estabelecidos com estes participantes foram aos poucos se fortalecendo e criou-se uma relação de confiança mutua e positivação das potencialidades destes moradores dentro do hospital. Acreditamos que para conquistarmos os preceitos da lei 10.216 e da portaria em questão será necessário também articular forças com os profissionais envolvidos, como também, envolvermos outros atores que possam aglutinar forças na luta do fim dos manicômios.

A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM HOSPITAIS DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA – ES
Roberta Alvarenga Almeida; Daiane Casagrande Lorencini; Inglid Aparecida Magri; Ana Paula Martins; Liana Souza Santos; Luziane Zaché Avellar (Universidade Federal do Espírito Santo)

A partir de uma mudança de paradigma no que diz respeito à causalidade da doença, que passa a ser considerada um processo complexo, envolvendo fatores bio-psico-sociais, os hospitais começam a ser um campo de atuação para os psicólogos. Embora estes venham se inserindo de forma crescente em instituições hospitalares, são pertinentes alguns questionamentos: Existe uma função específica delegada ao psicólogo hospitalar? Onde ele atua? Como atua? Que espaços vêm conquistando nos últimos anos? Compreendendo que psicologia hospitalar é ainda recente e que há carência de pesquisas nesta área, a presente pesquisa tem como objetivo descrever as atividades desenvolvidas por psicólogos nas instituições hospitalares do município de Vitória, além de promover uma discussão acerca de tais questionamentos levantados. Foram entrevistados oito psicólogos contratados de grandes hospitais públicos/filantrópicos do município. Foi utilizado um roteiro de entrevista semi-estruturado, contendo questões acerca da formação acadêmica e profissional dos entrevistados. Os resultados mostram que sete psicólogos concluíram sua formação na Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto apenas um se formou em uma faculdade particular em Belo Horizonte, Minas Gerais. Todos os entrevistados relatam não terem recebido formação específica para atuarem em hospitais e que suas trajetórias acadêmicas não ofereceram suporte à prática de psicologia hospitalar. Em relação aos cargos ocupados atualmente, todos os entrevistados afirmam ocupar o cargo de psicólogos e não haver desvio de função. Apenas dois dedicam-se integralmente às atividades hospitalares. Entre as atividades realizadas no ambiente hospitalar relatadas pelos entrevistados, destaca-se: atendimentos nas enfermarias; intervenções em diversos setores; cursos de capacitação para a equipe de saúde; atendimentos ambulatoriais; programas de reabilitação; atendimento e acompanhamento de pacientes nas fases pré e pósoperatório; grupos terapêuticos; entre outros. Todos os profissionais entrevistados afirmam possuir uma boa receptividade de seu trabalho por parte daqueles a quem o trabalho é dirigido. No entanto, por parte dos outros profissionais da instituição, ainda há conflitos, embora muitos já tenham conquistado respeito e reconhecimento de seu trabalho. Espera-se que este estudo divulgue a importância das atividades que estão sendo realizadas por psicólogos nas instituições que foram abordadas neste estudo e denuncie a falta de um direcionamento das grades curriculares, que não têm como foco a área de saúde. Denuncia-se também a escassez de tais profissionais numa área onde a ação do psicólogo é de fundamental importância, sugerindo assim, novas possibilidades de atuação, além de melhorias no que se refere à formação destes profissionais.

A SAÚDE MENTAL EM VIANA: NOVAS PERSPECTIVAS
Patrícia Cardoso Kuster; Rosane Cremasco Campos Dell’Orto (Prefeitura Municipal de Viana)

O município de Viana foi fundado em 1813 por açorianos. Fica localizado as margens da BR 262, a vinte kilômetros de distância da capital Vitória (ES). Sua população é de aproximadamente 58.000 habitantes, sendo que sua economia é baseada na indústria e comércio. A Unidade Municipal de Referência em Saúde Mental, localiza-se no bairro Vila Bethânia, em Viana. Inaugurada em março de 2001, em sede própria, contava apenas com um psiquiatra, uma psicóloga e uma assistente administrativa. O Programa de Saúde Mental foi absolvido rapidamente pela população que encontrou acolhida e tratamento para seus familiares. Com isso, em 2004 o programa teve sua equipe ampliada para: um psiquiatra, duas psicólogas, uma assistente social, uma coordenadora geral, uma estagiária de psicologia, uma atendente administrativa e uma auxiliar de serviços gerais.A Unidade de Saúde Mental atende atualmente a uma demanda de pacientes portadores de transtorno mental adulto ou infanto-juvenil, que necessitem de atendimento psicológico, psiquiátrico, atendimento na área social e orientações diversas. O objetivo do trabalho é auxiliar no tratamento dos portadores de transtorno mental, proporcionando-lhes o desenvolvimento da sua autonomia e cidadania. O paciente é avaliado, visando estabelecer qual a conduta terapêutica mais adequada. O Programa de Saúde Mental visa também o encaminhamento dos pacientes aos programas de desenvolvimento social e encaminhamento à internação quando necessária. No ano de 2005, os serviços prestados aos usuários estão sendo realizados através do atendimento individual (psiquiatria, psicologia e serviço social) e atendimentos em grupo. O Grupo de Atendimento Infanto Juvenil tem como finalidade promover a interação social da criança/adolescente, visando o desenvolvimento da aprendizagem social, percepção de regras e limites no grupo, através de atividades diversificadas. O Grupo de Orientação a Pais tem como objetivo auxiliar os pais em relação à educação de seu filho, através de dinâmicas, textos e troca de experiências entre os participantes. O Grupo de Auto-Estima busca promover efeitos terapêuticos na superação das limitações e bloqueios que ocasionam desgaste, fadiga, estresse, ansiedade, fobias, depressão e conflitos de relacionamento e também proporcionar condições para reestruturação pessoal e estimulação do seu potencial para viver uma vida com autonomia.

PRÁTICAS PSICOSSOCIAIS DE SAÚDE JUNTO A CUIDADORES DE IDOSOS
Beatriz Ferreira Dias Sperandi; Mônica Tinelli Bertollo; Solange Aparecida da Silva; Marcia Roxana Cruces Cuevas (FAESA)

Este trabalho de intervenção faz parte do projeto de estágio “Práticas psicossociais em saúde” do curso de psicologia o qual se propõe construir, junto à comunidade, análises e ações no sentido de prevenção de doenças e promoção de saúde. Esta intervenção está sendo realizada com cuidadores de idosos do bairro Romão, no Município de Vitória/ES, e tem como principal objetivo conhecer e compreender o cotidiano dessa clientela para construir, junto com eles, novas significações do ato de cuidar, resultando daí, uma experiência de fortalecimento no enfrentamento das dificuldades vividas. Para maior entendimento das necessidades e experiências vividas por estes sujeitos adotou-se como estratégia o acompanhamento domiciliar, buscando vivenciar o cotidiano destes cuidadores, utilizando a escuta das demandas destes sujeitos bem como a orientação frente a dúvidas concernentes ao ato de cuidar. Desde março do presente ano são acompanhados 7 cuidadores semanalmente no seu trabalho, num período de 3 horas semanais e pretende-se, ainda neste semestre, realizar um encontro de formação e fortalecimento coletivo. Os resultados, ainda parciais desta intervenção, apontam para a importância deste acompanhamento por profissionais ou técnicos de saúde, por resultar deles valorização e orientação das ações dos cuidadores. Os sujeitos apontam que ser cuidador de idosos não é uma tarefa fácil. Para eles o cuidar exige tarefas complexas, delicadas e, muitas vezes, sofridas já que enfrentam constantes desafios, perdas, limitações e, na maioria dos casos, não se encontram preparados para tanto. Esta intervenção tem possibilitado para os estagiários participar da construção de uma articulação e comunicação concreta entre os vários setores que atendem à comunidade, contribuindo na implementação de políticas de saúde.
COMPREENDENDO A CONSTRUÇÃO DOS VÍNCULOS FAMILIARES E SOCIAIS DOS PORTADORES DE SOFRIMENTO MENTAL
Raquel Rocha Toscano; Marlene Gomes; Maria Inês Badaró Moreira (FAESA)

A mudança na ótica das políticas públicas brasileiras de saúde mental tem propiciado maiores possibilidades de manutenção do portador de transtorno mental grave junto à sua família e à sua comunidade. Nesse contexto, alguns pacientes que viveram internados durante anos ou décadas em hospitais psiquiátricos vêm ganhando a possibilidade de retornar à convivência familiar e ao entorno social, inserindo em serviços intermediários ou ainda, de inserção em programas de residências terapêuticas. Englobar outras abordagens, além da medicamentosa tem evitado internação e uma melhor qualidade de vida ao usuário destes serviços. Apontase assim para a importância do conhecimento do contexto de vida deste sujeito, por parte da equipe técnica da saúde. Neste sentido, o objetivo deste projeto é compreender a construção dos vínculos dos usuários de Centro de Atenção Psicossocial em sua rede social, analisando como isso se reflete em seu tratamento. Participam deste projeto usuários do CAPS Mochuara, situado no Município de Cariacica, ES. Estão sendo realizadas visitas às residências e à comunidade para observação direta. Além disso, tem se construído o estudo de caso de cada um dos participantes por meio de análise de prontuário, que constitui importante fonte de dados para a pesquisa. Na entrevista não estruturada obtêm-se aspectos relevantes da dinâmica atual de seu cotidiano. O acompanhamento terapêutico tem proporcionado análise de relações da rede de sociabilidade, dos vínculos que mantém com os membros de sua família, das pessoas com as quais prefere relacionar-se e ainda das emoções destes encontros.Registramos também, condutas que chama atenção na vida cotidiana em relação aos costumes alimentares, ao sono e à higiene pessoal. Ao escutarmos a família descobrimos a necessidade do cuidado que a ela devem ser dispensados, pois se evidencia o sofrimento familiar, e que quando a família aceita ser cuidada, aumenta a possibilidade de melhora do usuário e sua manutenção no ambiente familiar. Torna-se possível intervir junto ao usuário no contexto familiar compreendendo qual é o papel deste em sua família, qual é sua função nesta rede de relações e afetos, sendo assim viável que a família passe a aceitar sua participação na produção da loucura depositada em um único membro. A estratégia de atenção conjunta a estes usuários estendida à sua família e ao seu entorno social tem promovido avanços nos tratamentos dos participantes.

RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICAS, A CONQUISTA DA VIDA COTIDIANA
Mariana Botelho; Giselle de Paula Bergami; Angelina Maria Torres; Heliane Dantas Pereira de Melo; Kamila Gomes Moreira Dal’Col; Naitê Rezende Monteiro; Olívia Maria Barbarioli Ferrari; Maria Inês Badaró Moreira (FAESA)

A aprovação da Lei 10216, de 06 de abril de 2001 representou um marco na atenção às pessoas portadoras de transtorno mental grave. A Lei disciplina que é dever do Sistema Único de Saúde (SUS) desenvolver ações com vistas a possibilitar ao paciente ser tratado com humanidade e respeito, ser protegido contra qualquer forma de abuso ou exploração, ter garantia de sigilo nas informações prestadas, ter direito à presença médica em qualquer tempo, ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis, receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento, ser tratada em ambiente terapêutico e ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental. Este trabalho visa promover a reintegração social do futuro usuário da residência terapêutica. O projeto será desenvolvido primeiramente nos pré-lares (enfermarias dentro do Hospital Adauto Botelho) e após a mudança dos usuários para as residências, o foco de trabalho será as residências terapêuticas, o comércio e demais locais que os pacientes estejam inseridos. Visto que a quantidade de usuários é grande para o número de funcionários, consideramos oportuno implementar ações que visem auxiliar a equipe, tais como: promover passeios, programar ações que visam o auto-cuidado, auto-ajuda e auto-estima através de dinâmicas lúdicas que o aproximem da vida cotidiana, promover a interação dos usuários dos pré-lares com os das residências terapêuticas já existentes, dentre outros. Os pré-lares são enfermarias apropriadas para tal preparação, são constituídos de cômodos e utensílios semelhantes aos de uma residência padrão e se constitui como uma preparação para as futuras moradias em residências terapêuticas. Nossos primeiros contatos com usuários e funcionários, foram feitos por meio de conversas informais a fim de obter informações a respeito das etapas que os mesmos percorrem para se tornarem aptos a serem direcionados às residências terapêuticas. O processo de ressocialização é dedicado a acompanhar os usuários dos pré-lares e potencializar a autonomia deles, ou seja, ajudá-los em como se adaptarem da melhor forma possível em um local diferente daquele ambiente em que estão acostumados a viver, que é o hospital.

PSICOLOGIA SOCIAL E SAÚDE – HOSPITAL GERAL
Cláudia Paresqui Roseiro; Helena Quintas; Juliana Oliveira; Thatiara Tietz; Natália Salviato Nespoli; Luziane Zacché Avellar (Universidade Federal do Espírito Santo)

A Psicologia da Saúde surge como um novo campo de saber que exige novas perspectivas teóricas, assim como uma revisão da atuação do psicólogo. Constata-se que houve uma ampliação do objeto de estudo pela psicologia da saúde, e passou-se a considerar o processo saúde/doença como histórico e multiditerminado, mesmo predominando os modelos médico e psicológico individualistas a - históricos, gerando assim, um enfoque interdisciplinar articulando diferentes olhares acerca da saúde, cujo conceito adotado foi o definido pela Organização Mundial de Saúde. Objetivou-se analisar a concepção da atuação do psicólogo dentro de uma equipe multiprofissional de saúde em um hospital geral, tomando como referencial a Psicologia Sócio-Histórica especialmente as teorias das representações sociais e identidade. Foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas, as quais foram gravadas e posteriormente transcritas com prévia autorização dos colaboradores. Foram entrevistados sete profissionais em seus locais de trabalho, os quais constituem parte da equipe de saúde de um hospital pediátrico e público de Vitória, ES, das seguintes especialidades: médico plantonista, fonoaudióloga, enfermeira, fisioterapeuta, assistente social, psiquiatra e psicólogo. Para análise dos resultados utilizamos a metodologia qualitativa. Verificou-se que o trabalho do psicólogo nesta equipe multiprofissional é considerado de grande importância e apontado como necessário pelos demais profissionais, uma vez que, contribui com seu saber para melhorar a compreensão do processo de adoecimento como um fenômeno coletivo, além de contribuir para a humanização do hospital, amenizando o processo de despersonalização do doente. Alguns colaboradores ressaltam a necessidade de ampliação de contratações de profissionais da psicologia, denunciando, muitas vezes, o descaso por parte das políticas de saúde de inserir de maneira mais efetiva o trabalho destes profissionais. Constatou-se a necessidade de maior fundamentação teórica a fim de subsidiar as ações que ampliam os limites tradicionais do atendimento. Além disso, percebeu-se a importância da formação acadêmica para a inserção do psicólogo nesse campo, já que, o contexto atual dos serviços públicos de saúde requer novas habilidades dos profissionais.
PROMOVENDO A SAÚDE DO TRABALHADOR EM EMPRESA DO RAMO ALIMENTÍCIO
Aline Brandão de Siqueira; Anísio José da Silva Araújo; Fabiana Ribeiro Monteiro; Raquel Melo Bezerra (Universidade Federal da Paraíba)

Nos últimos anos é possível observar que a prática do psicólogo em organizações não se restringe mais ao tripé clássico recrutamento, seleção e treinamento. O presente trabalho recupera a experiência de psicólogos em uma indústria do ramo alimentício, situada no Município de João Pessoa – PB, objetivando mostrar que a sua atividade percorre desde a inserção do trabalhador na empresa até o seu desligamento. O trabalho dos psicólogos, com
o intuito de integrar o novo trabalhador, envolve atividades como: apresentar os diversos setores e trabalhadores da empresa, ministrar cursos e palestras que situem os objetivos e horizontes perseguidos pela empresa, entre outras. Nesse sentido, seu trabalho apenas se inicia com a contratação do trabalhador, devendo prosseguir por todo o tempo em que este estiver vinculado à empresa. O psicólogo deve, também, atuar no sentido de promover a saúde dos trabalhadores, organizando espaços onde as questões de saúde e segurança no trabalho possam ser debatidas, a exemplo das SIPATs (Semanas Internas de Prevenção de Acidentes) e Semanas de Saúde. Com base na Ergonomia Situada procurou-se, a partir de intervenções nas condições de trabalho, propor melhorias em prol da saúde dos trabalhadores da empresa. Inicialmente, procedeu-se a um levantamento diagnóstico, a partir de algumas vistorias nos setores da empresa, especialmente aqueles tipificados como “chão de fábrica” (produção), do que resultou uma agenda de mudanças no sentido de melhor adequar os ambientes e meios de trabalho, evitando um desgaste ‘desnecessário’ nos trabalhadores. Esse trabalho foi desenvolvido juntamente com profissionais de segurança da empresa, que se encarregaram de encaminhar e negociar as propostas de mudanças à diretoria, a exemplo de modificações nas instalações físicas, providenciar equipamentos como ventiladores, assim como aumentar e melhorar a qualidade dos EPIs, entre outras. Essa experiência, bem recebida pela direção da empresa e pelos trabalhadores, serve para que os psicólogos possam ampliar
o seu horizonte de atuação para além do tripé recrutamento-seleção-treinamento, herança taylorista que, infelizmente, ainda hegemoniza o campo de atuação do psicólogo organizacional do trabalho.
O EFEITO DA TERCEIRIZAÇÃO NA ÁREA DE RECURSOS HUMANOS NO TRABALHO DO PSICÓLOGO
Raquel Melo Bezerra; Anísio José da Silva Araújo; Aline Brandão Siqueira; Fabiana Ribeiro Monteiro (Universidade Federal da Paraíba)

O mundo do trabalho vem sofrendo grandes transformações desde o taylorismo. Atualmente, observa-se a necessidade de empresas mais flexíveis e funcionários mais engajados na missão organizacional. Em um ambiente de crescente competitividade uma empresa necessita atrair e manter os profissionais mais competentes e criativos caso deseje prosperar. Neste sentido, a gestão de recursos humanos emerge como uma questão central, fortalecendo a importância do papel fundamental desempenhado pelo elemento humano nas organizações. Neste sentido, constata-se uma vertente de mudança que tem levado os órgãos de Recursos Humanos (RH) a deixarem de ser simples encarregados da racionalização de cargos ou de programas assistenciais, afastando-se de tarefas rotineiras e postura burocrática para tratar de aspectos relevantes da organização. Neste contexto surgem as Consultorias Organizacionais como um instrumento de apoio ao setor de recursos humanos, com a finalidade de contribuir com o crescimento e desenvolvimento organizacional e pessoal dos funcionários, traduzindo as diretrizes e objetivos da empresa para todo corpo funcional. A consultoria presta serviços voltados à gestão organizacional, tendo como foco a necessidade de cada empresa, para tanto necessita de profissionais capacitados para atuar em diversos contextos. O desmonte do setor de RH fez com que as atividades realizadas por este fossem externalizadas e terceirizadas para as consultorias organizacionais. Com este fenômeno observa-se que à medida que se fecha um espaço de trabalho do psicólogo na organização, abre-se um campo de atuação nas consultorias. Esse novo campo se caracteriza por uma diversidade e complexidade de atividades, intensificação do trabalho e por uma instabilidade na remuneração, visto que esta dependerá das comissões recebidas pela consultoria. As atividades realizadas durante o estágio acadêmico em uma consultoria da cidade de João Pessoa foram além do tripé tradicional, recrutamento, seleção e treinamento. Pode-se destacar: o diagnóstico organizacional; a descrição e análise de cargos; a elaboração e implantação de programas de integração de novos funcionários e de estagiários; o levantamento de necessidades e a elaboração de programas individuais e grupais de capacitação e desenvolvimento de profissionais. Enfim, percebe-se que psicólogo nesse novo formato organizacional necessita de uma formação adequada que o habilite a trabalhar em diversos e dinâmicos contextos organizacionais.

PRÁTICAS PSICOSSOCIAIS DE SAÚDE JUNTO AOS ADOLESCENTES
Alexandra Bispo Piumbini; Geovana Meyrelles; Marlene Antunes Pancieri; Patrícia Pelisson Pina; Polyana Bragança Luna Ribeiro; Roberta de Abreu Pacheco; Thiago Moulin Tófano; Marcia Roxana Cruces Cuevas (FAESA)

Entende-se a adolescência como uma construção sócio-histórica, ou seja, construída historicamente de acordo com as necessidades da sociedade. Hoje a adolescência é colocada como um período de transição entre a infância e a fase adulta, onde o individuo vive experiências marcadas pelo conflito, rebeldia, instabilidade, busca de sua identidade entre outros. Mas nem todos passam pela fase da adolescência da mesma forma. Assim, visou-se abandonar as visões naturalizantes a respeito da adolescência, pois esta impede a visão dos sujeitos/protagonistas de seu contexto social. Esta intervenção tem como principal objetivo conhecer e compreender as significações atribuídas por estes sujeitos ao seu desenvolvimento e condições de vida para produzir, junto com eles, reflexões históricas que permitam o fortalecimento dos mesmos a fim de deflagrar mudanças significativas em suas vidas e na sua realidade. Este trabalho segue o delineamento da pesquisa-ação e os estagiários e os adolescentes são sujeitos da construção de possibilidades de existência. Para isso, adotou-se como estratégia de trabalho o processo grupal, onde são utilizadas técnicas grupais e o constante diálogo e análise da realidade. Participam desta experiência em torno de 60 adolescentes entre 12 e 17 anos, respectivamente, que se reúnem em 3 grupos diferentes, uma vez por semana num período de 3 horas. Os temas mais abordados pelos grupos giram em torno das questões: ser e estar adolescente, família, violência e sexualidade, etc. Os resultados, ainda parciais, apontam para a importância da parceria junto à Unidade de Saúde, à Escola Pública e a Organizações Não Governamentais que atendem a esta comunidade. Este trabalho de intervenção tem possibilitado, principalmente, a construção e aproximação da profissão de psicólogo pautada pelo compromisso social, assumindo gradualmente seu significado e sua complexidade.
PRÁTICAS PSICOSSOCIAIS EM SAÚDE NO ENVELHECIMENTO
Estefânia Paula de Oliveira; José Dias Batista; Margareth Emerich; Marcia Roxana Cruces Cuevas (FAESA)

Este trabalho de intervenção faz parte do projeto de estágio “Práticas psicossociais em saúde” do curso de psicologia, o qual se propõe a construir, junto à comunidade, análises e ações no sentido de prevenção de doenças e promoção de saúde. Esta intervenção está sendo realizada junto a idosos, moradores do bairro Romão, localizado no Município de Vitória/ES, e tem como principal objetivo conhecer e compreender as significações atribuídas por estes sujeitos às práticas de saúde do idoso, para construir, junto eles, novos modos de relacionar-se com estas questões. Para isso, adotou-se como estratégia o processo grupal, onde são utilizadas técnicas de relaxamento, exercícios corporais de respiração, técnicas grupais e o constante diálogo e análise de suas realidades. O grupo é composto de 34 pessoas e se reúne desde março deste ano, durante 2 horas e 30 minutos semanais, em um espaço da comunidade ou na própria Unidade de Saúde da Família do bairro, e deverá continuar sistematicamente até o final de julho. Os resultados, ainda parciais, apontam para a importância na continuidade desses encontros, pois não existia na comunidade um grupo que congregasse esta clientela em torno das questões de saúde. O processo grupal tem se mostrado uma excelente estratégia de fortalecimento, organização e atendimento às necessidades dos idosos, pois ao desenvolver momentos de análise da realidade, das políticas públicas e serviços dirigidos a esta clientela, os sujeitos passam a vivenciar momentos de ação coletiva que inauguram uma outra relação consigo mesmo, com a natureza e com a sociedade. Esta construção tem possibilitado também, tanto para os idosos, quanto para os estagiários, a experiência de uma tarefa coletiva que integra diversas ações e fortalece a articulação e comunicação dos vários setores que atendem à comunidade, além de contribuir na implementação de políticas de saúde, buscando e construindo constantemente a integração e o diálogo junto aos profissionais que os atendem.

PLANTÃO PSICOLÓGICO: CUIDADO E HUMANIZAÇÃO
Lorena Valfré; Patrícia Biancardi; Mariza Lubiana Nali; Milena Sossai Gobo; Rubia Goberio Frisso; Loraine Pinheiro Largura; Márcia Aparecida Ladislau; Franciela Pelissari Vancini (UNILINHARES)

O Plantão Psicológico é um projeto idealizado pelo curso de psicologia do Sistema de Ensino Unilinhares, desenvolvido no Hospital Geral de Linhares/ES (HGL), com a participação de alunos. Coordenado pela professora Maria do Rosário Camacho, o projeto tem por objetivo compartilhar sentimentos relacionados ao adoecer. Iniciado em agosto de 2004, é disponibilizado aos internos do HGL nas enfermarias masculina, feminina e pediátrica. A proposta tem sido ampliada para a população hospitalar, incluindo funcionários e acompanhantes. A equipe do projeto Plantão Psicológico é formada por oito alunas, que atuam em duplas, junto à professora, com uma carga horária de quatro horas semanais em horários previamente estabelecidos plantões. O projeto vem contribuindo para a ampliação da saúde preventiva, buscando focar sua atividade em um contexto grupal. A oferta do serviço é realizada nas enfermarias onde se busca criar um espaço potencializador da escuta grupal. Nesse sentido, visa a troca de experiências acerca do adoecer. A importância do projeto Plantão Psicológico é possibilitar aos alunos vivenciar experiências, desenvolvendo as habilidades de observar e escutar, visando uma atuação futura. O referencial teórico-metodológico utilizado pelo plantão psicológico concentra-se na abordagem fenomenológico-humanista-existencial. Dentro desta perspectiva, a proposta da Abordagem Centrada na Pessoa (Rogers, 1961) é a diretriz para as ações do plantão psicológico. O conceito de escuta empática constitui a base norteadora da ação, clareando e refletindo os conteúdos emocionais comunicados. A busca pela humanização de espaços da área da saúde tem sido uma tônica de nossas praticas atuais. Profissionais de diversos campos e saberes vem defendendo esta bandeira. Efetivar um projeto como o plantão psicológico, com seu referencial teóricometodológico pautado na psicologia existencial-humanista, é contribuir para este movimento mais amplo em prol da melhoria da qualidade dos serviços de saúde.

PRÁTICAS PSICOSSOCIAIS EM SAÚDE NA EDUCAÇÃO
Ivana Castiglioni Nunes; Josely Abreu Silva; Lúcia Pereira Baptista; Mariângela Miranda Ferreira Macedo; Marcia Roxana Cruces Cuevas (FAESA)

As críticas elaboradas às práticas psicológicas no âmbito escolar denunciam o caráter técnico assumido pelos psicólogos que centram seu trabalho no indivíduo em detrimento de uma compreensão dos processos psicossociais presentes nas relações cotidianas. Levando em consideração tais contribuições entende-se que a relação entre psicologia e educação deve partir de uma concepção múltipla, histórica, social e processual. Isto significa a superação de uma perspectiva pedagogicista – que centra sua atenção nas dificuldades e deficiências do indivíduo
– e a construção de uma experiência que supere a histórica institucionalização da infânciamediante categorização, adestramento, compartimentalização, disciplinarização dos espaços, tempo e movimentos. Este trabalho de intervenção faz parte do projeto de estágio “Práticas psicossociais em saúde” do curso de psicologia o qual se propõe construir, junto à comunidade, análises e ações na direção da promoção da saúde. Esta intervenção está sendo realizada desde agosto de 2004 junto à comunidade educativa de um Centro de Educação Infantil da Prefeitura Municipal, localizada no bairro do Romão do município de Vitória/ES e caracteriza-se pela implementação de três grandes ações: a primeira, junto a professores e alunos, no acompanhamento e multiplicação de momentos coletivos de significação do ato de aprender e educar; a segunda, junto a alunos com necessidades educativas especiais, possibilitando as potencialidades destes sujeitos; a terceira, junto a mães desempregadas no sentido de construir novas relações consigo mesma e com a sociedade. As estratégias utilizadas são oficinas de artes (teatro, música, bonecas artesanais, argila, entre outras) que objetivam potencializar e estimular
o trabalho criativo e coletivo na construção da realidade. Os resultados, ainda parciais, apontam para a necessidade de construir práticas coletivas de análise do cotidiano escolar e social e uma constante interação com a comunidade do entorno da escola. Além disso, este trabalho de intervenção tem possibilitado para os estagiários de psicologia uma concreta aproximação dos desafios do encontro da psicologia com a educação, superando o caráter técnico assumido pelos psicólogos que centram seu trabalho no indivíduo em detrimento de uma compreensão dos processos psicossociais presentes nas relações cotidianas.

ASPECTOS PSICOLÓGICOS NA CIRURGIA BARIÁTRICA: UMA VISÃO MULTIDISCIPLINAR
Janaína Bichi de Barcellos; Flávia Carvalho Bitencourt; Jéssica Berger Corrêa;Giuseppe Dias Augusto Fernandes; Ricardo Meneses Miguel; Fernanda da Silva; Luziane Zaché Avellar (Universidade Federal do Espírito Santo)

A obesidade constitui um fator de risco à saúde e é tratada cirurgicamente em pacientes com IMC superior a 40, associado a comorbidades e após fracasso do tratamento por métodos tradicionais como a orientação dietética, a programação de atividades físicas associados ao uso de fármacos. Dentre os aspectos avaliados para a realização da cirurgia bariátrica, está o aspecto psicológico. A presente pesquisa propõe-se a verificar a visão de uma equipe multidisciplinar da Grande Vitória sobre tais aspectos envolvidos nessa cirurgia, abordando e considerando o que cada profissional dessa equipe considera como aspecto psicológico. Foram entrevistados os seis profissionais da equipe multidisciplinar que realiza a cirurgia bariátrica de um hospital da Grande Vitória. Foi utilizado um roteiro de entrevista semi-estruturada, contendo questões onde se buscou conhecer quais são os aspectos psicológicos envolvido na cirurgia. As entrevistas foram analisadas utilizando-se a análise temática, destacando-se os núcleos de significação. Foi observado que todos profissionais, com exceção da psicóloga, não apresentaram total confiança quanto aos aspectos psicológicos envolvidos na cirurgia, mas apesar disso todos citaram alguns, sendo que: aspectos relacionados a história individual do paciente foi pouco citado em contrapartida dos aspectos relacionados ao paciente estar ou não preparado psicologicamente a realizar a cirurgia. Todos os profissionais consideraram a psicóloga como maior, senão única, responsável pela avaliação dos aspectos psicológicos que um candidato a realizar a cirurgia deve possuir ou não. Os aspectos psicológicos encontrados no discurso da equipe foram agrupados em sete núcleos: sintomas, patologias, socialização, vícios, auto-estima, competência cognitiva intelectual e preparação como um todo. Os núcleos sintoma, patologia, vício e competência cognitivo intelectual são citados principalmente como aspectos que impediriam a realização da cirurgia ou como aspectos que deveriam ser trabalhados no pré-operatório para tornar o paciente apto ou preparado a enfrentar a cirurgia. Os aspectos psicológicos relacionados ao pós-operatório mais citados foram a socialização e a auto-estima, citados nos discursos como decorrência da cirurgia. Verificou-se que os aspectos que impediriam a realização da cirurgia não seriam fatores definitivos, e que através de um acompanhamento psicológico, o paciente poderia ser operado. Nota-se a pouca produção de trabalhos envolvendo os aspectos psicológicos da cirurgia bariátrica, espera-se que novos enfoques além do desta pesquisa sejam desenvolvidos em pesquisas posteriores.

SAÚDE DO TRABALHADOR DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Ana Carolina Marins Bezerra; Bianca Izoton Coelho; Daniela Moraes de Oliveira; Luziane Zacché Avellar; Marianna Rodrigues Patta; Priscila Lopes Roldi (Universidade Federal do Espírito Santo)

Na perspectiva da Saúde do Trabalhador, o indivíduo tem direito irrestrito à saúde e à cidadania, de acordo com seus anseios e necessidades, concentrando o interesse nas interpretações e construções que ele faz a partir de suas representações da realidade social e de trabalho, sempre permeadas por suas crenças e valores. O objetivo foi verificar a questão das representações do processo saúde/doença no discurso do trabalhador da educação especial. Procuramos, assim, trazer um panorama histórico, abordando ainda aspectos atuais da saúde do trabalhador da área da educação, com um enfoque na saúde do educador de crianças especiais. Nossa meta foi levada a efeito através de entrevistas semi-estruturadas a cinco profissionais da educação especial (professores da APAE Vitória – ES), das quais algumas foram gravadas em vídeo e outras se constituíram de relatos verbais. Os trechos mais relevantes das falas foram transcritos e articulados às questões levantadas pelo presente trabalho. Devido às nossas experiências prévias com cuidadores de crianças portadoras de algum tipo de deficiência, criamos um estereótipo de que os educadores que iríamos entrevistar enfrentariam, de forma semelhante, dificuldades na prática profissional, tanto ao lidar com a criança como ao lidar com os sentimentos que são produzidos em si mesmo por meio dessa interação. Através das entrevistas, percebemos que as dificuldades realmente existem, porém há aspectos desse trabalho que são muito gratificantes para quem o executa. Aspectos como satisfação, sentimento de valorização pessoal e profissional estão presentes nos relatos, apesar de relatarem a necessidade de tempo para adaptação a uma outra realidade e falta de apoio psicológico aos próprios professores. As concepções de cada um a respeito de si e do mundo precisam ser compreendidas como produtos de processos de produção de subjetividade. Logo, compreendemos que valorizar o discurso do trabalhador nos permitiu apreender a representação do que é saúde e trabalho para cada indivíduo que se insere neste processo.

RESIGNIFICANDO O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA ATRAVÉS DA SALA DE ESPERA: IMPLICAÇÕES DO PROJETO VIVA A VIDA NA PEDIATRIA HEMATOLÓGICA DO HUCAM-UFES
Cíntia Aparecida Ataíde; Cecília Maria Silva; Rachel Lacourt Costa (Universidade Federal do Espírito Santo)

Viva a Vida é um Projeto de Extensão Universitária da UFES, implantado no setor de Hematologia Pediátrica do HUCAM. Sua missão é garantir atendimento de qualidade aos pacientes da hematologia pediátrica. O projeto iniciou em 2003 e reúne vários profissionais da saúde que trabalham de forma interdisciplinar, viabilizando um atendimento mais qualificado e humanizado aos seus pacientes e familiares. Dentre as diversas patologias atendidas na Pediatria Hematológica, existe uma parcela significativa de pacientes com problemas hematológicos crônicos, tais como Anemia Falciforme, â-talassemia, entre outros, o que resulta em tratamentos longos e evasivos para a criança. O processo de adoecimento, seja de forma aguda ou crônica, interfere na dinâmica da vida da criança e de seus familiares. A criança doente é retirada de seu ambiente, tem que enfrentar hospitalizações contínuas e tratamentos dolorosos, gerando ansiedade, medo, fragilização, baixa auto-estima, reduzindo drasticamente sua qualidade de vida. Objetivou-se a implantação da sala de espera na pediatria hematológica visa minimizar as intercorrências bio-psico-sociais provocadas pelo processo de adoecimento e garantir humanização do tratamento aos pacientes atendidos neste setor . Além de promover um ambiente acolhedor, a sala de espera é um espaço de escuta onde os pacientes e familiares, expressam suas ansiedades e medos frente ao processo de acometimento da doença. Além disso, tem-se o objetivo de orientação e educação aos familiares e/ou cuidadores responsáveis pela criança. Recursos de dinâmica de grupo adaptados para adultos e crianças, além de técnicas psicoterapêuticas para atendimento em grupo, são alguns dos dispositivos utilizados na sala de espera enquanto instrumento facilitador para pacientes e familiares externalizarem seus sentimentos, medos e dúvidas sobre os acometimentos provocados pelo adoecimento. Através da sala de espera o paciente tem a possibilidade de minimizar seus sofrimentos e construir mecanismos de enfrentamentos que lhe proporcionará o fortalecimento de seus recursos internos, possibilitando uma atuação mais positiva no tratamento e garantindo melhoria na sua qualidade de vida. A sala de espera reduziu significantemente a ansiedade dos cuidadores e pacientes em relação aos aspectos da doença. A partir da experiência da sala de espera, pacientes e familiares tiveram a oportunidade de entender melhor o processo da doença , passaram a apresentar maior segurança ao lidar com as intercorrências, identificando com mais facilidade sinais e sintomas de gravidade da doença. O conhecimento dos mecanismos da doença tornou-se um facilitador para o enfrentamento e reconhecimento das possibilidades de uma vida normal, apesar da doença crônica.
FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO PARA ATUAÇÃO EM INSTITUIÇÕES DE SAÚDE
Danielli Merlo de Melo; Fernanda Stange Rosi; Luziane Zacché Avellar; Maytê Bellesa da Silva; Thaíssa Tomaz de Araújo Vieira (Universidade Federal do Espírito Santo)

O campo da saúde mental tem passado por diversos desafios e inovações teóricas e práticas que podem ser resumidos em um grande esforço inter-teórico e interdisciplinar, principalmente no processo atual de reforma psiquiátrica. Esta inovação não tem perpassado a formação do psicólogo brasileiro. Durante muitas décadas, o ensino de psicologia esteve voltado para um modelo único valorizando o atendimento psicoterápico, em detrimento do contexto sóciohistórico. Esta prática, teve por conseqüência, dentre outras, a inviabilização de ações transdisciplinares. A recente integração do psicólogo ao sistema de saúde pública, não tem implicado necessariamente em uma ampliação da função social, uma vez que ainda insiste em um modelo em que práticas autônomas e psicoterapêuticas continuam a ser priorizadas, enquanto sinônimo de atuação clínica. Como forma de alterar esta realidade, deve ser observada a formação profissional, uma vez que esta necessita de reformulações, para que o futuro profissional “psi” tenha chance de atuar de uma maneira mais comprometida com o social. Nas universidades, a psicologia deve ser vista como prática socialmente articulada, sendo necessária uma compreensão ampliada da saúde pública e das instituições que a atravessam. Nesse sentido, a formação em psicologia deve proporcionar ao estudante a oportunidade de saber buscar o conhecimento sobre os objetivos da instituição e analisar as demandas para assim fazer o planejamento para possíveis intervenções. Também é importante para uma formação mais ampla e significativa do psicólogo apreender o seu cliente como coletivo e planejar coletivamente em equipes as práticas de atuação. Dessa maneira, a equipe pode projetar uma atuação que resulte na integração de muitas áreas, mesmo se a ação se der de forma individual. A psicologia precisa conhecer a população que vem sendo atendida por ela. É necessário que se ouça e entenda as formas de expressão que não são valorizadas e idealizadas pela área ‘psi’. A psicologia deve se inserir nas diversas áreas do saber humano, de forma comprometida com a produção de conhecimento, não desconsiderando a permanente transformação social e ideológica pela qual nossa sociedade passa. Com isto não estaríamos desprezando a clínica enquanto possibilidade de intervenção, mas reinventando esta, a partir de uma perspectiva social e transdisciplinar.

POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE MENTAL NA UNIVERSIDADE
Renata Capovilla Romero; Bruna Mozer Prucoli; Danielli Merlo de Melo; Douglas Ferrugine Seidel; Fernanda Stange Rosi; Graziella Almeida Lorentz; Hítala Maria Campos Gomes; Josélia Soares; Lucas Fraga Gomes; Nathalia Borba Raposo Pereira; Geraldo Alberto Viana Murta; Tânia Mara Alves Prates (Universidade Federal do Espírito Santo)

O Programa de Extensão da UFES Cada Doido com Sua Mania (CDSM) tem sido importante na Universidade, questionando-a enquanto lugar exclusivo de produção de saber desvinculado da prática e recolocando-a como capaz de saber fazer nas Instituições Públicas. Seu aporte à clínica em saúde mental tem trazido ganhos por produzir um novo olhar sobre as políticas públicas aos moldes da desospitalização orientada pelo movimento da reforma psiquiátrica, inserido no SUS. Possui como proposta de ação: inclusão social, tratamento clínico interdisciplinar, responsabilização, formação profissional e extensão universitária. A equipe do CDSM se organiza de forma inter e transdisciplinar, sendo as disciplinas atravessadas por uma ética comum, orientando-as em referência ao sujeito. Todos - estudantes, professores e profissionais - têm trabalhado, não só a desospitalização, mas em seus efeitos posteriores na sociedade, na construção de uma rede em Saúde Mental, em uma proposta que implica no reconhecimento da angústia humana. Para profissionais e alunos a atuação e formação continuada em saúde mental em um meio analítico, produtivo e capaz de articular teoria e prática, tem desenvolvido um percurso no qual os universitários transformados por esta ótica não recuam nem frente à angústia humana nem frente ao trabalho no serviço público. Atualmente, trabalha no desenvolvimento de um serviço de saúde mental dentro da UFES, o CACIA (Centro de Atenção Continuada para Infância, Adolescência e Adultos). A parceria com a SAC (Secretaria de Assuntos Comunitários da UFES) reflete a intensa demanda interna em questões que envolvem sofrimento psíquico. O vínculo com o HINSG (Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória) responde a uma busca de seu Serviço de Saúde Mental de tratamento específico posterior à internação. São recebidos pacientes com sofrimento na esfera afetiva, transtornos mentais graves e fenômenos psicossomáticos. Esta proposta clínica envolve a construção de Projeto Terapêutico para cada paciente, constituído por atendimento individual, grupal, familiar e oficinas terapêuticas como instrumento privilegiado.

CONSULTA DE ENFERMAGEM: UMA ABORDAGEM DIFERENCIADA PARA MULHERES ALCOOLISTAS
Andressa Tomazini Borghardt; Jeanine Aranda Corrêa; Marluce Miguel de Siqueira (Universidade Federal do Espírito Santo)

A emancipação das mulheres e as conquistas por direitos iguais expõe o sexo feminino a muitos perigos inclusive o uso indevido da bebida contribuindo para o aumento das estatísticas de alcoolismo entre mulheres. A Enfermagem busca então atuar através de metodologias assistenciais como a Consulta de Enfermagem e Visita Domiciliar para atender entre outras, as especificidades dessa clientela. Diante disso, o Programa de Atendimento ao Alcoolista do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo
- PAA/HUCAM/UFES procura, através de uma proposta interdisciplinar e em regime ambulatorial, assistir o paciente alcoolista e seus familiares. Este trabalho, portanto, tem como objetivo analisar as atividades desenvolvidas pela enfermagem na consulta dirigida às mulheres alcoolistas do PAA/HUCAM/UFES, assim como avaliar através das visitas domiciliares o aprendizado da educação em saúde. O trabalho foi desenvolvido através da análise dos prontuários e de um roteiro de visita domiciliar para verificar as mudanças de hábitos e conscientização das pacientes atendidas após as primeiras consultas no Programa, durante o período de agosto de 2004 a janeiro de 2005, das quais obtivemos os seguintes resultados: 10 consultas realizadas, 50% de primeira vez e 50% de retorno. Deste total, 100% participaram da Reunião de Sala de Espera e 20% de Alcoólicos Anônimos. Com relação às orientações com ênfase nas necessidades humanas básicas, constatou-se que 100% foram alimentação, hidratação, sono e repouso, atividade física e sócio-espiritual, 80% sobre higiene, atividade recreacional e ocupacional e 60% sobre sexualidade. Sobre orientações de alcoolismo-doença, a ênfase foi conceito de alcoolismo 10%, 40% estágios da intoxicação e 20% epidemiologia, ação do álcool no organismo e sucesso do tratamento e quanto ao aprendizado verificado na visita domiciliar para mudanças de hábitos foi de 100% para conhecimento sobre a doença, prevenção a recaída, 80% para alimentação e 60% higiene e sócio-espiritual. Os achados demostram que a manutenção da abstinência do álcool tem sido auxiliada pelas orientações, mas as mudanças no estilo de vida fazem parte de um processo contínuo ainda no início.
PLANEJAR PARA SE CUIDAR: A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM GRUPOS DE PLANEJAMENTO FAMILIAR DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE EM AFONSO CLÁUDIO
Samira Bissoli Saleme (Universidade Federal do Espírito Santo)

O planejamento familiar é parte integrante do conjunto de ações de atenção à mulher, ao homem ou ao casal, dentro de uma visão de atendimento global e integral à saúde – é o que rege a Lei Federal nº 9.263/1996. A inserção do psicólogo em uma Equipe Multidisciplinar de Planejamento Familiar é, portanto, pertinente. Um dos espaços que têm sido abertos para discussão da inserção do psicólogo na saúde pública é aquele que se preocupa em como atuar em grupos. As práticas em psicologia já institucionalizadas, no contexto dessa intervenção, vêem a ação do psicólogo como muitas vezes inserida somente no individual, no intrapsíquico, perdendo de vista que a subjetividade se vincula ao campo político. Ao se inserir nesse trabalho, esse profissional acaba por ter à sua frente o desafio de se integrar a um sistema de saúde ancorado na universalidade, integralidade, eqüidade e descentralização - princípios sustentadores do SUS. O desafio, ao se delinear o processo de intervenção, foi de se trabalhar de forma produtiva com grupos em saúde pública, especificamente em nível de prevenção em grupos de Planejamento Familiar no município de Afonso Cláudio (ES), no sentido de resgatar uma prática que considerasse o contexto público de atuação. Traçamos como objetivos promover condições e recursos informativos, educacionais, técnicos e científicos que assegurassem o livre exercício do planejamento familiar. Foram formados grupos de planejamento familiar de, no máximo, 16 pessoas, incluindo casais e homens / mulheres individualmente. Iniciava-se um ciclo de palestras, dinâmicas de grupo e atendimento ambulatorial: todos passavam por consultas médicas, consultas de enfermagem, grupos informativos e operativos mediados pela psicóloga e orientação de uma assistente social. Os cuidados básicos para consigo mesmo e para com sua saúde foram a porta de entrada do trabalho da equipe transdisciplinar com os grupos. Nesse sentido, houve um refletir sobre a parcela de responsabilidade de cada um nesse processo de construção do planejamento familiar, em um trabalho de cunho não apenas assistencial, mas, principalmente, preventivo. Houve, por parte da equipe de trabalho, a constatação da necessidade de se pensar em práticas que sejam condizentes ao espaço de atuação, ou seja, que considerem a saúde como um todo implicado em práticas e ações que visem a uma assistência integral à população atendida, sem deixar à margem questões sócio-políticas que envolvem um atendimento integral à saúde.

TRABALHO E DESEMPREGO: UMA PROPOSTA INTERATIVA NA CONSTRUÇÃO DE UMA POSTURA ATIVA ACERCA DAS EXIGÊNCIAS DO MERCADO DE TRABALHO
Eduardo Barbosa Lopes; Emilio Nolasco de Carvalho; Felipe de Carvalho Pimentel; Lucinéia Pesente; Marusa Pereira da Motta (FAESA)

O trabalho acompanha o homem garantindo-lhe a sobrevivência e participando diretamente de suas construções sociais. As pessoas são marcadas por sua ocupação. Dessa forma, o fato de estarem empregadas ou não, de poderem escolher seu emprego, assim como os anseios depositados no trabalho e no cargo que ocupam, determinam e influenciam diretamente suas vidas como um todo. Nesse sentido o prestígio ou a desvalorização da pessoa, em sua vida na comunidade, passa também pelos discursos e práticas em torno do trabalho. Faz-se notório então perceber o quanto
o trabalho está intrinsecamente ligado à construção identitária e à rede de sociabilidade em que um indivíduo se insere. No cenário econômico atual a questão do desemprego apresenta-se como estrutural. A partir disso, promover reflexões e reconstruções acerca dessa realidade revelou-se essencial como uma proposta de ação. Essa demanda fez-se notar durante caminhadas com as agentes comunitárias de saúde, em observação participante pela comunidade do bairro São Pedro, onde se mostrou relevante o quanto à aplicação e socialização do conhecimento, até então, desenvolvido no curso de psicologia, poderia ser útil no manejo dessas questões. A proposta se desenvolve por intermédio de instrumentos didáticos como textos, vídeos e dinâmicas de grupo, seguidas por debates e discussões que permitam a socialização das vivências. Os sujeitos envolvidos encontram-se na faixa etária entre 17 e 45 anos, alfabetizados e atualmente desempregados. Esta intervenção tem por objetivos: possibilitar análises sobre desemprego e exclusão, oportunizar o acesso à informação acerca do mercado de trabalho, desenvolver visão crítica sobre o mesmo, demonstração prática que ilustre e reflita sobre situações de entrevistas e promover a análise das atuais exigências do mercado de trabalho. Essa proposta parte da certeza da importante contribuição que a psicologia pode prestar na discussão, reflexão e prática concernentes às relações de trabalho. Estas influenciam os modos de subjetivação e seus discursos também perpassam e norteiam as práticas dos diferentes fazeres da psicologia, acabando por lançar desafios quanto às possibilidades e limites na atuação do psicólogo no tato de questões relacionadas ao homem e suas relações com
o mercado de trabalho atual.

IMAGEM CORPORAL E PERSPECTIVAS DE ADOLESCENTES DE BAIXA RENDA EM RELAÇÃO A MUDANÇAS DO ESTADO NUTRICIONAL
Patricia Déa Braga; Átala Lotti Garcia; Maria Del Carmen Bisi Molina; Elizabeth Regina Araújo Oliveira (Universidade Federal do Espírito Santo)

Esta pesquisa apresenta resultados preliminares de uma pesquisa sobre nutrição em adolescentes de baixa renda atendidos no Centro Salesiano do Menor (CESAM). Nesta etapa exploratória, objetivou-se conhecer a auto-imagem corporal e perspectivas destes adolescentes em relação a uma mudança nutricional demandada ao setor de saúde da instituição. A obesidade, assim como as exigências de uma sociedade focada em uma estética perfeita, são fatos atuais. O aumento da prevalência da obesidade no Brasil está distribuído em todas as regiões do país e nos diferentes estratos sócio-econômicos da população. No entanto, verificou-se que em famílias de baixa renda este aumento é proporcionalmente mais elevado, tornando o problema ainda mais relevante. Diante da preocupação com o corpo esbelto e esguio, principalmente no caso das meninas, os adolescentes podem desenvolver distúrbios nutricionais com graves conseqüências para a saúde, como a anorexia e bulimia nervosa. Estudos também abordam a importância da dieta em períodos precoces da vida e apontam que uma dieta inadequada na adolescência pode ser um fator de risco para enfermidades na vida adulta. Foram realizadas entrevistas com os adolescentes e coletados dados antropométricos (peso e altura) utilizando o Índice de Massa Corporal (IMC) para avaliação do estado nutricional, segundo recomendações. A amostra foi constituída de 43 adolescentes. A maioria (86%) apresentou adequação do estado nutricional, apesar da insatisfação destes, que revelaram descontentamento com o corpo e uma grande preocupação com a beleza. A importância dada à estética foi predominante, sendo o principal motivo para desejarem uma mudança corporal. Algumas dificuldades como falta de controle alimentar, preguiça, falta de dinheiro para comprar comida saudável e tempo para fazer exercícios foram citados. Ainda foi destacada pelo grupo a discriminação da sociedade aos que não correspondem ao padrão de beleza imposto. Conhecer e entender as peculiaridades da adolescência mostra-se fundamental como importante instrumento para que se possam destinar ações a esse grupo. O modelo atual de atenção à saúde necessita efetivar um atendimento que considere os aspectos levantados nessa pesquisa, e que possa alcançar de modo eficaz todos os estratos econômicos da população.
GRUPO “VIVA VOZ”: UM ESPAÇO DE VIVÊNCIAS PARA PACIENTES LARINGECTOMIZADOS
Aline Lopes de Sousa; Bianca Beraldi Xavier; Luciana Maria Britto da Cruz; Jurama Ribeiro de Oliveira (Hospital Santa Rita de Cássia - ES)

Dentre as atividades interdisciplinares realizadas pelos Serviços de Psicologia e Serviço Social da AFECC - Hospital Santa Rita de Cássia inclui-se o Grupo “Viva Voz”, do qual participam os pacientes laringectomizados e seus familiares, tendo em vista que estes últimos são de fundamental importância no tratamento realizado. A laringectomia é uma intervenção cirúrgica com remoção total ou parcial da laringe, como procedimento terapêutico de lesões oncológicas. A indicação é determinada em função da fixação do tumor nas cordas vocais, podendo haver uma conduta mais ou menos conservadora, o que determina se a perda da voz será parcial ou total. Na cirurgia
o paciente pode, também, adquirir o traqueostoma. O trabalho realizado objetiva criar um espaço para que estes pacientes possam encontrar-se para a troca de experiências e conhecimentos, e para a elaboração de vivências relacionadas à perda da voz. Trata-se, ainda, de possibilitar a identificação do paciente laringectomizado com o grupo, criando uma nova maneira de enfrentar a doença e suas conseqüências. O acompanhamento psicológico e social inicia-se no préoperatório através das consultas de preparação cirúrgica. Após a cirurgia o paciente é encaminhado ao grupo que se realiza uma vez por mês no auditório da AFECC - Hospital Santa Rita de Cássia. As reuniões são organizadas de acordo com as sugestões dos pacientes e familiares, podendo ter uma palestra de interesse dos mesmos, dinâmicas e apresentações dos próprios pacientes. Também são realizados encontros fora do espaço do Hospital, com passeios à praia, museus, shoppings, organização de churrascos, entre outros. Vale ressaltar a importância destas atividades para os pacientes, uma vez que após a cirurgia, muitos passam a se isolar, evitando sair de casa e participar de atividades sociais. Assim, a melhoria da qualidade de vida dos pacientes é percebida, uma vez que se encontram num processo de readaptação, resignificação da doença e da vida, abrindo possibilidades de construções de novas vivências inclusivas no meio familiar e social.

PROGRAMA DE ATENDIMENTO PSICOLÓGICO DO SETOR DE HEMODIÁLISE DE UM HOSPITAL DA GRANDE VITÓRIA
Bruno Birro Coutinho; Aline Lopes de Sousa (Hospital Santa Rita de Cássia - ES)

O tratamento para Insuficiência Renal Crônica (IRC) se constitui, logo de início, numa série de condutas a serem seguidas ao longo de todo o período das sessões de hemodiálise. Muitas delas estão relacionadas diretamente a mudanças de hábitos, comportamentos e rotina cotidiana, tais como: a redução e controle da ingestão de líquidos e certos alimentos, a diminuição ou interrupção da atividade de trabalho, etc. Existem também as reações adversas decorrentes da hemodiálise que, de forma mais ou menos intensa e conforme cada quadro clínico, acometem todos os pacientes. Dentre os pacientes, homens e mulheres adultos, que temos atendido no setor de hemodiálise de um hospital de Vitória, pudemos verificar que para a maioria, esse tratamento é vivenciado de forma bastante negativa, parecendo representar um verdadeiro martírio, visto que tem acarretado mudanças/restrições nas relações familiares, conjugais e sociais, bem como na condição econômica desses pacientes e suas famílias, os quais têm se mostrado, constantemente, despotencializados e sem perspectivas perante a IRC. Nesse contexto, a recuperação da função renal por meio do transplante de rim tem sido cercada de grande expectativa, pois esse procedimento é visto como a garantia de retomada da condição de vida considerada normal. O principal objetivo do nosso trabalho tem sido construir, através de atendimentos individuais e grupais a esses pacientes e seus familiares, possibilidades de conciliação da hemodiálise com atividades cotidianas que produzam rupturas com estados de impotência, falta de autonomia e menos-valia relacionados às mudanças decorrentes desse tratamento. Temos desenvolvido também com aqueles que têm indicação clínica de transplante e com seus doadores, um trabalho de preparação pré e pós-transplante que engloba, de forma geral, situações identificadas nos atendimentos anteriores, informações e condutas a serem seguidas e expectativas com a realização do transplante. Os atendimentos individuais acontecem semanalmente, já os grupais têm acontecido mensalmente, dos quais tem participado as enfermeiras-chefe e assistente social. A maioria dos encaminhamentos parte da equipe médica e de enfermagem. Os pacientes têm sido receptivos ao trabalho de atendimento. A preocupação com o horário da sessão de diálise tem sido a justificativa para não participarem dos grupos. A humanização do tratamento através dos atendimentos parece minimizar os efeitos da hemodiálise, tornando-se um fator estimulante para sua continuidade. O trabalho com familiares tem contribuído para um maior acompanhamento do tratamento e melhoria das relações familiares. O acompanhamento pré e pós-transplante possibilita que situações que possam comprometer o sucesso desse procedimento sejam trabalhadas.

A CONTRIBUIÇÃO DO PROGRAMA DE ESTÁGIO DO SERVIÇO DE PSICOLOGIA DE UM HOSPITAL DA GRANDE VITÓRIA PARA A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO NO SERVIÇO DE SAÚDE
Aline Lopes de Sousa; Bruno Birro Coutinho; Jurama Ribeiro de Oliveira; Luciana Maria Britto da Cruz (Hospital Santa Rita de Cássia - ES)

A AFECC – Associação Feminina de Combate ao Câncer – é uma sociedade civil com fins filantrópicos, fundada em 28 de abril de 1952, com a finalidade de educar, prevenir, diagnosticar, tratar, reabilitar, prestar assistência social e reintegrar na comunidade o paciente com câncer, bem como apoiar seus familiares. Em 1970, inaugurou o Hospital Santa Rita de Cássia que se tornou um meio para a realização dos objetivos da associação. O Serviço de Psicologia da AFECC – Hospital Santa Rita de Cássia existe desde 1989. É pioneiro, no estado do Espírito Santo, em atendimento a pacientes oncológicos, e a partir de 1995 começou a desenvolver o Programa de Estágio Extracurricular para Estudantes de Graduação em Psicologia, introduzindo
o aluno na prática de atendimento hospitalar. A oncologia é uma área que se encontra ainda pouco explorada na graduação em Psicologia. No entanto, há grandes possibilidades de estudos e intervenções, em diversas áreas na saúde (psicologia, medicina, fonoaudiologia, enfermagem, serviço social), por trabalhar com uma doença que apresenta altos índices de incidência na população, e pelo fato do câncer ser uma enfermidade que além de acometer o paciente apresenta reflexos em toda sua estrutura familiar e social. Dessa forma, a realização do estágio objetiva contribuir para a formação do futuro profissional de psicologia e para a atuação deste no serviço de saúde em equipes interdisciplinares. Os estagiários, integrados ao serviço de psicologia do hospital, realizam atendimentos individuais e grupais a pacientes e seus familiares nos serviços oncológicos em enfermarias e ambulatório do SUS. São realizadas supervisões semanais com discussão de casos clínicos e estudos de textos específicos da área trabalhada. O programa de estágio extracurricular da AFECC – HSRC, portanto, possibilita promover a integração do acadêmico de psicologia na realização de um trabalho em equipe interdisciplinar, numa busca de novos caminhos possíveis na realização do atendimento e demais práticas de dinamização do serviço, complementando, assim, a formação profissional do estagiário.
TRABALHO EM TURNOS E SAÚDE
Priscila Cunha Moraes; Isabela Rodrigues Soares; Julieny Baroni Zandonadi (Universidade Federal do Espírito Santo)

O sistema de trabalho em turnos foi uma realidade do século XX e continuará presente neste século. Se até o final do século XIX apenas algumas funções específicas em alguns tipos de indústrias exigiam o uso de mais de um turno, a onda de desenvolvimento industrial e tecnológico que marcou a evolução do mundo a partir da segunda década do século XX, exigiu que as pessoas passassem a trabalhar além do horário diurno. As razões da existência desse tipo de trabalho vão desde motivos de ordem técnica e econômica ao atendimento de necessidades básicas da sociedade. Embora o trabalho em turnos seja visto por muitos como uma solução natural para o problema da manutenção de atividades durante 24 horas, essa organização dos horários de trabalho que levam em conta razões técnicas e econômicas, conflita-se com os ritmos biológicos, familiares e com os da comunidade, originando prejuízos para a saúde e a vida social dos trabalhadores (Couto & Fischer, 1987). Tendo em vista a problemática que o trabalho em turnos acarreta, o objetivo desta pesquisa foi descrever os possíveis impactos do trabalho em turnos na saúde e na vida social de trabalhadores que se submetem a esse tipo de trabalho. Esta pesquisa caracterizou-se como descritiva, buscando fazer um levantamento dos possíveis impactos do trabalho em turnos na saúde e na vida social dos trabalhadores. Os sujeitos foram nove trabalhadores na faixa etária de 20 a 47 anos, sendo sete do sexo masculino e dois do sexo feminino, residentes no município de Cariacica. As funções que os sujeitos exercem estão compreendidas nas áreas de prestação de serviços, da saúde e da indústria. Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas, com roteiro semi-estruturado, divididas em duas partes com cinco perguntas. A primeira parte refere-se aos dados pessoais e do trabalho dos sujeitos e a segunda à análise biopsicossocial do trabalho em turnos. A partir dessa pesquisa pudemos perceber que a maioria dos sujeitos que trabalham em turnos sofrem com os prejuízos sociais e familiares, visto que se queixaram de não poder estabelecer vínculos sociais e afetivos estáveis. Além disso, um terço dos sujeitos relataram possuir problemas físicos e psíquicos, como dor na coluna, dor muscular, dificuldade para dormir, desmotivação e fadiga mental.

REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DE UM DISPOSITIVO RESIDENCIAL
Leila Domingues Machado; Maria Cristina Campello Lavrador; Carolina Fonseca Dadalto; Fernanda Pinto de Tassis; Gabriel Castro Augusto Alvarenga; Jésio Zamboni; Márcio Wagner Bertaso; Paula Lampé Figueira; Sabrina Ribeiro Cordeiro; Tatiane Bossatto; Vinícius Zocatelli (Universidade Federal do Espírito Santo)

Esse presente trabalho representa, em nossa formação, uma oportunidade de reflexão sobre os muitos aspectos da atuação em Saúde Mental, que tanto nos fascina e impulsiona rumo à luta pela efetivação das diretrizes da Reforma Psiquiátrica, como uma forma de contribuir com a desospitalização e desinstitucionalização da loucura. Realizamos um trabalho de intervenção junto aos Dispositivos Residenciais ligados a um hospital psiquiátrico público, localizado no município de Cariacica - ES. Desde que foram inaugurados os primeiros Dispositivos Residenciais do Espírito Santo temos acompanhado semanalmente 8 moradores e 5 moradoras. Bem como temos feito reuniões freqüentes com a equipe do hospital e também com a equipe do CAPS, desde então responsável pelo atendimento terapêutico individual dos moradores. Dessa forma, estamos estreitando cada vez mais nossa base de comunicações, a fim de melhor explicitar e trabalhar conjuntamente conflitos internos e externos ao funcionamento das residências. Pouco tempo após a liberação das casas, já pensávamos em alternativas para que o dia-a-dia deles pudesse ser algo além de apenas acordar, limpar a casa e assistir televisão até a hora de dormir. Ansiosos inicialmente, e agora, um pouco mais tranqüilos, sempre quisemos elaborar passeios, festas com a comunidade e tarefas diferentes, como pintar um quadro para a casa, fazer um bolo para comemorar os aniversários e etc. Com tudo isso, visamos propiciar que eles possam, cada vez mais, conviver com as pessoas à sua volta e se interessar por atividades que fossem em direção oposta a tudo que eles tiveram como tarefa dentro do hospital, abrindo espaço para novas vivências e novas referências. Sempre dando seguimento a esse objetivo fundamental surgiu uma idéia, dentre tantas outras, que nos fez enxergar possibilidades de maior vinculação dos moradores com a comunidade e com a nova vida, que precisa de bases sólidas para lhes assegurar condições mínimas de manutenção da própria existência. Essa idéia é de levá-los a experienciar o processo de escolarização, e não só de alfabetização, uma vez que eles têm essas expectativas em relação ao retorno à escola. Cremos estar desenvolvendo atividades que visam criar um espaço oportuno para a substituição do tão temido vínculo institucional da loucura com a doença mental, que por tantos anos aprisionou essas pessoas em uma história de infantilização, tutela, dominação do outro e assistencialismo.

O CARÁTER ECLÉTICO DE SE REPRESENTAR O SOFRIMENTO PSÍQUICO
Luziane Zacché Avellar; Alexandra Iglesias; Camila Carlos Maia; Luciana Pena Vila Lima; Luciene Farias Lima; Priscila Valverde Fernandes; Thais Caus Wanderley (Universidade Federal do Espírito Santo)

A sociedade moderna possui uma concepção da norma e da patologia que repousa num princípio intangível, de que todo o indivíduo tem o direito e, por conseguinte, o dever de não manifestar seu sofrimento. Todavia, o humano, a fim de manter-se saudável, produz novas formas de representar, de nomear e de enfrentar o sofrimento psíquico Entendemos que as condições de vida mais imediatas, e toda a rede social mais complexa, interferem na forma de se estruturar a representação desse sofrimento. Neste contexto, procuramos descrever como os usuários que buscam espontaneamente atendimento psicológico sentem, nomeiam e representam seu sofrimento, considerando as mudanças impostas nas relações sociais nos tempos modernos. A valorização da fala desse usuário foi fundamental para o trabalho, na medida em que não partimos de nenhuma classificação definida a priori. Foram feitas entrevistas semi-estruturadas com 10 pessoas, acima de 20 anos, que buscaram espontaneamente atendimento psicológico no Núcleo de Psicologia Aplicada da Universidade Federal do Espírito Santo. O sujeito que chega a um serviço de atendimento psicológico traz consigo histórias pessoais, narrando de modo peculiar o seu sofrimento. A origem deste é múltipla, remete a muitas experiências, recebe nomeações e descrições diversas e se insere em diferentes categorias que podem ser notadas no cotidiano das pessoas. Temos aqueles que irão localizar o sofrimento no corpo, buscando certa concretude do sofrimento, a possibilidade de localizar em seu próprio corpo algo que sente, que incomoda, mas que é subjetivo. Assim pode localizar, dominar e se apropriar do seu sofrimento. Temos ainda aqueles que descrevem o seu sofrimento como algo que se passa com ele interna e subjetivamente, se diferencia do físico, do corporal, e geralmente está associado a emoções. As formas de se representar tal sofrimento podem ser vistas em nosso cotidiano, as pessoas “captam” estas palavras e ao experienciar o sofrimento recriam o termo, agora dentro de uma lógica pessoal, inscrita em sua história de vida. As quatro categorias construídas (nomeação, descrição, busca de sentido e estratégias de enfrentamento) serviram para identificar algumas diferenças nos discursos dos sujeitos entrevistados, uma vez que o traço mais marcante de todas as entrevistas foi o caráter eclético, polimorfo e multifacetado de nomear e representar o sofrimento psíquico. Entendemos que é dessa forma que o psicólogo deve compreender a queixa trazida pelos pacientes, para que possa construir intervenções que acolham esse caráter multifacetado do sofrimento psíquico.

MONITORIA EM ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL: A CONSTRUÇÃO DE TRABALHO HUMANIZADO E INTERDISCIPLINAR
Marluce Miguel de Siqueira; Laís Rubert Machado; Thiago Rodrigues de Amorim (Universidade Federal do Espírito Santo)

A prática de uma educação libertadora que promova auto-reflexão para tomada de consciência, inserção no mundo e atitudes transformadoras; consolidada através da criticidade e humanização (Freire, 2003), é fundamental no processo de ensino-aprendizagem. Dessa maneira, professor e aluno tornam-se sujeitos do processo horizontal, dialógico, e autêntico na formação de um sistema de trabalho (Daniel, 1997) especialmente na disciplina de Enfermagem em Saúde Mental (ESM) (Enf. 04071). Como parte desse sistema, a monitoria, norteada pelos instrumentos básicos do cuidar (Cianciarullo, 2000), permite ao aluno operacionalizar suas habilidades pessoais e adquiridas pela vivência. Na busca do desenvolvimento do conhecimento relacionado ao cuidado de enfermagem incluindo o cliente (Bandeira, 2000) buscou-se consolidar a monitoria através da Metodologia Assistencial de Enfermagem (MAE) (Barros et al. 2000), concretizada pela realização da Consulta de Enfermagem (CE) (Macieira et al., 1992) dirigida a pacientes alcoolistas e seus familiares do Programa de Atendimento ao Alcoolista (PAA) do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (HUCAM) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). O estudo objetivou vivenciar o processo construtivista (Antunes, 2003) de ensino-aprendizagem na disciplina de ESM no PAA-HUCAM-UFES. Os monitores são selecionados no 2º período de Enfermagem através de uma produção textual dissertativa sobre “drogas”. Posteriormente, são treinados durante 6 meses, e passam a exercer suas atividades acadêmicas assistenciais no PAA-HUCAM-UFES, junto a alunos da disciplina ESM do semestre; desenvolvendo a vivência da interdisciplinaridade, CE e atenção extra hospitalar a alcoolistas e seus familiares. A disciplina oferece 8 unidades de ensino, onde são apresentadas possibilidades de atuação e inserção do enfermeiro à luz da nova política de atenção integral ao usuário de SM vigente no país. Podemos indicar como principais resultados: Produção de sistema de trabalho teórico-prático no PAA-HUCAM-UFES, através de: aulas teóricas sobre Evolução Histórica da Psiquiatria e ESM, Política Nacional de Saúde Mental, Ações de SM do Enfermeiro, Instrumentos Básicos da ESM, Transtornos Relacionados a Substâncias Psicoativas, Transtornos neuróticos, Transtornos Psicóticos e Urgências Psiquiátricas; laboratórios (visitas institucionais); preparo de material didático (manuais) e manutenção do campo. Conclusão: A vivência da monitoria em ESM tem possibilitado uma participação ativa, consciente e transformadora do aluno junto a usuários e familiares da saúde mental, bem como a construção de uma assistência mais humanizada e integral através do trabalho interdisciplinar.

O TRABALHADOR DE SAÚDE FRENTE À CRISE DO SISTEMA DE SAÚDE
Átala Lotti Garcia; Maria Del Carmen Bisi Molina; Patricia Déa Braga; Elizabeth Regia Araújo Oliveira (Universidade Federal do Espírito Santo)

A presente pesquisa teve como objetivo central analisar as transformações ocorridas na saúde do trabalhador da área da saúde frente às modificações no cenário político-social-econômico do país. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre a evolução histórica, política e econômica dos modelos de atenção à saúde no Brasil e suas relações com as alterações ocorridas no mercado de trabalho. Os resultados apontam para a velocidade das variações no mundo atual, a introdução de novas tecnologias, a aceleração do ritmo de trabalho, as mudanças na organização do modo de produção, o surgimento de novas profissões em detrimento de outras, o desemprego endêmico, a terceirização da mão de obra, entre outros fatores, têm provocado, nos últimos anos, transformações profundas e rápidas nas relações de trabalho. Essas mudanças se refletem diretamente no modo de vida e na saúde dos trabalhadores e estão associadas ao aumento do sofrimento físico e mental ligado ao trabalho e conseqüentemente elevam a incidência de diversos agravos à saúde. A principal vítima da ausência de políticas públicas efetivas nessa área continua sendo o trabalhador. Conclui-se que a crise do sistema de saúde do trabalhador no Brasil transcorreu em diferentes períodos sem radicais transformações, o que constitui motivo para abordar a crise da saúde no seu aspecto geral, ganhando contornos mais definidos com a Reforma Sanitária onde promove uma profunda revisão dos paradigmas do setor saúde e a construção de um ideário na área da Saúde do trabalhador.

COMPENSAÇÃO DE SENTIDOS: UM ESTUDO REALIZADO COM DEFICIENTES AUDITIVOS
Lorena Valfré; Valdilene Turini Alves; Zera Campo Dell’Orto (UNILINHARES)

A percepção é o modo segundo o qual o indivíduo constrói em si a representação e o conhecimento que possui das coisas, pessoas e situações, para tanto, nosso corpo é equipado com sistemas especializados de coleta de informações, denominados sentidos ou sistemas sensoriais. Alguns teóricos afirmam que na falta de um determinado sentido, outros tendem a ser mais aguçados, ou seja, há uma compensação. Esta pesquisa, de caráter descritivo exploratório, tem o objetivo de verificar se a percepção visual em deficiente auditivos é mais desenvolvida do que nas pessoas “normais”. A amostra foi selecionada a partir do contato que o grupo pesquisador possuía, sendo esta, composta por 12 sujeitos, 6 “normais” e 6 deficientes, 8 do sexo masculino e 4 do feminino, na faixa etária de 18 a 32 anos, com escolaridade variando entre ensino fundamental incompleto à ensino médio completo. O instrumento de coleta foi o jogo dos oito erros que consistia em duas figuras na qual uma tinha oito pequenas diferenças que cabia aos sujeitos descobri-las. O sujeito ficou num ambiente tranqüilo para que sua atenção não se dispersasse; com o cronômetro marcamos o tempo gasto para realização completa e sem erros do jogo proposto, sendo os dados submetidos a uma análise quantitativa. A partir dos resultados, podemos observar que os deficientes auditivos gastaram em média 16 minutos, enquanto os sujeitos “normais” gastaram 23 minutos. Os resultados mostraram que a percepção visual em deficientes auditivos é superior à das pessoas “normais” uma vez que houve uma diferença relevante no tempo gasto para realização da tarefa. Percebemos que as variáveis idade e escolaridade não interferiram nos resultados desta pesquisa. Mas a influência do sexo não pôde ser observada, uma vez que houve uma discrepância na quantidade de sujeitos do sexo feminino. Esse estudo pode trazer contribuições principalmente no que diz respeito à inserção dos deficientes no meio social, podendo acontecer no mercado de trabalho em locais onde não necessitem do sentido auditivo.
SAÚDE E TRABALHO: INTERVENÇÃO EM GRUPO COM OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Juliana Oliveira Almeida ; Maira Covre Sussai Soares; Simone Guzzo; Maristela Dalbello de Araújo (Universidade Federal do Espírito Santo)

Dentro da perspectiva da saúde e trabalho, remetemo-nos às questões inerentes àqueles que lidam com o sofrimento do outro. Assim, nos propusemos um trabalho com aqueles que estão diretamente ligados à área da saúde. A partir de demandas oriundas dos responsáveis pelas Unidades de Saúde do Sistema Único de Saúde – SUS que assinalavam um baixo comprometimento dos funcionários e freqüentes conflitos entre eles, elaboramos nosso projeto de intervenção. Nosso intuito foi oferecer um espaço no qual os trabalhadores pudessem discutir as fontes que geram tensão e sofrimento no trabalho, a falta de motivação e a dor gerada pelo fato de lidar com pessoas doentes e desprovidas de recursos materiais. Abordamos estas questões por entender que o incômodo e a alegria de uma pessoa podem ser partilhados com o grupo, de maneira a oferecer um momento para a elaboração de novas formas de viver este momento de maneira melhor. Assim nosso objetivo foi o de proporcionar aos trabalhadores de nível médio da Unidade Básica de Saúde do bairro de Jabour a oportunidade de discutir e trabalhar as questões referentes ao sofrimento psíquico, suas causas e conseqüências, a fim de que os mesmos possam, dispondo de melhores condições de percepção e contato, posicionarem-se de forma crítica em relação a este quadro. Desta forma, entendemos que estes trabalhadores poderão atuar de uma maneira mais “saudável” consigo mesmo e com os demais. O trabalho se deu em reuniões semanais com duas horas de duração, contabilizando um total de dez encontros que se estenderam do mês de fevereiro ao início do mês de junho de 1998. O comprometimento e abertura dos trabalhadores em relação ao trabalho surpreendeu. As discussões aconteceram de maneira apaixonada e refletiam algumas questões que pareciam ser próprias não só daquele grupo, mas das equipes que trabalham na área da saúde como um todo. Dificuldades de diálogo com a equipe médica e com a comunidade e insatisfação quanto às limitações da Unidade e do próprio SUS, geravam elevado nível de angústia nos trabalhadores e dificultava o relacionamento entre eles. O sentimento que ficou para nós foi a certeza das possibilidades que podem ser criadas a partir de escolhas feitas por eles próprios. Consciência de que muitas vezes, os caminhos trilhados seriam os mesmos, porém de posse de uma percepção desenvolvida e clarificada da realidade as ações e os resultados poderiam ser diferenciados e a qualidade de vida de cada um ser favorecida.

REDIMENSIONAMENTO DO SERVIÇO DE SAÚDE PÚBLICA: SERVIÇO SOCIAL X ONCOLOGIA INFANTIL
Adriana Estela Custódio; Anne Karoline Ferrari; Iolanda Helena G. F. Duarte; Luzitania; Piazzarolo Loureiro; Patrícia Ebani Peixoto; Ruteléia Cândida de Souza; Flaviane Cristina Ferreira de Oliveira (Universidade Federal do Espírito Santo)

O reconhecimento da saúde como resultado das condições de vida, a análise da realidade acerca das condições econômicas, políticas, sociais e culturais é parte integrante do conjunto dos procedimentos imprescindíveis à identificação e verificação dos fatores que intervêm no processo saúde/doença. Nesse sentido, o câncer infantil representa relevante problema por suas proporções mundiais na saúde pública. A análise do tratamento e hospitalização exigidos permite observar os prejuízos que podem ocasionar ao processo maturacional da criança, desencadeando alterações em nível sensório-motor, psicoafetivo, cognitivo e social que interferem no seu desenvolvimento global . Nesse contexto, a ação profissional do Serviço Social direciona sua intervenção as intercorrências biopsicossociais que acometem o usuário, bem como o atendimento psicossocial ao paciente e sua família com o objetivo de promover condições básicas para o tratamento proposto. Pelo exposto, objetivou-se analisar a atuação do profissional de Serviço Social no redimensionamento do serviço de saúde pública pelo recorte oferecido pela oncologia infantil do município de Vitória. Para tanto, o trabalho foi norteado por pesquisa bibliográfica referente ao desenvolvimento infantil; à oncologia pediátrica; a ação profissional do Serviço Social na Saúde, demarcando sua contribuição na produção, redimensionamento e efetivação das políticas de saúde; análise institucional do Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória – HINSG e da Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil – ACACCI; e análise de conteúdo das entrevistas semi-estruturadas realizadas com profissionais que atuam nestas instituições. A presente pesquisa permitiu apontar a significativa atuação e intervenção do Serviço Social, que se apresenta assim, no contexto do HINSG e da ACACCI, como responsável pela coordenação e ordenação de programas, atendimentos ambulatoriais, urgências e emergências, contribuindo assim para operacionalização e dinamização institucional. Assim, observa-se como atribuição do assistente social a garantia e a efetivação de conquistas recentes da população brasileira, o que evidencia a necessidade de desvendar a realidade contemporânea, elaborando proposições interventivas condizentes com a preservação e a efetivação dos direitos dos usuários. Desse modo, torna-se importante o questionamento da realidade para que se concretize uma atuação capaz de atender as demandas do tempo presente, o que exige um profissional capaz de ultrapassar o perfil meramente executor, ou seja, um propositor de políticas públicas e gestor de políticas sociais. Por tudo, observa-se que o assistente social surge no contexto do redimensionamento do serviço de saúde pública como profissional capaz de efetivar os direitos dos usuários e articular um atendimento multiprofissional pautado na garantia da qualidade dos serviços prestados.

ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO NA GRANDE SÃO PEDRO
Maria Angelica Peters Barbosa; Clemilda Jacinta Binda; Alexandre Gomes Brito; Emílio N. Carvalho; Jacinta Maria Dantas; Leania de Souza Zaché (FAESA)

O Acompanhamento Terapêutico visa acompanhar o indivíduo que, de alguma forma, esteja em situação de sofrimento psíquico, que produzam e/ou sejam produzidas pelas restrições e impasses na convivência cotidiana com as demais pessoas de sua família e de sua rede de sociabilidade. O acompanhamento terapêutico é utilizado quando o sofrimento psíquico encontra-se atrelado a algum impedimento para que o indivíduo participe de seu meio social e organize ativamente seu cotidiano, impossibilitando a sua integração nos espaços de trabalho, de estudo de lazer e outras atividades. A ação enfoca as atitudes do sujeito no dia-a-dia, no contexto familiar e social no qual está inserido, levando o fazer psicológico para sua realidade vivida. Parte-se do princípio de que a promoção de saúde deve compreender o indivíduo a partir dos lugares que ele ocupa atualmente com o intuito de produzir/potencializar novos lugares nestas relações e novas formas de enfrentamento das dificuldades cotidianas, acompanhando e facilitando a reconstrução dos laços sociais, potencializando sujeitos ativos na produção de suas próprias realidades. Esta proposta se torna ainda mais relevante e desafiadora se considerarmos a histórica postura assistencialista e infantilizadora do Estado e dos projetos sociais na região onde o Acompanhamento Terapêutico é realizado. No presente projeto, o estilo interventivo foi composto de duas fases. A primeira fase consistiu de um acompanhamento das Agentes Comunitárias de Saúde da Unidade de Saúde da Ilha das Caieiras, situada na região da grande São Pedro, onde se fez visitas às casas, realizando os primeiros contatos e uma posterior “triagem”. Na segunda fase foi formado um grupo de estudantes que acompanham, cada um, um ou dois casos, sob supervisão permanente. O trabalho vem sendo realizado sob supervisão permanente e compreende, inicialmente, o período de março a junho de 2005. O objetivo geral é o estabelecimento de vínculos com o sujeito e com sua realidade cotidiana, visando o restabelecimento das suas potencialidades, a fim de que o mesmo possa retomar a construção de um lugar ativo no seu contexto social, propiciando condições para lidar com as adversidades que se fazem presentes em seu dia-a-dia.

ÉTICA E TERAPIA COMPORTAMENTAL: REFLEXÕES SOBRE A CLÍNICA
Adriana Gonring; Ana Carla Amorim Moura Loureiro; Pedro Machado Ribeiro Neto; Carolina Oliveira de Brito; Simone Gomes Dável; Felipe de Carvalho Pimentel (FAESA)

Este trabalho integra o projeto de pesquisa “Terapia Comportamental, Psicanálise e Gestalt-Terapia: reflexões sobre o processo de formação dos sistemas éticos”. Tem como objetivos centrais estabelecer o conjunto de valores das psicoterapias e verificar a influência dos valores pessoais na escolha da psicoterapia e na condução do tratamento. Apresentaremos elementos que compõem o sistema ético da Terapia Comportamental retirados de pesquisa bibliográfica e de quatro entrevistas com terapeutas comportamentais (psicólogos). Os entrevistados foram indicados pelo Núcleo de Análise Comportamental do Espírito Santo (NACES). Utilizamos um roteiro de perguntas para nortear a pesquisa bibliográfica e um questionário para a entrevista. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo. A escolha por esta psicoterapia deve-se a uma característica pessoal dos terapeutas – a praticidade, o que aponta para uma identificação com a corrente filosófica que embasa o Behaviorismo Radical de Skinner, o Pragmatismo. Esta psicoterapia é influenciada pela metodologia experimental e a formação dos entrevistados apóia-se, principalmente, no percurso acadêmico. Para os entrevistados, a terapia comportamental tem como principais objetivos o auto-conhecimento e o desenvolvimento de um repertório comportamental, compatível para o enfrentamento do problema apresentado. Afirmam que embora não haja neutralidade na condução do tratamento,
o terapeuta tem que perceber o comportamento a partir das contingências concernentes à vida do paciente, buscando realizar uma intervenção não aversiva por meio de uma audiência não punitiva. Para a condução das questões morais, têm como referência o Código de Ética, mas enfatizam que nem todas as situações estão prescritas e que se faz necessária uma reflexão pautada nos princípios da Terapia Comportamental e nos próprios valores do terapeuta. A ética referida é respaldada em uma coletividade, que está ligada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual embasa o Código de ética e também às especificidades da prática clínica, entre elas a teoria de Skinner, que norteia a prática dos terapeutas comportamentais.

FATOS E RELATOS DA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL NO PAIF – PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL À FAMÍLIA (CUIABÁ - MT)
Josiley Carrijo Rafael (Universidade Federal do Mato Grosso)

Desde o movimento de reconceituação do Serviço Social, as relações entre engajamento político e profissão são debates implicados por grandes equívocos, em decorrência de o profissional assistente social estar diretamente imbricado com as relações de poder da sociedade. Iamamoto assinala que “o Serviço Social dispõe de um caráter contraditório que não deriva dele próprio, mas do caráter mesmo das relações sociais que presidem a sociedade capitalista. Nesta sociedade, o Serviço Social inscreve-se em um campo minado por interesses sociais antagônicos, isto é, interesses de classes distintos e em luta na sociedade”. Este fato foi vivenciado durante a experiência profissional no PAIF – Programa de Atenção Integral à Família, cuja finalidade é prestar serviço continuado de proteção social básica, desenvolvido nos Centros de Referência da Assistência Social – CRAS. Esses centros são espaços físicos localizados estrategicamente em áreas de pobreza, para prestação de atendimento sócioassistencial, articulando os serviços disponíveis em cada localidade, potencializando a rede de proteção social básica. Porém, esta finalidade não foi realidade no cenário cuiabano, durante
o primeiro semestre de existência do PAIF na capital mato-grossense. Os CRAS não foram instalados e toda equipe (assistentes sociais, psicólogos e assistentes administrativos) envolvidos no programa centralizam os atendimentos na região central da cidade, precisamente na sede da Secretaria Municipal de Bem Estar Social. A atuação dos profissionais foi limitada e visivelmente deficiente, em decorrência da distribuição clientelista dos gestores que, com essas atitudes, desconfigurou o verdadeiro objetivo do programa, descaracterizando o conceito de cidadania e fortalecendo o que Roberto Schwartz define como a “ideologia do favor”, ou seja, que na política brasileira “o favor é a nossa mediação quase universal”. O trabalho realizado durante o período de julho a dezembro de 2004, restringiu-se apenas ao cadastramento dos “supostos” usuários, que futuramente viriam a ser os beneficiados pelas metas. Como mediação de serviços o programa limitou-se à oferta de cursos básicos de 20 horas, nas áreas de manicure, confeiteiro, salgadeira, cabeleireiro, pintura em tecidos, bordados e pedrarias. Após o término do curso, não houve qualquer direcionamento para que as famílias convertessem essa nova “habilidade” em geração de renda, tornando a natureza do mesmo em algo inviável e sem progresso. Com a mudança de gestão no início de 2005, as famílias anteriormente atendidas, perderam esse “privilégio”, e atualmente o programa caminha para novos rumos, aparentemente pautado nas determinações legais do Ministério responsável.

SAÚDE MENTAL E SERVIÇO SOCIAL: A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL EM MATO GROSSO
Josiley Carrijo Rafael (Universidade Federal do Mato Grosso)

A Política Nacional de Saúde Mental vigente no Brasil, instituída através da Lei Federal nº 10216, de 6 de abril de 2001, tem como premissa fundamental a des-hospitalização, com ampliação da rede ambulatorial e fortalecimento de iniciativas municipais e estaduais que propiciem a criação de equipamentos intensivos e intermediários entre o tratamento ambulatorial e a internação hospitalar, com ênfase nas ações de reabilitação psicossocial dos pacientes, sobretudo através da implementação e implantação dos Centros de Atenção Psicossocial – CAPS e outros serviços similares. Fundamentado na metodologia qualitativa, o presente estudo pretende investigar e contribuir para a ampliação do debate acerca da contribuição do assistente social na área da saúde mental, a partir do seu trabalho e da sua atuação nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do estado de Mato Grosso, investigando em que medida o assistente social poderá contribuir nesse novo processo de trabalho. De que forma atuar dentro desses novos parâmetros? E qual a importância do profissional de serviço social dentro desse avanço? Os CAPS, instituídos juntamente com os NAPS _ Núcleo de Assistência Psicossocial, através da Portaria SNAS nº 224 – 29/01/1992, são unidades de saúde locais/regionalizadas que contam com uma população adscrita definida pelo nível local e que oferecem atendimento de cuidados intermediários entre
o regime ambulatorial e a internação hospitalar, em um ou dois turnos de 4 horas, por equipe multiprofissional, constituindo-se também em porta de entrada da rede de serviços para as ações relativas à saúde mental. O trabalho em equipe multidisciplinar trouxe enraizado nessa mudança um novo olhar e redirecionamento da atuação profissional do assistente social, em decorrência do “novo processo de trabalho em curso que acentua as interfaces, as zonas de sombreamento entre as diferentes categorias profissionais, o que constitui uma arena de debates e novas construções”. Atividades como as visitas domiciliares, anteriormente limitadas à atuação do profissional de serviço social, passam agora, a ser realizadas pelos outros profissionais envolvidos no processo de atendimento psicossocial. Neste contexto o assistente social, assim como os outros profissionais, são convidados a repensar a sua atuação e intervenção nesse novo modelo de atendimento.

ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO EM PARCERIA COM A UNIDADE DE SAÚDE ILHA DAS CAIEIRAS
Emílio Nolasco de Carvalho; Juliana Valadão Leite Archanjo; Letícia Salemi Thevenard; Maria Teresa Régis Borges (FAESA)

O objetivo do estudo tem sido o acompanhamento psicossocial de sujeitos com dificuldades na construção dos laços sociais pré selecionados, usuários do Sistema Único de Saúde de Vitória, no Programa de Saúde da Família (PSF) na Unidade de Saúde Ilha das Caieiras, com análise das implicações psicossociais no entorno destes, possibilitando a identificação de estratégias de potencialização dos sujeitos. Faz-se necessário conduzir um tratamento em que
o indivíduo esteja inserido em seu meio de origem, pois é no seu ambiente familiar e nas atividades do dia-a-dia que os conflitos surgem. A presença do acompanhante terapêutico nesses momentos pode vir a propiciar ao indivíduo, descobertas e experimentações de novas formas de intercâmbio entre ele e sua família e sua rede social. Ele atuará como um agente ressocializador, contribuindo para descomprimir e facilitar as relações do paciente com sua família e com sua rede de sociabilidade. Os sujeitos foram selecionados a partir da identificação da demanda específica construída pelas agentes comunitárias de saúde desta unidade, em suas rotinas de trabalho. Levantada a demanda, foram realizadas visitas acompanhadas pelas agentes naquele bairro. A seleção dos participantes contou também com a aplicação de entrevistas abertas e análise específica de cada caso, com supervisão do professor orientador da disciplina. Mediante a seleção prévia, foram feitos os convites para que os indivíduos concordassem em participar e dividir suas vivências. Os trabalhos tiveram início a partir da aceitação e comprometimento dos sujeitos selecionados e seus responsáveis. Durante o processo de acompanhamento terapêutico, utilizam-se técnicas ou dinâmicas psicoterápicas, construídas a partir da realidade de cada sujeito, em que as potencialidades das atividades e vivências individuais remetem a um cuidado que se aproxima da realidade diária. O oferecimento do acompanhamento terapêutico se justifica na crença de que os sujeitos em risco se desenvolvem quando as relações construídas são favoráveis, desde que se leve em consideração sua historicidade, dentro das necessidades culturais e sociais do contexto no qual estão incluídos. É justamente no cotidiano do sujeito, nas dimensões de sua vida social e familiar, que o acompanhante intervém, através das ações em busca do tornar-se ativo na construção de sua própria realidade, de seus laços sociais, na resolução de seus problemas.

MÃE E A RELAÇÃO COM SEUS FILHOS: ACOMPANHAMENTO DAS AGENTES DE SAÚDE COM FAMÍLIAS CADASTRADAS NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Camila Sunderhus Nogueira; Michelle Brandão Santório; Emílio Nolasco (FAESA)

O ser humano é gregário por natureza. Ele somente existe e subsiste em função de seus interrelacionamentos grupais. Sempre, desde o nascimento, o indivíduo participa de diferentes grupos, numa dialética constante entre a construção de sua identidade individual e a necessidade de uma identidade grupal e social. O papel de ser mãe, diferente do papel de mulher, sempre foi reconhecido, seja para “cobrar” ou “elogiar” o desempenho de quem esteja representando-a. As atenções sempre são voltadas para as mães como “únicas responsáveis” pelo papel de trazer à vida mais um ser e dele dar conta. Tomar quase todas as providências para suprir-lhe as necessidades, assim como prepará-lo para a sua representação futura, também no desenvolvimento de sua vida adulta. O difícil papel de ser mãe traz desafios cotidianos e problemas de complexas soluções. É uma responsabilidade enorme desde a decisão de ser mãe. A mulher então já sofre a pressão, o peso que carregará para sempre e do qual nunca conseguirá fugir, sendo uma mãe verdadeira. Tal pressão é a ela imposta pelo meio interativo. Neste primeiro momento estão sendo feitas visitas, com o acompanhamento das agentes de saúde do PSF, às mães do bairro Ilha das Caieras, Vitória, Espírito Santo. Aproximadamente 10 mães estão sendo contatadas sem previsão de aumento para este número. A partir do acompanhamento das agentes de saúde com as famílias cadastradas no PSF , percebemos que as mães têm pouco espaço para construir sua vivência. Assim sendo, compreendemos poder construir um projeto, tendo como objetivo entender, apreender, analisar o papel de ser mãe e a relação com seus filhos, nas suas mais variadas facetas. Achamos também ser possível criar esse espaço, em que haja a possibilidade dessas mães refletirem sobre suas vivências enquanto mulheres também. Refletirem sobre suas carências, entenderem seu papel social, criarem um hábito reflexivo que as faça crescer também enquanto mães, mulheres, cidadãs. Todos os sujeitos inseridos no processo fazem demonstram grande interesse em participar do grupo por sentirem dificuldades de relacionamentos com seus filhos. Para estágio atual do projeto, estamos utilizando grupo focal, com discussões temáticas, deixando assim aberto para que possam ser levantadas questões de interesse próprio etc. Os instrumentos utilizados para os encontros são: textos, transparências, painéis, som, vídeo, televisor.

A ILHA DAS CAIEIRAS NA CONSTRUÇÃO DE REDES EM SAÚDE
Maria Helena Vieira do Amaral (Prefeitura Municipal de Vitória)

O trabalho de saúde mental que se constrói a cada dia no território de Ilha das Caieiras tem como linha norteadora os pressupostos dados pelo Programa de Saúde Mental do Município de Vitória, que são eles: Atendimento a crianças e adolescentes; Atendimento a adultos e adolescentes em uso indevido de álcool e drogas; Atendimento ao portador de transtorno grave.; A partir da observação das necessidades locais da população e tendo como base os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), o preconizamos o atendimento ao adolescente e ao portador de transtorno grave. Gostaríamos de falar um pouco sobre o trabalho numa unidade básica de saúde, no que diz respeito aos transtornos graves. Queríamos que todos vestíssemos a camisa do SUS e pudéssemos como serviço garantir o direito à saúde a todo cidadão do nosso território. Então, num primeiro momento entendemos ser importante iniciar
o trabalho pela própria equipe que compõe a U.S. Existe no imaginário dos profissionais de uma unidade básica de saúde, que se o usuário é alguém que tem’ comportamento estranho’, ou fala coisas que não se entende, então ele não deve vir a àquela Unidade, e sim, unicamente procurar o psiquiatra ou o psicólogo. Um ator muito importante nessa engrenagem é o ACS (agente comunitário de saúde), e com ele o trabalho foi mais intenso em grupos em que tentamos construir uma aproximação com o tema e estabelecermos hoje uma intimidade muito importante para que as intervenções pudessem acontecer. A partir daí, mapeamos todas as pessoas portadoras de transtornos graves de nosso território, e começamos a fazer visitas domiciliares para saber como essas se encontravam e que tipo de trabalho poderíamos efetivar. O processo de des-hospitalização do doente mental nos garante hoje grandes vitórias no campo da saúde mental, entretanto o que encontramos hoje em São Pedro é um grande isolamento domiciliar, muitos de nossos usuários estão “guardados’ dentro de casa sem acesso ao convívio social ou a qualquer serviço de saúde. Estamos no processo de criação de redes juntos as famílias, os técnicos de saúde, para que nos levem bem longe desse isolamento em casa, e de uma nova ressocialização no bairro onde eles moram, além, é claro da reapropriação dos serviços de saúde que eles tem direito. Essa construção é renovada a cada, pois temos ainda uma rotatividade muito grande de profissionais e o mito da doença mental ainda é muito forte hoje na vida das pessoas.

PSF E A COMUNIDADE: COMPREENDENDO CONCEPÇÕES, DIVERGÊNCIAS E HISTÓRIAS
Carla Weyne Melo de Castro; Osmar Luis Gadelha Teixeira; Andressa Alencar Gondim; Paulo André Souza Teixeira; Veriana de Fátima Rodrigues Colaço (Universidade Federal do Ceará)

Dada a tendência atual de conceber a dinâmica da saúde diante de um contexto social, percebemos
o Programa de Saúde da Família (PSF) como um campo de atuação fundamental, além de relativamente novo, para o psicólogo. Para tanto, uma nova concepção de saúde/doença deve surgir para nortear intervenções vindouras. As crescentes reclamações, por parte dos usuários da Unidade Básica de Saúde (Ubasf) Rocilda Pontes (Caucaia - CE), em relação ao atendimento da Unidade e o clima de insatisfação instaurado, impulsionou-nos a buscar compreender que variáveis estariam envolvidas naquele contexto. Desta forma, objetivamos compreender o papel da concepção de saúde dos usuários do PSF na relação que estabelecem com o serviço de saúde da Ubasf Rocilda Pontes. Para tanto, realizamos um levantamento bibliográfico sobre os principais conceitos de saúde e do PSF em seus aspectos metodológicos, conhecemos a realidade da Ubasf Rocilda Pontes, investigamos a concepção de saúde dos usuários do PSF; e compreendemos a relação entre concepção de saúde e interação com o serviço. Diante dessa realidade, optamos pela Teoria Histórico-Cultural de Vygotsky para compreender melhor os enlaces ali existentes. Aliada a esta teoria, valemo-nos da Teoria das Representações Sociais de Moscovici, para um maior aprofundamento de como se constrói o conceito de saúde da população e de que forma este repercute na vida e práticas dos indivíduos em relação à Unidade. A pesquisa foi realizada na Ubasf Rocilda Pontes, localizada no Conjunto Nova Metrópole, no município de Caucaia CE. A amostra dessa pesquisa foi composta de 6 mulheres adultas, selecionadas por conveniência. Para a coleta dos dados, o instrumento escolhido foi o grupo focal. Após análise semiótica sobre os dados, percebemos que a concepção de saúde esteve marcada pela contradição. Em alguns momentos, possui uma conotação subjetiva, onde a saúde não se expressa somente no nível concreto, mas também no nível abstrato do sentir-se bem ou ser forte. Outras vezes, a saúde aparece como uma concepção positiva, relacionada a uma postura autônoma e ativa em relação aos problemas e às situações do cotidiano, ou seja, com a possibilidade de criar condições de promoção de saúde.Desta forma, notamos que existe uma ruptura entre as concepções de saúde dos usuários, o que inclui suas demandas de serviços, e o que é ofertado pela Unidade, através de seus profissionais, apesar de outras variáveis interferirem na forma com que os usuários irão se relacionar com o serviço.
SESSÃO 2

A EXPERIÊNCIA DO EDUCOMRÁDIO E OS JOVENS DO ENSINO MÉDIO EM CUIABÁ, MATO GROSSO
Claudia da Consolação Moreira; Manoel Francisco de Vasconcelos Motta (Universidade Federal de Mato Grosso)

O presente trabalho resulta de pesquisa desenvolvida com jovens participantes do projeto Educomrádio Centro-Oeste, que buscou compreender a experiência vivida pelos jovens do ensino médio na Escola Estadual Raimundo Pinheiro, em Cuiabá, em Mato Grosso, no período entre outubro de 2003 e outubro de 2004. Entre os objetivos do Projeto Educomunicação pelo rádio em escolas do ensino médio da região Centro-Oeste estão: introduzir o conceito e procedimentos da educomunicação nos espaços educativos de 70 escolas do ensino médio da região Centro-Oeste e formar profissionais de educação, alunos e comunidade, para o uso da linguagem radiofônica na escola. Esta pesquisa situa-se na perspectiva qualitativa e foram utilizadas técnicas de investigação como: levantamento e estudo bibliográfico sobre educação, juventude e comunicação; entrevistas semi-estruturadas individuais; transcrição e análise das entrevistas. Foi solicitada aos jovens que falassem do significado de sua atuação no Educomrádio com a intenção de verificar qual a importância político-pedagogica dessa participação. Verificou-se que os jovens que participam do projeto Educomrádio consideram que a participação no projeto foi uma ferramenta capaz de permiti-lhes lidar mais democraticamente com a informação. Constatou-se que houve uma influência positiva na formação escolar desses jovens e em sua sociabilização na comunidade. Pode-se perceber também que eles passaram a dominar o uso da linguagem radiofônica e das técnicas de radiodifusão. Desta forma o projeto Educomrádio permitiu que educadores, comunicadores e outros agentes sociais promovessem e ampliassem, em seus espaços, ecossistemas comunicativos abertos e criativos, capazes de garantir a democracia das relações e a eficiência na condução de seus fluxos de informação, tendo como meta o exercício pleno da democracia. Os depoimentos dos envolvidos mostraram que a participação no projeto Educomrádio se constitui em elemento importante para o exercício da democracia e aprendizagem política de participação e compõe um espaço que favorece a construção de valores democráticos através das vivências por meio do rádio Foi possível também, verificar que a participação no projeto permite lidar mais democraticamente com a informação.

MOVIMENTO ESTUDANTIL DE ESQUERDA PÓS-64: A INFLUÊNCIA DA PARTICIPAÇÃO NA VIDA DE EX-MILITANTES
Ana Graciela Mendes Fernandes da Fonseca (Bolsista PIBIC-CNPq); Maria Aparecida Morgado (Universidade Federal do Mato Grosso)

A partir da década de 60, o Brasil entra em uma fase conturbada da sua história, este momento se dá durante o chamado Regime Militar. Nesse período os militares tomam o poder e impõe o regime ditatorial onde os brasileiros tiveram seus direitos políticos e civis limitados. É nesse contexto de repressão que o Movimento Estudantil - ME surge como um dos porta-vozes da sociedade, denunciando a situação política que se encontrava o país. Antes da Ditadura a preocupação do ME era com o ensino, a estrutura da universidade, a formação dos alunos. Com o início do Regime Militar as questões do ME passaram a ser outras, os estudantes começaram a lutar contra a repressão e aqueles que se opunham ao regime eram perseguidos e torturados. O ano de 1968 foi marcado como o auge da repressão, com vários acontecimentos importantes como a decretação do AI- 5.
Esses acontecimentos contribuíram ainda mais para o crescimento do ME e para a revolta dos estudantes, que na tentativa de protestar contra a Ditadura, sofreram diversas represálias como o fechamento de universidades e limitações do seus direitos estudantis, mas, apesar disso, eles não desistiram de lutar contra a situação. Essa pesquisa visa descobrir qual a influência da participação no ME na vida dos ex-militantes, que aprendizado eles conquistaram com o ingresso no movimento e que conseqüências isso trouxe para sua vida naquele momento e depois. Esse trabalho faz parte do projeto Educação da Juventude em Mato Grosso: Impasses e Perspectivas Político-Pedagógicas do Grupo de Pesquisa Educação Jovens e Democracia. Para o desenvolvimento dessa pesquisa foi feito levantamento e estudo bibliográfico acerca do período histórico do Brasil na Ditadura e sobre o ME, estão sendo realizadas entrevistas semi-estruturadas com ex-militantes do período. Através do estudo das entrevistas já realizadas foi possível perceber que a vivência no ME proporciona ao militante um grande aprendizado político como ter uma outra visão dos seus direitos e deveres, ampliando seus horizontes culturais.

O MODELO DE FORMAÇÃO SUPERIOR DA ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DE MATO GROSSO
Wilquerson Felizardo Sandes; Maria Aparecida Morgado (Universidade Federal de Mato Grosso)

A partir de 1994 foi instituído o Curso de Formação de Oficiais. da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, com duração de 03 anos, em período integral, com a titulação de bacharelado em segurança pública, visando a formar policiais militares gerenciadores de ações diárias de segurança pública. Em 2000 o Ministério da Justiça exigiu dos estados brasileiros uma profunda reforma nas bases curriculares das escolas de formação de policiais. A reforma curricular buscou a homogeneização dos cursos de formação e o do planejamento curricular nas polícias estaduais e federais.A pesquisa investiga os reflexos do processo formativo na atuação profissional dos jovens egressos do Curso de Formação de Oficiais (C.F.O.) após a reforma das bases curriculares em nível regional. Este estudo centrado na perspectiva qualitativa utiliza levantamento de documentos, observação, estudo bibliográfico e entrevistas individuais e coletivas na Academia de Polícia Militar Costa Verde em Várzea Grande-MT. A amostra é composta de vinte alunos egressos do curso de formação de oficiais, que passaram pelo ciclo de formação de acordo com as novas bases curriculares de 2000. Em termos de resultados existem mudanças do projeto político pedagógico da Academia com inclusão em nível nacional de Bases Curriculares dos Profissionais da Área de Segurança do Cidadão, com uma carga horária de 4.780 h/a, com 06 áreas de estudo, sendo 11,30% voltada para missão policial (filosofia, sociologia, ética, psicologia), 17% para técnica policial (tiro, defesa pessoal, operações policiais), 23,22% de cultura jurídica, 3,77% de saúde física e mental, 9,41% para eficácia pessoal (gestão, relações inter-pessoais), 16,11% para linguagem e informação (didática, estatística, informática), 5,54% para estágio e 11,40% para atividades complementares. As áreas temáticas englobam cultura, sociedade, ética, cidadania, direitos humanos e controle de drogas. Os jovens egressos entendem a necessidade das mudanças no modelo de formação, todavia, avaliam que a nova base curricular tem alguns focos de resistência cultural no processo formativo, principalmente quando depararam com a necessidade de realizar atividades e estágios nos batalhões. Ocorrem conflitos quanto à abordagem da perspectiva policial em relação à perspectiva militar, ou seja, ao mesmo tempo em que se exige rigor militar, cobra-se flexibilidade policial. Nota-se, em geral, uma distância dos discursos policiais relacionados àquilo que aprenderam no bacharelado e suas práticas correspondentes, oscilando entre posições conservadoras (MORGADO, 2001) e posições inovadoras.
INSERÇÃO NA ESCOLA E A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS DO “PROJETO ARCO-ÍRIS” EM ALTA FLORESTA, MT
Iraci da Costa Wanzke; Maria Aparecida Morgado (Universidade Federal do Mato Grosso)

Este trabalho busca investigar a trajetória dos jovens egressos do “Projeto Arco-Íris” em Alta Floresta (MT)), no intuito de compreender sua contribuição na preparação desses jovens para a inserção na escola e no trabalho. O referido Projeto objetiva a ampliação do universo de conhecimentos dos jovens através de atividades culturais e esportivas, em complemento às atividades escolares, como forma de afastá-los das ruas. O estudo situa-se na perspectiva da pesquisa qualitativa. Esta pesquisa compreendeu, em sua primeira fase, levantamento e estudo bibliográfico sobre educação, juventude e trabalho. Após o estudo bibliográfico, realizou-se uma observação procurando perceber a repercussão do Projeto no que tange às propostas concretas para possibilitar aos jovens condições de mobilidade social. Posteriormente, foram realizadas entrevistas individuais e semi-estruturadas com os jovens egressos desse projeto, investigando suas reais possibilidades de inserção na escola e no mercado de trabalho. A realidade quanto à inserção relativa de jovens no mercado de trabalho no Brasil, sinaliza que os jovens egressos do Projeto Arco-Íris de Alta Floresta, têm poucas possibilidades de inserção profissional. A maioria desses jovens encontra-se desempregada e/ou realizando pequenos afazeres informais e temporários. Há momentos de instabilidade em suas vidas, ocorrendo períodos em que eles retornam à escola, e períodos nos quais se evadem. A evasão se dá porque os jovens precisam realizar trabalhos informais para complementar a renda familiar. Percebeu-se também nas entrevistas que não há grande incentivo aos jovens por parte de algumas pessoas da sociedade para os momentos específicos de estudo. Nas entrevistas, os jovens mencionaram a necessidade de medidas sociais ou políticas públicas para a juventude. Os dados analisados indicam que uma parcela de egressos acabou desistindo da escola por não vislumbrar perspectivas de encaminhamento no mundo profissional através dos estudos. Apesar das opiniões serem bem diversificadas quanto à importância e contribuição do Projeto na sua formação, há de se considerar aqueles que acreditam terem sido beneficiados, através das atividades desenvolvidas nas quais receberam apoio no campo sócio-pedagógico e psicológico.

CURSO TÉCNICO EM QUÍMICA DO CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MATO GROSSO: TRAJETÓRIA UNIVERSITÁRIA DE JOVENS EGRESSOS
Clayte de Paula Azevedo; Maria Aparecida Morgado (Universidade Federal do Mato Grosso)

Este trabalho é resultado de uma pesquisa que tem como foco identificar nos jovens egressos do curso Técnico em Química do Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso
- CEFET-MT, a escolha do curso superior e o desempenho dos mesmos na trajetória do curso escolhido na universidade. Selecionou-se um grupo de egressos do curso Técnico em Química do CEFET-MT, formados no período de 2002 a 2004. O estudo busca analisar essa trajetória de vida acadêmica a fim de melhor compreender o processo da escolha do curso superior pelo egresso e o seu desempenho acadêmico na universidade. A pesquisa foi desenvolvida dentro da abordagem qualitativa, com utilização de entrevistas semi-estruturadas onde os jovens se manifestaram sobre as dificuldades e desafios enfrentados e êxitos obtidos no curso superior. Foi-lhes solicitado que se manifestassem sobre o que levaram em consideração na escolha do curso superior, como se saíram no vestibular, se o curso Técnico em Química influenciou na decisão pelo curso universitário, quais os principais desafios enfrentados no decorrer desse curso, qual a contribuição do curso Técnico em Química em seu desempenho acadêmico e quais suas expectativas em relação à vida profissional futura. Pouca atenção tem sido dada à competência inicial que jovens egressos de cursos técnicos, em geral, e do curso Técnico em Química do CEFET-MT, em particular, têm para se orientar na escolha do curso superior. Em contrapartida, ao lado do melhor preparo e da maior segurança demonstrada, segundo a análise das entrevistas, os jovens egressos do curso Técnico em Química do CEFETMT, quando ingressam na universidade, estão mais preparados e mais seguros da escolha do curso superior. Nota-se que, no momento da escolha do curso superior e trajetória universitária, a opção realizada no caso desses jovens acaba sendo influenciada pela experiência profissional vivenciada no curso Técnico. Levando em consideração a influência de profissionais do meio educacional técnico como os ensinamentos e condutas de professores, esses jovens desenvolveram competência ao realizar sua escolha profissional na universidade e em sua respectiva trajetória universitária.

ENVELHECER – ASPECTOS SOBRE A IDENTIDADE SOCIAL DO IDOSO A PARTIR DA APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE INTERVENÇÃO DE GRUPO
Felipe de Carvalho Pimentel; Julia M. Gava E S. Zamprogno; Thaís Tebaldi Carvalho (FAESA)

Apresentando uma reflexão sobre o conceito de envelhecimento e suas considerações fundamentais como conceitos cronológicos, biológicos e pessoais relativos ao velho e ao envelhecer, o presente trabalho aborda a identidade social do idoso partindo da hipótese de que, a identidade pode ser determinada tanto pelas características individuais de cada um como, principalmente, pelas suas respectivas filiações, como ambiente, formação e família. Com o objetivo de propor técnicas de intervenção em grupo para que se pudesse, assim, conhecer a realidade dos idosos da comunidade estudada e as questões relativas ao envelhecimento por eles levantados, nesse trabalho, aplicaram-se as técnicas grupais com indivíduos que compartilham questões comuns, ao mesmo tempo em que cada um se vê diferente e com histórias diferentes. As atividades pelas quais se pretendeu realizar essa intervenção fundamentaram-se na formação de um “grupo focal” e, posteriormente, na realização de uma “dinâmica de grupo”, por meio da qual fora trabalhado o tema eleito a partir do grupo foco – saudade. A dinâmica foi selecionada após o contato com os sujeitos trabalhados para que a atividade escolhida se adequasse de maneira a prender o interesse de todos os participantes, tendo se fundamentado na prática de desenhos. Assim, o presente trabalho resgata a problemática referenciada acima e o limita a análises no campo social e individual do idoso para que dessa forma seja possível resgatar o sentido de ser “idoso” enquanto, fase natural, não pejorativa, construída a partir dos aspectos referentes à atividade, consciência e identidade pessoal e social. Assim, foi possível entrar em contato com a realidade a cerca do envelhecimento enquanto “ser” e “saber” específicos e resgatar alguns aspectos da história e das representações a respeito do envelhecimento. É verdade, no entanto, que na medida em que as pessoas envelhecem, ficam cada vez mais expostas a fatores de risco à saúde, a perdas de papéis, de posição social, perdas afetivas e de riscos que podem influenciar negativamente no seu bem-estar, fato nitidamente colocado pelos sujeitos pesquisados, em meio às suas colocações saudosistas. Mas, nem por isso se pode dizer que velhice é sinônimo de doença, declínio generalizado e infelicidade. A partir do presente trabalho, também se pode frisar com propriedade que não é verdade que o maior temor do idoso é a morte. Temem sim a dependência, a rejeição, a solidão, a incapacidade de produzir e os problemas com seus entes queridos, sobre os quais não tem controle.
POLÍTICAS PÚBLICAS E PARTICIPAÇÃO
Ana Lucia C. Heckert; Ana Paula Zandonadi; Fernando Dorsch; Ludmilla Ferraz; Margareth Bergamin; Mariana F. Arantes; Rodrigo dos Santos Scarabelli (Universidade Federal do Espírito Santo)

A participação coletiva no processo de gestão e formulação das políticas públicas é um desafio no Brasil. Participar implica intervir, bifurcar, interferir na produção cotidiana das políticas públicas de saúde, educação, habitação, etc. Assim, ao entender que a política é constituída de procedimentos ativos de invenção e recriação permanente das normas, compreendemos que a participação diz respeito à ação dos sujeitos e grupos sociais, no cotidiano, instituindo normas, e não apenas controlando a execução e fiscalização das normas existentes. Assim, importa discutir não somente o que é feito, mas como é feito, já que o controle social e a participação não se reduzem à gestão administrativa das políticas públicas, como também não se limitam às formas institucionalizadas de interferência, de luta por direitos sociais e políticos. Na pesquisa que realizamos no município de Cariciacica/ES, objetivamos investigar os processos de luta por escola pública, compreendendo que este movimento intervém na produção de subjetividade. O método utilizado envolve entrevistas com lideranças comunitárias, profissionais da escola, estudantes e pais, além de coleta de dados junto ao sistema municipal de ensino de Cariacica. Abarca também, numa segunda etapa, intervenção em duas escolas públicas situadas neste município. Com esta pesquisa temos observado que articular os serviços públicos de educação, saúde, dentre outros, com as demandas da população implica considerar o que os sujeitos pensam e fazem, no que se refere aos problemas a serem enfrentados, bem como dialogar com as soluções que fabricam cotidianamente. Requer problematizar as relações de poder-saber que constrangem a participação dos usuários dos serviços públicos, silenciando-a por meio de discursos competentes que outorgam e autorizam quem, o que, como e onde se fala; que ditam como se deve viver. No processo de pesquisa, temos percebido que as formas de participação não obedecem necessariamente às prescrições e modelizações que delimitam o que é luta, participação e movimento social. Quando discutimos participação nas políticas públicas a partir destas modelizações, corremos o risco de desprezar modos inusitados e surpreendentes de participação e luta que afirmam e reinventam direitos. A pesquisa que efetivamos tem focalizado os processos de luta por escola, visando investigar as movimentações cotidianas, os modos de participação da população na construção e interferência nas políticas públicas. Se compreendermos saúde como produção de normas e afirmação da potência de criação que constitui o humano, a luta pelo exercício de direitos humanos e a interferência na gestão das políticas públicas sinalizará processos de produção de saúde.

UMA ANÁLISE CRÍTICA DAS EXPECTATIVAS EMPRESARIAIS RELACIONADAS À SELEÇÃO DE PESSOAL NO MERCADO DE JUIZ DE FORA
Izabela Maria Rezende Taveira (Universidade Federal do Rio de Janeiro); Lucyelle Jane Bigonha Costa (Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora); Patricia Sá de Almeida (Universidade Federal de Juiz de Fora); Raissa de Almeida Brandão Macedo Reis (Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora)

O processo de recrutamento e seleção é uma prática essencial em Gestão de Pessoas. Considerando suas diversas etapas e respectiva importância, uma nos chama atenção pelo fato de ser a base para o prosseguimento do processo seletivo: as exigências dos empresários em relação ao perfil dos funcionários. O interesse pelo assunto surgiu devido a uma experiência profissional e de estágio em Psicologia Organizacional em uma Consultoria em Gestão de Pessoas na cidade de Juiz de Fora/ MG, a qual tem como público alvo os empresários do comércio de Juiz de Fora. O objetivo deste estudo foi conhecer as exigências desses empresários para o cargo de vendedor, em função de esse cargo ter sido o mais requisitado no ano de 2004. Para isso priorizamos a abordagem qualitativa, sendo utilizados os seguintes instrumentos: a análise documental das requisições de pessoal do ano de 2004 e a observação participante das entrevistas realizadas com os gestores no momento da solicitação de pessoal. Observamos, como exigência para admissão dos candidatos, a predominância de algumas características, como: sexo feminino, experiência anterior, idade entre 20 e 30 anos, iniciativa, dinamismo, habilidade comunicativa e também boa aparência, destacando-se a singularidade do significado das últimas quatro características para alguns gestores. Assim, consideramos de suma importância a presença do psicólogo em consultorias de Gestão de Pessoas, visto que tal profissional possui técnicas e recursos próprios para analisar o discurso dos gestores e compreender suas expectativas em relação aos profissionais a serem selecionados. Verificamos que as crenças e valores relacionadas a determinadas competências parecem estar atreladas ao imaginário social da cultura empresarial do comercio de Juiz de Fora. Tal cultura parece possuir uma visão restrita do conceito de competência quando pensamos em teóricos como Zarifian (2001), que diferencia as organizações entre qualificadas e qualificantes. Assim, essa realidade mostra a relevância da presença do psicólogo organizacional, quando se torna necessária sua intervenção no nível de orientação e adequação do perfil almejado à realidade organizacional da empresa solicitante e à realidade do mercado de trabalho da cidade de Juiz de Fora . Tal realidade evidencia a relevância social dessa questão quando atrelada às políticas publicas e privadas, pois a articulação desses temas mostra o quanto é urgente repensar essas práticas de modo a contribuir para a diminuição da rotatividade de trabalhadores no mercado de trabalho, como também para a redução dos custos empresariais que ocorrem em função de seleções inadequadas.

RELATO DA JUVENTUDE DA REGIÃO DO MÉDIO ARAGUAIA (MT) SOBRE SEU ACESSO AOS CURSOS SUPERIORES
Eliel Ferreira da Silva; Maria Aparecida Morgado (Universidade Federal de Mato Grosso)

A pesquisa busca conhecer as perspectivas educacionais dos jovens para o acesso ao ensino superior da região do Médio Araguaia-MT. A região conta com três faculdades, sendo uma pública e duas privadas. O acesso dos jovens a esse ensino vem se tornando mais necessário, já que o atual mercado de trabalho exige pessoas com maior qualificação. O estudo investigou as implicações psicológicas e sociais das perspectivas ou falta delas na constituição do ser jovem na sociedade barra-garcense.Esse trabalho pretende contribuir para discussão de questões presentes na sociedade com relação ao processo educacional da juventude. Utilizou-se de uma bibliografia sobre juventude e acesso ao ensino superior público, adotou-se as abordagens qualitativas e quantitativas com dados estatísticos do número de: instituições de ensino superior, cursos e vagas oferecidas, alunos por curso, relação cursos e aluno que os freqüentam, mais entrevistas semi-estruturadas com os jovens do terceiro ano do ensino médio de uma Cooperativa de Ensino – Escola Interativa (COOPEMA) superior da cidade de Barra do Garças.. Os dados revelaram que as vagas oferecidas pelas três instituições da região atende, apenas, uma média de 7% da população egressa do ensino médio. No entanto, as vagas não estão sendo ocupadas nas instituições particulares em sua totalidade, enquanto na pública as vagas são preenchidas completamente. Nas entrevistas, a insatisfação e a incerteza de nossos jovens em relação aos cursos oferecidos e a insegurança de deslocar-se para outro local para cursar uma faculdade foram aspectos considerados muito relevantes.Os pesquisados se dizem preocupados com o seu futuro profissional, ter uma família, ter dinheiro, felicidade e sucesso na vida que se inicia. Entretanto, as influências familiares são poderosas na definição do futuro profissional, pois as mesmas dispõem de métodos mais sutis para influenciar através de mensagens sublimares que caem no inconsciente dos filhos e contra as quais não há como se defender. Nesse sentido, constata-se que, frente aos propósitos da sociedade contemporânea, os jovens enfrentam diversos conflitos de ordem psicológica e social na escolha de um curso superior.

BRINQUEDOTECA HOSPITALAR: ESPAÇO DE HUMANIZAÇÃO E LUDICIDADE
Simone Chabudee Pylro; Alice Melo Pessotti; Ariella Brandão; Bethânia de Souza Fernandes
T. Cassimiro; Carlos Augusto Tardim de Moraes; Cleuziane Ferreira; Eliana Ribeiro Ribetti; Maria de Lourdes Batista dos Santos Pariz; Thaís Prando Oliveira; Zelene de Fátima Lenzi Piski dos Santos Silva (UNILINHARES)

Brincar é o comportamento mais intenso e constante durante a infância. Segundo Piaget a criança brinca porque este é um comportamento inerente a sua condição infantil. Ou seja, os elementos próprios de sua dinâmica impossibilitam-na de fazer outra coisa. Portanto, ainda que brincar não esteja circunscrito apenas a este período, é notório que as atividades lúdicas mantêm estreita relação com a infância. Brincar também pode ser uma forma da criança atribuir significado a sua experiência, colocando-se como agente de sua história que aceita uma realidade ou a transforma. É possível então, considerar-se o brincar como uma ação mediadora frente a situações adversas, tais como a hospitalização, pois o ambiente hospitalar ao qual a criança é submetida pode favorecer o estresse e a emergência de angústias. Muitas crianças, em função do caráter crônico de sua doença, ficam internadas por tempo considerável. Por vezes, esta situação impõe restrições quanto à prática de atividades lúdicas. Além de ser um direito, brincar também é importante, pois pode contribuir para uma recuperação mais rápida e ajudar a criança a encontrar meios para enfrentar seus medos e angústias. Considerando tais questões, a implantação da brinquedoteca hospitalar pretende suprir a uma demanda do Hospital Geral de Linhares/ES (HGL) de um serviço destinado às crianças internas. Este serviço pretende criar um espaço que viabilize e estimule o acesso ao jogo, ao brinquedo e efetivamente à brincadeira. Outras experiências tais como esta, têm demonstrado que além dos aspectos já mencionados, este serviço pode cooperar com o restabelecimento do paciente. O processo de implantação dividiu-se em etapas: a) sondagem e apresentação do projeto ao hospital, b) delimitação da proposta da brinquedoteca e divulgação do projeto através de reuniões com profissionais envolvidos, c) implantação - iniciado em novembro de 2004. O projeto foi uma iniciativa de professores e alunos do curso de psicologia da Unilinhares. Ressalta-se o número de doações da comunidade em geral, o que indica uma boa receptividade do projeto. Destacase, ainda, a participação de representantes do HGL em reuniões de treinamento – ocorrendo desde agosto/2004 – demonstrando a abertura para uma proposta de trabalho multidisciplinar. Até o presente momento os resultados podem ser visualizados da seguinte forma: manifestações de receptividade por parte da população atendida e dos profissionais do HGL; as crianças convidadas para a brinquedoteca, não havendo impedimento, compareceram à mesma e têm aguardado ansiosas pela hora da brinquedoteca.
MULHERES APRISIONADAS: REPRESENTANDO O UNIVERSO PRISIONAL
Fernanda de Magalhães Dias Frinhani (Faculdades Novo Milênio – Unesc); Lídio de Souza (Universidade Federal do Espírito Santo)

A violência nas sociedades atuais pode ser medida pelo aumento da população carcerária, que tem favorecido a violação dos direitos dos encarcerados e o descumprimento da Lei de Execução Penal. No cenário prisional brasileiro a população carcerária feminina é pequena se comparada à masculina e os dados sobre a criminalidade feminina são poucos e pouco esclarecedores. O objetivo deste trabalho foi investigar as representações sociais do espaço prisional das detentas de uma Penitenciária Estadual Feminina. Para este mister, optamos por entrevistar dez detentas, dentre aquelas que cumpriam pena há pelo menos um ano. Os dados foram organizados a partir da análise de conteúdo das entrevistas e de sua organização em estruturas-síntese individuais. Os dados revelaram que as práticas e as vivências prisionais compartilhadas pelas entrevistadas são fundamentais para a construção e transformação de suas representações sobre os diferentes aspectos do cotidiano prisional. Observamos que o desenvolvimento de ações para tornar a existência prisional mais produtiva tende a propiciar a reinserção social do condenado. Ações que visam o cumprimento da Lei de Execução Penal favorecem uma existência prisional mais harmônica e capaz de refletir positivamente na existência extramuros. Não obstante, a punição não é capaz de proceder a uma reviravolta na vida do condenado a ponto de excluir as motivações que levaram à ação criminosa. Assim, se projetos sociais não se efetivarem com vistas à consecução de uma vida digna aos mais pobres, a prisão não poderá ser apontada como solução, não passando de alívio de consciência à sociedade amedrontada pela violência e impunidade. Por fim, os dados revelaram que a atuação dos operadores do direito é permeada por violações de direitos, o que acaba por produzir exclusão para que a atuação destes profissionais seja veículo de promoção social e não de exclusão, como comumente tem ocorrido.

ADOLESCENTES, COMUNIDADE E MEIO AMBIENTE: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA
Alexandre Teixeira dos Santos (Universidade Estácio de Sá - Campus Nova Friburgo; Prefeitura Municipal de Iguaba Grande - RJ); Adriana Barros Vieira (Prefeitura Municipal de Iguaba Grande - RJ)

Este trabalho apresenta o relato da experiência desenvolvida no projeto intitulado: Ação Jovem, desenvolvido pela Secretaria de Trabalho e Ação Social, da Prefeitura Municipal de Iguaba Grande - RJ. Este projeto é uma ação destinada a adolescentes e, principalmente, realizada por adolescentes. A equipe de trabalho é composta por dois psicólogos, uma monitora (jovem da comunidade capacitada para este fim), um grupo de adolescentes e, ainda, por colaboradores da Faculdade de Medicina Veterinária, da Universidade Federal Fluminense (UFF), a partir de convênio firmado para Educação Ambiental. O Projeto apresenta a tentativa efetiva de contribuir para a construção de cidadania e melhoria da qualidade de vida dos adolescentes, destacando os temas da prevenção da gravidez precoce, prevenção ao uso de drogas e, ainda, a questão da preservação e educação ambiental. Prioritariamente, visa contribuir para a formação de jovens competentes, autônomos e solidários; jovens que possam envolver-se na solução de problemas reais na escola, na comunidade e na sociedade. O Projeto Ação Jovem conta com a participação de 50 adolescentes de 14 a 15 anos integrantes de famílias de baixa renda. Todos atuam por 12 horas semanais, em horário compatível com o escolar. O Projeto tem a duração de seis meses, podendo haver renovação por mais seis meses. Durante esse período os jovens recebem capacitação nas áreas de Relações Humanas, Cidadania, Saúde e Meio Ambiente para, posteriormente, atuarem junto à comunidade adolescente do município como multiplicadores das informações sobre Cidadania, Saúde e Meio Ambiente. Para esta prática são realizadas atividades como dramatizações, debates e competições em geral que integram participantes do Projeto com adolescentes da comunidade. Nestas atividades, em um espaço lúdico, informativo e de reflexão, são apresentadas e discutidas questões relativas à cidadania, saúde e meio ambiente. O Projeto é norteado teoricamente pela Psicologia Social Comunitária numa perspectiva sócio-histórica. Trabalha ainda, com o conceito de Protagonismo Jovem, no qual, o adolescente é o personagem principal e sua participação é autêntica e não simbólica ou manipulada. Podemos destacar o amadurecimento, a percepção social e o sentido de solidariedade e valorização do trabalho comunitário conquistados por cada jovem participante. Os objetivos de multiplicação das informações sobre saúde, meio ambiente e preservação ambiental, foram consideradas satisfatórias ao desenvolvimento do Projeto Ação Jovem, satisfação esta compartilhada pelos adolescentes, gestores municipais, parceiros institucionais e pela população em geral.

O TREINAMENTO COMO INSTRUMENTO DE CAPACITAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA EMPRESA
Raquel Melo Bezerra; Anísio José da Silva Araújo; Aline Brandão Siqueira; Fabiana Ribeiro Monteiro (Universidade Federal da Paraíba)

O treinamento pode ser definido como um processo de desenvolver qualidade nos recursos humanos visando habilitá-los a serem mais produtivos e contribuir melhor para o alcance dos objetivos organizacionais. O propósito do treinamento é aumentar a produtividade dos indivíduos em seus cargos, influenciando seus comportamentos. O treinamento é um processo cíclico e contínuo, composto de quatro fases ou etapas igualmente importantes: diagnóstico, planejamento, execução e avaliação. A fase do diagnóstico permite definir com clareza o problema a ser tratado, a necessidade a ser satisfeita e o objetivo a ser atingido por meio de treinamento. A fase de planejamento e programação permite esclarecer e operacionalizar os objetivos e tomar as decisões estratégicas sobre: em que treinar, quem treinar, como treinar, onde treinar, quando treinar e como avaliar todo o processo. A fase de execução é a aplicação e condução do programa de treinamento. A fase de avaliação, que já deve ter sido prevista e estruturada na fase de planejamento, constitui o último passo do processo de treinamento. É o momento que se verifica se os objetivos finais foram alcançados e quais as ações a serem implementadas a seguir. O treinamento não deve ser confundido com uma simples questão de realizar cursos e proporcionar informações, ele vai além disso. O treinamento objetiva atingir o nível de desempenho almejado pela organização através do desenvolvimento contínuo das pessoas que nela trabalham. Na experiência de estágio realizado em uma consultoria organizacional que presta serviço para indústrias têxteis, observou-se que os treinamentos eram instrumentos de grande importância para o desenvolvimento das empresas. Os treinamentos eram realizados mensalmente, tanto com os supervisores como com os operadores de máquinas. Esse procedimento oportunizava um espaço de encontro dos funcionários, bem como de discussão dos problemas enfrentados durante o último mês. A comunicação e a interação entre os funcionários, que dificilmente se estabelecia durante o processo produtivo, emergiam durante essa atividade. O treinamento posterior sempre se baseava nas questões trazidas pelos próprios funcionários. Enfim, com esse procedimento, verificou-se que os índices de absenteísmo e rotatividade diminuíram nas empresas e que os treinamentos, além proporcionarem a capacitação e a interação entre os funcionários, permitiam a eles falar sobre seu trabalho e, conseqüentemente, obter um feedback da gerência.
A SOCIABILIDADE JOVEM NA PRAÇA E SEU CARÁTER EDUCATIVO
Maria da Penha Fornanciari Antunes; Maria Aparecida Morgado (Universidade Federal do Mato Grosso)

Esta pesquisa foi realizada em Cáceres-MT, com jovens que freqüentam a Praça Barão do Rio Branco, e tem como objetivo compreender as dimensões educativas que permeiam a convivência dos jovens nas atividades sociais. O debate público diverge em opiniões sobre condutas e horários adequados ao lazer da juventude. Considerando suas muitas significações, freqüentar a Praça tornou-se um paradigma cultural, com caráter social de processo educativo que se dá nas relações de sociabilidade.Com abordagem qualitativa, técnicas de observação e entrevista com grupo focal de jovens entre 18 e 29 anos, verificamos que os jovens consideram esse espaço público adequado a diversão, gratuito, tendo acesso facilitado. Com outras gerações aprendem sua importância cultural, histórica e social. A Praça é de todos, com direito de utilizá-la para a diversão conforme seus gostos e interesses. A convivência ensina atitudes de respeito e solidariedade. Os mais velhos, porém, não entendem que os jovens “curtem” coisas antigas, mas preferem as modernas, como música barulhenta. Apesar das relações conflituosas todos querem estar na Praça, mesmo criticando-se mutuamente. O hábito vem de criança, pois os pais as levam para brincar. Freire (1997) afirma que “a cidade somos nós e nós somos a cidade, mas não podemos esquecer de que o que somos guarda algo que foi e que nos chega pela continuidade histórica”. Horários e preferências da juventude não correspondem ao que os mais velhos consideram correto. Reclamações, críticas, rebeldia contra costumes conservadores, sugerem para. Freire, que a cidade “enquanto educadora é também educanda” e “sua tarefa educativa implica nossa posição política (...) a maneira como exerçamos o poder na cidade. Não cabe às gerações subjugarem-se, convivência democrática requer comportamento coerente. “Talvez as cidades pudessem estimular (...) os jovens [e adultos] a pensar e a discutir o direito de ser diferente sem que isto signifique correr o risco de ser discriminado”.

EDUCAÇÃO UNIVERSITÁRIA: A VISÃO DE JOVENS ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE
Ariane Márcia Cândido de Oliveira; Maria Aparecida Morgado (Universidade Federal do Mato Grosso)

O presente estudo vincula-se ao Projeto de Educação da Juventude em Mato Grosso: Impasses e Perspectivas Político-Pedagógicas, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Educação, Jovens e Democracia. O estudo tem por objetivo investigar a visão de jovens estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso, sobre a homossexualidade no meio juvenil, como é entendida, e verificar se a vivência universitária pode contribuir ou não para uma abordagem mais tolerante da questão. Estudos indicam que a homossexualidade é uma realidade da espécie humana desde as sociedades mais primitivas até a contemporaneidade. Porém, a tendência do comportamento erótico idealizado por nossa sociedade é o da orientação heterossexual, sendo comum, manifestações de preconceito e discriminação com relação aos homossexuais. Busca-se realizar esta pesquisa na universidade devido à mesma ser considerada um ambiente de democracia e respeito para com as diferenças, sejam elas de raça, etnia, classe social e variações do erotismo, no caso, a homossexualidade. Este estudo desenvolve-se em uma abordagem qualitativa, envolvendo estudo bibliográfico a respeito de educação universitária, juventude e homossexualidade e entrevistas semi-estruturadas realizadas com os alunos da UFMT. Para o desenvolvimento da pesquisa foram selecionados oito sujeitos, sendo quatro das Ciências exatas e quatro das Ciências da Saúde nos cursos de Computação, Química, Educação Física e Nutrição. A seguir estão trechos, onde são demonstradas as visões a respeito deste comportamento homoerótico: “(...) opinião ou opção de vida de cada um (...) acho que todos têm o direito de fazer o que quiserem de seu corpo (...) o que eu acredito é no respeito (...)”, “(...) o importante é ser feliz (...) preconceito é coisa de ignorante sem noção (...). Os participantes afirmam que há mais preconceito contra o homem homossexual do que contra a mulher homossexual, dizendo que: “(...) somos frutos de uma sociedade extremamente machista (...); acrescentam: “(...) fazemos parte de uma sociedade patriarcal (...) onde o homem é visto como procriador (...) o másculo (...) o motor propulsor da realidade (...)”; e que “(...) uma vez que achamos simples cordialidade (a amizade), o ato de duas mulheres se abraçarem ou beijarem (...)”. Verificou-se que as manifestações dos acadêmicos parecem ser tolerantes em relação à diversidade sexual, porém, ainda apegadas a visões conservadoras da questão. Apesar de a UFMT ser considerada um espaço democrático, percebeuse que não há uma abertura espontânea para discussões a respeito desse comportamento erótico, visto como “diferente”, que ultrapassa os limites da norma heterocêntrica.

O JOGO QUARTO COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
Antonio Carlos Ortega; Simone Chabudee Pylro; Maria Carolina Caliman; Thelma L. V. Andrade (UNILINHARES)

A proposta de Inhelder e colaboradores referente à análise funcional de processos cognitivos tem possibilitado um avanço nos estudos que utilizam jogos de regras como instrumento de avaliação e intervenção. Partindo dessa proposta, este trabalho tem por objetivo analisar, em uma perspectiva microgenética, a evolução dos procedimentos e das estratégias utilizados por adultos jovens na construção do sistema contido em um jogo de regras. Participaram como sujeitos quatro estudantes de uma instituição privada de ensino superior. Foi utilizado como instrumento de investigação o Jogo Quarto, composto de um tabuleiro e 16 peças, distribuídas de acordo com quatro características: forma, cor, tamanho e superfície. Vence o jogo quem primeiro formar um quadrado ou alinhar quatro peças com pelo menos uma característica em comum. A pesquisa foi desenvolvida em três etapas: (1) os participantes realizaram atividades de exploração e de classificação do material referente ao instrumento e jogaram três partidas com o experimentador, com o intuito de conhecer
o jogo; (2) cada participante jogou três partidas contra cada um dos outros; (3) os participantes jogaram mais três partidas com o experimentador. Os principais resultados obtidos na primeira etapa indicaram que todos os participantes compreenderam o objetivo e as regras do jogo. Na segunda etapa, os resultados permitiram verificar que: (a) o sujeito 1 venceu todas as nove partidas realizadas, (b) o sujeito 2 venceu seis das nove partidas e (c) os sujeitos 3 e 4 venceram apenas duas e uma das nove partidas, respectivamente. Na terceira etapa, constatou-se que: (a) os sujeitos 1 e 2 analisaram corretamente a finalização das três partidas; (b) o sujeito 3 analisou corretamente a finalização das duas primeiras partidas e (c) o sujeito 4 analisou corretamente apenas a finalização da última partida. Além disso, observou-se, com base nas respostas dos participantes relativas ao objetivo, às regras e às estratégias do jogo, que: (a) o sujeito 1 alcançou um nível de compreensão do jogo superior aos outros participantes, (b) os sujeitos 3 e 4 alcançaram um nível de compreensão do jogo inferior aos demais e (c) o sujeito 2 alcançou um nível de compreensão do jogo intermediário em relação aos outros participantes. Concluindo, constatou-se que o jogo Quarto além de permitir a análise de processos cognitivos, em um contexto microgenético, possibilita a sua utilização em trabalhos de avaliação e intervenção psicopedagógica, o qual favorece o desenvolvimento de habilidades e competências que são fundamentais no processo ensino-aprendizagem.
EDUCAÇÃO E SEXUALIDADE: PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO E O TEMA TRANSVERSAL – ORIENTAÇÃO SEXUAL (CUIABÁ - MT)
Meire Rose dos Anjos Oliveira; Maria Aparecida Morgado (Universidade Federal do Mato Grosso)

A questão da sexualidade, atualmente, passa a ter maior importância e preocupação entre os educadores. No entanto, além de ser um tema muito polêmico é, ainda, tabu no contexto escolar. A escola assume, ora um tom sombrio e árido, ora multicolor e fértil em relação à sexualidade humana. A discussão sobre a inclusão da temática da sexualidade no currículo das escolas de ensino fundamental e médio vem se intensificando nos últimos anos, e muito mais com a discussão dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs que a coloca como tema transversal, que pode ser discutido em todas as disciplinas. A pesquisa teve por objetivo conhecer a postura dos educadores em relação às manifestações de sexualidade de seus alunos e se essa postura inclui conhecimento e abertura para lidar com a questão. A pesquisa se desenvolveu na perspectiva qualitativa com revisão e estudo bibliográfico, escolha de sujeitos, entrevistas, análises das entrevistas e conclusão. Foram escolhidos oito professores do Ensino Médio de uma escola privada de Cuiabá. Quando perguntados sobre a importância da orientação sexual na escola, muitos afirmaram ser necessária a discussão pois o assunto é muito difundido na televisão e em revistas teens, porém, atribuem a necessidade de uma discussão mais séria nas escolas. Os entrevistados admitem que a abordagem da sexualidade na escola seja de grande relevância, mas muitos ainda não se sentem preparados para tratar do assunto, outros atribuem a tarefa apenas aos professores de biologia. Apesar dos PCNs terem sido lançados em 1997, muitos professores ainda não leram o compêndio que fala sobre orientação sexual. Ficou evidente no estudo a existência de uma distância e, também, contradição entre a teoria e prática, pois os professores reconhecem a importância de se trabalhar a sexualidade na escola, alguns conhecem a proposta dos PCNs, mas, no entanto, não incluem em suas práticas a discussão desse tema. Os que ensaiam a discussão com seus alunos, o fazem esporadicamente, com informações de cunho preventivo. O trabalho de orientação sexual deveria ser um processo sistemático, elaborado e desenvolvido pelo professor, pois é ele quem conhece e sabe das demandas dos seus alunos, suas dúvidas e inquietações.

JOVENS HOMOSSEXUAIS DO ENSINO MÉDIO NO ESPAÇO ESCOLAR
Meire Rose dos Anjos Oliveira; Maria Aparecida Morgado (Universidade Federal do Mato Grosso)

A educação escolar tem tido dificuldade para dar conta do debate sobre a sexualidade humana. No caso da homossexualidade parecem predominar visões mais conservadoras. A homossexualidade pode ser definida simplesmente como uma ou única preferência dos desejos amorosos e sexuais por pessoas do mesmo sexo. Através dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a escola tem a possibilidade de trabalhar orientação sexual com seus alunos, incluindo conceitos básicos e informações sobre homossexualidade. A experiência no cotidiano escolar despertou interesse em pesquisar jovens homossexuais para conhecê-los melhor e tentar oferecer elementos para intervenção pedagógica menos preconceituosa e mais tolerante. A pesquisa é de natureza qualitativa, envolve revisão e estudo bibliográfico, escolha de sujeitos, entrevistas semi-estruturadas, análises das entrevistas e conclusões. Através das entrevistas percebeu-se que muitos jovens por assumirem sua homossexualidade são repudiados pelos colegas, professores e muitos pela família. Todos os entrevistados concordam que a evasão escolar nem é a pior conseqüência da discriminação. Muitos jovens, não suportando a pressão, acabam cometendo suicídio. Os jovens de escolas privadas afirmam que existe um preconceito muito forte e, quando um caso de homossexualidade é desvelado, a escola raramente age para evitar que o jovem seja excluído do grupo. Acontece o mesmo com os jovens da escola pública, porém, em uma das escolas onde um entrevistado estudou, já existe um projeto que trata da homossexualidade. Quando perguntados a respeito da escola ser um espaço também para jovens homossexuais, a maior parte disse não ser, pois muitos colegas ainda preferem não ter um colega homossexual e que grande parte dos professores ainda demonstra rejeição. Constatou-se, que na escola existem entraves de relações quanto a homossexualidade, os professores enfrentam dificuldades no manejo escolar quando estudantes abertamente homossexuais são discriminados por colegas, o que acarreta prejuízos à aprendizagem desses jovens discriminados e na interação deles com colegas e professores. É na juventude que a escolha amorosa eclode, e na homossexualidade essa eclosão pode trazer conflitos que permeiam suas relações afetivas e sociais. Muitos homossexuais jovens passam a acreditar que a escola não é um espaço próprio para eles. Assim, passam a criar espaços próprios para assegurarem manifestações de afeto e erotismo, assim como para ter seus territórios de convivência, evitar constrangimentos e, mesmo agressões pelas quais poderiam passar em outros lugares. Na escola, educar em relação à homossexualidade permite que os jovens não sejam estigmatizados por suas escolhas eróticas, e tenham o direito de vivenciálas com dignidade, como cidadãos.

TRAJETÓRIAS EDUCACIONAIS, POLÍTICAS E SOCIAIS DE JOVENS GRADUADOS QUE MIGRARAM DA REGIÃO SUL DO BRASIL PARA A CIDADE DE RONDONÓPOLIS - MT NA DÉCADA DE 80
Stela Maris Mattana; Manoel Francisco de Vasconcelos Motta (Universidade Federal do Mato Grosso)

O presente trabalho teve por objetivo investigar a trajetória educacional, política e social de jovens que migraram dos Estados da Região Sul do Brasil para cidade de Rondonópolis - MT, nos períodos de 1970 e 1980. Os sujeitos que participaram desta pesquisa ocupam hoje diversas posições de destaque na sociedade Rondonopolitana e no Mato Grosso. Os motivos e expectativas pelos quais estes jovens migrantes deixaram seus municípios de origem constituem um fator importante na compreensão de determinado fluxo migratório, sobretudo, por revelar o projeto de vida do grupo migrante no contexto em que estão inseridos. O estudo situa-se na perspectiva da pesquisa qualitativa. Foram utilizadas as seguintes técnicas de investigação: levantamento bibliográfico, estudo da bibliografia, e entrevistas semi-estruturadas, onde se procurou saber os diversos motivos e expectativas pelos quais os jovens migrantes deixaram seus municípios de origem. Constatou-se que o principal motivo pelo qual esses jovens migraram da Região Sul do Brasil para a cidade de Rondonópolis (MT) foi a busca por melhores condições econômicas, de ascensão social e poder político. As expectativas, em sua grande maioria, foram atendidas, embora registrem algumas dificuldades nas condições de vida na região no início da migração. Acreditam terem tido importância no desenvolvimento do município e do estado, conservando ali também muito de suas tradições sulistas. A pesquisa apontou que a cultura Rondopolitana possui fortes traços ruralistas, sendo um município produtor de grãos, devido a influência de grupos migratórios advindos da Região Sul do Brasil que tinham fortes laços com o campo. Os jovens que migraram na década de 1970 a 1980 eram recém graduados e tiveram o início de suas carreiras no município. Esses jovens ocupam hoje, destacadas posições na vida política e social no Município e no Estado. É importante ressaltar que o atual governador do estado de Mato Grosso faz parte dessa geração de jovens migrantes que vieram para o Mato Grosso durante o período pesquisado.
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE: UMA PROPOSTA PARA FORMAÇÃO ESCOLAR DO JOVEM ESTUDANTE POBRE
Maria Luiza de Paula Santos; Manoel Francisco Vasconcelos Motta (Universidade Federal do Mato Grosso)

Este trabalho teve por objetivo investigar se a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade
– CNEC ainda mantém coerência com o seu projeto inicial. A Campanha Nacional de Escolas da Comunidade foi criada em Pernambuco , em 1943, por um grupo de estudantes pobres secundaristas que se organizaram e criaram a 1ª unidade cenecista de ensino, e tinha por objetivo inicial oferecer ensino aos estudantes mais carentes que não tinham acesso às escolas elitizadas da época. Este estudo situa-se na perspectiva da pesquisa qualitativa. Foram utilizadas técnicas de pesquisa tais como: entrevistas semi-estruturadas com pessoas que trabalharam e estudaram na CNEC, e análise do acervo e, do estatuto da Instituição. Procurou-se analisar filosoficamente a trajetória dessa instituição desde sua criação até os tempos atuais. Nessa complexa caminhada dos 62 anos de trabalhos educacionais comunitários, a CNEC sofreu mudanças de adequação ao contexto sócio-econômico. A CNEC, porém, continua preservando algumas características desde sua criação, como: sendo uma instituição que não possui dono, sem fins lucrativos e filantrópica, continua tendo como órgãos diretivos a Diretoria Nacional, Estadual e o Conselho Comunitário Cenecista local. Nos últimos anos passou a trabalhar com funcionários registrados, deixando de trabalhar com os voluntários, gerando assim ônus à instituição. Desta forma, o perfil dos alunos da CNEC consequentemente mudou. Estes não são mais só alunos carentes ou de baixa renda, mas também alunos de famílias de classe média. A CNEC, por meio de suas unidades escolares, continua dando atendimento aos estudantes pobres, com bolsas de estudos e projetos de assistência social para as comunidades carentes onde estão inseridas. A Pesquisa constatou que a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade- CNEC continua sendo um dos mais expressivo movimento de educação comunitária existente na América Latina. Constatouse também que sua organização é democraticamente estruturada, pois permite fluir as aspirações das bases para a cúpula e ao mesmo tempo contempla essas bases, com um nível amplo de decisões que dizem respeito ao destino das comunidades. Devido às mudanças ocorridas, sejam por motivos estruturais ou sócio-econômicos, a Instituição perdeu parte de suas características iniciais que era oferecer o ensino gratuito para jovens estudantes pobres. Porém, continua com representativos trabalhos comunitários e assistenciais.

POLÍTICA PÚBLICA: ATUANDO NO ESPAÇO DO CONSELHO TUTELAR
Flávia Bitencourt; Thatiara Bortoloni; Roberto Cheib; Poliana Cordeiro; Carolina Dadalto; Priscila Fernandes; Rogério Fukuda; Clarice Gentilli; Inglid Magri; Alice Marques; Danielli de Melo; Antônio Prado; Mariana Rodrigues; Liana Santos; Clara de Souza; Fernanda Stange; Charlene Vieira. (Universidade Federal do Espírito Santo)

O presente trabalho iniciou-se a partir de uma solicitação do Juizado da Infância e da Juventude do Município de Cariacica (ES), tendo em vista uma série de dificuldades operacionais na implantação e acompanhamento dos trabalhos dos Conselhos Tutelares daquele município. Na tentativa de criar e mesmo repensar a prática da Psicologia junto a esse órgão tem-se como objetivo desenvolver um atendimento psicológico, institucional e social junto aos Conselhos Tutelares do Município de Cariacica (ES). Esse órgão foi instituído pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECRIAD) a fim de garantir o cumprimento do mesmo, e está implantado em Cariacica dividido em quatro sub-regiões administrativas respondendo cada uma por um determinado número de bairros. Nesse espaço, estudantes de psicologia oferecem às crianças e suas respectivas famílias, encaminhadas ao atendimento psicológico pelos conselheiros e/ou Juizado, um espaço onde podem falar dos problemas vividos, elaborarem seus sofrimentos e a partir disso poderem produzir um novo olhar sobre suas realidades. Os atendimentos são realizados semanalmente por 16 extensionistas, atuando 4 em cada subregião. Cada aluno dedica 8 horas semanais ao programa, sendo 4 horas ao atendimento individual no Conselho em que atua e 4 horas à supervisão em grupo, tendo como referencial teórico no atendimento a Psicanálise Freudiana. Há ainda uma reunião no próprio Conselho Tutelar, uma vez por mês, com os extensionistas, os conselheiros e um supervisor. Utilizamos, além da escuta diferenciada, técnicas lúdicas, como jogos, histórias infantis, desenhos, entre outras brincadeiras, uma vez que o brincar possibilita à criança trabalhar simbolicamente suas questões. Através desta proposta de trabalho procuramos olhar o Conselho Tutelar como espaço de abertura a outros modos de produção de existência. Neste sentido, potencializamos um espaço de fala para crianças, adolescentes e suas famílias, oportunizando-lhes análise, conhecimento e apropriação de suas próprias histórias de vida, visto que em Cariacica a produção de uma grande massa de excluídos da cidadania é reforçada a todo o instante. Percebem-se os efeitos positivos dessa prática na medida em que as crianças e famílias conseguem se reconhecer como sujeitos potencialmente capazes de buscar novas formas de vida, o que torna o Conselho Tutelar um importante espaço de promoção da vida.

INTERDISCIPLINARIDADE AMBIENTAL: EPISTEMOLOGIA E PRÁXIS
Viviane Coutinho Meneguzzi; Átala Lotti Garcia (Universidade Federal do Espírito Santo)

O ambiente não é o espaço natural independente do social, mas o resultado de interações dinâmicas. Ou seja, o meio ambiente não envolve apenas os aspectos físicos, químicos e biológicos, mas também os sociais e humanos, fundamentais para a compreensão desta rede de complexidades, que exige uma integração entre diferentes análises, uma vez que a realidade é multifacetada. Sendo assim, a compreensão de qualquer fenômeno social requer que se leve em consideração as informações relativas a todas essas dimensões. Objetivou-se compreender as perspectivas e as necessidades da interdisciplinaridade, em relação aos aspectos epistemológicos e práticos, na resolução de questões sócio-ambientais. Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a Interdisciplinaridade, na perspectiva sócio-ambiental, visando a salubridade ambiental e a melhoria da qualidade de vida para a população. A institucionalização de programas interdisciplinares sobre a temática “meio ambiente” no Brasil constitui um processo importante social e cientificamente. Ele não apenas interfere na estrutura departamentalizada, também promove um contato entre profissionais de várias formações em torno de um tema “transversal”. Essa relação entre as disciplinas não anula as especificidades de cada uma, ao contrário, proporciona a sua evolução. A discussão sobre esse tema no Brasil teve início na década de 80, quando se realizaram os Seminários Nacionais sobre Universidade e Meio Ambiente nos quais foram discutidas questões sobre a importância de uma abordagem interdisciplinar sobre a temática ambiental, suas bases epistemológicas, as principais críticas e obstáculos em relação à estrutura departamental, a dificuldade em se construir uma linguagem comum e a participação da universidade e da sociedade face à política ambiental brasileira. Estas discussões foram importantes para a criação de uma consciência sobre a necessidade de uma abordagem social, humana e biológica para a compreensão da realidade. Apesar destes debates, ainda hoje, a burocracia das instituições e a resistência dos especialistas dificultam sua implantação. A práxis complementa a epistemologia. Se o grupo conhece, compreende e aceita a “ideologia” do interdisciplinar, tenderá a atuar neste caminho. Por isso, há a necessidade de discussões contínuas, pois elas serão subsídios para o enfrentamento dos obstáculos a serem alcançados. A interdisciplinaridade ambiental deve envolver a epistemologia e práxis, pois somente através dessas duas dimensões é que se pode obter uma maior compreensão da realidade econômica, social, e biológica. É fundamental a formação de uma equipe que respeita todos os seus integrantes, e que acredita que é por meio destas diferenças que emergem resoluções mais efetivas, visando o desenvolvimento sustentável e melhoria da qualidade de vida.

EDUCAÇÃO EM SAÚDE AMBIENTAL: UMA ABORDAGEM PSICODRAMÁTICA
Viviane Coutinho Meneguzzi (Universidade Federal do Espírito Santo)

Desde a 2ª Guerra Mundial, a agricultura vem passando por mudanças em busca de maior produtividade, tal como o uso de agrotóxicos, que são produtos tóxicos utilizados para controlar e erradicar doenças e pragas na agricultura e vetores transmissores de doenças. Dados do Sistema Nacional de Informações Toxico-farmacológicas de 2001 apontam as intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola e doméstico representando 7,25% e 3,34% dos casos registrados de intoxicação, respectivamente. Portanto, para preservar a saúde, há a necessidade de iniciativas que implementem propostas de Educação em Saúde em comunidades expostas a estes fatores. O Psicodrama pode ser uma importante ferramenta na formação de uma consciência crítica nas comunidades. O estudo teve por objetivo refletir sobre a Educação em Saúde, baseada no Psicodrama, em comunidades expostas à contaminação por agrotóxicos. Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a Educação em Saúde, na perspectiva da Pedagogia do Drama e suas relações com o princípio de participação popular em prol de sua saúde e qualidade de vida. O Psicodrama, criado por Moreno, é um método de pesquisa e intervenção nas relações interpessoais. Percebese uma clara relação entre o Psicodrama e a Educação em Saúde, visto que as técnicas psicodramáticas são importantes para a intermediação por significados e por palavras, através do diálogo e dramatizações. Um projeto didático-pedagógico favorável para o desenvolvimento desta postura é a Pedagogia do Drama, descrita por Romaña, que consiste em uma visão educacional no desenvolvimento de uma consciência crítica na compreensão de mundo com autonomia e compromisso. Através desta vertente, a sociedade se transforma no sentido de mobilização social, visto que o desenvolvimento da cidadania depende de práticas sociais. Para tanto, a população precisa construir autonomia crítica, e neste sentido a Educação em Saúde muito tem a contribuir, pois é uma prática social concreta. A Educação em Saúde, baseada no Psicodrama pode desvendar as questões encobertas por interesses corporativos, que em detrimento da saúde, impõem ações opostas aos interesses da comunidade, tais como o uso indiscriminado de agrotóxicos. Há a necessidade de um ressurgimento dos significados internos de cada indivíduo. E é através da abordagem da Pedagogia do Drama que se pode descobrir novas possibilidades em favor da saúde, através da emergência de novos atores sociais, capazes de mobilizar transformações.

A MORTE NO HOSPITAL: VIVÊNCIAS DOS TÉCNICOS DE ENFERMAGEM
Priscila Valverde Fernandes; Alexandra Iglesias; Luziane Zacché Avellar (Universidade Federal do Espírito Santo)

A morte é a eterna certeza da condição humana, embora quase sempre ignorada, constituindo intrínseca peculiaridade do ser humano, o único vivente que tem a consciência da sua própria finitude. Sob um aspecto mais abrangente, seria diante da morte que o ser humano poderia diminuir o seu desconforto e sua perplexidade diante de um real com possibilidades tão remotas de verdade, afinal, o êxito letal é a última e incontornável fronteira, geralmente pensada em relação ao outro e quase nunca em relação a si. Como efeito direto do capitalismo houve a supressão do luto, escondendo-se a manifestação ou até mesmo a vivência da dor. Exige-se o controle, pois a sociedade não suporta enfrentar os sinais da morte. Diante disso, tendemos a rejeitar a idéia de morte, acreditando nos avanços da medicina. Mudou-se, então, a forma de se conviver com a morte, com o morrer e com os pacientes prestes a morrer. No contexto hospitalar objetivou-se investigar a representação de morte para técnicos de enfermagem, que são responsáveis pelos cuidados dos pacientes terminais em um hospital público da Grande Vitória. Pretendeu-se também perceber de que maneira esses profissionais contemplam, sentem e de que forma isso intervém no contexto diário de suas vidas e nas atividades de trabalho. Para tanto foram feitas observações participantes e entrevistas semi-estruturadas com 10 técnicos de enfermagem que compõem a equipe do setor oncológico desse hospital. A concepção de morte aparece difusa no discurso. Pode-se explicar pelo fato de que pensar a morte, considerá-la em profundidade, é algo doloroso para o homem e traz à tona lembranças de perdas antigas, o sentimento de finitude e o medo de um futuro completamente desconhecido e incerto. Para evitar o contato com a morte o profissional se apropria de uma rotina de trabalho acelerada e de um distanciamento nas relações interpessoais, que fazem surgir queixas sobre o cotidiano, mas que, muitas vezes, está relacionada indiretamente com a frustração perante a morte. Na preparação do corpo do paciente que vai a óbito distancia-se do fato ocorrido. O medo da morte de outrem remete ao medo da própria morte, sem que se possa desprezar as marcas culturais da negação da morte que caracterizam o homem ocidental deste século.

A RELAÇÃO ENTRE DISCIPLINA ESCOLAR E A FORMAÇÃO DE TRABALHADORES
Lilian Rose Margotto; Alexandra Iglesias; Priscila Valverde Fernandes; Roberta Zacché Iglesias; Rachel Wandekokem; Thais Caus Wanderley (Universidade Federal do Espírito Santo)

Historicamente a escola foi se constituindo como um espaço de controle e de disciplina, capaz de produzir trabalhadores “dóceis”, que se adaptam as exigências de cada época. Constata-se a instalação da disciplina baseada nas regularidades de alguns dispositivos, instituições, enunciados e ações de uma prática disciplinadora dentro da sociedade moderna, que nos limites do âmbito escolar, adquire particularidades. Especificamente neste espaço se dá todo o conjunto de técnicas, de procedimentos e saberes, de descrições, receitas, destinados ao início da fixação do menino e menina na escola para fazê-lo produtivo. Diante disso, objetivou-se investigar a relação entre a disciplina escolar e a formação dos trabalhadores. Para tanto foram feitas entrevistas semi-estruturadas com pedagogos e diretores de escolas públicas e particulares de ensino fundamental, de bairros de classe média de Vitória, Espírito Santo. Realizou-se, em seguida, uma análise qualitativa dos dados.Em ambas as escolas há uma tentativa de adequação do aluno aos padrões exigidos pela sociedade, o que confirma a idéia de que a escola, com uma disciplina rigorosa, tornou-se uma instituição essencial à sociedade. A escola pública se diferencia da escola particular pelo fato de que prepara o aluno para entrar cada vez mais cedo no mercado de trabalho. Na escola particular essa preocupação é menos intensa, pois se pressupõe que esse aluno certamente passará pelo ensino médio e/ou superior. Isso não significa que não há preocupação em preparar o sujeito para o mercado, contudo, isso não é dito claramente. Fala-se da escola como sendo responsável por preparar o indivíduo para a vida, por meio de uma “educação moral e ética, ensinando respeitar o outro e saber esperar”. Isso pode relacionar-se com uma forma de poder, em que as Instituições escolares determinam fronteiras, recebem mandatos de demandas, mas gerenciam ações, programas de trabalho, instalam procedimentos, rotinas, estratégias de controle e ação. A partir daí, surgem as noções que dirigem as atividades cotidianas dos sujeitos e dos grupos.

VISITA DOMICILIAR: UMA ALTERNATIVA ASSISTENCIAL PARA O ATENDIMENTO AO ALCOOLISTA
Andressa Tomazini Borghardt; Jeanine Aranda Corrêa; Marluce Miguel de Siqueira (Universidade Federal do Espírito Santo)

A Visita Domiciliar (VD) é um instrumento utilizado pela enfermagem ao longo de sua história. Analisando o surgimento das visitas domiciliares percebe-se que elas se confundem com o nascimento da enfermagem em saúde pública no mundo e, principalmente no Brasil. No entanto, com o passar dos tempos, foi desaparecendo dos serviços, apesar de se constituir um instrumento de trabalho precioso no cuidado de enfermagem e sua utilidade nas mais diferentes formas de acompanhamento dos pacientes. A VD se constitui uma atividade de assistência à saúde exercida junto ao indivíduo, à família e a comunidade com objetivo de contribuir para a efetividade das premissas de promoção à saúde definidas pela OMS e adotadas pelo SUS no Brasil. Esta tem um caráter tanto educativo quanto assistencial e proporciona uma dinâmica nos programas de atenção à saúde, inclusive no abuso e dependência de drogas. No alcoolismo, vem sendo aplicados tanto na adesão ao tratamento, quanto no seguimento de alcoolistas e seus familiares, ou seja, como facilitadora na prevenção à recaídas e manutenção da abstinência; sendo uma prática que tem sido implantada tanto no serviço público, através do Programa de Saúde da Família quanto no privado por meio dos programas de Home Care para o atendimento a pacientes com doenças crônico-degenerativas e como forma de atenção primária à saúde.O objetivo foi analisar as condições em que vivem o indivíduo, seus familiares e as possíveis interferências destes em seu tratamento. Participaram do estudo pacientes em seguimento no Programa de Atendimento ao Alcoolista (PAA) do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (HUCAM),diagnosticados com a síndrome de dependência alcoólica segundo o CID-10 e DSM-IV, residentes nos bairros que compõe a macro região Metropolitana de saúde do ES e apresentando dificuldades na manutenção da abstinência. Verificou-se que na maioria dos visitados, trabalhamos os conceitos de manutenção da abstinência, em outros foram feitas orientação para o auto-cuidado e alcoolismo
– doença.Alguns ingressam nos grupos de ajuda mútua (GAM). Foram identificados os problemasque interferem no tratamento, corroborando para uma melhor adesão, através da manutenção da abstinência e ingresso nos GAM.Concluiu-se que o maior vínculo com os pacientes, através do estímulo à manutenção da abstinência e freqüência aos GAM; permitiu a identificação e avaliação dos principais problemas que interferiram em seu tratamento, proporcionando melhor assistência aos alcoolistas no contexto ambulatorial. A VD mostrou -se ainda, como um dos instrumentos mais indicados para trabalhar o indivíduo, a família e a comunidade na prestação de assistência à saúde.

PERTENCIMENTO E PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA
Claudia Giuliatti; Vânia Seidler; Mônica Freitas; Rosinéia Aparecida Pereira; Maria Beatriz Lima Herkenhoff (Universidade Federal do Espírito Santo)

Esse trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa exploratória que procurou identificar se existe uma relação entre o tempo de moradia, o sentimento de pertencimento ao bairro e a maior ou menor participação dos moradores nos movimentos comunitários. O universo da pesquisa abrangeu 400 moradores de um bairro da periferia do município da Serra (ES), escolhidos aleatoriamente. Os dados foram analisados a partir do método quali-quantitativo e de análise de conteúdo. Os resultados apontam que 47% dos moradores residem no bairro há mais de 10 anos, o que leva a um enraizamento na história bairro. Entretanto, esse enraizamento, não contribuiu para uma maior participação; esta se limita ao nível da informação, não existindo uma inclusão dos moradores nos processos decisórios. Existe uma similaridade no percentual de participação no local de moradia anterior (39%) e atual (36%), no entanto o nível de participação nos movimentos comunitários é baixo, predominando maior participação nas igrejas. Em alguns casos, essa inserção reflete um olhar mágico sobre a realidade e sobre a solução dos problemas, muitos acreditam que “só Deus” pode ajudar na sua superação. Conclui-se que o tempo de moradia fortalece os laços de confiança e de amizade, principalmente entre os vizinhos, com quem buscam ajuda quando necessário, mas não interfere na capacidade de luta, confiam mais nos vizinhos do que nos líderes comunitários. A baixa escolaridade é um dos motivos que impedem a participação dos moradores, “sentem-se envergonhados”. Questões subjetivas também facilitam ou impedem uma maior participação, tais como: baixa auto-estima, falta de confiança da população em seu próprio poder, expansão do individualismo como cultura predominante, falta de clareza da população sobre seus direitos e o predomínio de outras motivações na vida dos indivíduos. Se por um lado, pretende-se superar o clientelismo por meio de uma participação mais efetiva da comunidade, por outro, esta pode vir acompanhada de relações paternalistas e tutelares que não modificam, em sua essência, as formas tradicionais de participação abrigando, muitas vezes, processos de dominação, práticas de cooptação e de subordinação.

EMPODERAMENTO: UM DESAFIO ÀS PRÁTICAS SOCIAIS
Vânia Seidler; Claudia Giuliatti; Mônica Freitas; Rosinéia Aparecida Pereira; Maria Beatriz Lima Herkenhoff (Universidade Federal do Espírito Santo)

O presente trabalho procurou verificar as mudanças ocorridas na vida das pessoas a partir de sua experiência de participação em instituições comunitárias, não-governamentais e governamentais situadas no Planalto Serrano, Serra (ES). A amostragem incluiu dois membros de cada instituição, tendo como instrumento a realização de entrevistas semi-estruturadas. A escolha de tais instituições teve como critério a sua atuação em diferentes áreas: religiosa, cultural, artística, educacional e social. A categoria teórica empoderamento iluminou a análise dos dados. A participação é considerada essencial para que a população fortaleça o seu poder e faça uma leitura mais crítica da realidade que a cerca, empenhando-se para mudanças e transformações nas diferentes áreas. Partiu-se do pressuposto que se o líder de uma organização social exerce
o poder de forma autoritária, impede que os demais participantes demonstrem suas capacidades, seus valores e habilidades, enfim, a dominação dificulta a ampliação do olhar sobre si e sobre a realidade que o cerca. Pelo contrário, numa correlação de forças em que as partes têm a liberdade para exercer o seu poder, este passa a ser definido sob o viés do empoderamento, uma definição voltada para a compreensão das possibilidades (no meio social, cultural, político, econômico, ecológico e artístico) e para a transformação de atitudes, antes passivas para iniciativas que visem a melhoria das condições de vida. Foram construídos alguns indicadores de empoderamento, como: as mudanças ocorridas em âmbito pessoal, familiar, político, cultural, afetivo, educacional e social., capacidade de reivindicar melhorias para o bairro; de exigir ações públicas eficazes; de exercer o papel como agente livre e sustentável; de participar em processos decisórios; interesse por mais conhecimento e o desejo de prosseguir nos estudos ou voltar a estudar. Os resultados indicam que a participação possibilitou maior facilidade para expressar idéias e críticas em público; motivação para envolvimento em cursos, reuniões e palestras; maior interesse pela realidade do bairro e por sua melhoria; estratégias para resolução de problemas familiares; maior capacidade de convivência em grupo; realização do desejo de aprender algo. Entretanto, alguns dados demonstram que nem todas as instituições fornecem aos seus usuários reais condições de participação, não os envolvendo nos processos decisórios, na determinação de objetivos institucionais, nem nas discussões e planejamento das ações, já que as mudanças apontadas fazem parte do espaço onde se recebe o serviço e não se participa da elaboração do mesmo.

OCORRÊNCIAS DE TENTATIVA DE SUICÍDIO POR INGESTÃO DE SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA ADOLESCÊNCIA
Cibele M. C. de Medeiros Cazelli; Luiz Cláudio Oliveiras da Silva; Mariana Grassi Maciel; Roberta Vieira Koscky; Luziane Zaché Avellar (Universidade Federal do Espírito Santo)

O número de suicídio entre adolescentes tem se tornado um problema complexo e de relevância mundial. A adolescência é considerada como um período de grande vulnerabilidade e de vivência de muitos conflitos. O presente trabalho investigou o fenômeno da tentativa de suicídio nessa fase do desenvolvimento. O interesse por esse tema surgiu a partir de dois fatores. Primeiro, porque segundo a literatura, ainda existem muitos tabus em relação ao suicídio e, por isso, as famílias tendem a esconder a causa da tentativa ou da morte, o que faz com que os dados disponíveis não correspondam à realidade; segundo, pela divulgação de que, na última década, a Organização Mundial de Saúde (OMS) registrou um aumento importante no índice de suicídio entre adolescentes (Reportagem do Jornal CORREIO BRAZILIENSE 4 de junho de 1998, p. 23), principalmente entre os meninos; mas, apesar de tratar-se de um acontecimento com inúmeras implicações políticas, econômicas e sociais, suas dimensões são bem pouco conhecidas. Tivemos como objetivo descrever um grupo de adolescentes com história de intoxicação por substância química e que foram notificadas na circunstância de “tentativa de suicídio” por intoxicação ou exposição a um agente tóxico, pelo “Centro de Atendimento Toxicológico” TOXCEN do Espírito Santo. Para isso, foram examinadas todas as notificações armazenadas em “Fichas de Notificação de Atendimento” arquivadas no período de julho de 2003 a junho de 2004. Os resultados mostraram que 88% dos adolescentes estão na faixa etária entre 14 e 19 anos, e que a maioria (80,4%) pertence ao sexo feminino. Com relação ao mês e dia da semana, foram verificadas uma pequena prevalência no mês de maio e nas segundas e terças-feiras. O maior número de tentativas foi encontrado no horário entre 12 e 18h e 30 minutos do dia. O método mais utilizado foi o uso de medicamentos (54,4%), e os mais freqüentes, os benzodiazepínicos (48,5%). Problemas familiares, compreendendo brigas com pais, irmãos ou cônjuge foram os motivos que sobressaíram entre as causas verificadas e que levaram o adolescente à tentativa de suicídio. Estes resultados também são encontrados nas pesquisas disponíveis e sugerem a necessidade de uma maior atenção a esse problema de saúde pública.

UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO COM FAMILIARES DE CRIANÇAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS
Luciana Bicalho Reis; Gisely Nilda de Paula (APAE – Vitória)

O nascimento de uma criança com deficiência produz na família mudanças extremamente significativas. Essa situação altera profundamente a dinâmica familiar, desencadeando sentimentos negativos como culpa, depressão, ansiedade, frustração pessoal e profissional, produzindo nesses sujeitos impotência diante da vida e sentimentos de inadequação social. O Programa de Apoio à Família (PAF) foi criado como forma de atender à demanda de famílias cujos filhos são portadores de deficiências com seqüelas graves (paralisia cerebral), de prognóstico reservado e dependência total em relação à família. Tem como objetivos principais minimizar perdas, ajudando a família a aceitar e superar suas dificuldades; estimular a reestruturação familiar diante da nova realidade, delimitando e clarificando os papéis; promover a compreensão e orientação da família quanto ao prognóstico e as limitações advindas da deficiência; promover a melhoria da qualidade de vida dos familiares; facilitar a expressão de sentimentos reprimidos levando-os a vivenciálos e\ou repensá-los em grupo e por fim, criar mecanismos que possibilitem às famílias conhecer\compreender melhor a deficiência. Foram realizados grupos semanais em que as atividades e discussões propostas são construídas em conjunto com as famílias a partir de suas demandas. Verificou-se que “estar” em grupo, compartilhando sentimentos e vivências, promove nessas famílias a construção de um outro olhar sobre a experiência de ter um filho com deficiência. As informações adquiridas através desses encontros permitem que essas famílias deixem o lugar de culpadas ou castigadas pela condição do filho, entendendo a deficiência enquanto um estado inerente à vida. As experiências compartilhadas permitem que as famílias percebam que, apesar de todas as dificuldades, podem interferir sobre a própria realidade. Busca-se produzir nessas famílias a percepção de que, enquanto sujeitos, podem escolher que postura assumir diante dos acontecimentos, colocando-se no extremo do fatalismo e do ressentimento, ou, do enfrentamento e da afirmação da vida enquanto pura diferença. Assim, percebe-se uma mudança de postura nesses sujeitos através da construção de outras formas de lidar com o próprio filho, da retomada dos planos/projetos da família e do resgate da condição de sujeitos capazes de intervir sobre a própria realidade.

PROCESSO DE ENFERMAGEM E VISITA DOMICILIAR APLICADOS ÀS PACIENTES DO PAA-HUCAM-UFES
Priscyla Therezinha Scardua Onofre; Marluce Miguel de Siqueira (Universidade Federal do Espírito Santo)

A expressão “processo de enfermagem” surgiu como proposta de implementação da Metodologia Assistencial de Enfermagem (MAE). Essa metodologia possibilita uma assistência individualizada ao paciente e proporciona meios para avaliar a qualidade assistencial prestada pelo enfermeiro. Outro recurso utilizado é a visita domiciliar, o que facilita a adaptação do planejamento de enfermagem de acordo com a realidade de cada paciente. O alcoolismo já se tornou problema de saúde pública e, como tem sido observado o crescimento da dependência alcoólica no público feminino, torna-se necessário ampliar ações destinadas a esta clientela. O objetivo foi avaliar a eficiência e a eficácia da metodologia assistencial de enfermagem (processo e visita domiciliar) na atuação prestada pelo enfermeiro às pacientes alcoolistas. O estudo foi constituído pelas cinco pacientes atendidas no Programa de Atendimento ao Alcoolista (PAA) do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, durante o período de agosto/ 2004 a dezembro/ 2004. A seleção das pacientes foi através do agendamento de primeira consulta. Foi testado e aplicado
o instrumento “metodologia da assistência de enfermagem”, constituído pelas etapas: histórico, diagnóstico, planejamento, implementação e avaliação. Posteriormente, implementou-se a visita domiciliar através de outro instrumento, contendo dados de seguimento. Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: diagnóstico de síndrome de dependência alcoólica; freqüência no Programa; e residência na Grande Vitória. A aplicação do processo de enfermagem possibilitou traçar o perfil da população feminina atendida no Programa de Atendimento ao Alcoolista. Foi evidenciada uma idade média de 38,2 anos, com predomínio de união estável, católicas, com ensino fundamental incompleto, desempregadas e procedentes dos municípios de Cariacica e Serra. Observou-se que 80% das pacientes informaram ser tabagistas e que nenhuma delas pratica atividade física Além disso, pôde-se verificar que os conflitos familiares são ditos como
o principal motivo pela busca ao Programa. Constatou-se que as alterações em maior quantidade se deram no sistema cardiovascular; identificou-se vários problemas de enfermagem, contribuindo para o enriquecimento do plano assistencial. A assistência oferecida por meio do processo de enfermagem contribuiu para melhoria da qualidade de vida e atendeu as expectativas de todas as pesquisadas. Outra importante contribuição foi dada pela visita domiciliar. As visitas auxiliaram na melhoria da relação enfermeiro- paciente, facilitando o estabelecimento de um vínculo sólido, que teve valor terapêutico na medida em que reforçava a educação em saúde e orientava a mudança no estilo de vida.

TERCEIRA IDADE: UMA VISÃO SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES PSICOSSOCIAIS E SUA RELAÇÃO COM A EXCLUSÃO SOCIAL
Carolina França Moreira; Carolina Negri dos Santos; Eduardo Barbosa Lopes; Felipe de Carvalho Pimentel; Giuliano de Assis Landes; Josely Abreu Silva; Junia Helena Fagundes da Silva; Thaís Tebaldi Carvalho; Gilead Marchezi Tavares; Marcia Roxana Cruces Cuevas; Marcela Arrivabenia (FAESA)

A exclusão não pode ser concebida como sendo um atributo de ordem individual, mas sim social, onde o fundamento e a origem desta estão nos mecanismos de funcionamento das sociedades. Torna-se necessário que qualquer estudo sobre este tema considere a contextualização do “espaço” e “tempo” ao qual o fenômeno se refere, pois é necessário analisá-la levando em consideração a multideterminação dos indivíduos. O objetivo do trabalho foi conhecer e compreender as diferentes formas e modos de relacionamento de idosos frente à exclusão social, e suas transformações psicossociais por eles vividas. O local escolhido para a realização deste trabalho foi o ginásio de esportes “João Goulart”, vulgo Tartarugão, onde ocorre o projeto “3º Idade em Ação”. Foram escolhidos para a realização deste trabalho sessenta e três idosos, que fazem parte deste projeto. Não houve qualquer tipo de distinção quanto à classe social, etnia ou sexo. A pesquisa seguiu o delineamento da pesquisa-ação e teve duas etapas: a primeira, onde foram realizadas entrevistas estruturadas com a finalidade de investigação de fatores psicossociais ligados à exclusão em diversos aspectos da vida do idoso, tais como aposentadoria, sexualidade, autonomia física e emocional e proximidade da morte; a segunda etapa, onde foram realizadas reuniões de análise e reflexão do cotidiano desses sujeitos mediante as técnicas do Teatro-Fórum de Augusto Boal. Nesse segundo momento foram convidados todos os idosos, sendo o mesmo constituído por vinte idosos que já possuíam experiência em teatro além de também fazerem parte do grupo de ginástica do Tartarugão. Os resultados obtidos apontam que a realidade deste grupo não condiz com as representações e preconceitos que são atribuídos, geralmente, para os idosos tais como: invalidez, inutilidade e “caduquice”. Esse grupo possui boa aceitação em relação à morte, não só a dos entes queridos e amigos, mas a sua própria perspectiva de morte é encarada como um processo natural. Percebeu-se que o fator religioso é muito importante para estes, já que a morte simboliza, para a grande maioria, passagem para a vida eterna. Concluise que a exclusão social e o sofrimento que dessa experiência advêm é resignificada quando há uma busca constante pelo movimento e expansão da vida através de novas relações sociais, o que gera a ação e a conscientização, rompendo com a alienação, gerando diversas conquistas benéficas ao ser humano.
CUIDADOS PARENTAIS E ALOCUIDADOS RECEBIDOS POR CRIANÇAS DE ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES: RESULTADOS PARCIAIS
Lara Sue Wright Silva; Rosana Suemi Tokumaru (Universidade Federal do Espírito Santo)

O cuidado parental envolve custos energéticos altos. Uma forma de diminuir os custos é a cooperação entre indivíduos aparentados ou não no fornecimento de cuidados. No caso humano mães sem suporte social tendem a abandonar mais seus bebês que mães com suporte social, indicando a existência de um sistema cooperativo ou alocuidado. Têm-se demonstrado que diferenças sócio-econômicas levam a diferenças no fornecimento de cuidados às crianças. Nosso objetivo foi averiguar se há uma diferença entre os cuidados oferecidos às crianças de escolas públicas e particulares da cidade de Vitória, ES. Pressupomos que escolas públicas e particulares reflitam realidades sócio-econômicas diferentes. Foram enviados questionários para 5 escolas públicas e 5 particulares no município de Vitória, ES. Foram analisados 182 questionários. Analisamos a composição familiar das crianças e os responsáveis por: a) gastos com a criança, b) levar à escola, c) cuidar da alimentação, d) cuidar da higiene. 61 das crianças eram de escolas particulares e 121 de escolas públicas. Não observamos diferenças expressivas nas composições familiares entre as escolas particulares e públicas. A porcentagem de crianças que moram com Pai–Mãe–Outros se sobrepõe às outras categorias. Os pais se apresentaram como os principais responsáveis pelos gastos com as crianças. No entanto observamos maior presença de alocuidadores como co-responsáveis e como responsáveis exclusivos nas escolas particulares. Na atividade levar à escola houve predominância de Pai–Mãe nas escolas públicas. A presença de mais alocuidadores nas escolas particulares pode refletir o uso de serviços pagos, como transporte escolar e empregada. Nas tarefas de cuidar da alimentação e da higiene a mãe se apresentou de forma expressiva como a principal responsável pela tarefa, tanto nas escolas públicas como nas particulares. A presença de outros cuidadores, em conjunto ou não com a mãe e ambos os pais, foi mais expressiva nas escolas particulares. A hipótese é de que as empregadas tenham uma importante representatividade nessas famílias de escolas particulares. Nossos dados indicam que há maior participação de alocuidadores nos cuidados fornecidos às crianças de escolas particulares e de pais e mães nas escolas públicas. A avaliação dos efeitos destas diferenças no desenvolvimento das crianças deve ser investigada em trabalhos futuros.

LEVANTAMENTO DOS CUIDADOS MATERNOS E PATERNOS OFERECIDOS ÀS CRIANÇAS: RESULTADOS PRELIMINARES
Ludmila Pinto Alves; Rosana Suemi Tokumaru (Universidade Federal do Espírito Santo)

Nos mamíferos, as mães oferecem mais cuidados obrigatórios aos filhotes que os pais. O cuidado paterno é mais variável. No caso humano, têm-se relatos contraditórios a respeito do papel do pai no cuidado e sobrevivência dos filhos pequenos. Nosso objetivo foi fazer um levantamento dos cuidados oferecidos por pais e mães biológicos aos seus filhos de 0 a 6 anos no município de Vitória, ES. Enviamos às crianças de 5 escolas públicas e 5 particulares questionários com questões fechadas. Foram analisadas as seguintes questões dos questionários respondidos por pais e mães: 1) O que você é da criança? 2) Mora na mesma casa com a criança? 3) Quem é o principal responsável pelos gastos com a criança? Com que freqüência você: brinca, passeia, dá presente, leva à escola, conversa, ajuda nas atividades escolares, leva ao médico, cuida da alimentação, cuida da higiene e corrige atitudes inadequadas da criança? Dos 370 questionários recolhidos 247 respondentes eram pais e mães sendo que, 43% foram mães e 24% foram pais. 97% das mães e 98% dos pais respondentes moram com as crianças. 42% dos responsáveis pelos gastos foram apenas os pais, 1% foram mães sozinhas e 37% pais e mães juntos. As mães forneceram mais freqüentemente os cuidados: passear (mães-49%, pais-38%), levar à escola (mães-65%, pais-42%), conversar (mães-93%, pais76%), ajudar nas atividades escolares (mães-74%, pais-21%), levar ao médico (mães-62%, pais-24%), cuidar da alimentação (mães-84%, pais-30%) e da higiene (mães-89%, pais-34%). Nas atividades brincar (mães-54%, pais-53%), dar presente (mães-28%, pais-30%) e corrigir atitudes inadequadas (mães-86%, pais-80%) não houve muita diferença entre pais e mães. Concluímos que há diferenças entre o cuidado materno e paterno com preponderância do fornecimento de cuidados maternos relacionados à alimentação, higiene, saúde e auxílio nas atividades escolares. Os pais compartilham com as mães atividades relacionadas ao lazer e a correção de atitudes inadequadas.

ESTÁGIO CURRICULAR EM SERVIÇO SOCIAL: A EXPERIÊNCIA NO COMPLEXO POMERI (CUIABÁ – MT)
Josiley Carrijo Rafael (Universidade Federal do Mato Grosso)

Conforme o Art 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente, aos menores de dezoito anos que for realmente comprovada a prática de ato infracional, devem ser aplicadas às medidas sócio-educativas, determinadas de acordo com a gravidade da infração cometida. Em Cuiabá-MT, a instituição aplicadora de medidas sócio-educativas de internação para jovens do sexo masculino é chamada de Complexo Pomeri, suas instalações assemelham-se às celas de presídios, a infra-estrutura institucional é precária, com aparência inóspita, os adolescentes infratores são trancados por grades resistentes, e não podem ficar circulando livremente pelo pátio central. A violência dentro da instituição correcional não é desprezível: Nos últimos três anos (2000 a 2002), foram registrados onze homicídios de jovens dentro do Complexo Pomeri, representando um percentual de 3,66 mortes por ano. O Complexo vive hoje uma faze bastante crítica, a sua superlotação, e os números escandalosos de mortes decorrentes de rebeliões, acarretando na banalização da vida e da morte, são fatores que instigam a revolta por tanta injustiça e principalmente negligência do Estado e da sociedade para com as suas responsabilidades. Esses fatos acabam acarretando também, no desgaste e sentimento de insuficiência pelos funcionários que trabalham em contato direto com os adolescentes internos. Essa realidade foi identificada durante o período do Estágio Curricular I, II e III da graduação em Serviço Social, onde foram constatados dentre outros problemas, o descompromisso e a desqualificação desses funcionários que ocupam o cargo de “orientadores” dos adolescentes. Como proposta para a intervenção dessa realidade, foi aplicado o Projeto “TEIA – Trabalho, Educação, Integração e Alteridade”, com o propósito de capacitar, orientar e instigar o compromisso desse funcionário com a sua temática e objeto de trabalho, possibilitando através de cursos, palestras e oficinas, uma verdadeira troca de conhecimento e experiência, para a realização de um trabalho respaldado na eficiência. A execução do projeto foi delimitada dentro de uma carga horária total de 40 horas, divididas em 4 horas diárias, sendo executado uma vez por semana, e aos sábados. A metodologia compreendia a aplicação de estudo dirigido, aula expositiva, debates, exibição de vídeos e execução de dinâmicas, dentro de temáticas que envolviam a discussão sobre cidadania, ética, trabalho em equipe, educação, respeito, saúde, qualidade de vida e outros. Direcionando todas as questões para a análise e compreensão do Estatuto da Criança e do Adolescente, em decorrência do grande estranhamento e rejeição dessa Lei.
MODOS DE INTERFERIR NO CONTEMPORÂNEO: MOVIMENTOS SOCIAIS E SUCATEAMENTO DA EXISTÊNCIA
Aline Nunes de Castro; Cláudia Abbês; Daniele Carli de Oliveira; Débora Figueira Risso da Silva; Fernanda Carvalho de Oliveira; Leiliane Fortes Pedrosa; Renata Sales Martins (Universidade Federal Fluminense)

A pesquisa “Modos de Interferir no Contemporâneo: produzindo questões para as práticas psicológicas”, iniciada em Abril de 2003, busca, a partir da problematização das enunciações contemporâneas sobre o fim das lutas, compreender como os movimentos sociais se configuram na atualidade e como interferem no processo de sucateamento da existência. Entendemos o sucateamento da existência como um produto do funcionamento do Sistema Capitalista que interfere na potência transgressora do homem, dificultando a criação de modos singulares de existência e anestesiando os estranhamentos que nos fazem agir em meio a esse processo. Podemos perceber este sucateamento em dois planos que estão em constante atravessamento: o material e o imaterial. No primeiro vemos o desemprego, a falta de assistência à saúde, miséria etc. e no segundo a homogeneização dos modos de pensar, sentir, interferir. Para pensar as estratégias de enfrentamento do processo de sucateamento da existência, nos propusemos a pesquisar, na cidade do Rio de Janeiro, as lutas empreendidas por alguns movimentos sociais, a partir de 1990, em suas estratégias e modos de funcionamento, atentando para as articulações de cada uma dessas lutas com a problematização dos processos de sucateamento da vida. Outro objetivo da pesquisa é a realização de um curso de extensão organizado junto com os movimentos sociais. O aporte utilizado, para tais fins, é a pesquisa-intervenção, que coloca em análise a própria “instituição-pesquisa” e a “instituição-pesquisador” entendendo-os como efeitos de práticas e discursos que se produzem e foram produzidos no campo pesquisado. Os discursos oriundos das entrevistas por nós realizadas foram tomados como material de análise, indissociável de seus efeitos no/do campo de intervenção. Assim, esta análise – ainda não concluída - se faz no entrecruzamento de linhas teóricas advindas dos trabalhos de Karl Marx, Gilles Deleuze, Félix Guattari, Michel Foucault e René Lourau. Uma vez que a pesquisa ainda está em andamento só obtivemos resultados parciais. Alguns desses resultados apontam discussões acerca da temática da identidade dos movimentos, da relação com as Ongs e os encontros que estamos tendo com estes movimentos pra a organização do curso de extensão. Nestes encontros são debatidas as temáticas que serão abordadas no curso, na tentativa de transversalizar o discurso acadêmico nas questões e práticas que atravessam os movimentos sociais.

AVALIAÇÃO DE ASPECTOS PSICOSSOCIAIS EM CRIANÇAS COM PROBLEMAS EMOCIONAIS E COMPORTAMENTAIS
Jaquelini Lorenzoni Bozzetti; Maria Silvana Barbosa dos Santos; Mônica Amorim Salvador; Mylena Pinto Lima Ribeiro (Centro Universitário Vila Velha)

As dificuldades encontradas por crianças da classe popular no processo de inserção social, podem estar relacionadas às adversidades vivenciadas no contexto familiar e evidenciam importantes características do seu desenvolvimento cognitivo e emocional. Buscou-se examinar padrões de comportamento infantil por meio da avaliação psicológica que incluiu a aplicação de escalas de comportamento e o levantamento de fatores adversos na história de vida. Participaram 40 crianças de ambos os sexos, com a idade média de 10 anos e 5 meses, cursando de 1ª a 7ª série do ensino fundamental, freqüentadores da Casa de Acolhida Marista. Inicialmente, os pais responderam a uma entrevista de anamnese e à Escala Infantil A2 de Rutter (EAI); Em seguida, os educadores responderam à Escala de Avaliação do Comportamento Infantil para o professor (EACI-P). Os resultados da entrevista foram examinados segundo a categorização de Graminha (1994). Os dados informam para os fatores de risco baseados na criança a ocorrência de: problemas de saúde na gravidez da mãe (12%); problemas emocionais da mãe na gravidez (27%); complicação no parto (15%); problema de saúde (45%); crise convulsiva (12%); hospitalização (12%); baixa auto-estima (35%); desempenho escolar pobre (57%). Para os fatores intrafamiliares: mãe adolescente (7%); gestação da mãe quando solteira (52%); adoção (5%); problemas financeiros (100%); saúde mental dos pais (12%); consumo de álcool e drogas pelos pais (52%); morte de familiares (27%); irmãos (92%); conflitos conjugais (22%); separação dos pais (5%); inconsistência dos pais (100%); indiferença/rejeição (52%); agressividade física/ verbal (52%). Para os fatores ambientais mais amplos: depreciação (22%); rejeição/agressão 48%; inadequação de professores (20%); greve escolar (15%). Os resultados do EAI informaram que 77,5% requeriam atendimento psicológico. O EACI-P indicou que 65,63% das crianças apresentam comportamentos externalizantes compatíveis com a) socialização negativa; b) neurotismo - ansiedade. Conclui-se que os resultados podem ser utilizados como aspectos orientadores em programas preventivos, com ênfase no ensino de habilidades e de competências para o enfrentamento das adversidades do contexto, favorecendo a inclusão social.

DESEMPENHO ACADÊMICO DE CRIANÇAS EM RISCO PSICOSSOCIAL SEGUNDO O TESTE DE DESEMPENHO ESCOLAR (TDE)
Monica Amorim Salvador; Maria Silvana Barbosa dos Santos; Jaquelini Lorenzoni Bozzetti; Mylena Pinto Lima Ribeiro (Centro Universitário Vila Velha)

A identificação de falhas no repertório acadêmico fornece informações importantes para a organização de programas suplementares de ensino, com vistas a atender as necessidades de indivíduos em risco psicossocial. Nesta pesquisa, buscou-se examinar as habilidades acadêmicas de uma amostra de crianças com dificuldades de aprendizagem. Foi aplicado o Teste de Desempenho Escolar-TDE (Stein, 1994), indicado para avaliação do desempenho escolar, mais especificamente da leitura, escrita e matemática. O teste foi concebido para a avaliação de escolares de 1ª a 6ª séries do Ensino Fundamental brasileiro e é composto por três subtestes: leitura, escrita e aritmética. Participaram desta pesquisa 43 crianças de ambos os sexos com idades entre 7 e 14 anos (idade média=11 anos e 6 meses), cursando de 2ª a 6ª. Série do Ensino Fundamental na rede pública do município de Vila Velha, ES e que freqüentam uma instituição do terceiro setor de apoio a crianças com risco psicossocial. Os dados informaram que entre os alunos da 2ª. Série (N=6) avaliada no subteste de leitura 30% obteve classificação “médio” e 60% obtiveram classificação “inferior”; no subteste de escrita, 16% obtiveram classificação “médio” e 83% obtiveram classificação “inferior”; no subteste de aritmética 50% obtiveram classificação “médio” e 50% obtiveram classificação “inferior”. Entre os alunos da 3ª. Série (N=10), 100% obteve classificação “inferior” em leitura; no subteste de escrita 90% obteve classificação inferior e 10% classificação “superior” e no subteste de aritmética 80% obteve classificação “inferior”, 10% obteve classificação “médio” e 10% obteve classificação “superior”. Na 4ª. Série (N=8), no subteste de leitura, 75% obteve classificação “inferior” e 25% classificação “superior”; no subteste de escrita, 75% obteve classificação “inferior” e 25% “médio”; no subteste de aritmética, 75% obteve classificação “inferior” e 25% “médio”. Na 5ª. Série (N=10) 70% obteve classificação “inferior” e 10% obteve classificação “médio” e 20% “superior”; no subteste de escrita 100% obteve classificação “inferior” e no subteste de aritmética 70% “inferior” e 30% “médio”. Na 6ª. Série (N=9), No subteste de leitura 60% obteve classificação “inferior”, 10% “médio” e 20% “superior”, no subteste de escrita, 80% “inferior” e 10% “médio” e no subteste de matemática 60% “inferior”, 20% “médio” e 10% “superior”. Conclui-se que o baixo rendimento acadêmico dos alunos constitui fator de risco para a exclusão social, tendo em vista os problemas a serem enfrentados pelas crianças para avançar nos níveis mais complexos da escolarização formal.

ALCOOLISMO E CO-MORBIDADES: OS DESAFIOS DA ADESÃO AO TRATAMENTO
Joana Olympia Stein; Josiane Mandelli de Lima; Marluce Miguel de Siqueira (Universidade Federal de Espírito Santo)

O alcoolismo é uma doença crônica e degenerativa, que compromete diferentes aspectos da vida do paciente. O uso contínuo do álcool está associado a uma série de co-morbidades, tanto físicas quanto psicológicas. Dentre as co-morbidades físicas temos a hipertensão arterial (HA) e dentre as psíquicas temos a depressão, que merecem atenção pelos impactos causados aos usuários, familiares e à comunidade. Estudos epidemiológicos têm mostrado uma forte relação entre alcoolismo e hipertensão arterial: esta associação é mais consistente acima de duas doses por dia, ou 28g de etanol. e que a redução do consumo de álcool é acompanhado da redução dos níveis tensionais. Em estudos americanos, nas populações em tratamento psiquiátrico ambulatorial ou hospitalar, encontrou-se “20 a 50 % de co-morbidade com alcoolismo e abuso de outras drogas” Pensando que o diagnóstico de co-morbidade tem implicações importantes nas estratégias de um tratamento eficaz, é que se desenvolveu esta pesquisa. O objetivo foi verificar a associação das co-morbidades HA e depressão em pacientes alcoolistas do PAA-HUCAM-UFES e propor uma sistematização da assistência de enfermagem para as mesmas. Serão objeto deste estudo, pacientes alcoolistas em seguimento através da consulta de enfermagem no Programa de Atendimento ao Alcoolista (PAA) do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (HUCAM), durante o semestre 2005/1. Os pacientes serão submetidos a dois instrumentos (Anexo I – HA e Anexo II – Depressão) para avaliação de co-morbidades e, posteriormente, será proposto um protocolo da sistematização da assistência de enfermagem dirigida para a HA e depressão, a nível extra-hospitalar. Os resultados serão analisados quali-quantitativamente e apresentados sob a forma de relatório (parcial e final) em eventos científicos locais, regionais e nacionais. Conclusões: O estudo pretende oferecer maior possibilidade de adesão aos pacientes alcoolistas portadores de co-morbidades (física e psíquica) no PAA-HUCAM-UFES, através de uma atenção humanizada, integral e sistematizada das ações de enfermagem e da equipe interdisciplinar.

SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA
Carolina de Freitas Athayde; Creusa Pimentel de Oliveira; Luzia Maria Rabello Amm de Assis; Roberta Pereira Vallory; Vandeir Rosa; Viviane Fardim Louzada (FAESA)

A adolescência é um período marcado por grandes transformações. As mudanças psicológicas que se produzem neste período, e que estão em correlação com mudanças corporais, levam para uma nova relação com os pais e com o mundo. É freqüentemente caracterizada por uma crise de identidade, onde ocorrem questionamentos relativos ao seu corpo, aos valores existentes, às escolhas que devem fazer para ocupar seu lugar na sociedade. O adolescente se afasta da identidade infantil e vai construindo uma nova definição de si mesmo. As dificuldades vivenciadas na adolescência dependem do modo como cada um se situa frente à sexualidade e ao desejo que se fazem presentes continuamente nesse momento de vida. Este tema foi desenvolvido ao longo do segundo semestre de 2004, num processo de observação participante a partir do qual conhecemos a realidade das políticas e práticas de saúde na região assistida pela Unidade de Saúde da Ilha das Caieiras. Através de um acompanhamento com as agentes comunitárias de saúde e de várias conversas com os profissionais da Unidade de Saúde e de outras Instituições, percebemos a importância de estar realizando um projeto no qual se abrirá um espaço para os adolescentes discutirem temas próprios desta fase de transição. Os encontros são realizados na Escola Estadual de Segundo Grau Elza Lemos Andreatta, localizada na Ilha das Caieiras, Vitória, Espírito Santo. O presente trabalho conta com a participação de aproximadamente 40 alunos do primeiro ano do segundo grau, sendo estes divididos em dois grupos de 20 alunos. Este trabalho está sendo construído junto aos alunos, de acordo com o percurso dos encontros. Os mesmos participam de um grupo focal, misto, com discussões temáticas, organizadas de tal forma que possam levantar questões de interesses próprios, do cotidiano relacional, direta ou indiretamente relacionadas à sexualidade. Esta proposta de intervenção tem como objetivo trabalhar, através de vivências e sensibilizações corporais, a sexualidade na adolescência, possibilitando desta forma que os adolescentes tenham uma maior compreensão da sexualidade e de seus valores a partir de um pensamento crítico e reflexivo.

A INFÂNCIA, A CIÊNCIA E O PROGRESSO DA NAÇÃO: UMA ANÁLISE SÓCIO-HISTÓRICA SOBRE A NORMATIZAÇÃO DA INFÂNCIA NO BRASIL
Nelson Gomes Junior; Renata Monteiro Garcia (UNILINHARES)

Este trabalho tem origem na articulação das dissertações de mestrado produzidas pelos autores nos Programas de Pós Graduação da UFES e da UERJ, respectivamente, que a partir de diferentes analisadores tiveram como objetivo investigar através de discursos e práticas especialistas, estratégias de normatização e regulação de valores e comportamentos da infância e da família no Brasil. Sabemos que a família vem sendo alvo de intervenções dos especialistas há muito tempo, sendo submetida em diversos momentos a processos de moralização, patologização e normatização social. Sob o argumento da proteção, diversas práticas têm colaborado para o fomento destes processos, mesmo que de modo quase imperceptível. Nestas engrenagens, a psicologia, em muitos casos, não vem se constituindo como exceção, tendo contribuído ainda com táticas de culpabilização familiar. O objetivo deste trabalho é colocar em análise algumas práticas de proteção à família ao longo dos tempos. Importa-nos pensar as práticas protecionistas de modo sócio-histórico, ou seja, levando em consideração que diversos saberes e fazeres presentes hoje em nosso cotidiano não existiram desde sempre, tendo sido, portanto, fabricados historicamente e através de relações sociais. Este trabalho fundamenta-se numa abordagem genealógica proposta por Michel Foucault, onde importa-nos dar visibilidade a uma série de discursos e atravessamentos políticos que garantiram a emergência e sustentabilidade de alguns modelos de intervenção envolvendo a figura da criança no Brasil. Os analisadores selecionados são o Instituo de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro, fundado pelo médico Arthur Moncorvo Filho, em 1901. O Instituto e seu fundador mostraram-se como importantes elementos difusores de um determinado modelo de assistência à infância e propagadores de práticas e discursos a respeito da infância no país. Em segundo lugar o Projeto Escola de Pais desenvolvido pelo Juizado da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro. Portanto, pretendeuse uma análise cuidadosa da história que permitisse remontarmos toda uma rede de agenciamentos que possibilitaram a emergência de determinadas práticas e discursos a cerca da proteção à infância parra que pudéssemos efetuar uma análise das nossas implicações enquanto atores sociais, agentes de saúde e especialistas psi. Analisar nossas implicações nos processos de proteção à família quer dizer ainda, rompermos com a falácia da neutralidade e, quem sabe, reinventarmos novas práticas de proteção e novas intervenções psi que afirmem cada vez mais a vida.
O JOGO DE REGRA COMO INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA EM UM GRUPO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA
Claudimara Chisté Santos; Antonio Carlos Ortega (Universidade Federal do Espírito Santo)

O presente trabalho tem por objetivo relatar a experiência de intervenção iniciada em fevereiro de 2004 com um grupo de marceneiros que fabricam utensílios domésticos, artefatos para presentes, brinquedos e jogos de tabuleiro. O início desse trabalho coincidiu com a formação desse grupo de economia solidária, constituído por moradores de um bairro de periferia da cidade de Vitória, composto em sua maioria por jovens de gênero masculino, com idade variando entre 18 a 25 anos. Dessa maneira, pôde-se acompanhar o processo da construção das relações entre os participantes desse grupo. Inicialmente, eles não cooperavam uns com os outros, não havia um consenso sobre os objetivos do grupo e os direitos e deveres não estavam bem estabelecidos. Acompanhando os vários momentos e necessidades do grupo, realizou-se, com base na teoria de Piaget e na proposta microgenética de Inhelder e colaboradores, um trabalho de intervenção comunitária mediado por jogos de regras, o qual possibilitou aos participantes da marcenaria: (a) conhecer as características e aplicabilidade do objeto que fabricam, de forma a poderem trabalhar criticamente; (b) melhorar a capacidade de se planejar e formular estratégias; e (c) refletir sobre a possibilidade de trabalhar cooperando, ao invés de apenas competir. Os jogos fabricados por eles até o momento são Mancala, Quarto, Traverse, Torre de Hanói, Quatro Cores, Tangran. Ao longo de um ano, o Traverse e o Quatro Cores, nas versões Pintar Figuras e Dominó, foram trabalhados mais sistematicamente. Atualmente estamos iniciando o estudo do jogo Quarto. Ao concluir o relato dessa experiência pode-se assinalar que a utilização do jogo como instrumento de intervenção comunitária tem permitido, por meio de uma atividade concreta, discutir o cotidiano e as práticas de cada membro da marcenaria.

A DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM SOB A ÓTICA DE TÉCNICOS ESCOLARES
Adriana Aparecida Corcine; Lorena Valfré; Roberta Sasso; Valdilene Turini Alves; Zera Campo Dell’Orto (UNILINHARES)

O “fracasso escolar” é considerado uma patologia recente, sendo definido por alguns teóricos como uma resposta insuficiente do aluno a uma exigência da escola e da sociedade, os quais não consideram na maioria das vezes a diferença que existe de um indivíduo para o outro. Este trabalho teve como objetivo verificar e analisar as concepções dos técnicos da educação, tais como coordenadores, diretores, supervisores e orientadores em relação ao que dificulta e facilita a aprendizagem, investigando ainda os procedimentos utilizados pelas instituições quando detectado o problema de aprendizagem. Participaram da pesquisa 10 técnicos de escolas, sendo 05 da rede ensino público e 05 da particular, 09 sujeitos eram do sexo feminino e 01 do sexo masculino, residentes nos municípios de Linhares e Jaguaré, localizados no norte do estado do Espírito Santo. Esses profissionais atuam em média de 10 a 44 anos na área educacional. Utilizamos como técnica de coleta de dados uma entrevista semi-estruturada, e como instrumentos um gravador, fitas K7 e ficha de identificação. Após
o contato com alguns técnicos e seu devido consentimento, marcamos os encontros individuais. Os dados obtidos foram classificados nas seguintes categorias de análise: Família, Aluno, Professor, Escola e Social. Os resultados demonstraram que esses profissionais, tanto os das escolas públicas, quanto das particulares, apesar de mencionarem fatores multicausais do fracasso escolar, direcionaram essa responsabilidade para a família e para o aluno, ou seja, não conseguem ainda ter uma visão holística sobre os diversos fatores envolvidos no processo ensino aprendizagem. Assim como a maioria das instituições, temos uma tendência em individualizar o nosso olhar, identificando que o fracasso escolar pode ser explicado apenas por mecanismos intrapsíquicos da criança ou por suas relações familiares primitivas. Mas, no entanto, na maioria dos casos, não há uma única causa para
o fracasso escolar, há sempre a conjunção de vários fatores que interagem entre si.

 
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