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SESSÃO 1

RUMO À INCLUSÃO SOCIAL: UMA EXPERIÊNCIA DE TRABALHO COM RESIDENTES DE UMA MORADIA ASSISTIDA EM NOVA FRIBURGO
Lillian Goslee Mielli Black; Lila Tatiana Queiroz de Carvalho Souza (Universidade Estácio de Sá – Campus Friburgo)

O Projeto Integrando, da Academia Brasileira de Ciências, se baseia na perspectiva da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Visa a inclusão social e a inserção no mercado de trabalho, dando apoio a Moradias Assistidas. A Moradia Assistida é local de morar, não uma clínica, entretanto tem um viés terapêutico, pois pessoas portadoras de necessidades especiais (autistas, deficientes mentais e psicóticos) precisam de um cuidado diferenciado. Nesta experiência, pretende-se trazer uma contribuição para modificação dos estigmas sociais em relação aos PNEs, que perpassam as relações estabelecidas na sociedade reforçando a exclusão. Incentivar a expressão e o discurso e propor atividades que possibilitem o desenvolvimento cognitivo e emocional. Acredita-se que assim eles poderão desenvolver uma maior autonomia para se incluírem na vida social. Partiu-se da perspectiva do acompanhamento terapêutico, uma prática na qual as ferramentas utilizadas são as situações do dia-a-dia das pessoas. Além disso, são realizadas atividades como: dinâmicas de grupo, trabalhos com música, teatro e vídeos, jogos educativos, desenhos e leituras. Estas atividades não são pré-determinadas, vão sendo propostas e realizadas de acordo com os interesses dos residentes e possuem embasamento teórico em diferentes áreas da psicologia. Pode-se notar aumento da comunicação interpessoal em todos os residentes. De acordo com a especificidade de cada caso, aconteceram também diversas mudanças. Nos pacientes psicóticos à fala repetitiva e delirante acrescentaram-se outros discursos que envolvem assuntos do cotidiano. Preocupam-se com os outros integrantes da casa, têm interesses por atividades novas, começam a desenvolver algumas habilidades cognitivas. Os autistas aceitam melhor a presença das estagiárias e começam a estabelecer alguma forma de relação com estas. Os moradores diagnosticados como deficientes mentais apresentam interesse significativo pelas atividades. Percebe-se nestes uma maior integração com o grupo, assim como um crescente avanço tanto emocional quanto cognitivo, à medida que participam das atividades. Esta proposta de trabalho vem contribuindo para a inserção social destes moradores.

ESQUECIMENTO X RESSENTIMENTO: CONTRIBUIÇÕES NIETZSCHEANAS À SAÚDE MENTAL
Leila Navarro de Santana (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; UNIRIO)

Analisar a importância do esquecimento enquanto “zelador da ordem psíquica”, embora sendo um termo que acumule significados relacionados à falha, descomprometimento, irresponsabilidade e a outros valores refutados socialmente, pode ser apresentado como um dos principais objetivos deste estudo. Fundamentada na perspectiva filosófica de Nietzsche, esta pesquisa, de caráter bibliográfico, resulta de um mergulho que explora com olhar minucioso toda a obra do autor referenciado. Nessa visita de freqüentes surpresas e desconstruções, é possível entrar em contato com sua interpretação peculiar acerca da memória e do esquecimento. A peculiaridade de sua interpretação decorre da original afirmação de que a memória é conseqüência de torturas, pressões e exigências sociais de convívio, desse modo, Nietzsche vincula a memória à necessidade que o homem desenvolveu de imbuir e cumprir promessas relativas às relações de débito e crédito que configuram o viver coletivo. A memória é entendida, nesse contexto, como uma criação humana que impede a manifestação espontânea da força ativa do esquecimento. A utilidade da produção social da memória relaciona-se com a necessidade de desenvolver no homem, um animal esquecido por excelência e por sua vez aliado apenas ao presente, o poder de comprometer seus atos futuros com as expectativas de confiabilidade e previsibilidade que o grupo exige de seus membros. O autor não condena totalmente a memória, contudo, defende a importância da faculdade instintiva do esquecimento como força ativa fundamental para a saúde do corpo, para que ocorra paz na consciência, relaxamento, jovialidade e possibilidade criativa; para que a vida possa ser afirmada enquanto plena e alegre. Instigantes reflexões podem ser oportunizadas a partir do encontro com a obra de Nietzsche, em suas interpretações caracterizadas amiúde por ilustrativas metáforas, o esquecimento é entendido como uma espécie de “digestão psíquica” de importância crucial para a afirmação da vida enquanto vontade de potência e auto-superação. É também responsável por manter a fluidez das forças ativas e criativas, defender o corpo do ressentimento, da má consciência, da impotência e do enfraquecimento, bem como, da moral escrava ou sacerdotal. Tais sintomas são conseqüências do bloqueio das forças nobres, ativas e salutares do corpo em detrimento da necessidade social de estabilidade e previsibilidade do comportamento do homem, conquistada através do desenvolvimento da memória e, por sua vez, de seu excesso, condição para que consignas coletivas fossem impostas e com isso os interesses do grupo não esquecidos.

JARDINAGEM E TERAPIA OCUPACIONAL: O EFEITO APLICATIVO DA JARDINAGEM EM SAÚDE MENTAL
Átala Lotti Garcia (Universidade Federal do Espírito Santo); Denise da Silva Krebel (FAESA).

A terapia ocupacional busca a reinserção do indivíduo e aprimoramento de suas capacidades funcionais através da ocupação, que é um comportamento motivado por uma premissa intrínseca consciente, para ser efetivo no ambiente a fim de desempenhar uma variedade de papéis, individualmente interpretados que são moldados pela tradição cultural e aprendidos através do processo de socialização. Para o processo terapêutico foi utilizada como recurso a jardinagem, que teve como objetivo possibilitar a paciente o retorno ao passado distante na zona rural, vivenciando parte do seu trajeto vivido de forma insatisfatória, podendo retomálo como um processo de reconstrução de uma identidade, em que não apenas serve, mas é servido através do prazer de viver as reformas cotidianas. Foi utilizado como método de intervenção, a partir dos níveis funcionais da paciente, o aprendizado das etapas da jardinagem, pois a busca ao aprendizado, nos torna produtivos em qualquer ocupação. A evolução se deu gradativamente a partir de reflexões a cada processo de cultivo. A intervenção possibilitou a paciente a reformulação do cotidiano, com o desenvolvimento do jardim, a inserção de atividade esportiva hidroginástica, a participação no grupo de canto e de terceira idade dentro de sua comunidade.
TRAMAS E REDES: UMA ANÁLISE DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO À DQ NO ES
Cassiane Cominoti Abreu; Fernanda Bissoli Benincá; Marluce Miguel de Siqueira; Maria Lúcia Teixeira Garcia (Universidade Federal do Espírito Santo)

O uso indevido de drogas constitui um grave problema de saúde pública que vem demandando ações governamentais e reações da sociedade civil. O Ministério da Saúde implantou a Política de Atenção ao Uso indevido de álcool e drogas em 2003 na qual, baseada nos princípios do SUS, defende uma rede hierarquizada e descentralizada de serviços com diversidade de alternativas terapêuticas. Objetivamos analisar comparativamente os dados na pesquisa “Levantamento das Instituições Especializadas em Dependência Química do Estado do Espírito Santo” realizada entre os anos de 2001 e 2002 e os dados de atualização desse estudo levantados entre 2004 e 2005. Buscou-se identificar se ocorreram mudanças nas ações realizadas na área de dependência química bem como analisar as características dessas mudanças. A coleta de dados envolveu 27 dos 78 municípios do Espírito Santo, em que todas as instituições foram visitadas. Para levantamento de dados partiu-se inicialmente da listagem obtida no primeiro levantamento. Além disso, foi solicitado aos profissionais entrevistados que indicassem outras instituições que fossem de seu conhecimento pessoal mediante a técnica da bola de neve. As visitas às instituições foram organizadas levando-se em conta prévio contato telefônico para agendamento da visita institucional e entrevista com seu representante ou gestor. Para a realização da entrevista foi solicitada a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelo representante da instituição. Utilizou-se um formulário baseado no instrumento utilizado no estudo anterior após adequações necessárias. As instituições foram divididas em governamentais e não governamentais. Os resultados indicam que dos 27 municípios visitados, 11 apresentaram ampliação de ações no âmbito da dependência química, sendo 6 de caráter governamental (municipal ou estadual) e 5 de caráter não-governamental. Seis (6) municípios apresentaram diminuição nas suas ações governamentais com a não implantação ou extinção dos conselhos municipais antidrogas, 10 municípios mantiveram as mesmas ações do primeiro levantamento, sendo 3 com ações de caráter governamental, 1 de caráter não-governamental e 6 permaneceram com ausência de ações. O presente estudo aponta que as mudanças na rede de atenção ao dependente químico tiveram um caráter ainda tímido frente as demandas e, contraditoriamente, os espaços de controle social (os Conselhos) não vem sendo implementados. Outro aspecto são as áreas sem qualquer recurso na área de DQ, restando apenas os grupos de AA. Assim, nos municípios analisados o processo ainda não aponta para a direção almejada de Política de Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas com a municipalização das ações e implantação dos conselhos.

OFICINAS TERAPÊUTICAS E A NOVA CLÍNICA EM SAÚDE MENTAL
Tânia Mara Alves Prates; Geraldo Alberto Viana Murta; Renata Capovilla Romero; Nathalia Borba Raposo Pereira; Lucas Fraga Gomes; Josélia Soares; Hítala Maria Campos Gomes; Graziella Almeida Lorentz; Fernanda Stange Rosi; Douglas Ferrugine Seidel; Danielli Merlo de Melo; Bruna Mozer Prucoli (Universidade Federal do Espírito Santo)

Diversos recursos podem ser usados para permitir que os fenômenos como a angústia, o delírio e a alucinação possam se tornar um caminho em direção à cura. Oficinas terapêuticas, principalmente em instituições abertas, se tornam um instrumento privilegiado. O Programa de extensão da UFES ‘Cada Doido com Sua Mania’ (CDSM) desenvolveu oficinas terapêuticas em hospital psiquiátrico e em instituição aberta, com o propósito de transformar a angústia em produções (artes plásticas, música, corpo, leitura, imagem etc.). O paciente é convidado a expressar livremente suas questões e estabelecer contato com o mundo. Os recursos técnicos (tinta, escrita, argila, música, mídia etc.) são introduzidos somente como suporte metodológico da produção do usuário. O coordenador da oficina atua como facilitador da experiência desenvolvida no espaço grupal. Atualmente, desenvolve seus esforços no Centro de Atenção Continuada à Infância, Adolescência e Adultos (CACIA) na UFES. Neste serviço são recebidos pacientes com sofrimento na esfera afetiva, transtornos mentais graves e fenômenos psicossomáticos. Apresenta como eixos: inclusão social, tratamento interdisciplinar, promoção da Saúde Mental, valorização do servidor, transformação dos alunos e profissionais e extensão universitária. Em vinte anos de existência desta experiência, estas oficinas terapêuticas (como por exemplo, contos, comunicação social, imaginação, modelagem, mosaico, pintura e psicodrama) mostraram um campo propício de análise das questões mentais nas neuroses e a construção de suplências ao sistema simbólico dos pacientes psicóticos, possibilitando um encontro com o produto real, gerando efeitos de reconhecimento e identificação. Isto tem permitido a construção de uma nova clínica em saúde mental, que tem perpassado o paciente, familiares e agentes terapêuticos, visando um tratamento com respeito à singularidade e à inclusão social. As oficinas terapêuticas, por abrangerem atividades interdisciplinares, unem saúde, convívio social e cultura, criando condições de transformação desse sujeito – de assujeitado a desejante e produtivo. Ele identifica-se e reconstrói-se com o resultado do seu trabalho. Estes resultados podem ajudar o paciente a trilhar um caminho de conhecimento, de responsabilização pela sua diferença e um passo decisivo em direção a uma vida produtiva e cidadã. Os efeitos gerados pelas oficinas terapêuticas produzem atravessamentos na equipe como um todo.

NOVAS EXPERIÊNCIAS EM SAÚDE MENTAL: O DISPOSITIVO RESIDENCIAL COMO ESPAÇO DE CRIAÇÃO DE NOVOS VÍNCULOS
Leila Domingues Machado; Maria Cristina Campello Lavrador; Carolina Fonseca Dadalto; Fernanda Pinto de Tassis; Gabriel Castro Augusto Alvarenga; Jésio Zamboni; Márcio Wagner Bertaso; Paula Lampé Figueira; Sabrina Ribeiro Cordeiro; Tatiane Bossatto; Vinícius Zocatelli (Universidade Federal do Espírito Santo)

A Reforma Psiquiátrica aponta para a desinstitucionalização da loucura, a desospitalização de pacientes internados e a desmontagem progressiva dos hospitais psiquiátricos, objetivos que têm orientado nossa atuação e tem se mostrado presente mais concretamente desde que foram inaugurados os primeiros Dispositivos Residenciais do estado do Espírito Santo. Gostaríamos de salientar que temos utilizado o termo dispositivo como máquina de ver e de falar que comporta forças heterogêneas que podem colocar em funcionamento tanto práticas de dominação quanto práticas de liberdade. Desse modo nossa intervenção se propõe a agir no dispositivo visando desestabilizar as forças de dominação e propiciar dinamismos espaços-temporais de liberdade. Por isso consideramos que o termo dispositivo é mais abrangente do que Serviço Residencial Terapêutico, que traz consigo o peso de ser mais um serviço de saúde com fins terapêuticos. Entendemos que a Residência deve ser eminentemente um lugar onde os moradores vão reconstruir as suas vidas. Nossa preocupação é de que a Residência não se torne um minihospital, mantendo a mesma lógica de funcionamento de um hospital psiquiátrico ou de qualquer outro serviço de saúde mental. O Serviço Residencial Terapêutico é um serviço substitutivo ao hospital psiquiátrico voltado, prioritariamente, para àqueles que foram submetidos a tratamento hospitalar psiquiátrico prolongado, visando um aumento progressivo da sua autonomia nas atividades cotidianas. Esse trabalho vem sendo realizado nos dois Dispositivos Residenciais que são vinculados a um Hospital Psiquiátrico Público do estado do Espírito Santo. Atuamos, em parceria com a equipe técnica responsável pelas Residências, na moradia masculina com 8 pessoas e na feminina com 5 pessoas. A nossa intervenção consiste em acompanhar os moradores nas suas atividades cotidianas, visando dar um suporte a essa nova experiência que eles estão vivenciando. Nenhum morador sente vontade de voltar para o hospital e, cada vez mais, se sentem potentes para reivindicar mudanças no modo de funcionamento das Residências. Os vínculos afetivos e de companheirismo entre eles estão se estreitando, bem como o grau de pertencimento às Residências. Além, da independência para circular pelo bairro e estabelecer contatos com os comerciantes e vizinhos. Porém, ainda existem limitações em relação à liberdade e autonomia dos moradores, mas isso tem sido discutido e reavaliado em conjunto com a equipe e as dificuldades estão sendo solucionadas coletivamente. Este trabalho tem sido uma experiência inédita para todos os envolvidos (estagiários, equipe do hospital, equipe do CAPS e moradores), que estão juntos enfrentando os problemas, o que reforça os nossos vínculos e o acolhimento frente ao desconhecido.

SESSÃO 2

TRABALHO E SOFRIMENTO NAS ONGS
Antonio Luiz de Medina Filho (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O presente resumo refere-se a dissertação de Mestrado em Psicologia Social da UERJ. A pesquisa de campo foi realizada em duas ONGs e os dados obtidos através de técnicas quantitativas e qualitativas. Diversas ONGs apresentam hoje uma atuação de destaque no setor social da saúde. Estas organizações sempre marcaram sua diferenciação ao rejeitar veementemente o assistencialismo e propor a conquista emancipadora e definitiva de direitos dos cidadãos. Para isto, assumiram a idéia de resolução definitiva das dívidas sociais e não da sua minimização ou esquecimento. Sempre propuseram uma forma de abordagem que implica em alto compromisso profissional individual e de equipe, fato somente viável dentro da postura ética do trabalho profissionalizado e remunerado. O grande vínculo existente entre os funcionários das ONGs e a missão organizacional social assegura a manutenção de situações nas quais persistem o sentimento de exploração, o permitir ser cobrado em excesso pela gerência, o sentir-se estressado devido ao aumento da carga, do tempo ou da aceleração do ritmo do trabalho. Paralelamente podem ser constatados salários inferiores aos do mercado, pouca mobilidade profissional, falta de clareza de critérios salariais, ausência de benefícios adequados. Trazem, ainda hoje, o imaginário e a ética do trabalho voluntário, que implica em comportamento abnegado, na doação de si, no sacrifício do interesse pessoal pelo interesse da coletividade. Tal imaginário presente nas ONGs impõe a todos um compromisso, uma dívida e, principalmente, um sentimento de culpa naqueles que não estão em conformidade com tais normas tácitas do contrato psicológico de trabalho. Possibilita a dócil aceitação do aumento da carga de trabalho e de salários inferiores ao mercado. Assim são acumulados interesses profissionais contrariados, mas racionalizados como não exigíveis, não cobráveis, devido ao fato de serem produzidos em face da ausência de atuação estatal, criando-se uma representação de que o trabalho social não-governamental é de “natureza” nobre, pois fundamental para a emancipação social dos excluídos e, portanto, não carecendo de remuneração ou valorização material adequada. Desse modo, uma situação de duplo vínculo passa a se instalar: o funcionário sente suas necessidades profissionais como legítimas, mas acredita que não deve exigi-las. Este panorama consolida um quadro de sofrimento psíquico que pode ser desdobrado em perdas da eficiência do trabalho individual ou grupal, estresse e toda a sorte de acometimentos da saúde do próprio funcionário que, frente à manipulação de suas forças de trabalho em detrimento de uma culpa pelas falhas do Estado ou sentimento de “estar fazendo algo de bom”, se compromete e conseqüentemente se torna passível de adoecer de forma profunda e silenciosa.

A SAÚDE NO “CORPO” DOS BOMBEIROS
Priscila Silva de Oliveira; Rosana Bubach; Sonia Pinto de Oliveira (Universidade Federal do Espírito Santo)

A proposta deste projeto de intervenção, que se deu no decorrer do ano de 2002, visou conhecer
o dia-a-dia de trabalho dos bombeiros do Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo através de acompanhamento dentro da corporação, de forma que se pôde pensar, juntamente com os bombeiros, em formas alternativas mais saudáveis que contribuíssem com o funcionamento das práticas desenvolvidas por eles. O interesse em fazer tal atividade surgiu de estudos recentes acerca da análise do cotidiano do trabalho, bem como da inquietação em conhecer as facilidades e dificuldades que os referidos profissionais enfrentam diante de situações de risco, às quais assistimos com vislumbre em algumas ocasiões em locais públicos. Depois de realizadas uma série de visitas à corporação, nas quais se puderam fazer entrevistas e observações e disparar uma série de discussões acerca de saúde e trabalho, confirmou-se a aprovação também por parte dos trabalhadores na proposta. O objetivo era estar presente na corporação, sem transtornos ou prejuízos das atividades, podendo conversar com os funcionários que estivessem à disposição e fazendo alguns encontros em dias e horários determinados com eles, a fim de discutir e trocar experiências sobre temas que despontaram na interação, como: Bombeiros: herói ou vítima?!; Construindo e trocando experiências de trabalho e Lidando com o inesperado. Foram utilizadas técnicas grupais nos encontros, apesar de estarmos sempre abertas às adaptações, e construído um contrato verbal de funcionamento dos grupos. Os resultados foram diversos. À medida que os encontros aconteciam, o discurso dos trabalhadores foi se transformando de reclamações para sugestões e ações. Puderam se ouvir mais e debater assuntos que não eram comuns entre as patentes. Com o aumento da percepção de força que possuem através do saber-fazer cotidiano, produziram um elenco de reivindicações que foram levadas ao comando da corporação no processo de devolução do trabalho e, ainda, constituíram um grupo, independente do proposto, para discutir o trabalho.

A INFLUÊNCIA DA ROTINA HOSPITALAR NA SAÚDE DOS TRABALHADORES DE ENFERMAGEM
Luziane Zacché Avellar; Alexandra Iglesias; Priscila Valverde Fernandes (Universidade Federal do Espírito Santo)

As condições de trabalho podem ser geradoras de sofrimento psíquico. Os hospitais são instituições que lidam diretamente com fatores potencialmente estressores para os trabalhadores. Diante das adversidades da rotina hospitalar o trabalhador de enfermagem deve manter-se produtivo realizando múltiplas tarefas para evitar o colapso da instituição hospitalar. Sentimentos e ansiedades são vivenciados por esse trabalhador em sua rotina de trabalho, devido ao seu compromisso em assumir os cuidados de pessoas doentes. Neste contexto, objetivou-se investigar como esta situação pode ser geradora de sofrimento psíquico nos técnicos de enfermagem, trabalhadores que lidam mais diretamente com os pacientes.
Pretendeu-se também identificar as estratégias criadas por esses profissionais para enfrentarem as situações estressantes de seu trabalho. Foram feitas observações participantes e entrevistas semi-estruturadas, com duração de aproximadamente 35 minutos, com 10 técnicos de enfermagem da equipe do setor oncológico de um hospital público de Vitória. Os trabalhadores de enfermagem sofrem o impacto das adversidades evocadas nesse cotidiano de trabalho, marcado por uma hierarquia e por uma sobrecarga física e emocional. Esse profissional, apesar de fazer parte de uma sociedade que não aceita o sofrimento, tem que conviver com ele. Conseqüentemente surgem sentimentos fortes e contraditórios. O profissional deve acostumarse com a morte, apesar de temê-la, deve perceber o acompanhante como um auxílio em seu trabalho, apesar de, muitas vezes, percebê-lo como a expressão do sofrimento no hospital. Neste contexto, a fim de manter-se saudável, o trabalhador apropria-se de uma rotina de trabalho acelerada que remete a um contato mínimo com acompanhantes e paciente, logo, com o sofrimento dos mesmos. Apesar de conviver mais tempo com os enfermos, os técnicos de enfermagem devem se manter calados frente ao doente, o que pode resultar em um intenso sentimento de desvalorização e impotência. Essa proibição de falar do que o paciente tem, leva a uma contenção dos sentimentos por parte desses profissionais. Os médicos nem sempre estão presentes, os profissionais presentes não podem responder as questões dos pacientes, logo, não se fala do sofrimento. Assim, diante da não autonomia da enfermagem no que se refere a determinadas decisões, o ter de dar conta da natureza mais técnica desse trabalho, aliado ao convívio constante com o sofrimento, faz desses técnicos de enfermagem um grupo altamente vulnerável ao stress e ao adoecimento.

SAÚDE E TRABALHO NA CATEGORIA BANCÁRIA, A INTERVENÇÃO DO SINDICATO DOS BANCÁRIOS/ES
Ana Paula Lopes dos Santos; Maria Bernadeth Vieira Martins (Sindicato dos Bancários - ES)

O setor bancário vem passando por profundas transformações, tanto com o incremento das novas tecnologias, quanto com mudanças nos processos organizacionais. Neste contexto, a grande competitividade, o temor da demissão, a falta de perspectiva de ascensão profissional, a impossibilidade de intervir na concepção e no planejamento de suas atividades, a defasagem salarial, entre outros fatores, tornam o ambiente de trabalho ainda mais hostil. As conseqüências dessas transformações sobre a saúde dos bancários podem ser expressas na grande demanda de bancários portadores de LER/DORT (Lesão por Esforço Repetitivo/ Doença Osteomuscular Relacionada ao Trabalho) e de Sofrimento Psíquico Relacionado ao Trabalho, que procuram a Secretaria de Saúde do Sindicato dos Bancários/ES. Promover a discussão da problemática da relação entre organização do trabalho e saúde, como uma questão coletiva, visando o envolvimento e participação dos bancários para a formação de multiplicadores nos locais de trabalho sob o enfoque da Saúde do Trabalhador. A Saúde do Trabalhador se sustenta no Modelo Operário Italiano, cuja premissa metodológica é a interlocução com os próprios trabalhadores (Minayo-Gomes e Thedim-Costa,1997), depositários de um saber emanado de experiências e sujeitos essenciais quando se visa uma ação transformadora. Assim, entendendo
o método como um meio de organizar as ações de nossa investigação, temos trabalhado sob três vertentes: acolhimento, pesquisa e promoção à saúde. A principal atividade na vertente de acolhimento é o grupo Qualidade de Vida no Trabalho, com bancários portadores de LER/ DORT e Sofrimento Psíquico Relacionado ao Trabalho, através de reuniões mensais de troca de experiências e vivências. Na vertente pesquisa, utilizamos a proposta da Análise Coletiva do Trabalho (Ferreira, 1993), com os delegados sindicais, como forma de buscar possíveis saídas coletivas de enfrentamento desta problemática. Na linha de promoção à saúde, realizamos debates temáticos sobre Saúde nas Agências bancárias. Os bancários e delegados sindicais estão mais sensibilizados sobre as repercussões do trabalho sobre a saúde coletiva, passaram a ter maior atuação no local de trabalho, na perspectiva da Saúde dos Trabalhadores, propondo saídas coletivas de luta e enfrentamento para a realidade encontrada. Concluímos que avançar na organização dos trabalhadores nos locais de trabalho, sob o enfoque da Saúde dos Trabalhadores, é uma importante estratégia do movimento sindical para a conquista de saúde no trabalho.

‘NOS FIOS DE ARIADNE’: UMA CARTOGRAFIA DA RELAÇÃO SAÚDE-TRABALHO DOS PROFESSORES DE UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Marinete Rosa Pereira Mascarello (Universidade Federal do Espírito Santo)

Trata-se de um estudo qualitativo que aborda as relações entre saúde-trabalho de professores/ as de uma escola da rede pública na cidade de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo. Os governos, historicamente, têm destinado poucos investimentos às políticas públicas. No campo da educação, isto tem gerado um processo de sucateamento da rede física das escolas existentes (rede elétrica destruída, ausência de materiais pedagógicos, falta de manutenção dos equipamentos etc.); redução do número de professores/as, técnicos administrativos, serventes e merendeiras; não-investimento na construção de novas escolas que atendam à demanda da população por educação escolar. A deterioração do sistema público de ensino tem produzido seus efeitos no trabalho do professorado, como não-reposição salarial ao longo dos últimos anos; uso e abuso dos contratos temporários de trabalho. Esta realidade, muitas vezes, tem gerado o afastamento do professorado de suas funções por meio de licenças médicas ou abandono da profissão. Teve-se como objetivo neste estudo pesquisar as vivências de prazer e sofrimento dos/as docentes, principalmente, as estratégias criadas para se defenderem das nocividades do ambiente de trabalho e produzirem saúde. Procurou-se dar visibilidade às ações que apontam para a recriação do trabalho mesmo dentro de condições tão adversas que implicam em resultados para o trabalho e para o processo de saúde dos sujeitos. Portanto, buscou-se compreender a defasagem entre o trabalho prescrito e a atividade real, ou seja, as normas inventadas pelos sujeitos para dar conta da tarefa de ensinar. Utilizaram-se como estratégias de pesquisa a cartografia e a vivência no cotidiano da escola durante três meses, entrevistas semi-estruturadas individuais e registros em diário de campo. Constatou-se que o professorado institui diversas estratégias que produzem saúde e prazer no trabalho, como diminuição do tempo de exposição verbal em sala de aula, o uso de teatros, projetos culturais, músicas, filmes, poesias. Nas relações intersubjetivas instituem sistema de cooperação em que vários docentes se integram em projetos comuns, relações mais próximas e afetivas com
o alunado para facilitar o processo de aprendizagem. Encontraram-se também estratégias que transgridem o tempo de permanência do professorado que trabalha com contratos temporários. Assim, as vagas desses/as docentes não são oferecidas para o processo seletivo da Superintendência de Educação ou é enviada uma carga horária incompleta, afastando o interesse de outros profissionais em vir trabalhar na escola. Esta estratégia evita a migração dos docentes de escola em escola e possibilita a permanência daqueles que realizam projetos com o alunado e dinamizam a Unidade Escolar. A pesquisa, portanto, identificou que o professorado elabora diversas estratégias inventivas que subvertem as normas prescritas e a precariedade das condições de trabalho, produzindo prazer e saúde na sua atividade.
SAÚDE E TRABALHO NA ESCOLA
Leandra Alonso, Bruna de Oliveira Santos Pinto, Helder Pordeus Muniz, Paula Toscano (Universidade Federal Fluminense)

As questões sobre saúde do trabalhador são complexas e trazem um campo amplo de estudo e problematizações. Dentro deste campo, alguns pesquisadores, como Jussara Brito, Milton Athayde e Helder Pordeus Muniz participaram na construção do Programa de “Formação em Saúde, Gênero e Trabalho nas Escolas”. A partir do estudo deste programa foi desenvolvida uma pesquisa intervenção no Ciep Geraldo Reis localizado no bairro de São Domingos em Niterói, RJ. Realizamos o trabalho com o grupo de merendeiras desta escola. Por meio da confrontação do saber acadêmico e da experiência do trabalhador acreditamos ser possível desenvolver um diálogo crítico sobre questões vividas cotidianamente pelas merendeiras. A criação deste campo de discussão possibilita que esta categoria se aproprie de seu próprio trabalho a partir de questionamentos e reflexões sobre este e também sobre as formas de luta cotidianas pela saúde. Mediante discussões e criação de estratégias, as merendeiras ampliam a capacidade de conhecer-intervir sobre as condições de trabalho e conseqüentemente sobre sua saúde física e psíquica. Para concretizar tais objetivos utilizamos como dispositivos metodológicos: visitas, observação global, auto-confrontação e construção do mapa de risco. O dispositivo de autoconfrontação é uma abordagem clínica da atividade pelo fato de fazer o outro pensar sobre seu próprio trabalho. Todo esse movimento auxilia o coletivo de trabalho a se tornar mais forte em suas argumentações e também na sua capacidade de ação. O mapa de risco é a representação gráfica de alguns fatores presentes no local de trabalho que acarretam prejuízos à saúde dos trabalhadores, tais como doenças e acidentes. A construção do mapa de risco foi coletiva, ou seja, discutimos junto com as merendeiras os diferentes grupos de risco. Esse processo de construção do mapa de risco é um processo educativo, pois abriu espaço para as merendeiras refletirem sobre seu trabalho e terem maior clareza de suas condições. Temos como resultado a criação de um espaço de discussão onde questões do cotidiano são abordadas. A metodologia utilizada contribuiu no sentido de afirmar o movimento cotidiano de busca pela saúde. As discussões geraram uma produção de conhecimento conjunta sobre questões ligadas à saúde no ambiente de trabalho, como as condições e os riscos, propiciaram também questionamentos sobre o engajamento das merendeiras nos processos de produção de saúde e doença.

TRABALHO E FAMÍLIA: CONSEQÜÊNCIAS SOCIAIS DO ACIDENTE DE TRABALHO FATAL NAS PEDREIRAS
Maria das Graças Barbosa Moulin (Universidade Federal do Espírito Santo; FIOCRUZ)

A região sul Espírito Santo tem como uma das principais atividades econômicas, a extração, o beneficiamento e transporte do mármore. Trata-se de processos de trabalho perigosos e penosos, contribuindo para engrossar o número de acidentes de trabalho fatais e mutilantes e de doenças ocupacionais na região, além de degradar o meio ambiente. O trabalho em pedreiras inclui o manuseio de dinamites, furar pedras (em grandes alturas), o perigo de desabamento de pedras, de pedras que “voam” após uma explosão e por fim, o perigo da manobra de carregamento e transporte destas. Tais dificuldades ocasionaram tal número de acidentes na região sul, que um lugarejo chamado Itaoca, distrito de Cachoeiro do Itapemirim, (ES) comumente é também nomeado pela imprensa por “Vila das Viúvas”, tamanho é o número delas ali residentes, fruto de acidentes fatais. Pretendo analisar os efeitos sociais para a família, do acidente de trabalho fatal na atividade relacionada à extração e beneficiamento do mármore e granito. Interessa refletir como as famílias se reorganizaram na falta do marido provedor, como reagiram ao acidente, que medidas tomaram ou não para superar o acidente. Interessa entender como essas famílias se ressignificaram a partir desta marca trágica da perda de um ente familiar. Foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas com viúvas residentes em Itaoca e com esposas de trabalhadores que sofreram acidentes de trabalho mutilantes. Algumas mulheres foram contactadas em dois momentos distintos do trabalho de campo, uma vez em 2003 e outra em 2004. As entrevistas foram gravadas e transcritas literalmente, e foram analisadas de acordo com as temáticas surgidas. Trata-se de resultado parcial de pesquisa de doutoramento em curso. As mulheres entrevistadas têm primeiramente, em geral, uma reação de choque diante da notícia trágica. No entanto, entendem o acidente como algo inerente ao trabalho, - uma delas inclusive acha que o marido morreu como “herói”, porque morreu trabalhando - e procuram resignar-se utilizando principalmente o recurso da religião (Itaoca tem 15 igrejas de diferentes denominações). Concentram-se também na sobrevivência material e simbólica da família, na continuação da inculcação dos valores de dignidade, envolvendo aí o trabalho, onde morreram seus maridos. Se por um lado o acidente parece “natural”, por outro lado parece ilegítimo a estas mulheres o tratamento de descaso ou desassistência em geral dado pelo “patrão”, o que as faz buscar a justiça ou o sindicato. A maior queixa ficou em torno do valor insuficiente do seguro ou da indenização.

SESSÃO 3

HIV/AIDS, PINTURA E PSICOLOGIA: UMA COMBINAÇÃO POSSÍVEL?
Juliana Soares Rabbi; Alonzo Coelho; Leovegilda Gomes Calmon (Universidade Federal do Espírito Santo)

O Projeto “Redescobrindo as Cores”, inédito dentro dos programas HIV/AIDS no Brasil, tem por objetivo proporcionar aos pacientes HIV/AIDS em tratamento regular na DIP (Doença Infecto Parasitária) do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes o resgate da qualidade de vida, um novo sentido para o tratamento e a redução do adoecimento e da hospitalização. Visa oportunizar a ampliação da percepção de si mesmo e dos outros através do desbloqueamento das emoções, do potencial artístico, da criatividade, da espontaneidade e da improvisação. Objetiva-se também a humanização do ambiente hospitalar e possível profissionalização dos pacientes. Uma equipe interdisciplinar composta por profissionais da Psicologia, Artes Plásticas, Enfermagem, Serviço Social e voluntário compõe o Projeto. As turmas, com capacidade para 10 alunos cada, têm duração de 6 meses, ao longo dos quais são abordados diferentes temas, teorias e técnicas. Os encontros acontecem uma vez por semana, e têm duração de 3 horas. Técnicas do Psicodrama e Arte Terapia são utilizadas. Dentre os resultados observados está a maior motivação para o tratamento – uma vez que só participam do Projeto pacientes em acompanhamento regular na DIP -; desenvolvimento de talentos diferentes da pintura (como a poesia); melhor convivência em grupo; depoimentos espontâneos de pacientes relatando a importância desta nova fase na qual estão descobrindo um novo sentido para a vida; redução da carga viral de um paciente do Projeto sem uso de medicação e venda dos quadros, sendo a renda revertida para compra de material para o Projeto. Diante dos significativos resultados obtidos, vem se confirmando a necessidade e a importância da continuidade deste Projeto no tratamento de pessoas HIV/AIDS. A primeira turma já foi concluída, a segunda está em andamento e novas vagas estão abertas para a próxima.
 
ATENÇÃO AO CUIDADOR: DESAFIO IMPRESCINDÍVEL À CONSOLIDAÇÃO DO SUS
Márcia Cavalcanti Raposo Lopes; Sandra Carla Lima Amil Emrick (Hospital Estadual Adão Pereira Nunes – RJ)

A proposta de humanização do atendimento hospitalar e a preocupação em trazer para o interior do hospital algo mais do que procedimentos assépticos e dolorosos parece ser uma grande bandeira dos profissionais de saúde mais comprometidos com as suas práticas e até mesmo das gerências em saúde de nosso país.A própria noção de integralidade embutida na proposta do Sistema Único de Saúde (SUS) traz consigo uma dinâmica diferenciada das práticas sanitárias que não se restringe a um processo mecânico focado na extinção de sintomas. Entretanto, toda esta discussão parece, quase sempre, estar desvinculada da problematização dos processos de trabalho em saúde e do cotidiano dos profissionais que tiram dele o seu sustento e que, freqüentemente, enfrentam condições de trabalho difíceis onde devem cuidar dos outros sem que sejam cuidados.Buscando contribuir para o processo de reconstrução das práticas em saúde este trabalho visa possibilitar a discussão do cotidiano de trabalho dos profissionais do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes (RJ), suas dificuldades e, em especial, as questões relativas aos cuidados com sua saúde. Considera-se que este é um passo fundamental na constituição de uma relação de efetivo envolvimento do profissional com sua atividade e conseqüentemente com o usuário do SUS. Neste sentido, tem-se acompanhado os acidentes de trabalho e as relações e práticas institucionais que impliquem um possível adoecimento dos profissionais de saúde com intuito de propiciar a coletivização dos dados e disparar um processo de análise coletiva das condições e dos processos de trabalho no hospital. Este processo passa pela construção efetiva de uma nova relação de escuta e cuidado com os funcionários do hospital que é o ponto fundamental do trabalho. Para tanto, são realizadas entrevistas individuais com profissionais acidentados, análise dos acidentes e dos setores onde eles acontecem com mais freqüência e grupos de “sensibilização” e discussão em torno dos dados coletados nas fases anteriores. Numa instituição onde muito se cobra e pouco se olha para o conjunto dos trabalhadores, este tem sido um processo interessante e que tem apontado para as enormes dificuldades da gerência dos recursos humanos em saúde.

ARTICULAÇÃO DE SABERES NO INTERNATO MULTIDISCIPLINAR DO HOSPITAL INFANTIL NOSSA SENHORA DA GLÓRIA (VITÓRIA-ES)
Daiana Stursa; Letícia Pires Dias; Elissa Orlandi; Elizabeth Macedo; Marcélia Marino Schneider Côgo; Tânia Regina Anchite Martins (Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória - ES)

O Internato Multidisciplinar, sob a coordenação do Centro de Estudos do HINSG, foi criado há três anos com o intuito de promover a superação das fronteiras entre as ciências, com a interação de diversas disciplinas, sem opor uma à outra. A instituição proporciona aos alunos de Psicologia, Enfermagem, Farmácia, Nutrição, Serviço Social e Fisioterapia, a produção de conhecimento a partir de estágio em ambiente hospitalar, com duração de um ano e com carga horária diferenciada para cada especialidade. Seu funcionamento estrutural apóia-se em quatro pilares: 1) atuação dentro das enfermarias e/ou instalações do hospital; 2) participação nas supervisões diferenciadas por área; 3) palestras ministradas por profissionais do hospital; 4) preparação e apresentação de casos clínicos pelos internos de cada especialidade, divididos em quatro equipes. Tais informações são obtidas a partir do prontuário, de conversas com os profissionais de saúde e também com os acompanhantes e/ou pacientes do hospital. O objetivo desse trabalho é promover a reflexão sobre as atitudes do profissional de saúde, enfatizando a importância da atuação em equipe e gerar um espaço de questionamento e análise sobre humanização, interdisciplinaridade, doença, tratamento, sociedade, família e políticas públicas de saúde. Na elaboração dos casos clínicos, em adição às informações sobre diagnóstico, patologia, prognóstico e técnicas de intervenção, a Psicologia contribui com um conhecimento a respeito da história do paciente. As internas dessa área entrevistam os acompanhantes e/ou pacientes, procurando facilitar a leitura da relação da pessoa com a sua doença e internação. Isso propicia a compreensão dos conteúdos latentes e manifestos de suas queixas, favorecendo o fornecimento de informações à equipe e possibilitando ao paciente uma melhor elaboração de seu processo de vida, doença, internação e tratamento. Como resultado desse trabalho, verificou-se que as reuniões promovem a busca de melhores procedimentos a serem utilizados em relação à criança ou adolescente em questão, ou mesmo a futuros pacientes. Além disso, os internos têm a possibilidade de ampliar seu conhecimento profissional, a partir da interação com pacientes e acompanhantes e da troca de experiências em um trabalho integrado com outros internos e profissionais da área de saúde. Ao trabalhar em conjunto, aprende-se a lidar com as diferenças e a contextualizar conhecimentos, articulando saberes.

TDAH, NOSOLOGIA CONSTRUÍDA OU PATOLÓGICA? UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A PROBLEMATIZAÇÃO DOS DISCURSOS PRODUZIDOS SOBRE O DÉFICIT DE ATENÇÃO
Crislane Pinheiro Mallet; Lenissa Vilhena (Universidade Federal Fluminense)

O estatuto da síndrome TDAH (transtorno de déficit de atenção/hiperatividade) tem sido nos últimos anos cada vez mais abordada. O valor dado a este tema na atualidade, fez com que nós investigássemos algumas descrições que lhe antecedeu. Tendo como orientação a genealogia de Michel Foucault como perspectiva de análise e outros autores que nos permitem a problematização do tema, procuramos no passado alguns discursos e práticas produzidas sobre o assunto, na tentativa de entender as produções atuais. Verificamos que em termos descritivos essa síndroma sofreu diversas modificações ao longo do século XX, e, várias tentativas de encontrar uma causa orgânica para essa categoria nosológica, o que gerou diversas classificações. Hoje a ciência ainda não descobriu que ordem biológica está relacionado ao TDAH, e a possibilidade de mudança de nomenclatura continua. O presente trabalho propõe além da investigação de alguns discursos produzidos sobre essa síndroma, uma reflexão das práticas dirigidas à criança chamada hiperativa por profissionais de áreas distintas. Observamos que a precisão envolvendo a investigação que visa definir a causa deste transtorno está pautada em comprovar sua cientificidade. Entendemos que dentro de discursos hegemônicos há uma necessidade de se achar a origem, a ordem das patologias, o que possibilita a classificação e normalização daqueles que se encaixem no perfil selecionado dentro dos critérios elaborados para este diagnóstico. Quando um pedagogo, um professor, um psicólogo, um assistente social ou mesmo os pais dentro do senso comum “fazem”, ou corroboram com esse diagnóstico, estes não consideram as possíveis conseqüências de uma forma mais ampliada. A crianças podem ser, e são, facilmente taxadas de “doentes”, “problemáticos”, “diferentes”, “burras”, podendo desta maneira acarretar a exclusão. Com uma fundamentação pautada na neutralidade alguns especialistas reproduzem teorias científicas. Entrando no jogo da reprodução dos modelos não permitem que se crie saídas para processos de singularização, gerando o que encontramos hoje com bastante freqüência: os equipamentos segregativos e a marginalização da proporção da população que não se encaixa no padrão exigido. Reforça os sistemas de produção da subjetividade dominante, mantendo-se desta forma as mesmas dicotomias: organismo x ambiente, inato x adquirido, normal x anormal, perfeito x imperfeito.
Assim, esses sujeitos são homogeneizados tendo a sua exclusão pautada pelos discursos hegemônicos com base sobre aquilo que está “faltando”, em seus corpos, em suas mentes, em sua linguagem e comportamento.

A ASSISTÊNCIA A TRANSEXUAIS NA REDE PÚBLICA DE SAÚDE: A PROBLEMATIZAÇÃO DE UM DIAGNÓSTICO
Daniela Murta; Márcia Arán; Sérgio Zaidhaft (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Este trabalho tem como objetivo apresentar os primeiros resultados de pesquisa realizada no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ com transexuais que procuraram atendimento com o objetivo de realização de cirurgia de transgenitalização. O Conselho Federal de Medicina aprovou a realização deste procedimento cirúrgico no Brasil por considerar que esta cirurgia tem por motivo essencial uma “intenção de beneficência” baseada em dois princípios: o primeiro seria fundamentalmente terapêutico, ou seja, “a busca de integração entre o corpo e a identidade psíquica do interessado”; o segundo, refere-se ao princípio da autonomia e justiça. Com efeito, observamos que o transexualismo se caracteriza por uma condição de intenso sofrimento. Porém, esta experiência se dá não apenas por uma percepção de não pertencimento ao sexo dito biológico, mas sobretudo pela precariedade social proveniente da não aceitação desta condição por parte da normatividade cultural vigente. Esta problemática revela a insuficiência da nossa categorização sexual, e demonstra como os sistemas classificatórios de sexo e gênero se constituem através de uma operação de exclusão. Nesse sentido, considera-se que mesmo que, conjunturalmente, o diagnóstico de transtorno de identidade de gênero possibilite o acesso ao tratamento público, não se pode deixar de questionar os efeitos desta normalização.

O IMPACTO DO DIAGNÓSTICO DA DOENÇA FALCIFORME SOBRE O CONTEXTO FAMILIAR
Cíntia Aparecida Ataíde (Universidade Federal de Minas Gerais)

O presente estudo visa realizar um delineamento das principais implicações da doença falciforme no contexto familiar, a fim de proporcionar melhores condutas frente ao processo de tratamento aos pacientes desta patologia, bem como dar um apoio mais humanizado aos seus familiares/ e ou cuidadores. A Doença Falciforme é uma anemia hemolítica, de evolução crônica, cuja manifestação clínica é variável de acordo com a idade e é decorrente da presença de uma hemoglobina anormal, conhecida com Hemoglobina S (Hb S). É a doença genética mais comum no Brasil, com alto índice de morbimortalidade conseqüente a diversas complicações decorrentes da doença, sendo assim considerada como um problema de saúde pública. No Brasil existe uma alta prevalência da doença falciforme, e a partir de 2001 foi implantada a triagem neonatal para as hemonoglobinopatias, para realizar um tratamento precoce desta patologia reduzindo assim o alto índice de morbimortalidade e severas complicações advindas da doença. Além de todo acometimento físico provocado por essa patologia crônica degenerativa, verifica-se que há também acometimentos nas esferas psicossociais para os pacientes e seus familiares/cuidadores. O estudo tem como objetivo avaliar o impacto do diagnóstico da Doença Falciforme sobre o contexto familiar, realizar uma investigação acerca dos sentimentos e percepções do cuidador em relação a doença, a forma como este diagnóstico é transmitido e como este é percebido e compreendido pela família. A metodologia aplicada no estudo será a metodologia qualitativa. Este tipo de construção metodológica viabilizará um melhor aprofundamento dos fenômenos que estão inseridos no processo da constatação diagnóstica. A analise dos dados será feita através da Analise do Discurso. Esta pesquisa está baseada na concepção ética de pesquisa em seres humanos (CNS196/96). Os participantes escolhidos serão esclarecidos acerca dos objetivos da pesquisa, e, após livre consentimento, a entrevista será conduzida. Compreender as implicações do diagnóstico da Doença Falciforme sobre o contexto familiar pode viabilizar a construção de mecanismos para um melhor entendimento sobre os processos envolvidos na constatação diagnóstica, além de disponibilizar ferramentas para minimizar as problemáticas relativas aos aspectos psicossociais da constatação diagnóstica. A partir do momento que os profissionais da saúde têm uma melhor compreensão e entendimento sobre os processos imbricados na constatação diagnóstica, mais humanizado e globalizado será o tratamento do paciente.

SESSÃO 4

O ATENDIMENTO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE DEFICIENTE MENTAL NA UNIDADE DE ATENDIMENTO AO DEFICIENTE MENTAL – UNAED
Elisângela Maria Marchesi (Universidade Federal do Espírito Santo)

Ao fazermos uma leitura histórica das políticas de assistência à infância e juventude de nosso país, podemos destacar estas como pontuais, fragmentadas e sem caráter emancipatório. Apresentando como objetivo principal o internamento, não contribuindo para a formação desta criança enquanto indivíduo ser pensante, cidadão e sujeito de direitos. Quando nos remetemos à história da política de atendimento ao doente mental, podemos constatar que esta seguiu o mesmo curso, sendo ambas pontuais, focalistas, marcadas conforme contexto político, econômico e ideológico. Outro ponto em comum, é que para ser enquadrar em qualquer uma destas políticas só precisaria apresentar uma única “patologia”: ser pobre. Para ser assistido pelo Estado bastava vagar pelas ruas, este sujeito logo seria levado para as instituições de atendimento/asilamento, caracterizadas como totais, na qual o indivíduo não possuía nenhum contato com o mundo externo. Diante desse contexto histórico que condena principalmente os pobres, esta pesquisa teve como objetivo analisar o atendimento dispensado às crianças e adolescentes deficientes mentais na UNAED, sendo a única no Estado do Espírito Santo com esta característica. Esta Unidade mantém crianças e adolescentes internados, por terem sido abandonados por seus familiares e/ ou por terem sido retirados o poder familiar devido maus tratos, violência ou negligência. Algumas das crianças que moram nesta Unidade encontram-se lá há mais de 10 anos, sendo que algumas já atingiram a maioridade e moram lá por não terem outro local para acolhê-las. Como método de coleta de dados foi utilizada a observação direta, que me permitiu constatar a forma como estas crianças e adolescentes são tratados na instituição. Foi possível descrever os atendimentos prestados tanto no aspecto físico como no aspecto social, a relação estabelecida entre funcionários e internos na instituição. Embora no final da década de oitenta e início de noventa vários passos importantes tenham sido dados na consolidação dos direitos de crianças, adolescentes e de doentes mentais, marcados pela promulgação do ECA e do SUS e pela luta anti-manicomial, em defesa dos direitos de cidadania desses segmentos da população, pude perceber que criança e adolescente deficiente mental estão fora de ambas as leis. Assim é possível encontrar ainda hoje, no século XXI, verdadeiras instituições totais, nas quais crianças e adolescentes deficientes mentais são tratados com total privação de liberdade.
ESTRATÉGIAS DE PROTEÇÃO CONTRA INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS E AIDS (IST/AIDS) ENTRE MULHERES
Melissa Mattos Amorim; Ângela Nobre de Andrade (Universidade Federal do Espírito Santo)

Na sociedade brasileira, os atuais contornos da epidemia de HIV/Aids se expressam pela emergência da transmissão heterossexual do vírus e pela disseminação progressivamente maior entre a população feminina. Tais tendências demandam uma compreensão mais ampla dos fatores que interferem no processo de adoção de medidas preventivas de Infecções Sexualmente Transmissíveis e Aids (IST/Aids) por mulheres. Em consideração a esse preocupante cenário, se objetivou investigar quais são os significados, crenças e valores atribuídos à prevenção de IST/Aids e quais as estratégias de proteção desenvolvidas. Por sua competência em promoção da saúde, a rede de atenção básica do município de Vitória - ES foi considerada local propício para a realização dos procedimentos de coleta de dados. A Unidade de Saúde Raul Oliveira Neves foi eleita por estar localizada em Jardim Camburi; bairro no qual se registra o maior número de casos de Aids desde o ano de 2002. A abordagem das participantes ocorreu por meio de convites às usuárias do serviço de ginecologia. Com base na técnica do grupo focal, foram organizados dois grupos de discussão com mulheres de 20 a 35 anos, que têm por diferencial o nível de instrução formal das participantes. Um grupo reuniu mulheres com o ensino superior completo ou incompleto e o outro, mulheres com até o ensino médio completo. Em adição aos grupos, foram conduzidas entrevistas individuais para o aprofundamento de questões emergentes nas discussões. Buscou-se evidenciar convergências e divergências entre os dois grupos, pertinentes à temática deste estudo. Resultados preliminares salientam que a lógica que rege as trajetórias afetivo-sexuais das participantes – desde o processo de seleção e de aproximação a potenciais parceiros, a ocorrência do primeiro encontro sexual até o posterior engajamento em relações estáveis – se distingue daquela que norteia a construção de ações, intervenções e políticas públicas para a prevenção de IST/Aids. As estratégias de proteção sustentadas pelas participantes funcionam segundo uma lógica cuja ênfase não está primordialmente no uso ou não uso do preservativo, mas na atribuição de valores como o respeito, a fidelidade e a confiança ao parceiro sexual. A presença ou ausência de confiança no contexto relacional pode desempenhar um significativo papel no processo de adoção de medidas preventivas de IST/Aids.

REPRESENTAÇÃO DE MORTE PARA AUXILIARES E TÉCNICOS DE ENFERMAGEM QUE TRABALHAM COM PACIENTES TERMINAIS EM UM HOSPITAL PÚBLICO DA GRANDE VITÓRIA
Alexandra Iglesias; Fernanda Correia do Rozario; Tatiana Gerhardt Fernandes Moça; Luziane Zacché Avellar (Universidade Federal do Espírito Santo)

Esta pesquisa visou retratar a representação de morte para técnicos de enfermagem, que trabalham com pacientes terminais em um hospital público da Grande Vitória. Dentre vários pontos inerentes ao tema, procurou-se investigar a forma com que esses profissionais enfrentam, lidam, representam a morte, enfocando o trabalho desses profissionais junto aos pacientes terminais, numa perspectiva que engloba: a fase que antecede a prática no hospital, a vivência atual do profissional, bem como as expectativas para a melhoria do trabalho com esses pacientes, os sentimentos e idéias que os ocorrem frente ao óbito, como isso interfere em suas vidas cotidianas, bem como a possível necessidade de expressão dos sentimentos de frustração frente ao óbito. Esse trabalho pretende descrever como os técnicos de enfermagem significam a morte, e como essa forma de significar a morte interfere no seu trabalho. Procuramos identificar suas estratégias pessoais para o enfrentamento da situação de morte no cotidiano de trabalho e compreender como a representação de morte influi na prática dos profissionais selecionados. Foram entrevistados 6 (seis) técnicos de enfermagem, que lidam diariamente com pacientes terminais de um hospital público da Grande Vitória. Após a realização dessas entrevistas, foi feita a análise qualitativa, tal como proposta por Minayo (2002), para a identificação das associações, significados, idéias e sentimentos trazidos pelos sujeitos a respeito da morte, bem como a forma como se dá o trabalho dos entrevistados, desde sua formação como profissional de saúde. Com os dados obtidos nessa pesquisa, percebeu-se uma morte não dita, encoberta, velada. Diante dessa representação, vemos que seria necessária a criação de um espaço onde esses profissionais pudessem expressar aquilo que “não pode” ser falado nas dependências do hospital. Entendemos que a contenção desses sentimentos é prejudicial ao sujeito e interfere em suas práticas profissionais, visto que quase todos assinalam a necessidade de um apoio psicológico e também mencionam a existência de estratégias e expectativas. No que diz respeito à preparação do profissional para lidar com a situação de morte, consideramos o suporte do hospital mais importante que a preparação que o profissional recebe em sua formação, pois é dentro dessa instituição que emergem as questões referentes ao contato cotidiano com a morte. Dessa forma, deve-se dar uma maior atenção ao suporte aos profissionais no espaço hospitalar, para proporcionar melhores condições de trabalho para os mesmos.

UMA ANÁLISE DA DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE, DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA
Luciana Bicalho Reis; Ângela Nobre de Andrade (Universidade Federal do Espírito Santo)

As mudanças pelas quais a saúde pública brasileira passou nas últimas décadas, com a criação do Sistema Único de Saúde e do Programa Saúde da Família, trouxeram à tona grandes desafios no que tange à assistência prestada à população. Nesse novo contexto, o agente comunitário de saúde revela-se como de fundamental importância para a qualidade dessa assistência, uma vez que tem por função desenvolver uma aproximação/interlocução entre os serviços oferecidos e os universos cultural, lingüístico e político das comunidades assistidas. Objetivo: analisar a dimensão ético-política presente nas práticas dos agentes, ou seja, que tipo de relação esses profissionais tem estabelecido com a comunidade e em que medida sua atuação tem se mostrado comprometida com a transformação das condições concretas de vida da população. Adotou o método de observação participante, que constituiu no acompanhamento das atividades cotidianas de agentes, e a técnica de grupos focais, como forma de acesso às concepções desses trabalhadores acerca do próprio trabalho e ao conceito de saúde que permeia suas práticas. Analisa os dados a partir de uma perspectiva histórico-genealógica, entendendo-os como efeitos de forças sociais, políticas e históricas. Conclui que a atuação do agente traz avanços, uma vez que possibilita a criação de formas de assistência mais contextualizadas. Entretanto, verifica que, embora os agentes entendam a saúde como efeito de múltiplas determinações (sociais, biológicas e subjetivas), sua atuação ainda permanece centrada nos sujeitos individualmente, sem propor ações com um caráter mais amplo, que visem a intervir sobre os determinantes sociais e políticos do fenômeno saúde/doença. Essa limitação aparece como fruto de múltiplos determinantes e não simplesmente como uma postura pessoal. A exigência de produção imposta pela Secretaria Municipal de Saúde; a eleição que esta elabora das prioridades, em sua maioria distantes das reais necessidades da população; a desvalorização, por parte dos demais profissionais da equipe, do discurso e do trabalho realizado pelos agentes, entre outros aspectos, indicaram a necessidade de reformulação na forma como a proposta vem se concretizando, para que se torne possível a efetivação do trabalho do agente, como preconizado pelo PSF. Por fim, percebe o quanto às relações estabelecidas entre os profissionais das equipes e o lugar ocupado pelos agentes dentro do Programa têm produzido, nesses trabalhadores, um estado de sofrimento e adoecimento por não terem legitimado o seu papel e discurso dentro do processo de formulação e execução das propostas de intervenção com a população.

INTEGRALIDADE: PRINCÍPIO DO SUS E DESAFIO DO PSF
Gabriel de Castro Augusto Alvarenga, Luciana de Carvalho Hosken, Magno Wesley Buscaroli, Maria Carolina F.B. Roseiro, Nathalia Borba Raposo Pereira, Suzana Maria Gotardo (Universidade Federal do Espírito Santo)

O PSF (Programa de Saúde da Família) surge como estratégia de políticas públicas para efetivação do SUS (Sistema Único de Saúde) e seus princípios, entre os quais, a integralidade, definida na Lei n° 8080/90 - que regula os serviços de saúde no território nacional - como “conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema”. Este princípio implica garantir assistência interdisciplinar ao usuário do SUS, numa perspectiva de saúde ampliada. Orientamos nossa pesquisa, analisando quatro documentos oficiais que abordam a regulamentação e o modo de funcionamento do SUS e das equipes de PSF, que foram: Portaria nº. 1886/97; Lei nº. 8.080/90; Lei nº. 8.142/90 e A Implantação da Unidade de Saúde da Família. Caderno 1 (In: Cadernos de Atenção Básica. Programa de Saúde da Família. Ministério da Saúde. 2000). A partir dessa análise questionamos a efetivação dos princípios do SUS, especialmente o da integralidade e consideramos as possibilidades de inserção do profissional de psicologia nesse serviço. Com a metodologia da Análise Institucional no Papel, mapeamos instituições presentes no PSF e suas configurações. Isto é, a partir do que está instituído, buscar fatores de ocultamento das contradições nos documentos, evidenciando processos instituintes nas organizações sociais inseridas na produção de saúde. Como procedimento da análise, utilizamos textos recentemente publicados que consideram tais questões. Concluímos que a mudança do paradigma de assistência em saúde, de um modelo hospitalocêntrico e biologizante para outro de acordo com o conceito de saúde ampliada, não é alcançada. Constatamos que a instituição médica ainda predomina no PSF, acarretando dificuldades para efetivar atuações interdisciplinares, com inserção efetiva do profissional de psicologia e demais profissionais da saúde, sem que sua atuação seja subjugada e engessada pelo saber estritamente biomédico. A nova assistência em saúde deve desconstruir essa hierarquização entre os profissionais, constituindo-se equipes configuradas a partir das demandas comunitárias e superando os modelos de atuação isolada e especializada para trabalharem articulados. Entretanto, essa articulação deve se iniciar na própria graduação, transformando assim, a formação dos produtores de conhecimento na área da saúde.

A ESCOLA MÉDICA, O HOSPITAL UNIVERSITÁRIO E O MODO DE SER MÉDICO
João Batista Pozzato Rodrigues (Universidade Federal do Espírito Santo)

A partir de experiências vivenciadas nas áreas de educação e de atenção à saúde, um questionamento foi levantado em torno de uma possível implicação do processo ensinoaprendizagem que se encontra em curso numa escola médica com o modo de ser do médico no contemporâneo. Dentro de um contexto que situava a Medicina como uma prática que se concretiza no encontro do médico com o doente, buscou-se respostas para o questionamento levantado, por meio de uma pesquisa onde entrevistas semi-estruturadas, leituras de documentos e participações nos ambientes de trabalho de um Curso de Medicina e de um Hospital Universitário, resultaram em um volumoso conjunto de dados que, devidamente analisados sob a luz dos pensamentos de Michel Foucault e Georges Canguilhem, forneceram as pistas necessárias a uma associação entre as atividades desenvolvidas em uma Escola Médica e o modo de ser do médico no contemporâneo. Levando-se em consideração os contextos históricos, constatou-se que a incorporação do hospital como um instrumento de intervenção sobre o doente e a doença, efetuada pela Medicina do início do século XVIII, provocou mudanças no modo de ser médico cuja repercussão e, em muitos aspectos, similar a que está sendo produzida pelo uso intensivo de tecnologias diagnósticas e terapêuticas pela medicina contemporânea. Entretanto, além deste fator, os estudos procuraram demonstrar a participação de diferentes outros vetores na instituição do processo de formação médica e das implicações deste processo no modo de ser no contemporâneo. Em conjunto, as análises demonstraram que: se a medicalização dos hospitais e a consolidação da anatomia patológica como uma especialidade, mudaram a postura médica diante dos doentes e da doença e fizeram surgir a figura do médico de hospital, na medicina atual a sofisticação dos exames laboratoriais, a informatização e as tecnologias do diagnóstico por imagem, juntamente com os investimentos financeiros que lhes são próprios, estão diretamente implicados em mudanças cuja radicalidade está deixando os médicos perplexos diante da velocidade de produção de novos conhecimentos e inseguros quanto à forma de se relacionarem com os doentes e suas famílias. O processo formativo, em sua estreita ligação com as práticas médicas, está reproduzindo um modo de ser médico que não leva em consideração a fundamental importância de se ver a relação médico-paciente como parte integrante de um processo de trabalho.

SESSÃO 5

HIPERATIVIDADE EM CRIANÇA ESCOLAR: REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO PROFESSOR
Ana Lúcia Balbino Peixoto; Zeidi Araujo Trindade; Maria Cristina Smith Menandro; Luciana Maria Britto da Cruz (Universidade Federal do Espírito Santo)

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) há muitas décadas vem sendo objeto de estudo entre os pesquisadores das Ciências Humanas e Biológicas. O interesse por esse tema no meio acadêmico-científico gerou na última década uma enorme quantidade de estudos clínicos, genéticos, epidemiológicos e neurofisiológicos, despertando assim os meios de comunicação de massa, que têm enfatizado e ressaltado a presença desse tipo de comportamento em crianças em idade escolar e, nos últimos tempos, também a sua presença em adolescentes e adultos. Como o diagnóstico do TDAH é fundamentalmente clínico, são importantes as histórias do desenvolvimento, relato dos pais e professores sobre o funcionamento da criança nos diversos ambientes que freqüenta. Portanto, é fundamental a presença do professor nesse diagnóstico e a representação social deste sobre a criança em idade escolar com TDAH, pois eles estão em contato quase que diário com essas crianças, acompanhando seu desenvolvimento escolar e social. Este estudo teve como objetivo investigar a representação social do professor sobre a criança hiperativa. Foram entrevistados 37 professores do Ensino Fundamental (primeira à quarta série) de cinco escolas da rede privada de Vitória/ES. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas juntamente com a técnica de associação livre (evocação). Os dados foram analisados pelo software EVOC e análise de conteúdo. Buscou-se avaliar se a representação social de criança hiperativa apresentada pelo professor tem contribuído para supervalorização do TDAH, considerando a importância do professor nesse diagnóstico. Os resultados indicaram que a hiperatividade para o professor baseia-se em sua percepção de inquietude e agitação na criança, especialmente meninos de primeira e segunda séries, sem contextualizar esses sintomas no desenvolvimento global dessas crianças ou considerar os aspectos familiares e até mesmo os pedagógicos. As práticas dos professores entrevistados, de acordo com os resultados apresentados, foram ancoradas no conhecimento que circula no meio científico e no pensamento social, indicando a maneira como os professores identificam e atuam com a criança hiperativa.

A AVALIAÇÃO DE GESTORES DA REDE PÚBLICA DE EDUCAÇÃO DA GRANDE VITÓRIA SOBRE A CONSTITUIÇÃO DA COMUNIDADE AMPLIADA DE PESQUISA
Roberta Zacché Iglesias; Maria Elizabeth Barros de Barros (Universidade Federal do Espírito Santo)

A formação de educadores não vem contemplando questões relativas à saúde e ao trabalho destes profissionais, segundo pesquisas recentes realizadas no município de Vitória. Neste sentido, pretendeu-se observar se as atuais gestões das secretarias de Educação possuem políticas de educação voltadas à saúde do trabalhador docente. O presente trabalho buscou analisar a aceitação dos gestores/administradores da Rede Pública de Educação da Grande Vitória quanto à constituição de uma Comunidade Ampliada de Pesquisa (CAP). Esta é constituída por trabalhadores que se organizam para avaliar seu próprio trabalho, com o objetivo de identificar as situações adoecedoras nos estabelecimentos escolares e, assim, viabilizar mudanças nessa organização do trabalho, criando ambientes de trabalho mais saudáveis. Utilizou-se como método a observação participativa nos encontros da CAP, a qual foi base para elaboração do roteiro de entrevista para os secretários de educação dos municípios de Cariacica, Serra, Vitória, Vila Velha e Viana. As entrevistas foram gravadas e transcritas. A análise foi realizada a partir dos dados obtidos nas entrevistas com gestores e nos relatos dos educadores participantes da CAP. Os resultados até o momento vêm apontando a inexistência de políticas e programas de formação nessas Secretarias voltados à produção de saúde dos professores, entretanto pode-se perceber que, de forma geral, os secretários têm interesse em apoiar esses programas desde que não tenham conotação ‘política’. Na avaliação de alguns gestores/administradores, a constituição da CAP pode ser uma boa estratégia para a produção de saúde nas escolas. No entanto, essa posição geralmente vem acompanhada de afirmações que responsabilizavam os professores pelo aumento do índice de adoecimento nas escolas. Além disso, alguns gestores afirmaram que a CAP poderia ser utilizada como um instrumento de denúncia e, não, um dispositivo que pudesse constatar problemas e propor soluções à Secretaria. Percebe-se ainda distinção entre aspectos técnicos e políticos das ações da CAP, condicionando o apoio das Secretarias a ações desprovidas de objetivos políticos/partidários. Durante o processo de pesquisa uma importante parceria já foi estabelecida com uma secretaria de um dos municípios, onde a CAP já está em processo de constituição. O receio inicial de alguns gestores vem se transformando em confiança no trabalho desenvolvido pela CAP e no estabelecimento de parcerias mais efetivas entre as secretarias de educação e os educadores das escolas para que se produzam mudanças na organização do trabalho nas escolas de forma que a produção de saúde seja a tônica do cotidiano das escolas na Grande Vitória.
TRABALHOS, DIÁLOGOS E DEVIRES DE PROFESSORAS QUE SE ENCONTRAM AFASTADAS DA REGÊNCIA
Meri Nadia Marques Gerlin; Maria Elizabeth Barros de Barros (Universidade Federal do Espírito Santo)

Este estudo acompanhou o cotidiano de trabalho realizado em bibliotecas escolares do Sistema Municipal de Ensino de Vitória-ES, tentando entender as formas que professoras afastadas da regência têm utilizado para lidar com o sofrimento provocado por essa situação, iniciando assim, um diálogo sobre trabalho, saúde e readaptação. Os movimentos se deram no período de 1999 a 2004 e buscaram contemplar os múltiplos aspectos que constituem o cotidiano dessas trabalhadoras: sócio-culturais, políticos, subjetivos e educacionais. Nesse sentido seria importante contextualizar que a “readaptação” foi concebida, conforme Brito (et al, 2001, p.165), como um processo realizado com princípios da perícia médica e social, partindo de sinais e sintomas apresentados pelos servidores que são impossibilitados de permanecer desempenhando a mesma função. A pesquisa teve como objetivos: - acompanhar o cotidiano do trabalho desenvolvido em bibliotecas escolares por professoras que se encontram afastadas da regência, em situação de readaptação profissional; - proporcionar às profissionais espaços de falas e de questionamentos sobre a situação de trabalho vivida, na tentativa de possibilitar propostas de trabalhos que potencializem o aspecto inventivo do trabalho que desenvolvem; - dar visibilidade a esse trabalho como forma de produção de saúde dentro da escola, na medida em que coloca em questão práticas instituídas que têm produzido, prioritariamente, adoecimento. O método utilizado foi a cartografia do cotidiano dessas trabalhadoras e a coleta de narrativas que questionavam a “readaptação”, partindo para isso da perspectiva de análise das professoras que apontaram, como resultados, “grande insatisfação” devido as profissionais sentirem seu trabalho desvalorizado e, a partir da readaptação, não serem consideradas professoras, o que leva a crer que o trabalho oferecido como alternativa, na maioria das vezes, desqualifica o processo histórico dessas profissionais. Apontando a readaptação como um processo “penoso” aliado à idéia de deixar de ser professor, foi possível dar passagem aos relatos dos processos vividos, o que deu visibilidade às relações de trabalho e saúde das educadoras nas escolas. A pesquisa nos permite afirmar que as atuais políticas educacionais têm provocado efeitos nocivos na saúde dos/as trabalhadores/as da educação, levando a muitos casos de readaptação, ao intensificar as atividades de sala de aula, esvaziar as discussões coletivas e fragilizar a autonomia do trabalhador desvalorizando-os.

EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA COM ADOLESCENTES
Célia Regina Rangel Nascimento; Milena Bertollo; Rafaela Kerckhoff Rölke; Vensely Monserrato Masioli Barbosa (Universidade Federal do Espírito Santo)

Apesar da presença numérica expressiva na população os adolescentes geram baixa demanda em serviços de saúde. Por figurarem como grupo etário mais sadio e por mostrarem elevada resistência à aproximação com as instituições de saúde, eles têm recebido pouca atenção das políticas públicas nesta área, principalmente quando as demandas referem-se a questões sócio-emocionais. Nossa proposta de intervenção objetivou a implementação de ações de prevenção e de promoção de saúde de adolescentes mais adequadas à sua realidade. Organizamos ações educativas com grupos de adolescentes da Unidade de Saúde Jesus de Nazareth, em bairro de classe popular de Vitória-ES. O trabalho foi realizado com grupos de discussão, considerando interesses dos próprios adolescentes sobre temáticas de saúde.
Procuramos transformar a Unidade de Saúde em espaço de referência para jovens, garantindo atendimento mais direcionado e colocando em prática algumas propostas do Programa de Saúde da Família. As atividades ocorreram em novembro e dezembro de 2004 com participação de adolescentes entre 13 e 16 anos em seis encontros semanais. Foram abordadas as temáticas: adolescência, sexualidade, drogas, DST/AIDS, violência e avaliação final. Para cada temática ficaram responsáveis dois profissionais da equipe de saúde que utilizaram dinâmicas de grupo que possibilitaram que os adolescentes participassem e expusessem suas opiniões. Sobre adolescência os participantes falaram das mudanças ocorridas nesta fase, das dificuldades de ser adolescente e do relacionamento com os pais. No encontro sobre sexualidade, brincadeiras e comentários evidenciaram o constrangimento e a pouca naturalidade em falar sobre esse assunto. Em relação às drogas mencionaram que os amigos oferecem e que nem sempre é fácil rejeitar, já que a aceitação no grupo depende muitas vezes desse uso. Sobre violência, os adolescentes consideraram que quem está mais exposto são aquelas pessoas que “bebem, usam drogas e têm más companhias”. Também apontaram os bailes funk como locais de maior incidência de violência. Relataram preocupação com
o crescimento da criminalidade e da violência no próprio bairro e apontaram o tráfico de drogas como principal motivo. O registro e a avaliação dos encontros possibilitaram levantar sugestões para os próximos grupos. De forma geral, os encontros se revelaram um espaço de discussão para os adolescentes, no qual puderam falar de suas experiências e expor algumas dúvidas. As dinâmicas de grupo foram importante instrumento para diminuir a vergonha e incentivar a participação. Além disso, a avaliação positiva feita pelos próprios adolescentes mostrou o anseio que tinham em participar de atividades como essas.

CARTOGRAFANDO OS MOVIMENTOS DE RESISTÊNCIA DOS EDUCADORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO ES A PARTIR DE UMA COMUNIDADE AMPLIADA DE PESQUISA
Fernando Pinheiro Schubert (Universidade Federal do Espírito Santo)

As condições de trabalho dos professores da rede municipal de ensino da Grande Vitória (GV) vem se agravando nos últimos anos. Administrações autoritárias produziram, principalmente, sofrimento/doença, o que se evidencia nos altos índices de solicitações de pedidos de licença médica por parte destes trabalhadores. Tendo em vista tal situação, a professora Elizabeth Barros, do Departamento de Psicologia da UFES, organizou o PFST (Programa de Formação em Saúde e Trabalho) para 30 professores da GV, procurando criar uma Comunidade Ampliada de Pesquisa (CAP) onde o trabalhador docente pudesse estar se reunindo para discutir questões relativas ao seu exercício profissional e a sua saúde, entendida aqui como a capacidade dos humanos em produzir normas. Diante deste quadro e da urgência de se transformar tal situação, esta pesquisa objetivou investigar as formas como os professores se defendem da organização atual do trabalho e como o processo de constituição da CAP auxilia (ou não) na ampliação dessas estratégias defensivas. Para analisar as diferentes formas que os educadores concebem sua realidade de trabalho e resistem às imposições do cotidiano, utilizamo-nos do método da Análise Coletiva do Trabalho e o da Observação Participativa. Houve a gravação e transcrição dos encontros da CAP, como também a realização de entrevistas individuais com alguns dos professores. Por fim, fizemos uma Análise Comparativa das estratégias defensivas dos professores encontradas no início do Curso de Formação, com as encontradas no final do Curso, focando as transformações do olhar do professor sobre sua realidade escolar e a criação de novas formas de resistência à mesma. Os dados obtidos indicam uma concepção de saúde-doença marcada pelo fatalismo e, ao mesmo tempo, sinalizam para movimentos de transformação das formas de ser trabalhador que a experiência da Cap produziu. Nossa pesquisa nos aponta que a CAP pode ser um bom instrumento para potencializar esses movimentos, pois possibilitou um espaço de trocas onde os professores puderam trazer suas angústias para o coletivo, discutindo-as e questionando a realidade instituída nas escolas. Ao coletivizarem seus saberes e fazeres, os docentes atentaram para a capacidade que têm para criar formas próprias de lidar com as imposições do cotidiano, e perceberam-se também como produtores de conhecimento.

ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA CONSTRUÍDAS PELOS EDUCADORES NO COTIDIANO DE TRABALHO DE UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA DE ENSINO
Danielle Vasconcelos Teixeira; Maria Elizabeth Barros de Barros (Universidade Federal do Espírito Santo)

Para dar conta das variabilidades do trabalho, os trabalhadores alteram seus modos de trabalhar e, nesse exercício, criam no processo de trabalho, afirmando o caráter processual e sempre inventivo dos humanos. Nessa direção, colocamos em foco as estratégias de luta desses trabalhadores da educação, levando em consideração que muitas vezes o trabalhador não percebe sua luta, a resistência e as estratégias que individualmente e coletivamente são criadas frente aos processos adoecedores provocados pelo trabalho e, nesse sentido, acreditamos ser muito importante dar visibilidade a essas formas de luta, para potencializá-las coletivizando esse conhecimento. A partir da orientação conceitual adotada, pela qual consideramos como questão central de análise da saúde do trabalhador o processo de trabalho, este estudo objetivou analisar as estratégias e as lutas diárias de professores, através da vivência no cotidiano de uma escola da rede pública de Vitória/ES. Buscou-se mapear as estratégias de resistência construídas por esses professores frente à organização do trabalho que não tem favorecido a promoção de saúde, potencializar essas formas de enfrentamento, analisar as relações que compõem o cotidiano escolar, entender e colaborar para a transformação dos fatores que interferem na saúde desses educadores. Entendemos que o trabalhador traz em sua fala e em suas práticas, questões pertinentes às estratégias de resistência frente aos processos de seu trabalho que produzem adoecimento. Essa pesquisa, então, seguiu a direção de cartografar esses movimentos que se põem em funcionamento na escola, através de vivência institucional, de observações das experiências práticas dos educadores, e de entrevistas individuais, semiestruturadas, realizadas com professores de diferentes turmas. Também foram utilizados um diário de campo e fotografias desse cotidiano, com o objetivo de dar maior visibilidade às formas de luta desses trabalhadores. Ao analisarmos os resultados da vivência institucional, do diário de campo, e das entrevistas realizadas, percebemos que apesar de todas as nocividades que lhes são impostas no ambiente de trabalho, os professores não se deixam paralisar. Eles criam estratégias próprias, criam novas formas de fazer o seu trabalho, buscando condições menos adoecedoras para sua vida. Ao afirmarem que precisavam modificar o planejamento de aula para não adoecerem, para não prejudicarem a voz, ou para não “enlouquecerem”, os professores falavam dessa criação de novas normas e estratégias para vivenciarem o cotidiano de trabalho de forma mais saudável. Dar visibilidade a essas estratégias e potencializá-las é uma via importante para transformar a organização do trabalho docente nos seus aspectos produtores de adoecimento.
SESSÃO 6

DISCURSOS DO NÃO APRENDER: O QUE ELES DIZEM? O PAPEL DO PSICÓLOGO NAS ESCOLAS
Gilza da Silva; Luciana Rocha Lopes (Prefeitura Municipal de Aracruz - ES)

O assunto que este trabalho de pesquisa/intervenção se propõe a analisar, trata de um tema que vem há tempos permeando falas e práticas de diversos profissionais principalmente da Educação, estamos nos referindo aos “discursos sobre o não aprender”, ou ainda, as chamadas “dificuldades de aprendizagem”. Em nossos tempos, os “discursos sobre o não aprender” parecem se atualizar através de velhas fórmulas, mas com novas roupagens, como a categoria do “aluno com necessidades educacionais especiais”, decantada por professores, pedagogos, psicólogos, e tantos outros nos dias atuais. Em busca de respostas sobre esse suposto “não aprender” (importante dizer:aprendizagem do conteúdo formal estabelecido pela escola), são envolvidas famílias, alunos, professores. E para responder tais questões, são eleitos e chamados os “especialistas” - os “detentores da verdade” – que seguem muitas vezes a mesma trilha, apontando falhas e desvios na criança e na família. As práticas de categorização dos possíveis desvios, da vigilância, da disciplinarização e da modelização dos corpos e das vidas dos alunos e das suas famílias, se presentificam na escola, reafirmadas muitas vezes pelos discursos dos “especialistas”. Discursos que se fundamentam no saber médico, psicológico, pedagógico, e que se constituem com estatuto de verdade. São muitas as perguntas: o que estes discursos vem afirmando atualmente? O que eles tem produzido? Quais vêm sendo os seus efeitos? E mais especificamente, falando como vem sendo a atuação do profissional de psicologia dentro da instituição escola? O que os discursos/práticas “psi” vêm constituindo? Como o psicólogo vem utilizando seu arsenal de especialista legitimado? Para avaliar e referendar diagnósticos que podem confirmar o que a Escola pensa e espera do aluno? Ou tem utilizado sua fala, como meio de produzir interferências, problematizações e mudanças no cotidiano escolar? Essa discussão apresentada é fruto de nossas observações iniciais sobre o trabalho que está sendo realizado nas escolas municipais do município de Aracruz/ES, desde fevereiro de 2005, com a finalidade de atender aos ditos alunos com “Necessidades Educativas Especiais (NEE)”. Nesse trabalho atuamos como agentes e também como pesquisadoras, no intuito de questionar os saberes cristalizados nas escolas e podermos de algum modo assim, produzir rupturas e transformações coletivas nestes discursos sobre o “não aprender”.

A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NOS CENTROS DE SAÚDE DA REDE PÚBLICA DE BELO HORIZONTE
Liz Hellen Oliveira Vitor; Maria Inês Meireles Junca; Sávia Rodrigues Carvalho Guerra (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)

O presente trabalho é resultado de estágio supervisionado do curso de psicologia da PUC-Minas, que teve como objetivo conhecer a atuação do psicólogo junto à rede pública de saúde de Belo Horizonte. Para isso, escolheu-se um centro de saúde da Regional Leste dessa cidade. Os serviços oferecidos pelos Centros de Saúde são de atenção básica à saúde, para isso, a unidade pesquisada, conta com uma equipe composta por médicos generalistas, ginecologistas, pediatras e psiquiatras; psicólogos; assistente social; enfermeiros; agentes comunitários; nutricionistas e dentistas. Para a pesquisa de campo, utilizamos entrevistas semi-estruturadas com psicólogos, assistente social e gerente do Centro de Saúde, além de conversa informal com um usuário, participação e observação de um encontro do programa de Planejamento Familiar. O Centro de Saúde pesquisado possui um serviço estruturado com atendimentos psicológicos individuais (base psicanalítica), realizado por dois psicólogos efetivos da rede pública de saúde. O acolhimento, a triagem e o agendamento de consultas dos pacientes de saúde mental, são realizados pela assistente social que encaminha, quando necessário, para os psicólogos, psiquiatra ou CERSAM (Centro de Referência em Saúde Mental). A rede pública de Belo Horizonte prioriza o atendimento a neuróticos graves e psicóticos, trabalhando em conjunto com o CERSAM que atende esses pacientes quando em crise. Os profissionais entrevistados apontaram para a grande demanda pelo serviço de saúde mental, e a impossibilidade de atendimento a todos. Reconheceram a necessidade de ampliar e diversificar a atuação da equipe de saúde mental, por exemplo, formando grupos de hipertensos, diabéticos, obesos, idosos, dentre outros. A atuação do psicólogo, nesse caso, não seria de atendimentos individualizados, mas trabalhos com grupos visando a promoção da saúde. Essa ampliação proporcionaria a inclusão de pacientes que não se enquadrem na proposta atual de atendimento apenas a neuróticos graves e psicóticos. Os trabalhos com grupos permitiriam ainda um aumento considerável no número de atendimentos aos pacientes da saúde mental, resolvendo um dos problemas apontados como de maior gravidade pelos profissionais entrevistados - a desproporção entre a demanda e a capacidade de atendimento em saúde mental.

O INTERNATO DE PSICOLOGIA HOSPITALAR NO HOSPITAL INFANTIL NOSSA SENHORA DA GLÓRIA (VITÓRIA – ES)
Daiana Stursa; Letícia Pires Dias; Elissa Orlandi; Elizabeth Macedo, Marcélia Marino Schneider Côgo; Tânia Regina Anchite Martins. (Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória – ES)

O Internato de Psicologia Hospitalar está vinculado ao Internato Multidisciplinar anual do HINSG. As internas de psicologia atuam, separadamente, durante três meses, nas enfermarias de: Oncologia, Hematologia, Emergência e Neonatologia, concomitantemente com a Pneumologia. São realizados atendimentos individuais nas enfermarias e na sala de saúde mental aos pacientes e acompanhantes. Além disso, têm-se a possibilidade de participar de reuniões de acompanhantes, organizadas pelas psicólogas preceptoras das enfermarias de Neonatologia e Oncologia. A supervisão é semanal, de referencial psicanalítico. Por meio dela, são trabalhadas as dúvidas dos atendimentos e as experiências dentro das enfermarias além de discussões e estudos de textos sobre psicologia hospitalar. Defrontamo-nos com as características e as particularidades de cada enfermaria, de sua equipe de saúde e dos pacientes. Por exemplo, na Neonatologia trabalhamos a ansiedade dos pais de terem seus filhos recém-nascidos monitorados e invadidos 24 horas por aparelhos devido a doenças graves e malformações. Na Oncologia, por sua vez, trabalhamos: a angústia advinda do diagnóstico; o sofrimento ocasionado pelos procedimentos invasivos; as várias marcas que levam os pacientes à perda da imagem corporal e da subjetividade; a ruptura do curso da vida e a incerteza do futuro. Possibilitamos aos pacientes e a seus familiares dar sentido aos temores, à raiva, ao sofrimento, à negação e à angústia de morte.Essa experiência de estágio num hospital geral coloca-nos em contato com o discurso médico, voltado para o diagnóstico e tratamento focado na patologia e na parte adoecida do corpo, excluindo a subjetividade do paciente. Sendo assim, o trabalho da Psicologia é construído a partir da comunicação, auxiliando os pacientes e acompanhantes na adaptação ao ambiente hospitalar e também no enfrentamento da doença. A ênfase dessa atuação é pautada na atenção, compreensão, suporte ao tratamento, clarificação dos sentimentos, esclarecimentos sobre a doença e fortalecimento dos vínculos pessoais e familiares, minimizando o sofrimento provocado pela hospitalização. Considerou-se que tudo aquilo que puder ajudar no restabelecimento da confiança do paciente contribuirá na sua reabilitação, fortalecimento de auto-estima e autoconceito. O resultado dessa prática pode ser visto na medida em que os pacientes e acompanhantes trabalham suas dúvidas, fantasias e angústias quanto ao tratamento, à internação, à doença e o ambiente hospitalar. Além disso, os internos de Psicologia têm a possibilidade de ampliar seu conhecimento profissional, a partir da interação com pacientes e acompanhantes e da troca de experiências em um trabalho integrado com outras especialidades da área de saúde.

BUSCANDO “RECEITAS CASEIRAS”: MEMÓRIA DO BAIRRO COMO RECURSO PARA CRIAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, PROMOÇÃO DE SAÚDE E GERAÇÃO DE RENDA, A PARTIR DA NOÇÃO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL
Samira Lima da Costa; Gisela Tebaldi Guedes; Felipe Aguiar; Jacqueline L. Alencar; Lívia Borges Barbosa; Ana Neide Pereira; Renatta Fiorot Lopes (Universidade Federal do Rio de Janeiro; FAESA)

Este trabalho apresenta um projeto de pesquisa que se propõe a realizar e investigar um processo de resgate da memória a partir de histórias de vida junto aos moradores dos bairros do entorno da Ilha das Caieiras em Vitória, buscando criar uma estratégia de construção e planejamento coletivo de ações pautadas nas representações sociais sobre ambiente, saúde e trabalho desta comunidade, dentro da ótica do Desenvolvimento Local. As questões que envolvem a relação do ser humano com seu meio ambiente, atualmente, passam necessariamente pela discussão sobre o desenvolvimento local que, segundo MACIEL (2003), tem como uma de suas questões principais a participação da população no processo de desenvolvimento, tanto no nível do planejamento quanto no nível da ação. Para alcançar tal nível de participação social, é preciso deixar de lado os conceitos oficiais, ou, no dizer de D’ÁVILA (1992), as receitas oficiais, e partir em busca de “receitas caseiras”. Serão utilizados os métodos de história de vida, análise do discurso, observação participante, análise de documentos, pesquisa participante e produção de vídeo. Espera-se que a metodologia utilizada na pesquisa possa ser uma estratégia efetiva de Desenvolvimento Local, a ser adotada em outras comunidades do Estado. Entende-se que todos os moradores dos bairros em questão sejam potencialmente beneficiários diretos desta pesquisa, uma vez que ao final do levantamento de dados sobre a memória dos bairros elaborar-se-á uma proposta de Programa de Promoção de Saúde, Geração de Renda e Proteção Ambiental a ser discutida e planejada junto com os atores sociais da região, buscando identificar demandas e propor soluções práticas. Além disso, acredita-se que esta estratégia possa ser utilizada também em outros bairros, com objetivo de promover planejamentos participativos baseados na escuta das demandas e das representações sociais, podendo haver, assim, beneficiários indiretos, a longo prazo. Dessa forma, pode-se considerar também como beneficiários desta metodologia – enquanto estratégia de intervenção voltada para o Desenvolvimento Local – os órgãos gestores ligados às temáticas centrais deste trabalho. O projeto será desenvolvido pela Faculdade de Saúde e Meio Ambiente de Vitória, e é apoiado pela Companhia Siderúrgica de Tubarão.

RESPEITÁVEL PÚBLICO, HOJE É DIA DE CIRCO! A ARTE COMO INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE SOCIAL
Bárbara Silveira; Cintya Oliveira; Daniela Murta; Rozana Gomes (Escola de Circo Pequeno Tigre)

A necessidade de ações para promoção de políticas públicas é expressiva frente à precariedade dos serviços e das redes de proteção de crianças e adolescentes em risco social, hoje, no Brasil. A defesa dos direitos desses jovens e a ocupação de seu lugar como atores sociais passa a ser tarefa árdua para a sociedade civil, principalmente para instituições e organizações que desenvolvem ações com esse público. Neste sentido, este trabalho tem como objetivo apresentar o conceito de Circo Social como ferramenta para a emergência de protagonistas sociais, a partir da experiência da Escola de Circo Pequeno Tigre, um projeto desenvolvido pelo Programa Social Crescer e Viver. A prática circense traz em si desafio dos limites do corpo e o risco; significantes tão presentes e concretos ao seu público-alvo. A proposta do Circo Social e da Escola de Circo Pequeno Tigre baseia-se na insuficiência das escolas formais e dos dispositivos governamentais de assistência social e em reconhecer estes significantes (risco/desafio) como fundadores de uma ética própria, diferente da conhecida pelas classes dominantes brasileiras. Desta forma, a prática que é construída, cotidianamente, dentro da lona, trabalha na perspectiva de emersão de atores sociais quando é dado um novo sentido para o risco, transformando-o em risco controlado e inserindo a confiança no outro no processo de aquisição da técnica circense. São apresentadas, assim, uma possibilidade de ressignificação da coletividade, e uma outra forma de pertencimento social. Sendo assim, a intervenção se materializa na garantia da sensibilidade às singularidades e na valorização das formas de saber que fazem parte das experiências de vida dos meninos e meninas mais carentes que participam do projeto, assim como no trabalho junto às famílias e comunidades dos beneficiários, através de acompanhamento sistemático de seus discursos e diferentes formas de inserção social.

ENTRE OS MUROS DA POBREZA SÓCIO-CULTURAL: CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESCUTA PSICOLÓGICA EM UMA MATERNIDADE PÚBLICA
Francismeire Vieira Braga; Luciana Pena Vila Lima (Universidade Federal do Espírito Santo)

O que é demandado a um psicólogo em uma maternidade pública? A que lugar ele é chamado? O presente trabalho se inscreve a partir da experiência vivenciada por estagiárias de psicologia na maternidade pública do Hospital Universitário Cassiano Antonio de Moraes, ancorado em um projeto de intervenção proposto pelo próprio serviço de psicologia que é responsável pelo estágio na maternidade. Esse projeto propõe uma intervenção junto à família, à equipe e ao bebê e tem como foco primordial o bem-estar físico e emocional desse bebê. Para tal, nos atemos ao vínculo afetivo que se estabelece ou não, durante a internação, entre a mãe e o bebê. A partir dessa forma de entender a psicologia, o trabalho do psicólogo dentro da maternidade pública pode ser entendido como o de especialista do vínculo mãe - bebê. É na execução de tal projeto que a escuta de uma realidade social se impõe: a chegada de uma mulher grávida na maternidade traz com ela todo um contexto social no qual ela está inserida, e que questiona os especialismos existentes dentro da realidade hospitalar. Não há como promover um vínculo saudável e necessário entre a mãe e o bebê sem levar em consideração a realidade social que se desvela diante da escuta psicológica. Aqui se encontra o eixo principal de tal comunicação: quando as questões decorrentes do contexto social da paciente são prevalecentes às relacionadas à maternidade em si. A partir daí os atendimentos são necessariamente entrelaçados com os do serviço social que possibilita a execução de uma prática que considera a situação de risco social da família em questão, bem como situações de humilhação social, exclusão e necessidades materiais decorrentes desse momento. Assim, objetivamos a possibilidade de tornar mais amplas a compreensão e a atitude diante dos atendimentos realizados na maternidade pública, contudo, ainda nos deparamos com impasses inerentes a qualquer atendimento institucional que falam de uma realidade econômica e política que estão além dos poderes da instituição e dos que lá trabalham. Concluindo, esta comunicação pretende destacar a importância da sensibilidade do psicólogo ao aspecto sócio/cultural do paciente, pois isto irá emergir de forma inexorável no atendimento psicológico na maternidade pública.
Sessões de 7 a 12 – 09/06/2005

SESSÃO 7

PRÁTICAS PSICOLÓGICAS E SAÚDE: UM ESTUDO EM UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DE VITÓRIA – ES
Adriana Fanhiotti Meireles; Angela Nobre de Andrade; Aline Lopes de Sousa; Camila Carlos Maia; Claudia de Oliveira; Luciana Maria Brito da Cruz; Mariana Bonomo; Maristela Dalbello Araújo; Mirian Santiago da Silva; Nádia Olinda Correia Lopes Marçal; Roberta Scaramussa da Silva; Vivian Gomes Vieira (Universidade Federal do Espírito Santo)

O processo de intervenção do poder público no campo da saúde no Brasil assume dimensões heterogêneas e alicerçadas nas constantes transformações do contexto social, político e econômico do país nas últimas décadas. A partir da década de 70 tem-se uma série de movimentos (Reforma Psiquiátrica, Reforma Sanitária), fomentando questionamentos e a criação de novas práticas em saúde, num embate de forças com o modelo sanitário vigente. Surge, então, a proposta de reformulação dos serviços e ações de saúde, através da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), que tem como princípios a universalidade, a equidade, a integralidade, a resolutividade, a descentralização e a participação dos cidadãos no processo de gestão das políticas de saúde. Mediante a nova proposta de atuação no campo da saúde, o profissional de psicologia passa também a estar inserido no modelo de organização que prima pela promoção de saúde e autonomia da comunidade. Nesse contexto torna-se relevante conhecer de que maneira o psicólogo obtém sua inserção em Unidades Básicas de Saúde e se isto se efetiva em práticas coerentes com a realidade da comunidade local. Desta forma, a presente pesquisa tem como objetivo analisar as práticas dos profissionais em psicologia em 12 Unidades de Saúde do Município de Vitória, segundo o modelo de atenção básica e do Programa Saúde da Família. Foram realizadas observações do cotidiano através de conversas informais com os usuários e profissionais das unidades, registradas em diário de campo, além de entrevistas semi-estruturadas com psicólogos, coordenação e comunidade. Os dados preliminares apontam uma diversidade entre as práticas psicológicas existentes nas Unidades de Saúde. Em algumas unidades observou-se a dificuldade do psicólogo em trabalhar com a comunidade e com a equipe multidisciplinar, mantendo-se distante da proposta de prevenção e promoção de saúde. Por outro lado, verificou-se também, um processo de construção de novas formas de atuação na prática profissional através de intervenções mais amplas e participativas.

TRABALHANDO COM AS MÃOS: RECICLANDO VIDAS
Luciana Nascimento Costa; Tânia Gomes Martins de Aragão; Yvel Mara Aneli (Prefeitura Municipal de Vitória)

Foi executada uma intervenção com a finalidade de mudança de postura no cotidiano de um grupo de mães assistidas pelo PSF–Andorinhas em outubro de 2003, através da reciclagem de brinquedos. Esta idéia surgiu diante de algumas dificuldades encontradas em trabalhar com essas mães alguns aspectos relacionados ao cuidado da saúde de crianças desnutridas. Acredita-se que uma reciclagem (limpeza, adaptação, colagem, costura) de objetos pode proporcionar aos participantes uma oportuna reflexão sobre a capacidade de melhoria de suas vidas. Esta intervenção ocorreu através de uma oficina realizada na Unidade Saúde (US) de Andorinhas, em Vitória–ES, com duração de quatro horas, com a presença de nove mães, seus filhos, agentes comunitários de saúde (ACS) e os autores. A oficina iniciou-se com a explicação do objetivo, apresentação mútua e explicitação das expectativas dos participantes. Após esse primeiro momento, foi contada uma parábola, que serviu para sensibilização, e apresentados os brinquedos – muitos defeituosos – a serem trabalhados pelas mães. Após o primeiro impacto e incentivo, os participantes foram pouco a pouco se apoderando dos objetos de acordo com o interesse individual e habilidades, partindo para a reconstrução dos mesmos. Os brinquedos foram recuperados e puderam ser expostos. Iniciou-se a partilha entre os participantes dos sentimentos vivenciados antes e depois da reciclagem. Sentimentos como impotência e impossibilidade deram lugar a sentimentos como capacidade de fazer e possibilidade de realização. Em seguida os brinquedos foram distribuídos, por escolha e por sorteio, entre as mães. Ofereceu-se um lanche para essas mães e suas crianças que se encontravam numa varanda ao lado brincando com os ACS. A realização dessa oficina contribuiu para o fortalecimento do vínculo entre a equipe de saúde e as mães, o aumento da auto-estima dessas mães, o desenvolvimento da sua criatividade e a melhoria dos cuidados com as crianças. Também, para a equipe de saúde, a oficina contribuiu como instrumento incentivador na superação das dificuldades que se apresentam durante a realização das suas tarefas na US. No entanto faz-se necessária a existência de oficinas de reforço e oficinas de expansão do projeto para outras famílias, principalmente as de maior risco social. Isto não foi possível devido à troca de profissionais da US e do pequeno tempo disponível da equipe para desenvolver atividades preventivas que envolvam todos os membros.

PROGRAMA SENTINELA DE VILA VELHA: ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA SEXUAL – REALIDADE E DESAFIOS
Maria Goreti Ferreira Celestino;Daniele Vasconcelos Campagnaro; Milena Fiorim de Lima; Sirley Márcia Ladeia Fortunato;Paula Cristina Santiago Nascimento Fernandes; Aiane Regina Dutra Alves; Lucia Helena Coelho Rocha; Uyara Leal Ramos; Jiva Antonio Barbeiro Marcelino (Programa Sentinela - Vila Velha)

Implantado em 2001, no bojo das políticas públicas dirigidas às crianças e adolescentes e numa parceria entre municípios e governo federal, o Programa Sentinela existe em vários pontos do país e atende crianças e adolescentes vítimas de abuso e exploração sexual e suas famílias, atuando a partir dos eixos estratégicos estabelecidos nos Planos (Federal, Estadual e Municipal) de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil: análise da situação, mobilização e articulação, defesa e responsabilização, atendimento, prevenção e protagonismo infanto-juvenil. No caso específico do Programa Sentinela de Vila Velha, a Secretaria Municipal de Ação Social estabeleceu parceria com a Cáritas Arquidiocesana de Vitória para execução do mesmo e as ações e serviços são desenvolvidos por uma equipe técnica interdisciplinar composta de uma assistente social, uma psicóloga, duas educadoras e uma coordenadora, além de uma equipe de apoio e estagiários de serviço social e, especificamente, visam fortalecer a auto-estima das crianças e adolescentes vítimas e suas famílias e o restabelecimento do direito à convivência familiar e comunitária, em condições dignas de vida. No ano de 2004,
o Programa Sentinela de Vila Velha acompanhou 225 casos, desses: 172 eram do sexo feminino e 53 do sexo masculino; 204 foram vítimas de abuso sexual e 21 vítimas de exploração sexual; quanto à idade, 53 tinham entre 0 e 6 anos, 145 tinham entre 7 e 14 anos e 27 tinham entre 15 e 18 anos; quanto à escolaridade, 28 são da educação infantil, 146 são do ensino fundamental, 12 do ensino médio e 39 estão fora da escola ou sem escolaridade; 105 foram encaminhadas por entidades da rede proteção à criança e adolescente (Ongs, Pavivis, Ministério Público, Juizado da Infância e Juventude e escolas), 94 pelo Conselho Tutelar, 02 pelas comunidades e 24 procuraram espontaneamente o Programa, seja alguém da família ou a própria criança ou adolescente; quanto à etnia, 95 são pardos, 69 são brancos e 61 são negros; quanto à renda, 121 recebiam de 1 a 3 salários mínimos, 56 de 0 a 1 salário e 48 mais de 3 salários; 105 foram abusados por desconhecidos e 120 por pessoas da família (sendo mais significantes os abusos cometidos por pai e padrasto). Acreditamos que as ações que o Programa Sentinela de Vila Velha desenvolve têm sua relevância, pois violência sexual contra crianças e adolescentes é uma violação de direitos, crime e tem conseqüências dramáticas.

INTERVENÇÃO JUNTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EM SITUAÇÃO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO
Luiz Gustavo Silva Souza (Universidade Federal do Espírito Santo)

A Unidade de Atendimento ao Deficiente (UNAED) é um dos programas coordenados pelo Instituto da Criança e do Adolescente do Espírito Santo (ICAES), da Secretaria de Estado de Justiça. Trata-se de uma unidade de abrigo para crianças e adolescentes portadores de deficiência mental, associada muitas vezes a outros tipos de necessidades especiais. Quanto à origem dos abrigados, são crianças e adolescentes provenientes de comunidades pobres e em graves situações de risco social (condições de risco em suas famílias ou na rua, violência familiar, situações de exploração sexual, etc.). Em geral, essas crianças e adolescentes são identificados pelas comunidades e/ou conselhos tutelares, que os encaminham para as Varas da Infância e Juventude. A medida de “abrigo” é definida pelo juiz, estando caracterizada no Estatuto da Criança e do Adolescente. Essa medida é descrita como provisória. Entretanto, as crianças e adolescentes abrigados pela UNAED constituem uma espécie de “comunidade asilar”, uma vez que o tempo de permanência na Unidade é freqüentemente estendido por décadas e as chances de reinserção em famílias (de origem ou outras) têm se mostrado pequenas. Historicamente, a Unidade se organizou como um internato de caráter eminentemente asilar, produzindo segregação social e dependência. O objetivo da intervenção foi implantar um programa de ressocialização junto aos abrigados e formas de gestão coletiva da Unidade. Os princípios gerais que nortearam a intervenção foram: a) uma ética de luta contra situações de institucionalização total e de segregação social influenciada pelo Movimento da Luta Antimanicomial e b) uma ética de trabalho que prioriza a produção de autonomia e a quebra dos estereótipos de incapacidade associados ao deficiente mental. Trabalhamos principalmente em três frentes: 1) junto à equipe de profissionais da Unidade, realizamos reuniões com orientação autogestiva, debatendo problemas, dividindo responsabilidades e estabelecendo projetos coletivos de ação; 2) junto aos abrigados, desenvolvemos um programa de ressocialização, contando com um calendário regular e cotidiano de atividades externas; 3) junto a comunidades vizinhas e a ONGs, estabelecendo parcerias para aumentar o espectro de atividades da Unidade e viabilizar as iniciativas propostas. Durante e após a intervenção, recolhemos falas de quase todos os funcionários, relatando satisfação e envolvimento com os modos de gestão implantados e com programa de atendimento proposto. Os efeitos junto a alguns abrigados foram expressivos no que diz respeito ao desenvolvimento afetivo, cognitivo e motor. Por fim, a intervenção facilitou processos ulteriores de reintegração social de alguns abrigados.
 
A PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE SOBRE A PRÁTICA DO TRABALHO DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE
Elzimar E. Peixoto Pinto; Ezequiel Apgáua F. de Sousa (Prefeitura Municipal de Vitória)

Em 1987, no Estado do Ceará, uma seca de grandes proporções, precipitou o lançamento do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Essa seca levou o governo do Ceará a abrir frentes de trabalho. Após treinamento os trabalhadores passaram a desenvolver ações como terapia de reidratação oral, vacinação e estímulo ao aleitamento materno. O resultado dessas ações foi extremamente positivo, o que levou o governo do Estado a expandir o programa. Em 1991, o governo Federal o encampou com o nome de Programa Nacional de Agentes Comunitários de Saúde (PNACS). Em 1993, foi idealizado o Programa de Saúde da Família como forma de reestruturar e reorganizar o Sistema Único de Saúde, contando com profissionais médicos, enfermeiros, auxiliar de enfermagem e o Agente Comunitário de Saúde (ACS). O objetivo é analisar a percepção que os profissionais de saúde têm sobre o trabalho do Agente Comunitário de Saúde da Unidade Saúde da Família de Andorinhas, Vitória/ES. Metodologia: Pesquisa de campo realizada na Unidade de Saúde de Andorinhas, através de grupo focal com três representantes de cada categoria profissional, num total de nove pessoas. Para a análise dos dados coletados foi utilizado o método de análise de conteúdo. Observou-se que os profissionais de saúde reconhecem o ACS como peça fundamental na estrutura da Estratégia de Saúde da Família, ele é apontado como ponte, elo, não só entre a comunidade e a Unidade de Saúde, mas também entre os profissionais de saúde, facilitando assim um trabalho interdisciplinar. Os profissionais de saúde reconhecem o grande envolvimento do ACS com a comunidade, o que gera cobranças e stress dentro da equipe. O vínculo que o ACS tem na sua comunidade, é um fator importante para o desenvolvimento do seu trabalho, mas é também um detonador de conflitos dentro da equipe. O conhecimento dos problemas locais acaba determinando as ações dos demais membros da equipe e gerando um prestígio crescente junto a comunidade. A dificuldade de inserir esse novo ator no processo de saúde, talvez nos aponte para a dificuldade de mudar velhos conceitos e práticas, onde o saber e o poder estavam centrados na mão de poucos.

ATUAÇÃO DO SERVIÇO DE PSICOLOGIA EM UM PROGRAMA DE REABILITAÇÃO DE MULHERES MASTECTOMIZADAS NO ESPÍRITO SANTO
Aline Lopes de Sousa; Jurama Ribeiro de Oliveira; Lilian Souza Nogueira da Silva; Luciana Maria Britto da Cruz; Maria Helena Costa Amorim (Hospital Santa Rita de Cássia - ES)

O PREMMA – Programa de Reabilitação de Mulheres Mastectomizadas – Criado em Setembro de 1999 pela Profa. Dra. Maria Helena Costa Amorim, do Departamento de Enfermagem da UFES, atualmente possui cerca de 900 mulheres cadastradas. É um programa de atendimento interdisciplinar formado pela Enfermagem, Psicologia e Serviço Social. O Serviço de Psicologia inicia o trabalho com as mulheres portadoras de câncer de mama durante a internação, realizando atendimentos pré e pós-operatório, e no momento da alta hospitalar essas mulheres são encaminhadas para as reuniões do PREMMA. As reuniões acontecem três vezes na semana em dois horários distintos. Nas reuniões as mulheres aprendem os exercícios de reabilitação e os cuidados com o membro superior do lado da mama afetada pela doença, pois durante a cirurgia são retirados os linfonodos axilares responsáveis, entre outras funções, pela defesa imunológica do braço. A psicologia, através de uma escuta diferenciada, utiliza-se desses momentos para propiciar espaço de fala a essas mulheres no intuito de fazê-las externarem suas angústias, medos, dúvidas e dificuldades vivenciadas.
Havendo demanda, algumas mulheres são encaminhadas para o atendimento psicológico individual, podendo ser estendido aos familiares. As maiores queixas dizem respeito às limitações impostas pela cirurgia, os efeitos colaterais da quimioterapia, radioterapia e/ou hormonioterapia, a vergonha causada pela mutilação, o estranhamento do corpo, o preconceito da sociedade e do companheiro, a depressão, a dor, a falta de desejo, o medo da recidiva, a menopausa precoce e a desadaptação à nova vida. Esse espaço para que a paciente fale sobre seus sentimentos é de fundamental importância, pois assim ela poderá buscar sua condição de sujeito desejante. Percebe-se a relevância de uma intervenção psicológica junto às pacientes no momento do diagnóstico e da retirada do seio, pois a partir desse apoio elas poderão vir a ter um modo de resposta diferente diante da doença, da mastectomia e dos possíveis tratamentos, contribuindo para a opção de uma escolha que possa criar uma possibilidade de resignificação da vida.

SESSÃO 8

A PRÁTICA PSICOLÓGICA NOS PROGRAMAS ESPECIAIS EM SAÚDE DO ESCOLAR: CONQUISTAS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Maria das Graças Lacerda Amaral (PESE); Danielle Cristina de Oliveira (PESE; FIPAG; UFES); Raquel de Mendonça Cardoso (PESE)

Os Programas Especiais em Saúde do Escolar (PESE), criados em 2001, através da parceria entre as Secretarias de Saúde, Educação e Assistência Social do município de Guarapari oferecem atendimentos, assessoria e orientação nas áreas de fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia, assistência social e geriatria aos estudantes, seus familiares e professores da rede municipal de ensino. As intervenções psicológicas realizadas nos anos de 2004 e 2005, período de trabalho das autoras, estão relacionadas à promoção de assistência emocional dos usuários, que são encaminhados pelas escolas e programas públicos do município em decorrência de dificuldades na aprendizagem e alterações comportamentais como quadros acentuados de ansiedade, angústia, depressão, fobias, manias e euforia. As ações são caracterizadas por atendimentos individuais e em grupo dos estudantes e familiares, terapia de casal, terapia individual com professores e orientação psicológica para os docentes, reuniões trimestrais com coordenadores e orientadores, palestras ministradas nos programas de qualificação da Secretaria de Educação. Estão sendo implementados grupos operativos com os cuidadores dos estudantes e com os professores. As intervenções psicológicas têm colaborado para a alteração no modo de vida, como mudanças de hábitos, crenças, valores, a reorganização emocional e afetiva dos usuários. O diagnóstico precoce de dificuldades de aprendizagem, de distúrbios comportamentais, de comprometimentos mentais e físicos proporciona a mobilização dos recursos necessários para uma assistência social, médica e educacional de qualidade. A divulgação das propostas do PESE por meio de reuniões com o corpo técnico escolar nas Instituições de Ensino têm se tornado um espaço para compartilhar informações, angústias, expectativas e sugestões, possibilitando reflexões sobre a realidade escolar dos usuários e questões institucionais enfrentadas. A “cultura” da ação psicológica restrita ao atendimento clínico institucionalizado está sendo paulatinamente superada, sendo necessária maior mobilização social e articulação dos psicólogos com outros setores da sociedade. Assim como, é imprescindível a criação de espaços que proporcionem a discussão dos preconceitos, rótulos e estereótipos associados às dificuldades de aprendizagem com os envolvidos no processo educativo. A análise quantitativa dos atendimentos psicológicos está, gradativamente, sendo substituída por uma visão qualitativa de acompanhamento psicológico ao usuário por meio de negociação com os gestores do município, o que proporciona mais espaço para uma prática psicológica política e ética.

O ATENDIMENTO PSICOLÓGICO AOS ENVOLVIDOS EM CONJUGALIDADE VIOLENTA: CONCEPÇÕES DOS PSICÓLOGOS SOBRE GÊNERO E VIOLÊNCIA CONJUGAL
Danielle Cristina de Oliveira (UFES; FIPAG); Lídio de Souza (Universidade Federal do Espírito Santo)

A violência conjugal passou a ser debatida publicamente no Brasil, a partir dos anos 70, por meio das produções acadêmicas e da divulgação da mídia e por influência direta do Movimento Feminista. O tema era discutido em torno de uma concepção dualista: homem - agressor versus mulhervítima ou de oposições binárias: homem (razão, atividade, sujeito) e mulher (emoção, passividade e objeto). A violência conjugal era sinônimo de violência contra a mulher. A década de 90 caracterizou-se pela emergência de produções acadêmicas que analisavam a violência conjugal através de enfoques teóricos que contestavam a visão dualista. As relações conjugais violentas passaram a ser discutidas a partir da análise dos múltiplos papéis entre homens e mulheres numa relação afetiva violenta. Esse referencial relacional não ignora as produções culturais em torno de gênero e etnia, que produzem diferenças de poder entre o casal, entretanto defende que a compreensão das violências entre cônjuges não pode ser reduzida à idéia de subalternidade feminina. Considerando tais transformações analíticas, o estudo investigou concepções de gênero e violência conjugal de nove psicólogos que trabalham em programas públicos que atendem envolvidos em violência conjugal na Grande Vitória, por meio de entrevista semi – estruturada que abordou os seguintes temas: atendimento psicológico, gênero, conjugalidade e violência conjugal. O atendimento psicológico se caracterizou por uma diversidade de práticas: atendimentos clínicos individuais, terapia de casal, orientações psicológicas, trabalhos com grupos de casais e trabalhos de grupos com cada gênero. Destacam-se os seguintes significados: gênero foi considerado uma relação de poder entre homens e mulheres, construída socialmente, ainda fortemente influenciada pelos papéis tradicionais. Em geral, a violência conjugal é entendida como um processo de opressão mediado por uma relação de poder desigual entre homens e mulheres. Assim sendo, os psicólogos assumem uma postura pró-feminina, existindo basicamente dois estilos de ação. Um grupo desenvolve ações referenciadas aos princípios do movimento feminista, assumindo exclusivamente um papel de defesa da mulher violentada; esse grupo atende predominantemente mulheres e demonstra em seus discursos influências marcantes de uma concepção dualista. O outro grupo também considera as assimetrias entre os gêneros, porém constrói as práticas psicológicas pela mediação de conflitos entre homens e mulheres, considerando claramente os custos das cobranças de gênero e as conseqüências da violência conjugal para homens e mulheres aproximando-se, do referencial relacional.

ESPAÇOS PSI NO CONTEXTO DA SAÚDE: PROPOSTA DE PRÁTICAS PREVENTIVAS E INTERVENÇÕES
Maria do Rosário Camacho; Simone Chabudee Pylro (UNILINHARES)

O programa Espaços Psi objetiva inserir a psicologia no espaço hospitalar ampliando a oferta de serviços prestados, contribuindo na área de saúde preventiva através da implantação de dois projetos: a brinquedoteca hospitalar e o plantão psicológico. A implantação da brinquedoteca veio ao encontro a uma demanda do Hospital Geral de Linhares/ES (HGL) de um serviço destinado às crianças internas. Considerando que brincar é a atividade mais freqüente e intensa na infância, e que a hospitalização pode dificultar a prática de tais atividades lúdicas, este serviço pretende criar um espaço que viabilize e estimule o acesso ao jogo, ao brinquedo e efetivamente à brincadeira. Outras experiências tais como esta, têm demonstrado que além dos aspectos já mencionados, este serviço pode cooperar com o restabelecimento do paciente. A implantação do plantão psicológico é, também, atendimento de uma demanda da população hospitalar. Constitui um espaço em que se pode dialogar acerca de sentimentos e dificuldades enfrentadas no cotidiano do profissional de saúde. No que se refere aos internos e acompanhantes, a existência de um lugar de escuta de emergências emocionais é fator de prevenção e índice de humanização dos serviços de saúde. A fase de implantação do projeto iniciou-se em novembro/2004 com a participação de duas professoras e dezesseis alunos do curso de psicologia do Sistema de Ensino Unilinhares. O projeto foi viabilizado pelo empenho de alunos e professores que buscaram parcerias no sentido de suprir necessidades básicas. Ressalta-se o número de doações da comunidade em geral, o que indica uma boa receptividade do projeto. Desataca-se, ainda, a participação de representantes do HGL em reuniões de treinamento – ocorrendo desde agosto/2004 – demonstrando a abertura para uma proposta de trabalho multidisciplinar. Até o presente momento os resultados podem ser visualizados da seguinte forma:- Manifestações de receptividade por parte da população atendida e dos profissionais do HGL; - As crianças convidadas para a brinquedoteca, não havendo impedimento, compareceram à mesma e têm aguardado ansiosas pela hora da brinquedoteca;
-O plantão tem sido buscado por acompanhantes e profissionais do HGL; - Nas enfermarias,
o plantão apresenta uma alta aceitação do apoio psicológico. Considerando as características da comunidade de Linhares/ES o projeto Espaços psi no contexto da saúde é avaliado como importante instrumento de práticas preventivas permitindo o acesso da população aos serviços de psicologia.

INSERÇÃO NA CRECHE DA UFF
Amanda Nogueira; Bernadete Mourão; Bruna Nakano; Bruna Pinto; Claudilene Pereira; Fernanda Cavour; Francineide Oliveira; Gabriela Castanheira; Leandra Alonso; Paula Venturin (Universidade Federal Fluminense)

Todas as crianças que entram na creche passam por uma semana diferenciada, chamada ‘Semana de Inserção’, planejada pela equipe de Psicologia. Esta semana foi pensada a partir dos projetos ‘Tempo per le Famiglie’, de Mantovani, ‘Tempo para Família’ de Vasconcellos e ‘Observação da Relação Mãe-bebe’ de Chahon. Cada processo de inserção se constitui em diferentes etapas planejadas. Há reuniões prévias com os educadores e com os responsáveis, realizadas coletivamente, para maior esclarecimento dos procedimentos adotados durante a ‘Semana de Inserção’, como: entrada gradativa – nos dois primeiros dias as crianças novas passam apenas 2 horas na creche, nos terceiro e quarto dias a permanência na creche é acrescida de 1 hora, e somente no último dia da semana as crianças permanecem durante as 4 horas, que será seu horário regular; organização do espaço físico próprio – a sala de inserção é organizada espacialmente de modo a receber as crianças novas e seus pais, além do professor, do auxiliar e dos estagiários de psicologia; presença de um familiar (figura de referência) e de um estagiário de psicologia (figura de apoio) – provavelmente esta será a primeira vez que a criança se encontrará em um contexto não-familiar, logo a presença de uma figura de referência proporciona maior segurança para a criança explorar esse novo ambiente e criar novos vínculos; a presença da figura de apoio é justamente para auxiliar este processo, buscando bem-estar para todos, através de atividades promotoras de integração entre as crianças, responsáveis e creche; entrevista com os pais – é realizada individualmente no ultimo dia da ‘Semana de Inserção’, para orientar o acompanhamento diferenciado nas primeiras semanas da criança na creche; acompanhamento diário através da ficha de inserção – preenchida pelos responsáveis e pela creche (estagiários de psicologia) relatando os acontecimentos do dia; reunião Pósinserção – após um mês acontece esta reunião com responsáveis e creche, visando a avaliação do período. O período de inserção é entendido como um momento rico de encontro e formação de novas redes de relações entre crianças, familiares e educadores, num novo lugar de vida e produção de novas propostas sócio-políticas institucionais e pedagógicas. Por isso, este momento não pode ser visto como condição de adaptação somente da criança a um novo ambiente, pois abrange todos os envolvidos. Resultando num ambiente acolhedor e promotor de desenvolvimento e saúde para todos.

PSICOLOGIA NA CRECHE DA UFF
Amanda Nogueira; Bernadete Mourão; Bruna Nakano; Bruna Pinto; Claudilene Pereira; Fernanda Cavour; Francineide Oliveira; Gabriela Castanheira; Leandra Alonso; Paula Venturin (Universidade Federal Fluminense)

As inúmeras mudanças ocorridas na sociedade (por exemplo, ingresso maciço das mulheres no mercado de trabalho, escassez ou ausência de redes familiares ou comunitárias de apoio à educação de crianças e etc.) têm gerado demanda crescente por centros de educação infantil. Dentro desse contexto societário, a Creche UFF tem se constituído como espaço de atendimento de qualidade, que envolve formação continuada para toda equipe (profissionais, estagiários e bolsistas), reuniões de planejamento participativo e como campo de realização de pesquisas na área de educação infantil. A Creche UFF oferece vagas para filhos de professores, funcionários e alunos da universidade, atendendo aproximadamente 60 crianças entre 18 meses e 6 anos. Trabalhando com a proposta de projetos, suas atividades baseiam-se em princípios sócio-construtivistas, objetivando o desenvolvimento da autonomia e buscando ser um ambiente de troca de conhecimentos, afetos, alegrias, brincadeiras, perguntas, falas e críticas tanto para as crianças, quanto para os adultos que fazem parte da creche. A Psicologia na Creche UFF tem como objetivo contribuir com os trabalhos desenvolvidos por profissionais de educação infantil, no sentido de auxiliar a inserção das crianças e suas famílias nesse espaço, promovendo atividades voltadas para o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo das crianças. Todas as crianças que entram na Creche passam por uma semana diferenciada, chamada de “Semana de Inserção”, planejada pela equipe de Psicologia. Visto que o ingresso na creche muitas vezes é o primeiro momento no qual a criança se encontra em um contexto não familiar, esta semana busca proporcionar uma entrada na creche menos traumática possível. A partir do acompanhamento do cotidiano da creche, a equipe de Psicologia promove reuniões com os pais, participa das Reuniões de Planejamento Participativo, que acontecem semanalmente e da Formação Continuada, que ocorre mensalmente, sugerindo temas e bibliografia para estudo e discussão. Este projeto tem ajudado na construção de um ambiente acolhedor e promotor de saúde e desenvolvimento para todos. Pode ser observado melhor contato entre pais e creche, abertura de um espaço de estágio curricular e pesquisa em Psicologia voltados ao desenvolvimento infantil e possibilidade de articulação entre diferentes áreas do conhecimento que atuam na creche (Serviço Social, Enfermagem, Letras, Pedagogia, Matemática, Biblioteconomia, Nutrição, entre outros).
PESQUISA EM CLÍNICA SOCIAL: UM ESTÁGIO NO NPA – UFES
Luziane Zacché Avellar; Camila Carlos Maia; Paola Vargas Barbosa (Universidade Federal do Espírito Santo)

Este estágio surgiu a partir de uma pesquisa realizada entre maio de 2003 e abril de 2004 com sujeitos que procuraram atendimento no Núcleo de Psicologia Aplicada (NPA). O embasamento teórico para o estágio, realizado no próprio NPA, seguiu a linha já anteriormente utilizada na pesquisa, porém com o acréscimo de textos mais direcionados ao atendimento propriamente dito. A Psicanálise é o substrato que embasa as leituras até agora realizadas. Esse aporte, porém, recebe um enfoque pouco ortodoxo, visto que procura ser conjugado com um olhar sócio-histórico, em vista de ampliar seu campo de atuação. Por esse viés, torna-se possível pensar a Psicanálise como pano de fundo para atuações que não se restrinjam ao setting terapêutico tradicional (consultório), mas que se adaptem a contextos mais dinâmicos, como as unidades de saúde, prefeituras, centros de referência, além de admitir possibilidades de escuta que evitem partir de quadros psicopatológicos. Para a temática do brincar, recorrente nos atendimentos, temos encontrado em Winnicott um embasamento sólido para as discussões que se efetivam em supervisão. O estágio tem como objetivo investigar as interfaces possíveis entre a psicologia clínica e a psicologia social, refletindo sobre a clínica contemporânea. Mais especificamente, o trabalho visa compreender a queixa do paciente dentro de seu campo simbólico, buscando ressignificar as demandas e redimensionar suas respostas dentro de seu campo simbólico e evitando partir de quadros psicopatológicos pré-definidos. A clientela do estágio é composta por adultos e crianças, porém a preferência inicial de todos os estagiários envolvidos foi o trabalho com a clientela infantil, havendo apenas um caso de atendimento de adulto. São realizadas supervisões semanais quando são discutidos os textos e os casos em andamento dos estagiários. Em dezembro de 2004 foram realizadas algumas sessões de role-playing, em que os estagiários puderam simular situações de atendimento, e, posteriormente, discuti-las. A metodologia de trabalho adotada tem se mostrado eficaz, visto que tem dado base sólida para a prática, tornando esta, concomitantemente, uma atividade crítica e passível de investigações mais sistematizadas. O trabalho tem proporcionado uma formação ampliada, tornando possível o estabelecimento de redes com os mais variados contextos de atuação da clínica psicanalítica. Dessa forma, a formação não se torna restrita a uma única forma de trabalhar, nem mesmo a uma só clientela, uma vez que abre possibilidades para o trabalho com o público adulto e infantil.

SESSÃO 9

OS BÁRBAROS ENTRAM EM CENA: O MEDO FABRICADO. AS POLÍTICAS DE CONTENÇÃO E OS PROCESSOS DE CRIMINALIZAÇÃO DE JOVENS POBRES NO ESPÍRITO SANTO
Luciana Rocha Lopes (Universidade Federal Fluminense)

A questão central deste trabalho constituiu-se através da produção de uma análise sobre a história das políticas de assistência à infância e à adolescência pobre no país, de como elas vêm sendo atravessadas pelos discursos e pelas políticas de segurança pública. Dentro desta perspectiva a experiência do Programa Agente Jovem é analisada como uma forma de atualização e presentificação dos discursos/práticas das políticas de proteção social e de segurança, que durante séculos, vem responsabilizando e penalizando a pobreza (mais especificamente a juventude pobre), no país. A partir desta proposta de análise, foram adotados alguns procedimentos metodológicos, tais como: análise de material bibliográfico acerca da história das políticas de proteção à infância e à juventude pobres no Brasil, e seus atravessamentos com as políticas de segurança pública; análise da bibliografia relacionada à produção do medo como estratégia de controle social, e da analise documental do Programa Agente Jovem. Pensando em uma concepção de pesquisa, entendida como um campo de forças forjado por constantes embates, sendo constituída por análises fragmentárias e provisórias, proponho colocar em análise: a história das políticas sociais de proteção à infância e à adolescência pobres, que vem sendo vinculada às políticas de segurança pública. Processo de integração este que produz e afirma discursos e práticas de criminalização e de penalização da miséria. Foram utilizados alguns analisadores espontâneos e/ou construídos durante minha experiência no Agente Jovem, através das anotações de diário de campo, e das entrevistas realizadas.Este trabalho é fundamentado por alguns referenciais teóricos, como a concepção de história, e a produção de verdades em Michel Foucault, e o conceito de produção de subjetividade em Félix Guattari. Para não concluir, é necessário lembrar um aspecto que permeou todo esse trabalho: a produção e a atualização dos novos bárbaros da civilidade. Durante o decurso da história do país, através do arranjo de forças presentes em cada época, eles tiveram vários nomes, todos eles consignados através do medo das elites.Sob esta perspectiva, são definidos pelas políticas sociais e de segurança pública, os adolescentes que participaram do Programa – meninos-bárbaros - o perigo inconteste e permanente que permeia a sociedade. Eles são os novos inimigos, os futuros e presentes inimigos da ordem e da lei. Por isso, precisam ser disciplinados, contidos, observados, silenciados, anulados e, mesmo, exterminados. No entanto, apesar disso, eles estão aí na luta, na lida, na força, contra todas as perspectivas, e institucionalizações, nadando contra a maré.

O CONTROLE E A DISCIPLINA NA CONSTITUIÇÃO DO CORPO OBEDIENTE DA CRIANÇA
Aline Amaral Mussumeci; Joana Vieira Cury; Paula da Rocha Ribeiro (Universidade Federal Fluminense)

O presente trabalho é parte integrante da pesquisa Sobre a constituição do corpo obediente de nossas crianças em atividades livres espontâneas, coordenada pela professora Margarida de Andrade Serra, que desenvolvemos atualmente a partir de 1300 relatos de observações de crianças em atividades livres espontâneas, isto é, fora de qualquer modo de institucionalização, feitas pelos alunos da disciplina Psicologia do Desenvolvimento III, do curso de Psicologia da Universidade Federal Fluminense. Segundo a orientação teórica de Michel Foucault, em especial em sua obra Vigiar e Punir, realizamos o estudo e a análise de algumas dessas observações. Instigados por uma postura reflexiva e crítica de nosso olhar mundano sobre as nossas crianças, e com o qual nos acostumamos, reunimos os dados obtidos nas observações de forma a agrupar relatos de situações semelhantes, o que possibilitou a emergência de um campo epistêmico a partir do exercício realizado pelos alunos e, o questionamento com a conseqüente análise do modo eficiente pelo qual a ação de forças, subjetivas ou não, atuam microfisicamente na constituição de nossos corpos. Neste trabalho especificamente, nosso olhar enquanto pesquisadores busca no acontecimento o entendimento do jogo de forças e do tipo de controle encontrados na relação entre mães e seus filhos em praças públicas da cidade do Rio de Janeiro. Analisamos as diferentes posturas dessas crianças em relação às ordens recebidas de suas mães, situando-as a partir de três diferentes perspectivas: aquelas cujas ações atendem totalmente às ordens da mãe; as que resistem a essas ordens; e aquelas que apresentam inicialmente resistência, mas, terminam por se submetem às ordens. Nossas análises psicológicas foram desenvolvidas sob a ótica da constituição dos sujeitos e das técnicas de produção de subjetividade com o objetivo de compreender as condições nas quais um poder pode ser exercido de forma efetiva fundamentalmente em um corpo reconhecido como estando em constituição. Acreditamos serem estas as forças que comumente identificamos mais tarde como as forças constituintes de nossa subjetividade. A partir do recorte proposto, pudemos refletir criticamente sobre as formas pelas quais somos dirigidos para o controle social de nossas crianças, uma vez que a criança é fabricada através das práticas sociais instituídas em sua época, estando seu corpo fortemente preso no interior desses poderes que lhe impõem limitações, proibições e obrigações.

UMA ANÁLISE DA MAQUINARIA QUE ESQUADRINHA, DESARTICULA E RECOMPÕE O CORPO HUMANO
Margarida de Andrade Serra; Karina S. Gouvêa Poignard (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Trata-se da análise de duas observações que compõem uma pesquisa sobre crianças em atividades livres espontâneas, isto é, em espaços não institucionalizados. Essas análises são apresentadas com a orientação de Gilles Deleuze e Michel Foucault, procurando mostrar como, segundo Foucault em Vigiar e Punir (1977; 126-28), o corpo humano entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma maquinaria que define como se pode ter domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se deseja, mas para que operem como queremos, com as técnicas, segundo a rapidez e a eficácia que se determina. Objetivamos fazer sobressair as forças sociais nas atividades espontâneas entre crianças em praça pública, onde vimos surgir, nas brincadeiras, a formação de uma relação que, num mesmo mecanismo, torna nosso corpo tanto mais obediente quanto mais útil, e inversamente, para mostrar um corpo infantil como manifestação de uma força ativa em meio à obediência e a disciplina. Os dados com os quais trabalhamos foram colhidos pelos alunos de Psicologia do Desenvolvimento através da metodologia de observação do comportamento contínuo, proposto por Danna e Matos em Ensinando observação. (São Paulo: Edicon. 1984). Em seguida, analisamos estes dados fundamentalmente com a orientação das noções de Gilles Deleuze referente ao acontecimento e de incorporal, e com as noções de relações de poder e condições de possibilidade de Michel Foucault. São inúmeras as possibilidades para investirmos nas análises que envolvem a emergência das relações de poder no acontecimento. Mas entendendo poder como a força que se exerce sobre uma outra força, pudemos mostrar que não há objeto (fenômeno) que já não seja possuído, visto que, nele mesmo, ele é, não uma aparência, mas o aparecimento de uma força. Uma força é dominação, mas é também o objeto sobre o qual uma dominação se exerce. Ao nos apresentar o conceito de força em Nietzsche, entendemos que Deleuze compartilha com Foucault desta mesma noção. Segundo Deleuze em Nietzsche e a Filosofia (1976; 5), o objeto aparece inerte quando forças dele tentam se apoderar, mas o próprio objeto é força, expressão de uma força. E é por isso que há mais ou menos afinidade entre o objeto e a força que dele se apodera. Assim, podemos mostrar que as brincadeiras são permeadas de técnicas, sempre minuciosas, definem um certo modo de investimento político e detalhado do corpo, uma “microfísica” do poder que não cessam de ganhar campos cada vez mais vastos, como se tendessem a cobrir o corpo social inteiro. Pequenas astúcias, arranjos sutis, de aparência inocente, mas profundamente eficazes.
COMPORTAMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL – UMA ANÁLISE EXPERIMENTAL
Danieli de Souza Garioli; Livia Ramos Brandão; Luanza Pavesi Mai; Mariana Vicente Riva; Tais Barbosa Medediros; Fabiana Teixeira de Oliveira; Jessica Puppin da Silva; Thatiana Mara Barbosa Grampinha; Edneia Boning; Lisley Schlens Braun; Glenda Almeida Pratti; Viviane Mitsuko Neves Barbosa; Grace Rangel Felizardo; Isabella Perez Caldas; Kalina Laurindo Rodrigues; Marly Pires dos Santos (Universidade Federal do Espírito Santo)

O presente trabalho visa o estudo, a análise e a categorização dos dados obtidos na observação dos comportamentos: exploratório, de brinquedo, cognitivo e moral das crianças de dois, três e quatro anos de idade. O comportamento exploratório pode ser definido como uma seqüência de interações operantes que são mantidas e fortalecidas por estímulos ecológicos não apetitivos. O de brinquedo pode ser considerado qualquer atividade caracterizada como jogo ou atividade “não séria” ou de “não trabalho”. O comportamento cognitivo refere-se ao ato ou ao processo de conhecer envolvendo percepção, imaginação, atenção, pensamento, raciocínio, associação, linguagem e solução de problemas. O comportamento moral é aquele reforçado aceito e tido como adequado de acordo com regras estabelecidas em uma sociedade. Cada comportamento apresenta subcategorias. O trabalho baseou-se no estudo de Anita Liberalesco Néri: “Subsídios para a Educação do Pré-escolar: um Enfoque Comportamental”. O trabalho contou com a participação de três crianças, uma para cada idade, cada criança foi filmada separadamente em três sessões de 15 minutos em momentos diferentes, totalizando 45 minutos de filmagem para cada criança. Posteriormente, foram feitos o registro cursivo no formato ABC e categorização dos comportamentos. Embora alguns dos resultados tenham sido divergentes daqueles afirmados por Néri como uma considerável emissão do comportamento moral na criança de quatro anos, os resultados confirmaram as expectativas do estudo de Néri, visto que ocorreram todos os comportamentos esperados para cada faixa etária, destacando-se a alta incidência de comportamentos tipo exploratório e de brinquedo. Observou-se também que os comportamentos emitidos pelos participantes foram influenciados diretamente pelos ambientes em que esses se encontravam sendo que se notou interações operantes fortalecidas pelos estímulos ecológicos, ou seja, aqueles que se ligam a interações da criança com objetos físicos e as dimensões físicas dos estímulos biológicos e sociais.

O CONTROLE E A DISCIPLINA NA CONSTITUIÇÃO DE UMA FORMA DE SEXUALIDADE INFANTIL
Janaína da Silva Macedo; Pedro Oliveira Reis Flores (Universidade Federal Fluminense)

O presente trabalho é parte integrante da pesquisa Sobre a constituição do corpo obediente de nossas crianças em atividades livres espontâneas, coordenada pela professora Margarida de Andrade Serra, que desenvolvemos atualmente a partir de 1300 relatos de observações de crianças em atividades livres espontâneas, isto é, fora de qualquer modo de institucionalização, feitas pelos alunos da disciplina Psicologia do Desenvolvimento III, do curso de Psicologia da Universidade Federal Fluminense. Segundo a orientação teórica de Michel Foucault, em especial em sua obra História da Sexualidade I - A vontade de saber, realizamos o estudo e a análise de algumas dessas observações. Instigados por uma postura reflexiva e crítica de nosso olhar mundano sobre as nossas crianças, e com o qual nos acostumamos, reunimos os dados obtidos nas observações de forma a agrupar relatos de situações semelhantes, o que possibilitou a emergência de um campo epistêmico a partir do exercício realizado pelos alunos e, o questionamento com a conseqüente análise do modo eficiente pelo qual a ação de forças, subjetivas ou não, atuam microfisicamente na constituição de um modo de sexualidade específico. Nossas análises psicológicas foram desenvolvidas sob a ótica da constituição dos sujeitos e das técnicas de produção de subjetividade com o objetivo de compreender as condições nas quais um poder pode ser exercido de forma efetiva fundamentalmente em um corpo reconhecido como estando em constituição. Acreditamos serem estas as forças que comumente identificamos mais tarde como as forças constituintes de nossa subjetividade. Neste trabalho especificamente, nosso olhar enquanto pesquisadores busca no acontecimento o entendimento do jogo de forças e do tipo de controle encontrados na formação “saudável” – interessante socialmente, da sexualidade infantil. Temos que fazer surgir todos os mecanismos de poder presentes nas relações sexuais que foram observadas e que motivam determinadas ações: quem faz sexo, onde se faz e, principalmente, quem pode falar dele e quem se cala. A partir do recorte proposto, pudemos refletir criticamente sobre as formas pelas quais somos dirigidos para o controle sexual de nossas crianças dirigido por práticas de políticas públicas instituídas nas relações de poder, estando seu corpo fortemente preso no interior desses poderes que lhe impõem limitações, proibições e obrigações, ou seja, normas sexuais.

ETAPA BÁSICA DO DESENVOLVIMENTO: OBSERVAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE CRIANÇAS DE 5, 6 E 7 ANOS
Anna Beatriz Carnielli Howat Rodrigues; Ariadne Dettamann Alves; Bárbara Silva Santos; Christiane Mercês Vasconcelos; Danielly Bart do Nascimento; Diego Santos Gabler; Hítala Maria Campos Gomes; Josana Deriz Chagas; Lívia Baumgarten Entringer; Lívia Magalhães Cardoso; Lucas Fraga Gomes; Mariana Santanna Costa; Patricia Braga dos Santos; Patrick Stefenoni Kuster; Rafael Rubens de Queiroz Balbi Neto; Sarah Abner Castro (Universidade Federal do Espírito Santo)

O objetivo do trabalho prático, de caráter descritivo, é observar as respostas descritas por Neri (1980), que são os seguintes comportamentos: exploratório, brinquedo, moral e cognitivo. Segundo Neri (1980), uma criança entre dois e sete anos aproximadamente tem como características marcantes ser exploratória e curiosa e sua atividade mais freqüente nessa faixa etária é o comportamento brinquedo. Sendo assim, esperávamos encontrar nas crianças observadas as mesmas características ressaltadas por Neri (1980), isto é, crianças curiosas, exploradoras e que tendem a transformar tudo em jogo. Colaboraram com a pesquisa três crianças com cinco, seis, e sete anos todas do sexo masculino pertencentes a famílias de nível sócioeconômico médio e todos os participantes freqüentavam escola particular regularmente. O equipamento utilizado para a coleta de dados foi uma câmera filmadora, foram realizadas 3 seções de filmagem de 15 minutos cada com cada criança em lugares distintos, posteriormente, as quatro categorias de comportamento foram relatadas em registro do tipo ABC. As três crianças apresentam baixa incidência do comportamento exploratório, dado que pode ser compreendido se considerarmos que os ambientes onde foram filmadas não propiciavam tal comportamento, já que os mesmos não ofereciam novidades que despertassem curiosidade a elas. Para a criança de cinco anos o comportamento observado com maior freqüência foi o cognitivo, principalmente o comportamento cognitivo de capacidades relativas ao ambiente físico, demonstrando que o participante já apresentava um conhecimento prévio do ambiente, pois, as filmagens ocorreram na própria casa em que o menino reside. A criança de seis anos emitiu comportamentos de brinquedo e cognitivo em maior quantidade e com freqüências semelhantes, sendo que foi concluído que a presença destes dois comportamentos em maior número também é devido ao conhecimento do ambiente de observação, que também era a sua residência. O participante com idade sete anos apresentou maior índice em seu comportamento moral/imoral o que foi justificado pela criança estar sendo encaminhada a atividades que cabia a ela obedecer ou não. Comparandose os tipos de comportamentos mais apresentados pelos participantes observados com a proposta de Neri (1980), podemos notar que os comportamentos emitidos pelas crianças depende muito do ambiente em que estão e o tipo de estímulos a que estão expostas.

SESSÃO 10

AÇÕES GOVERNAMENTAIS DE ASSISTÊNCIA À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE NA GRANDE-VITÓRIA
Edinete M. Rosa, Jamile R. Esteves, Aline C. Gazolli, Aline S. de Souza, Amanda V. Sobrinho, Bárbara C. Guerra, Carolina F. Dadalto, Carolina N. Santos, Dionéia de Jesus, Emanuelle M. Secatto, Fernanda G. Dettogni, Flávia B. de Deus, Flávia N. Tavares, Gabriela Lovo, Joania
D. Chiabai, Jullyanne H. C. Ornelas, Poliana S. Cordeiro, Tatiane Bossatto, Verônica S. A.de Oliveira (Universidade Federal do Espírito Santo)

Desde as primeiras décadas do século XX a classe média alta brasileira pressionava o governo na busca por uma intervenção social e na vida familiar para proteger os “menores” e suas mães, buscando assegurar a riqueza e o progresso da nação brasileira. As primeiras ações governamentais tinham como meta a assistência às crianças pobres em situação de rua e as órfãs. No final do século XX um novo modelo de assistência é criado pautado nas doutrinas internacionais de promoção e garantia dos direitos da criança redirecionando o foco para toda a parcela da população com idade inferior a 18 anos. Nesse sentido, essa pesquisa objetivou levantar projetos e programas governamentais de assistência à criança e ao adolescente em cinco municípios da Grande Vitória, bem como analisar as concepções que norteiam os serviços oferecidos. Realizamos entrevistas com os responsáveis pelos projetos nas Secretarias de Ação Social das prefeituras, no período de janeiro a março de 2005. Foram encontrados 50 projetos, sendo 21 em Vitória, 15 em Vila Velha, 8 em Serra e 6 em Viana. Em Cariacica não foi encontrada informação registrada na citada Secretaria. A maioria dos projetos teve início a partir da década de 90 sendo 70% criados entre os anos de 2000 e 2004. Os projetos atendem a 4.113 crianças, 2.181 adolescentes e 6.733 a ambos, totalizando 13.027 pessoas, sendo mais freqüentes projetos destinados ao atendimento de crianças e adolescentes em situação de risco pessoal/social (18 projetos); vulnerabilidade social (14 projetos); vítimas de violência (13 projetos) e meninos e meninas em situação de rua (12 projetos). Quanto às concepções notamos por um lado a reprodução dos valores assistenciais existentes desde o início do século XX, associando direitos a uma determinada parcela da população (economicamente menos favorecida) e por outro a tentativa de adequação aos novos paradigmas estatutários. Dessa forma, observamos uma referência quase restrita ao Estatuto da Criança e do Adolescente ao conceituar a clientela atendida bem como os direitos a elas assegurados. Analisando os serviços oferecidos percebemos uma assistência segmentada que nem sempre integra ações em um mesmo projeto, dificultando a construção e percepção de um ser integral tanto por parte da clientela como dos profissionais. Concluímos também que a ideologia presente na maioria dos projetos é aquela que pretende adequar os modos de vida dos sujeitos aos da classe burguesa fazendo com que o interesse do Estado sobressaia aos daqueles a quem os projetos são destinados.
INFORMAÇÕES E INTERESSES DOS ADOLESCENTES DE UM BAIRRO DE CLASSE POPULAR SOBRE EDUCAÇÃO E SAÚDE
Célia Regina Rangel nascimento; Rodrigo dos Santos Scarabelli; Mônica A. da S. Gomes Scárdua; Beatriz Baptista Tesche; Zeidi Araujo Trindade (Universidade Federal do Espírito Santo)

O desafio dos sistemas de saúde, de acordo com as organizações internacionais, é desenvolver reformas que estejam centradas na saúde da população e no fortalecimento da saúde pública para grupos específicos. A promoção de saúde para os jovens tem sido um dos enfoques dessas organizações. Para elaborar propostas de atendimento às necessidades dos adolescentes, é preciso conhecer o contexto em que eles vivem, seus valores e necessidades. Com essa proposta, foi realizado um levantamento sobre que informações e interesses sobre temas de saúde têm os adolescentes de um bairro de classe popular de Vitória-ES. Participaram dessa pesquisa 144 adolescentes, que corresponde a 40% dos adolescentes residentes no bairro, com idades entre 10 e 17 anos, de ambos os sexos. Os dados foram levantados a partir da aplicação de um questionário em uma escola pública da região. As respostas foram organizadas em conjunto e mostram que apenas 3,4% dos adolescentes participaram de algum trabalho na Unidade de Saúde do bairro. Os principais temas levantados para discussão foram drogas, orientação sobre sexo e doenças sexualmente transmissíveis, o dia-a-dia do adolescente, violência e questões de saúde em geral. As dificuldades da adolescência para o menino e para a menina foram mencionadas pelos adolescentes e 66,6% acham que essa fase é difícil. Em relação à sexualidade a maioria respondeu que já teve algum tipo de orientação e indica os meios através dos quais a obtiveram. Entretanto, as dúvidas apontadas revelam que na verdade eles têm poucas informações sobre sexualidade e prevenção. Os adolescentes indicam diferenças em relação a como deve ser o comportamento sexual do menino e da menina. Em relação à violência, 88,2% dos adolescentes responderam que já assistiram alguma cena de violência e 27,7%, de ambos os sexos, relataram já ter participado de alguma situação que consideraram perigosa. Em relação à orientações sobre o uso de drogas, 85,4% responderam que já receberem algum tipo de orientação e apontam através de que meios. 74,3% responderam que conhecem alguém que é usuário de drogas e 9% disseram que já experimentaram. Entre outras dúvidas os adolescentes questionam sobre os problemas causados pelas drogas e seus principais efeitos. Pode-se considerar que as questões respondidas nessa pesquisa permitem conhecer melhor o adolescente do bairro, fornecendo uma referência importante para ações que vem sendo desenvolvidas na Unidade de Saúde da região.

VIDA E MORTE DE SEVERINOS: ANÁLISE DA TRAJETÓRIA ASSUMIDA POR JOVENS VÍTIMAS DE HOMICÍDIOS NA GRANDE VITÓRIA
Adriana Gomes; Andréa Bayerl Mongim (Faculdade Salesiana de Vitória); Raquel Gentilli (Governo do Estado do Espírito Santo)

Outras pesquisas (WALSEFISZ, 2002; IPEES, 2001) já demonstraram estatisticamente que são os homens negros ou afro-descendentes, de 15 a 25 anos, as maiores vítimas de homicídios no Brasil. Nessa pesquisa buscamos ir além dos números. Tivemos a intenção de analisar e compreender, a partir da trajetória que assumem no decorrer de suas curtas vidas, um pouco mais o universo desses jovens. Foram realizadas 12 entrevistas abertas com familiares de jovens vitimizados, moradores da região metropolitana da Grande Vitória. Dessas, 4 (quatro) entrevistas foram realizadas no Laboratório de Observação do Comportamento da Faculdade Salesiana de Vitória e as demais nas residências das informantes. A pesquisa foi realizada entre fevereiro de 2003 e julho de 2004. Concluímos que, na trajetória que assumem, as referências construídas por esses jovens não são significativas de princípios de afetividade, reciprocidade, cooperação, solidariedade ou justiça. Essas referências não são construídas nem na família, nem na escola, nem na igreja ou em qualquer tipo de organização. A referência maior, o sentimento de pertença é encontrado na “galera” de amigos. Na maioria dos casos analisados, os jovens já constituíram algum tipo de vínculo afetivo mais estável, chegando cedo à condição de pais. Direta ou indiretamente esses jovens relacionam-se ao tráfico/consumo de drogas. A brevidade da vida e a antecipação da mesma são inerentes na trajetória de vida que assumem. Em geral, saem muito cedo da escola, começam a trabalhar (serviços informais), “casam-se”, têm filhos e morrem. Para esses jovens, o boteco aparece como uma das poucas opções de lazer. É no boteco que se reúnem para encontrar os amigos, beber e jogar. Mas é também o boteco o lócus dos conflitos. Se pudermos considerar a entrada no submundo das drogas como uma escolha, conforme o fizeram Minayo (2001) ou Assis (1999), é preciso ressaltar que não se trata de uma entre muitas opções. Diríamos, para finalizar, que ao se reproduzir os mecanismos que fazem retroceder o processo civilizador, a busca de escolhas para as práticas lícitas, pode se tornar, senão impossível, muitíssimo remota.

A MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA DE LIBERDADE ASSISTIDA COMUNITÁRIA – CASA SOL NASCENTE
Maria Emilia Passamani; Edinete Maria Rosa (Universidade Federal do Espírito Santo)

O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei n. 8069/90, trouxe grandes inovações no atendimento à criança e ao adolescente. No que se refere ao adolescente autor de ato infracional prevê as medidas sócio-educativas como forma de atender aos adolescentes, reconhecidos como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento, responsabilizando-os por seus atos. Uma dessas medidas sócio-educativas é a Liberdade Assistida, estabelecida nos artigos 118 e 119 do ECA. Embora essa medida possua características de restrição de liberdade, por limitar o estilo de vida do adolescente, ela possibilita ao adolescente a reconstrução de valores, da convivência familiar, social, escolar e profissional. O objetivo deste trabalho é apresentar a experiência desenvolvida pelo Programa de Liberdade Assistida Comunitária “Casa Sol Nascente”, localizado no município da Serra, como positiva e eficaz no atendimento aos adolescentes em conflito com a Lei. O Programa foi criado pela Pastoral do Menor em outubro de 2002, e faz parte de um Programa Nacional do Ministério da Justiça, em parceria com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. Para a coleta de dados foi utilizado o relatório anual de atividades do período de outubro de 2003 a outubro de 2004 e entrevistas com os profissionais que atuam no programa. A partir dos dados levantados foram atendidos pelo programa, 124 adolescentes no período, sendo 91% do sexo masculino e 9% do sexo feminino, 84% dos adolescentes atendidos tinha de 15 a 19 anos, a maioria (90%) estava no ensino fundamental, a renda familiar de 54% dos adolescentes era de um salário mínimo e meio, 69% dos adolescentes eram consumidores de drogas, a maior incidência de atos infracionais correspondia a assalto a mão armada (art. 157 do Código Penal) com 42%, seguida de furto com 21% e tráfico de drogas 7%. Um dado muito importante é que 75% dos adolescentes acompanhados pelo Programa não reincidiram no ato infracional, demonstrando a importância de programas dessa natureza, que atendem os adolescentes no seu próprio município, com acompanhamento personalizado, observando a realidade da família e da comunidade de origem do adolescente. O Programa investe no potencial dos adolescentes como sujeitos do seu processo de mudança, acreditando que eles podem construir uma nova história de vida.
 
ARACELI NO PAÍS DAS MARAVILHAS: ESTUDO SOBRE AS REPRESENTAÇÕES DO CASO ARACELI
Rachel Franzan Fukuda (Universidade Federal do Espírito Santo)

Este ensaio é resultado da pesquisa realizada a título de monografia, cujo objetivo foi mapear a partir dos artigos do Jornal A Gazeta do Estado do ES de 1973, as representações sociais emergidas em virtude do desaparecimento da menina Araceli. O estudo do caso Araceli, como ficou conhecido, justifica-se por ser um crime marcante no imaginário social capixaba, cuja brutalidade serviu de emblema na luta contra a violência sexual infanto-juvenil, resultando no decreto-lei 9.970 de 2001 que instituiu o dia 18 de maio, dia do desaparecimento e morte de Araceli, no Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. O processo de sofrimento passado pela família foi acompanhado pelos jornais e, no desenrolar dos acontecimentos, diversas versões foram construídas levando a sociedade a modificar comportamentos. Fundamentado teórico-epistemologicamente na teoria das Representações Sociais, o estudo seguiu as seguintes etapas como procedimento metodológico: a) leitura sistematizada da literatura existente sobre o caso Araceli, o que foi e como se desenvolveu; b) leitura e sistematização da bibliografia sobre a história do Espírito Santo, fase fundamental para a contextualização do caso, e para a compreensão das transformações sócio-econômicas e políticas por quais vinha passando a sociedade na década de 70; c) construção do arcabouço teóricoepistemológico através da leitura e sistematização da bibliografia sobre a teoria das representações sociais; d) compreensão do imaginário social acerca do caso através da leitura e sistematização da bibliografia sobre elementos teóricos conceituais pertinentes, tais como os conceitos de infância e de violência, ambos produtos e produtores de representações que auxiliam direta e indiretamente na construção das representações do caso Araceli; e) coleta e análise dos dados do Censo de 1970 à 1972.; f) coleta e análise de conteúdo e de discurso do material primário, jornal e inquéritos da CPI do caso Araceli. A partir da análise da literatura relacionada ao caso expomos algumas considerações: a) existência de um pensamento social que identifica a polícia e a justiça como instituições ineficientes, de pouca confiança; b) de um imaginário social que percebe o diferente e o estranho como nocivos para comunidade; c) da transformação do caso numa válvula de liberação de sentimentos disfóricos tais como: medo, desconfiança frente às autoridades; desterro e desolação em decorrência das transformações sócio-econômicas.

EDUCAÇÃO PARA A INTOLERÂNCIA: A ABORDAGEM DE ATOS INFRACIONAIS JUVENIS NO PROGRAMA DE TELEVISÃO CADEIA NELES EM MATO GROSSO
Josiley Carrijo Rafael; Maria Aparecida Morgado (Universidade Federal do Mato Grosso)

Os episódios envolvendo atos infracionais praticados por jovens têm levado os programas televisivos de jornalismo policial a transformar esse tipo de notícia em espetáculo, sem abordar a injustiça que produz esse tipo de problema social. Diante da elevada importância e contribuição da televisão, na rica possibilidade de formação continuada na educação do seu público no exercício de sua interferência político-pedagógica, o estudo dos programas de televisão, cuja pauta apresenta jovens submetidos a medidas sócio-educativas, apresentam elementos importantes para a análise da imagem desses jovens que a transmissão jornalística constrói. O material empírico utilizado para realização da pesquisa consistiu na análise do Programa Cadeia Neles (Mato Grosso), veiculados durante todo o mês de novembro do ano de 2003, em decorrência do assassinato do casal de namorados Felipe Caffé e Liana Friedenbach, mortos em Juquitiba, na grande São Paulo por outro adolescente de 16 anos. O crime reacendeu a discussão em todo o Brasil sobre a idade de imputabilidade penal, a partir de uma campanha midiática favorável a sua redução. Como contraponto analítico, a análise das reportagens, baseou-se no conteúdo e nas determinações legais do Estatuto da Criança e do Adolescente. No período pesquisado, foram identificados 09 programas com discussões e reportagens sobre ato infracional praticado por adolescentes. Em todos os nove programas, o tratamento e a discussão acerca da redução da maioridade penal evidenciam o posicionamento favorável dos apresentadores a medidas de endurecimento da legislação penal, sugerindo uma punição mais “severa”. As análises do Programa “Cadeia Neles”, mostram a clara intenção políticopedagógica de interferir favoravelmente para a aprovação do Projeto de Redução da Maioridade Penal, em tramitação no Congresso Nacional. Baseado no desconhecimento da realidade pelo telespectador, o Programa apresenta uma imagem deformada dos jovens submetidos a medidas sócio-educativas, já excluídos materialmente e socialmente, que apresentados como “infratores”, “marginais”, “vagabundos”, “bandidinhos”, são também excluídos moralmente. O descaso, materializado nos equívocos e deslizes dos apresentadores, evidencia a falta de responsabilidade social desse meio de comunicação que usa adolescentes para encobrir lacunas e omissões em políticas públicas consagradas na legislação como atribuições do Estado. A falta de perspectiva de vida digna, de trabalho, lazer e educação das quais esses jovens são vitimas, é encoberta pelo tratamento aterrorizador conferido às reportagens, que mostram a produção de um tipo de formação do público telespectador para uma educação para a intolerância, incentivando a exclusão e a ineficiência das políticas voltadas à juventude.

SESSÃO 11

POLÍTICAS DO DESEJO: O RECONHECIMENTO SOCIAL E JURÍDICO DO CASAL HOMOSSEXUAL
Márcia Arán; Taís Lacerda (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Este trabalho tem como objetivo analisar o potencial subversivo e instituinte do debate sobre o reconhecimento jurídico e social do casal homossexual na cultura contemporânea. Para isto será realizada uma análise das estratégias discursivas presentes em processos jurídicos de reconhecimento de “união estável” e/ou “sociedade de fato” entre pessoas do mesmo sexo em andamento no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Nota-se que a emergência deste tema na esfera pública surgiu por ocasião da epidemia da AIDS. No início dos anos 80, a despenalização da homossexualidade – com a saída das práticas sexuais homoeróticas dos códigos penais em diversos países – e sua desmedicalização – com a retirada da categoria da homossexualidade da Classificação Internacional das Doenças – foram conquistas importantes e significaram, sobretudo uma tolerância por parte da sociedade em relação à liberdade do amor homossexual, desde que exercido no âmbito privado. Nesta época, a homossexualidade era associada a uma forma de socialização libertária, a um modo de vida celibatário e à diversidade de parceiros sexuais. Porem, na medida em que a epidemia avança, torna-se visível a fragilidade jurídica de inúmeros casais. Momento em que o debate em torno do direito patrimonial colocou em evidência a existência da conjugalidade homossexual. Assim, o que antes era concedido e tolerado no âmbito do privado torna-se um problema, já que o reconhecimento público da existência de um laço afetivo-sexual homossexual coloca na ordem do dia a questão da entrada da homossexualidade no direito civil. Neste sentido, Eric Fassin propõe pensar que o que era concedido aos homossexuais era uma espécie de liberdade negativa, tolerada desde que invisível, sendo que todo o problema diz respeito ao reconhecimento jurídico do casal, já que não apenas rompe com esta invisibilidade, como também abala a ordem heterossexual reprodutora. Alguns autores rotularam esta reivindicação mais do que legítima dos homossexuais como sendo um “desejo de normatividade”, já que o dispositivo do casamento faz parte do mesmo dispositivo que estabeleceu hierarquias entre as sexualidades. Porém, do nosso ponto de vista é justamente por isso, ou seja, pela reivindicação do estatuto de igualdade de direitos, que o reconhecimento jurídico, social e simbólico do casal homossexual, pode subverter, ou pelo menos provocar deslocamentos num dos pilares no qual repousa a norma, qual seja, a diferença sexual suposto fundador da cultura e da subjetividade.

O DESAFIO DE SER INDIVÍDUO NO SÉCULO XXI: UM ESTUDO SOBRE AS NOVAS PRÁTICAS DE CULTIVO DE SI NA ATUALIDADE
Jorge Guilherme Teixeira da Fonseca (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Este trabalho começou como uma monografia de final de curso e depois foi transformado num pré-projeto de dissertação de mestrado. Ele tem como objetivo analisar as transformações dos sentimentos coletivos de mal-estar e das práticas que visam o bem-estar na nossa sociedade, tendo como foco os livros de auto-ajuda. Procurei traçar um paralelo entre o surgimento desta literatura com as transformações sociais ocorridas nos últimos anos numa perspectiva histórica, para melhor explicar o surgimento de tais sentimentos na nossa época e a relação do movimento de auto-ajuda com a psicologia. Como método, fiz um levantamento para mapear mercado de livros de auto-ajuda, e depois procurei autores especificamente críticos, para construir o referencial teórico que me permitisse desenvolver uma analise contundente sobre as novas formas de sentir, fazer e sofrer. A auto-ajuda, desde seu nascimento, foi uma proposta individualista para solucionar os problemas existenciais dos homens modernos. Estes problemas não são recentes, e nestes tempos de “hipermodernidade” eles foram exponencialmente acentuados. Ela propõe uma solução individual e individualizadora para qualquer problema, seja (1) pela alteração psicológica interna seguida da alteração da vida social privada através: da “conscientização da espiritualidade do Universo”, ou do “desenvolvimento de tecnologias mentais especiais”; ou (2) ensinar aos indivíduos como lidar com as diversas situações cotidianas pela construção de um ethos para a vida privada, retirando o sentido social e político de viver, sob o argumento de uma maior eficácia em resolver problemas e estimular seu próprio bem-estar. Concomitantemente, temos dentro deste discurso uma valorização de um viver social harmonioso, amigável e intimista em que as necessidades dos outros são tão importantes quantos as do indivíduo, que passa a ser confrontado com as exigências do mundo atual estando comprometido com seus desejos pessoais. Pondo-o numa situação ambivalente que suscita uma vivência esquizofrênica, pois está divido entre duas tendências opostas num mundo cada vez mais veloz e efêmero, tendendo a desenvolver uma apatia em relação ao mundo e a si mesmo, pois ele nunca pode ter seu desejo plenamente satisfeito. Criando, desta forma, um círculo vicioso de produção de necessidade e satisfação através de consumo de um produto cultural, pelo qual o sujeito tenta recuperar sua integralidade através de um investimento em si próprio.

PSICOLOGIA E VIOLÊNCIA: PESQUISA SÓCIO-HISTÓRICA
Nelson Gomes Junior; Whellington Reis; Odoísa Antunes; Juliana Ribeiro; Camila Gomes; Alessandra Arpini; Caroline Caldeiras; Lorena Ricardo; Emannuely Lopes (UNILINHARES)

O fenômeno da violência foi transformado num dos grandes temas, para não dizer o grande tema dos últimos tempos, no Brasil e em muitos outros países. Da mesma maneira, uma série de discursos sobre segurança pública, proteção e prevenção da marginalidade tem protagonizado os mais diversos equipamentos sociais como as ONGs, os jornais, a TV e o próprio cotidiano das pessoas. Desta forma, cabe ressaltar, que partimos do pressuposto que
o real e as verdades sobre o mundo são construídas, sustentadas e aniquiladas ao longo da história e em sua relação com o registro social. Isto significa dizer que ao colocarmos em análise aspectos ligados à violência, recusamos a idéia de uma natureza já dada dos fenômenos ou de uma naturalidade com que os fatos ocorrem. Interessa-nos dar visibilidade a determinados jogos de forças, embates e rupturas que permitem a configuração das verdades desta ou daquela maneira. A intenção do estudo não foi investigar as origens da violência, mas sim colocar em debate como os processos de violência têm sido tratados. Importa-nos a desnaturalização da violência como um fenômeno sem história e isolado da conjuntura política, econômica e social. Sendo assim, esta pesquisa teve por objetivo problematizar a violência como um fenômeno sócio-histórico, procurando pensar o saber psicológico como ferramenta crítica de análise e intervenção social. O estudo foi estruturado em duas etapas. Na primeira, realizouse um estudo bibliográfico de publicações referentes a violência, segurança pública, produção de subjetividades, especialismos e formação em Psicologia. Na segunda etapa, a investigação foi efetuada em campo, no Projeto Meninos da Terra, desenvolvido no bairro Nova Esperança, município de Linhares-ES, através de entrevistas semi-estruturadas com 28 aprendizes do projeto. Os dados coletados revelaram que 100% dos entrevistados reconhecem que o fenômeno da violência se faz presente no bairro, onde 70% já sofreram algum tipo de violência, 49% percebem a violência através dos óbitos registrados no local, cuja causa principal está relacionada às drogas (27%) e 79% não visualizam saída para o problema, mas acreditam que
o policiamento (25%) pode ser uma ferramenta para resolvê-lo. Aliado a isto, percebe-se associação naturalizada entre violência e agressão física. O projeto encontra-se em fase de análise dos dados e possivelmente transformar-se-á em alguma atividade de extensão onde a temática possa ser discutida, problematizada e novos saberes e fazeres possam ser coletivamente construídos.
BLOG E A EXPERIÊNCIA DE SI NA CONTEMPORANEIDADE: TECNOLOGIA, CONTROLE E LIBERDADE
Kleber Jean Matos Lopes (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Esse trabalho discute a experiência da constituição de si no espaço eletrônico da Internet, reconhecido por blog (weblog). Os blogs são endereços eletrônicos e entre seus múltiplos usos na rede mundial de computadores, percebe-se a função de diários de registro da vida pessoal . Entretanto, essa pesquisa articula outros movimentos além desse, envolvendo dispositivos contemporâneos de produção da subjetividade; fundamentalmente nos usos que se faz da tecnologia, naquilo que se toma por experiências de controle e liberdade registradas no endereço eletrônico http://zeooutro.zip.net/index.html. São referências teóricas desse trabalho à produção bibliográfica de Michel Foucault, Paul Virilio e Marc Auge. Propomos como objetivo pensar a produção da subjetividade na cibercultura, entendo-a como um processo histórico, que articula múltiplas forças sócias, que em algum momento, atravessam ou são perpassadas pelas vias das tecnologias informacionais. Especificamente analisar a história de 11 meses do blog http://zeooutro.zip.net/index.html e as relações desse com outros endereços “pessoais” na rede mundial de computadores. O procedimento de análise dessa experiência no ambiente da cibercultura faz uso de duas possibilidades metodológicas; no caso a análise genealógica foucaultiana e da etnografia dos não-lugares de Marc Augê. Do primeiro se busca a compreensão que os acontecimentos são efeitos de práticas de saber e exercícios de forças,
o que permite circunstanciar historicamente os discursos e os modos de subjetivação. Com Augê, se quer proceder a discussão desse espaço contemporâneo, onde a experiência do tempo inviabiliza a sua demarcação geográfica. O que implica uma nova conceituação para os lugares, a qual Augê toma por não-lugares. No caso o blog http://zeooutro.zip.net/index.html é entendido como um não lugar contemporâneo e assim é analisada a sua existência. Essa é uma pesquisa em desenvolvimento, mas permite algumas considerações, como a experiência da cibercultura estar a produzir uma outra realidade no contemporâneo, com sentidos que ultrapassam os limites do uso utilitário da informação para caracterizar existências. Assim como generalizações sobre o controle não vão além de apostas, já que estão presentes nessa realidade, formas diferenciadas de experiências de si, o que aponta para um entendimento de sujeito múltiplo, que exerce forças, resiste e reinventa-se, fazendo de si mesmo um outro no ambiente da cibercultura.

UM DIÁLOGO ENTRE AS ABORDAGENS SÓCIO-HISTÓRICA E ERICKSONIANA NA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
Fábio Nogueira Pereira (Instituto Milton H. Erickson do Espírito Santo)

O presente texto é um ensaio de interseção entre duas vertentes emergentes da Psicologia que podem em muito ajudar a compor o quadro de possibilidades em OP: a Psicologia Sócio-Histórica e as contribuições à práxis psicológica pelo psiquiatra norte-americano Milton H. Erickson. Ambas comungam da idéia de cada indivíduo é único e coerente com o contexto histórico-cultural em que vive e que é papel do orientador criar condições para o orientando se dirigir à mudança num processo de “pensar-com” como proposto por Bohoslavsky (1977/ 1998) e superar os entraves que produzem a crise que se estabelece no momento de escolha profissional. O epistemólogo Gregory Bateson costumava chamar de abordagem emergente nas ciências modernas o fato de alguns autores considerarem as metarelações que se estabelecem num certo contexto ao invés de considerar os objetos por si só como realidade (Lankton, 2004). A orientação profissional é uma área de conhecimento que perpassa por diversas ciências humanas. Novas perspectivas surgiram para pensá-la nos últimos anos diante do desafio de somar teórica e tecnicamente aos embasamentos que permeiam a prática dos orientadores profissionais, independente de área e de população de atendimento específicos. É parte da formação de todo e qualquer orientador repensar e extrapolar os paradigmas existentes que fundamentam seu exercício ocupacional. A metodologia de pesquisa fundamentou-se em revisão bibliográfica, resultando em ensaio teórico cuja proposta é aproximar e, por que não, conjugar as contribuições da Psicologia Sócio-Histórica e da abordagem de Milton H. Erickson. Pensamos que com a exploração dessa interseção, a orientação profissional pode proporcionar ao orientando uma visão crítica do contexto em que está inserido e possa construir estratégias de superação das sobredeterminações presentes no momento de se lançar em um projeto de vida que inclua seu projeto profissional. A família, a escola e a própria sociedade, como agentes pedagógicos, inculcam padrões condizentes com a cultura dominante; entretanto, existe a abertura para o indivíduo, ao apreender a realidade material, (re)significá-la ao seu modo, de acordo com os fatos psicológicos que estão presentes no momento da (re)significação. Num raciocínio dialético, o homem é produtor de história e, como tal, subjetiva a realidade, resignificando-se constantemente e reconstruindo sua própria história.
 
A MACONHA E A LEI 10.409/2002 – O DESEJO DOS CONTRÁRIOS
Alessandra de Fátima Almeida Assumpção (Universidade Federal do Espírito Santo)

Analisar o processo de construção histórica da criminalização e descriminalização da maconha no Brasil buscando verificar se a lei 10.409 de 2002 aponta para uma abertura ao processo de descriminalização. Na revisão teórica sobre a descriminalização da maconha foram utilizadas como base de dados o SCIELO, a CAPES, a ABEAD e a UNIAD além de análise da Lei 10409. A maconha é um tema cuja discussão se dá por duas vertentes: a primeira criada num sistema de proibição global por meio de tratados apoiados pelas Nações Unidas, defende a proibição das drogas. A segunda defende a descriminalização através da flexibilização do consumo das drogas, em especial da maconha. Esse debate polarizou a discussão: o primeiro defende a proibição total das drogas através da interdição do comércio e do consumo transformando ambas manifestações em atos criminosos. Esse pólo é liderado pelos Estados Unidos que apóiam e ajudam a manutenção dos tratados proibicionistas mundiais. O segundo pólo diz respeito à descriminalização na qual há duas vertentes: a legalização, tanto o consumo quanto o comércio e a descriminalização, que defende tão somente a não-criminalização do consumo. Observa-se que vêm ocorrendo mudanças na legislação de alguns países em relação ao consumo da maconha como no Canadá, Austrália, Suíça, Itália e Inglaterra. No entanto no Brasil desde o início a concepção legislativa foi criminalizadora. A lei 10.409/2002 foi criada para substituir a lei 6368/76. Observa-se, no entanto, que os avanços nas concepções descriminalizadoras foram vetadas, em especial o capitulo III no qual o usuário teria um tratamento diferenciado do traficante e de forma geral propunha menos penalidades. Os vetos foram justificados pela incompatibilidade legal de alguns dispositivos. Em contrapartida a lei 10.409/2002 propõe para o Ministério da Saúde, como eixo central das ações, a política de redução de danos (PRD) (que se trata de um movimento pragmático contrário à criminalização). Apesar dos vetos, observa-se uma abertura à discussão do processo de descriminalização, quer pela incorporação da PRD, quer ainda pelo debate gerado em torno da proposição da Justiça Terapêutica.

SESSÃO 12

JARDIM DA PENHA: BARES E BEBIDAS COM SELO ZPQ
Mirian Cátia Vieira Basílio (Bolsista de aperfeiçoamento-FACITEC); Maria Lúcia Teixeira Garcia (Universidade Federal do Espírito Santo)

Dados recentes obtidos em um estudo realizado no bairro Vila Rubim no município de Vitória/ ES, mostraram uma proporção de 3 moradias para cada ponto de venda de bebida alcoólica. Inúmeros estudos internacionais indicam uma relação entre a densidade dos pontos de venda e
o consumo de álcool. Assim, um estudo sobre a localização dos bares em uma comunidade oferece importantes dados que devem orientar a formulação de políticas de prevenção e controle do consumo do álcool. O estudo buscou analisar a distribuição espacial dos pontos de venda de bebidas alcoólicas no bairro de Jardim da Penha. Este estudo faz parte da pesquisa intitulada “Política de Atenção à dependência Química no ES” financiada pelo FACITEC. Buscou-se analisar entre número de bares e similares e concentração populacional da comunidade. Foi realizado um levantamento sobre informações quanto aos estabelecimentos comerciais: na Secretaria de Desenvolvimento da Cidade (SEDEC). O início da coleta de dados se deu pela visita ao bairro Jardim da Penha, pertencente à região VI de Vitória, visando reconhecer os limites geográficos, tendo como referência o mapa detalhado do bairro cedido pela Secretaria de Desenvolvimento da Cidade (SEDEC), onde estavam localizadas as ruas e avenidas do bairro. Após o reconhecimento dos limites geográficos, iniciou-se a visita ao bairro para identificação dos pontos de venda de bebidas alcoólicas. Os dados coletados durante o período de visita ao bairro foram registrados em um diário de campo e no mapa do bairro cedido pela SEDEC (com o objetivo de registro da posição geográfica dos pontos de venda do álcool em relação às escolas e unidades de saúde). Os resultados indicam que os pontos de vendas móveis concentram-se na Praça Regina Frigeri. Os pontos de venda fixos concentram-se ou próximos a estabelecimentos de ensino (UFES e DARWIN) ou próximos à praia, espaços de circulação de um número expressivo de jovens. Estes locais encontram-se próximos às principais avenidas do bairro e que concentram um número expressivo de acidentes automobilísticos principalmente aos finais de semana. A distribuição espacial dos pontos de venda encontrada em Jardim da Penha apresentou características similares e diferentes daquelas encontradas na Vila Rubim. As similaridades foram quanto à concentração em locais de grande fluxo de pessoas. A principal diferença foi quanto aos freqüentadores e dinâmica de funcionamento. Enquanto em Vila Rubim
o fluxo maior era diurno em Jardim da Penha é o dia todo.

“EMPOWERMENT”: UM NOVO CAMINHO PARA OS MOVIMENTOS SOCIAIS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL?
Sonia Jay Wright (Universidade Estadual do Rio de Janeiro)

Empowerment está na ordem-do-dia: psicólogos sociais, administradores, educadores, funcionários da ONU e do Banco Mundial, bem como movimentos sociais, utilizam o termo amplamente. No entanto, com que sentido empowerment é usado pelos diversos sujeitos? Qual a genealogia, a história do uso do termo? Por que ele tem se tornado uma panacéia para os males sociais? A origem do conceito e seus fundamentos teóricos são controversos, bem como suas definições. A psicologia comunitária norte-americana tem utilizado o conceito ignorando o contexto político e histórico no qual os indivíduos atuam. Na visão empresarial, enfatiza-se o individualismo, o “fazer as coisas por si mesmo e ter êxito sem ajuda de outro”; não se menciona a necessidade de mudança. Nos movimentos sociais, empowerment é visto como o processo de desafiar as relações de poder existentes, uma resistência coletiva e autoestima pessoal, que conduz a relações mais igualitárias, compartilhar de responsabilidades e tomadas-de-decisão. Diante dessa diversidade de perspectivas sobre o significado de empowerment, a pesquisa tem por objetivos: 1) identificar as concepções de poder inerentes aos diversos usos do conceito de empowerment; 2) investigar as raízes do conceito empowerment; e 3) verificar na prática qual tem sido a reflexão dos movimentos sociais brasileiros, com destaque para o de mulheres, sobre a incorporação de mais esse anglicismo. Delimitando no espaço e no tempo essa pesquisa, enfoca-se o Centro das Mulheres do Cabo, em Pernambuco, nos seus primeiros vinte anos de vida (1984-2004), pelo fato dessa organização estar inserida num contexto de intervenção em políticas públicas e utilização da idéia de empowerment. Usa-se a análise do discurso (oral e escrito) e o processo interativo de encontros. A pesquisa está em andamento e pretende, como resultado final, fornecer uma interpretação do processo de mudança das relações sociais através da estratégia política do empowerment. Espera-se ainda contribuir para uma maior credibilidade da fala e atuação da (o)s construtora (e)s do Centro das Mulheres do Cabo.
 
A ARTICULAÇÃO DA FAMÍLIA, DA ESCOLA E DA COMUNIDADE NO ENFRENTAMENTO DA POBREZA
Maria Beatriz Lima Herkenhoff (Universidade Federal do Espírito Santo)

Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa realizada na ONG Fase/Casa da Cultura, situada em São João do Meriti, Rio de Janeiro. Trabalham com crianças e adolescentes no contraturno da escola. Foram realizadas entrevistas com os educadores (psicólogos, assistentes sociais e pedagogos) e estudo documental com o objetivo de analisar se eles envolvem a família e a comunidade no enfrentamento da pobreza. Identifica um enfoque que coloca o pobre como agente passivo frente às ações de um Estado paternalista e assistencialista, e outro que investe na expansão de suas habilidades, capacidades substantivas e ganhos de poder, como condição para o desenvolvimento social, econômico e político. Parte do pressuposto de que se a capacidade educacional e de participação da população pobre for ampliada, esta poderá exigir políticas públicas mais eficazes. Os resultados mostram que o processo de envolvimento da família, o estabelecimento de parcerias com a escola e o envolvimento da comunidade é lento. Exige um planejamento e a utilização de estratégias que permitam a consolidação de ações permanentes. Esta ONG, além de desenvolver um trabalho em parceria com as escolas objetivando garantir uma educação de qualidade, considera que o desenvolvimento integral das crianças e adolescentes depende do enfrentamento de problemas mais profundos relacionados à mortalidade infantil, ao nível de instrução da população, ao acesso aos serviços de saneamento básico, ao emprego, à cultura e ao lazer. Cientes de que sozinhos não conseguiriam mudar as péssimas condições de vida dos moradores, se articularam numa rede de organizações existentes na comunidade, a partir de uma visão integral de mudança na qualidade de vida das crianças, dos adolescentes e suas famílias. A rede encaminha lutas comuns pela melhoria da qualidade de vida da região, pelo direito à cidade, ao transporte, ao abastecimento de água, aos sistemas de esgotamento e fluvial. A partir de temas como exploração do trabalho infantil, desnutrição, vaga para todos na escola pública, mobilizam a comunidade, encaminham denúncias e reivindicações aos órgãos públicos. Os programas não são desenvolvidos no sentido de minimizar a pobreza, mas universalizar o acesso à saúde, à educação, ao saneamento básico e incluir as crianças e os adolescentes nas políticas públicas. Os resultados alcançados pela ONG são analisados como uma conquista de todos os movimentos organizados da região.

PRESERVAÇÃO AMBIENTAL: DIREITO À SAÚDE E À CIDADANIA
Maria Beatriz Lima Herkenhoff (Universidade Federal do Espírito Santo)

Com o objetivo de analisar a relação entre propostas ambientais e a garantia do direito à saúde, foi realizado um estudo de casos junto à ONG Associação Projeto Roda Viva, Rio de Janeiro, RJ. A escolha desta ONG se deve ao fato da mesma ter como objetivo integrar a temática ambiental a ações preventivas na área da saúde. Desenvolve o Programa de Formação de Jovens Monitores Ambientais, que tem como meta a conservação do Parque Estadual da Pedra Branca (situado numa favela do Rio de Janeiro). Para tanto, capacita os jovens (entre 12 e 18 anos) para monitorar a qualidade da água na região, prevenindo doenças ocasionadas por sua contaminação. A coleta de dados incluiu visitas à entidade, entrevistas com educadores e estudo documental. Para a análise dos dados, foi utilizado o método de análise de conteúdo. Os representantes desta ONG acreditam que o monitoramento da qualidade ambiental aproxima as pessoas do seu meio e as motiva a conservá-lo. De acordo com a bióloga (entrevista, 2003), a temática ambiental é uma das dimensões da cidadania plena e do direito à saúde; entretanto, no Brasil, a população não é incentivada a acompanhar as condições do seu ambiente: a qualidade da água que consome ou da praia que freqüenta, como se isso fosse papel dos órgãos públicos. Os resultados mostram que essas ações provocaram mudanças na vida dos adolescentes: tiveram acesso à cultura e à cidadania, desenvolveram novos conhecimentos sobre saúde e prevenção, ampliaram sua capacidade de expressão, comunicação e socialização. Desenvolveram competências e habilidades que lhes possibilitaram mais confiança para lidar com os limites e construir relações saudáveis. Essas vivências permitem a construção de um novo olhar sobre o seu local de moradia e a formação de uma identidade social, além da mudança de hábitos e valores. A conclusão aponta que o domínio do conceito de biodiversidade alia a proteção à idéia de cuidados com o meio ambiente, passando a olhálo como um processo vivo, observando a natureza, as plantas, defendendo sua preservação, aprendendo a ter uma alimentação mais saudável, a não jogar alimentos fora, não desperdiçar água, não jogar lixo nos rios, no chão, influenciando a postura de amigos e familiares na preservação do meio ambiente. A lógica da conquista da cidadania plena e da saúde exige o enfrentamento das questões ambientais. O desenvolvimento econômico, social, ético e cultural depende do cuidado com o meio ambiente e com os recursos naturais. A educação ambiental amplia a visão de proteção que se estende à conservação do meio ambiente, das casas e da escola; vincula preservação da natureza à qualidade de vida, à reciclagem do lixo, à economia e solidariedade.

MASCULINIDADE: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E PRÁTICAS AFETIVAS
Carlos Boechat Filho; Zeidi Araujo Trindade (Universidade Federal do Espírito Santo)

O presente trabalho teve por objetivo conhecer as representações sociais masculinas do que é Ser Homem, bem como as diferentes práticas afetivas. O objeto deste estudo tem sido focalizado nas pesquisas científicas mais recentes em nosso país, objetivando a compreensão dos processos sociais influenciados pelos estereótipos que ditam o modelo de comportamento masculino em nossa sociedade. Com base na Teoria das Representações Sociais, foi realizada uma pesquisa com 208 homens, portando graus de instrução Fundamental e Superior. Após a análise dos resultados, constatou-se que a Representação Social de masculinidade é mais freqüentemente constituída da categoria: Atributos Morais, com destaque para as palavras: Responsabilidade e Honra, e que os valores tradicionais ainda são presentes em ambos os grupos. Na prática afetiva, o homem se percebe afetivo, elegendo a companheira como objeto primeiro de seu afeto, e expressando seu afeto com outros homens através das brincadeiras. As expressões afetivas com os filhos são mais praticadas pelos sujeitos de Instrução Superior. A prática sexual, como fonte de masculinidade, está mais presente nos indivíduos com o Nível Superior de instrução. A diferença entre gêneros é naturalizada em ambos os grupos. No grupo de Nível Inferior de instrução, a naturalização é de cunho religioso, e entre os de Nível Superior, ela é de origem biológica. A construção social da diferença entre gêneros é um pouco mais freqüente entre os grupos de Nível Superior. No conjunto da pesquisa, percebeu-se um início de mudança dos padrões tradicionais, na medida em que os homens pesquisados os relatam, expressando suas necessidades sem indicar o sexo como fonte primeira de sua virilidade. Contudo, a presença dos valores tradicionais de origem patriarcal continua sendo um forte fator na construção da masculinidade, apesar de se perceber que a variável Instrução é um fator facilitador de mudanças nas Representações Sociais de Masculinidade e suas Práticas Afetivas.
A HISTÓRIA ANÔNIMA DOS CONSELHEIROS TUTELARES DE CARIACICA
Elizabeth Maria Andrade Aragão (Universidade Federal do Espírito Santo)

Tendo em vista o prescrito na Lei Federal 8.069 de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente, prevê-se a criação dos Conselhos Municipais de Direitos, dos Conselhos Tutelares e do Fundo Municipal para à Infância e Adolescência enquanto tripé institucionais responsáveis para a implementação da Política de Assistência à Infância e a Juventude brasileiras. O objetivo desse estudo foi analisar como os novos atores sociais, especificamente os Conselheiros Tutelares, têm se constituído como protagonistas desta política, a partir da narrativa dos mesmos. Considerando que a atividade que desempenham não dispõe de natureza profissional formal, mas vincula-se ao interesse e disposição particular e/ou social de comprometimento com a produção de uma outra realidade social, o estudo pretendeu captar elementos que colaborassem para o entendimento de quem são, como atuam concretamente, que motivações trazem consigo capazes de determinar suas ações. Como método qualitativo de investigação, utilizou-se o aporte da história oral, mais especificamente a perspectiva da história de vida. Foram realizadas entrevistas com oito Conselheiros Tutelares do município de Cariacica, ES, através das quais cada entrevistado pode narrar temas referentes à sua infância, sua atividade profissional, sua inserção na comunidade, lutas sociais nas quais se encontra envolvido, sua visão sobre poder, suas atividades com membro de um conselho tutelar e perspectivas que vislumbra. Em síntese, cada entrevistado foi estimulado a contar a sua história, com possibilidade de narrá-la em função dos aspectos que consideram mais significativos. Os dados coletados foram organizados em função de eixos temáticos a partir das proposições teóricas da análise de conteúdo. Na análise, utilizou-se o sofrimento ético-político como categoria analítica, demonstrando como este se entrecruza na vida desses entrevistados com a prática religiosa, um cotidiano de aprendizado, compartilhamento, luta permanente por sobrevivência e transformação social. Finalmente, observou-se como a partir de todos os movimentos e investimentos expressos por suas vidas, estes Conselheiros Tutelares priorizam a vivência de paixões alegres, que podem engendrar alegria ativa e potência de agir, contribuindo para que se afirme na vida cotidiana a ética da alegria.

CULTURA, AUTOCONCEITO E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO PSICOSOCIAL NOS CENTROS DE SAÚDE COMUNITÁRIOS.
Roberto Mendoza

Neste trabalho se examina a influência das dimensões culturais e do autoconceito do povo brasileiro sobre as relações que se constituem entre os grupos comunitários de base e o psicólogo ou operador grupal. Esta situação relacional reflete as interpenetrações entre as dimensões culturais básicas, as pautas sócio-políticas (personalismo, clientelismo e paternalismo) e a percepção de si mesmo, de acordo ao status socioeconômico dos atores sociais. Mostramos dados de nossa pesquisa sobre diferenças de autoconceito em duas regiões do país. Desde esta perspectiva, consideramos que a intervenção psicosocial no campo da saúde, no seio das redes comunitárias, se transforma imediatamente numa relação intergrupal e intercultural assimétrica, produzindo distorções cognitivas que interferem na comunicação e compressão da subjetividade do exogrupo. Essa relação poderá reproduzir as pautas socioculturais e políticas hegemônicas.
 
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